sábado, 19 de julho de 2025

Euzébio, ponte determinado

 Uma das formações do Maranhão bicampeão em 1969/70. Em pé: Baezinho, Da Silva, Clécio, Sansão e Elias. Agachados: Patrocínio (massagista), Euzébio, Holken, Antônio Carlos, Hamilton e Yomar
 
Matéria do jornal O Estado do Maranhão, de 01 de março de 1999

Humilde, determinado, bom de bola, assim era o garoto Peba que nasceu no bairro do Anil em São Luís/MA e, já adulto, atendendo pelo seu nome, Euzébio, se consagrou como um dos maiores atacantes do futebol maranhense. Começou no futebol no time do bairro e nunca se enricou. Ganhou fama no Maranhão Atlético Clube e também se bi campeão estadual e no Moto quando disputou o Campeonato Brasileiro de 1972. Euzébio viria a ser seguido pelas peripécias que fez em campo.

Peba desde pequeno desejava ser jogador profissional de futebol. Depois de bater bolas entre pedras no Anil, foi descoberto pelo técnico Jorge Vieira, da JEC Futebol Clube, um dos principais clubes de bairro da cidade e foi um dos seus melhores pontas do segundo quadro.

Naquela época, o segundo quadro era como os juniores. Diferente dos atuais jogadores da escolinha, Peba guiava sua vida com honestidade, simplicidade e sonhos. A família não era rica, mas Euzébio nunca se deixou abater com isso. A mãe trabalhava muito e o pai era pedreiro.

Depois de se destacar num campeonato do Nascente, Peba foi levado ao Moto Clube pelo José Euzébio (Holó) e depois Zezico — pai do Oliveirard, que hoje joga no futebol italiano.
“Quando fui para o Moto não gostei do que vi. O ambiente não era dos melhores e não tinha nem material para os jogadores treinarem. Desisti de cara. Agradeci ao técnico e não fui mais lá”, relembra.

A vida continuou no bairro do Anil. Peba começou a se destacar cada vez mais no Nascente como ponta direita e centroavante. “Sabia que seria um lateral apenas um quebrador de bola e era apenas uma questão de tempo para alguém me ver”, conta Euzébio que por essa época se destacou no futebol do Anil jogando ao lado de seu irmão Zé Luis.

Nascente já era um nome conhecido e até os coleadores do JEC foram jogar no clube. Foi lá que ele apareceu. Em 1967 levou o Nascente para disputar o campeonato amador da cidade e se destacou. No mesmo ano, foi campeão pelo MAC, levando o time ao título.

Foi no título de 67 que o MAC foi pagar o passe de Peba ao Nascente com uma partida no Estádio Giordano Mochel, e a família “Jogou por 10 mil cruzeiros para mim. Joguei o primeiro tempo no MAC ao lado de Nabor, Luiz Carlos, Vanique, Neguinho, Carlinho Wilson, Barão e companhia. Vencemos por 3 x 2 e fiquei no MAC ganhando cem cruzeiros”.

Nascente e embaxadores não pagavam taxas, mas quem jogava ganhava dois por mês. Foi com o maca que ele começou.

Estreando no MAC como ponta direita por ser rápido, habilidoso, corajoso, precisa nas cruzamentos e gols de cabeça. Peba passou a ser chamado de Euzébio, um nome que viria a marcar sua trajetória. “Foi o Dr. Raul Guterres — diretor do MAC — que me disse para mudar de nome. Eu joguei um amistoso contra o Moto de 1966 na Inglaterra, o nome deu sorte. Depois da vitória, foi só alegria. Meus companheiros passaram a saber que meu nome verdadeiro era José Euzébio Fróes. Brincaram muito, mas a partir daí eu deixei de ser Euzébio e passei a ser conhecido como Euzébio.

