quarta-feira, 23 de julho de 2025

Zuza, carregador de piano

 Vitória do Mar de 1969. Em pé da esquerda para a direita Badé, Edmar, Valois, Vico, Ronaldo e Mânga. Agachados: Fifí, Zuza, China, Roxo e Diomar.
 
Texto extraído do jornal O Estado do Maranhão, de 12 de abril de 1998

A repercussão da página Onde Anda Você? é muito grande, o que nos enche de orgulho. De Brasília Tarquínio Cardoso, não só elogiou o trabalho, como mandou uma preciosa informação sobre um dos maiores meio-campistas que o Maranhão já teve: Zuza. E nós, sem perda de tempo fizemos contato com ele, para que os antigos relembrem momentos preciosos desse incrível jogador, bicampeão no Ferroviário (57/58) e que encantou muito mais quando defendeu o Maranhão Atlético Clube na década de 60.

José Cursino Coelho Filho nasceu dentro de um barco em São Luís no dia 04 de fevereiro de 1938. A mãe, grávida de 9 meses, esperava que ele fosse filho de Guimarães. Não deu tempo de chegar lá. Depois dessa peça do destino só restou à família seguir para o interior com o recém nascido, onde permaneceram por sete anos.

De volta à capital Zuza (apelido colocado pelo pai, sem motivo especial) passou a morar na Vila Passos. Mas foi no União (time do Tirirical), que ele recebeu os treinamentos específicos para o futebol.

O Campeonato Anilense de 1956 serviu de vitrine para o jovem de 18 anos, que no ano seguinte estava no meio de outros tantos craques do imbatível Ferroviário.

Ao chegar pela primeira vez ao estádio Santa Isabel para treinar no Ferrim, Zuza, com a timidez típica dos adolescentes, se limitou a observar um grupo de craques: Walber Penha, Marujo e Caxambu (no gol), Bebeto, Negão, Esmagado, Ribeiro Garfo de Pau, Perusinho, Gentil, Augusto, Carapuça, Piti, Frango, Vicente, Rui, Claudionor, Augusto, Nonato, Cassas dentre outros. Foi quando Ribeiro e Gentil perguntaram se ele não queria completar o time de baixo.

Ele aceitou. Só que quando pediu a chuteira n.º 41 o roupeiro fez cara feia e não deu. Gentil, que calçava a mesma pontuação, cedeu as suas. E o garoto mostrou o que sabia, exibindo seu fôlego invejável, uma de suas características marcantes, atuando a princípio pela ponta-direita.

Durante o ano de 57 Zuza foi contratado, assim como outros craques como Hamilton, Decadela, Santos, Waltair. Se definiu como centro-médio (o volante de hoje). Desarmava os ataques adversários e ligava defesa ao meio-campo com extrema facilidade. Só tinha um defeito: arrebentava nos treinamentos, mas quando era na hora de jogar pra valer a ansiedade de menino fazia com que tudo desse errado. Terminava tendo que se contentar cada vez mais com a reserva de Pitu e aprender cada vez mais com o time campeão maranhense daquele ano.

Em 1958 o atleta crescia, jogando ora ao lado de Negão, ora de Laxinha. Era um orgulho atuar nas feras do Ferroviário, bi-campeão maranhense com Walber Penha, Ribeiro Garfo de Pau, Santos, Decadela, Esmagado, Negão e Laxinha; Rui, Hamilton, Nabor e Neto.

Com a briga entre o clube e a federação, em 1959, que terminou por desfazer o Ferroviário, Zuza, 21 anos, foi para o Maranhão Atlético Clube viver, agora sim, seus tempos áureos. Mais maduro e com um futebol de melhor qualidade, ele escreveu seu nome na história do futebol maranhense. Ao lado de Barrão formou uma das duplas de meio-campo mais famosas que já se viu por estas bandas.

Nesse período ele mostrou seu valor, integrando também a Seleção Maranhense. Aplicado nos treinamentos e mantendo-se em forma, principalmente com um grande preparo físico, o centro-médio Zuza se destacava pela sobriedade e na cobertura dos lances do campo em todas as partidas que disputava. Um “carregador de piano” – como todos o chamavam – que desfaçava ataques adversários e tinha em Barrão a continuidade da jogada rumo aos gols de seu time. Não é que não gostasse de subir. Fazia isso de vez em quando, porque seu trabalho era muito mais valioso.

As más línguas diziam que ele fazia o nome de Barrão. Mas, não era bem assim. Depois de derrubar os adversários ele tinha a ajuda lá na frente, dos pés de Barrão, exímio lançador, e a bola chegava firme aos atacantes. Os dois ficaram famosos, assim como todo o time, que levou o MAC ao título de 1963: Lunga, Neguinho, Vareta, Negão, Cléssio, Carlinho, Moacir Bueno, Barrão, Aduapi, Valdeci, Wilson, Croinha, Alencar.

O diferencial Zuza-Barrão é porque ‘se afinavam por música’, eram muito amigos. Tramavam as jogadas durante os treinos, nas farras, nas concentrações e colocavam em prática, colhendo os frutos da fama por puro merecimento.

Muitos troféus foram conquistados por Zuza até 1966, quando ele passou no concurso do IAPI (hoje INSS) e foi transferido para Recife.

Na capital pernambucana ainda chegou a treinar no América e no Ferroviário. Mas como a diretoria maqueana não liberou seu empréstimo, se contentou em voltar a jogar profissionalmente no Ferroviário em 67 e no Vitória do Mar (do compadre espiritual e técnico Calazans) até julho de 69, quando teve que se mudar em definitivo para Brasília/DF, para cumprir mais uma transferência no emprego público federal, abandonando em definitivo a profissão da paixão.
 

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