Jogando no Parque Bom Menor era só alegria. O treinador Jorge Vieira ficou impressionado com sua movimentação e chute. Ele não tinha marcação, bola dividida, bola cruzada e era corajoso. “Uma vez levei uma canelada na hora em que chutava a bola e quase saiu meu dedão. Eu não senti dor. Queria era marcar o gol”, conta. “Fui para lá, treinei, sem ganhar nada por três dias. Mas a diretoria me deu 100 cruzeiros pela posição”.

O Maranhão Atlético foi campeão estadual em 1969. Valdeci, Coelho e Alencar estavam sendo vendidos para clubes do Ceará e o clube ficou desfalcado de seus maiores ídolos. A diretoria teve de se mexer e buscar jogadores da base e também contratou atletas do futebol amador, entre eles o próprio Euzébio. No Parque Valério Monteiro, eles se reuniram e, na decisão de 1970, conquistaram o Bi campeonato estadual com o time base formado por: Da Silva no gol; Beazinho, Clécio, Euzébio, Holken, Antônio Carlos, Hamilton e Dario.

Em 1971 o nome não foi muito bom para o MAC. Em 72, Euzébio foi emprestado para o Sampaio Corrêa, que disputava o Campeonato Brasileiro e foi tricampeão estadual.

Em 1973, voltou ao MAC e ficou pouco tempo, pois foi logo para o Moto, onde ficou até 1974. Jogou de ponta direita e centroavante.

Na sua estreia, jogou o clássico com o Sampaio Corrêa e perdeu por 1 x 0.

Jogou também pelo Bode Gregório. Uma das formações atleticanas dessa época (com Da Silva no gol; Beazinho, Clécio, Zé Luís e Holken; Elias, Euzébio, Holken, Antônio Carlos, Hamilton e Dario).

No Moto ele teve pouco tempo de jogar e logo foi emprestado ao Sampaio Corrêa. Não se sentia à vontade com os dirigentes e com os salários baixos. Depois de alguns jogos, se transferiu para o MAC novamente. Jogou de 1976 a 1978.

No Sampaio Corrêa, jogou ao lado de bons jogadores como Neguinho, Léo, Madeira, Celso, Róbson e Valdeci.

Com a ida de Euzébio para o Sampaio Corrêa, o clube maranhense disputou o campeonato nacional e jogou no Morumbi, Mineirão, Arruda, Fonte Nova e Maracanã.

Euzébio, Riba, Revaldo e Dario. “Um bom time. Só que nem sempre o Sampaio Corrêa nos deram um trato de qualidade”, lembra.

Naquela época, Euzébio ganhava no futebol era aplicado em educação dos filhos e na sua sobrevivência. Em 1975 fez prova no vestibular de Matemática da Universidade Federal do Maranhão e começou a pensar em parar com o futebol profissional. No ano seguinte, voltou a jogar no Sampaio Corrêa, mas não jogou no tricolor.

Aos 27 anos de idade, não tinha as mesmas determinações e já não era o mesmo de 1970.

Euzébio decidiu parar e estudar. Se especializou em cursos de contabilidade e voltou a estudar com os estudos técnicos.

Em 1978, Euzébio sofreu uma contusão no joelho e ficou afastado das quadras. Degostou da vida e foi viver com a família no estado de São Paulo. Por lá ficou alguns anos, mas voltou para São Luís por causa da saudade. “Fiquei no Anil, fui morar em uma pensão e depois me mudei para o São Cristóvão”.

Trabalhou como taxista e depois como educador. Foi professor de matemática e técnico de informática.

Atualmente, Euzébio mora na Alemanha com a esposa, onde os dois vivem tranquilos. O ex-atleta ainda escreve poesias e pretende lançar um livro com suas lembranças.

“Eu sou feliz. Vivi o que sonhei. Fui jogador de futebol, estudei e hoje moro na Alemanha com minha companheira. Fui feliz em São Luís. Sempre vou lembrar do meu bairro querido — o Anil”.
 
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