sábado, 19 de julho de 2025

Omena "Divina Dama"

 Sampaio Corrêa campeão estadual de 1964. Em pé: Vadinho, Manga, Omena, Walfredo Carioca, Maneco e Bero. Agachados: Ernani Luz (massagista), Antonino, Maioba, Jarbas, Sabará e Chico.

Matéria do jornal O Estado do Maranhão, de 22 de fevereiro de 1999

Elegante, clássico, fino na bola. Assim foi o carioca Omena.

Um zagueiro disciplinado, exímio cabeceador e que sabia jogar com uma categoria tamanha, que terminou ganhando um apelido curioso: “Divina Dama”. Para alguns poderia até parecer um nome pejorativo. Mas, para esse incrível jogador de futebol, que encantou os torcedores do Moto, Sampaio, Maranhão e Ferroviário na década de 1960, esse foi um elogio ao seu talento, à sua finura no tratar com a bola.

Antônio Ribeiro de Omena Filho é da capital do Rio de Janeiro. Começou a se criar no bairro de Marechal Hermes, onde era conhecido como Badau. E o caçula de uma família de quatro irmãos — Hildebrando (47), Iraci (65), Paulinho (66) e Omena (64). Desde cedo viu o irmão Paulinho jogar e também só foi se apaixonando pela bola. Calçou chuteiras pela primeira vez quando foi treinar no juvenil do Madureira, em 1952, levado pelo irmão Paulinho, meia esquerda, ídolo da torcida tricolor.

Nessa época Omena já andava com a bola debaixo do braço. Em 1956, já estava no juvenil do Fluminense e começou a ganhar uma projeção fora de série. Em 1958 foi campeão invicto pelo juvenil do Flu, jogando ao lado de craques como Altair, Maurinho e outros bons de bola da época. Jogava na meia esquerda, zaga central, lateral esquerda e até no gol! Eu queria era estar no lance. Jogava por prazer já que desde os 17 anos, já era um homem independente. Trabalhava na “Mesbla do Brasil”. O irmão Paulinho deixou o time carioca e foi arriscar a vida em outros lugares. Jogou no Nautico/PE e depois voltou para o Rio de Janeiro. Defendeu o Fluminense/RJ, onde se tornou famoso como Paulinho — ladrão de bola”.

Antes de vir para o Maranhão o Omena jogou uma temporada na Portuguesa, do Rio, como lateral esquerdo. Sua vinda para cá foi um castigo de Deus. Estava no time do Bangu de 1961 e eles estavam em batizado de criança no bairro de São Cristóvão. “Um sujeito me viu jogando bola e logo falou: — você quer ganhar uns trocados para dar um show de bola? Jogamos e depois ele me disse: Você pode morar em São Luís. Não deu outra. Vieram buscar o Omena, que desembarcou na cidade no ano seguinte. Chegou aos 20 anos e aos poucos conquistou o torcedor maranhense com um estilo simples e objetivo. Omena, Zé Carlos e Jouberth desembarcaram em São Luís no sábado e no domingo já estavam em campo para enfrentar o Sampaio Corrêa no maior clássico do futebol maranhense. O Moto ganhou de 1 x 0, com um gol contra do adversário. No outro jogo venceu por 1 x 0, gol de Nabor”.

Omena dizia ao maior sorrir nessa hora. E, de zagueiro central, tornou-se um líder com Fernando Carlos, Toinho e outros jogadores do time. Ele se salvou com sua disciplina. Ele salvou um pênalti no jogo decisivo contra o Sampaio, em 1964. “Nós dois já estávamos fora do lance e nos jogamos em cima da bola”, lembrou orgulhoso.

Depois dessas vitórias e com medo de perder o emprego no Maranhão, Omena voltou para o Rio de Janeiro. César Aboud, presidente do Moto, foi buscá-lo e agradou a torcida. Depois de algumas divergências do presidente motense começou a transferência do emprego de Omena, do Rio para São Luís.

Ele defendeu o Moto nos campeonatos de 1962 e 63. Não foi campeão, mas ganhou muitos amigos como Bacaubal, Bazeinho, Brazeão, Joaquim, Zé Bogéa de Ananias, Garrinchinha, Hamilton, Nabor e outros. “Éramos unidos dentro e fora de campo. Fomos os primeiros a morar e ter carro em São Luís”.

Ele relembra que os jogadores moravam na Pensão Lima Ayoub. Ele jogava duro e era sério nas suas atitudes. Ele não gostava de ser sacaneado e sempre se impôs com firmeza.

Omena foi um verdadeiro campeão por onde passou. Ganhou todos os títulos que disputou, exceto o professor Raimundo Marques, técnico do Sampaio Corrêa, que também o dirigiu na seleção do Maranhão. Tinha um time super competitivo e esse fato que hoje me faz sorrir”.

A Seleção Maranhense da época não podia deixar fora esse craque amigo. Omena fez um sacrifício danado, saiu do emprego, saiu do time do Moto, ganhou muitos amigos e amava a terra, como muitos.

Na seleção, fez uma excursão internacional e participou do título de 1964. Omena venceu o Moto pelo Sampaio Corrêa e comemorou com emoção o rumo da vida dele.

Ele se destacava no grupo que estava jogando ao lado de Mário (RJ), Vadinho (PE), Walfredo (RJ), Raimundinho (PE), Antonio (PA) e Chico (PE), Antônio (MA), ou Maíoba (MA), Jarbas (RJ), Toinho (PE) e Sabará (RJ) – um time que encantou. Achavam que ele não jogava bola e com Walfredo, por quem tantos elogios existiam. Demos um baile e nos consagramos ao ponto de achar que a torcida me apelidou de “Divina Dama”. Em 65 levantamos a taça de bicampeão. O Moto não ganhou do Sampaio nesses dois anos! Foi o máximo!”

Depois daquilo, nunca aconteceu mais nada e o Omena encerrou a carreira com dignidade. Foi bicampeão maranhense do MAC! E feito um time com cima dele e todos respeitavam o time do MAC.

No casamento as coisas iam de mal a pior. Nasceram Sérgio e Sandra. A felicidade parecia eterna. Para trás dessa pouca aparência, Omena era um excelente pai e marido. Vivia em função da mulher e dos dirigentes, com os causava mais temor que os gols contra.

Quando o time dele não ganhava, o bicho pegava e não tinha comida no domingo. Com muito esforço, ele deixou de lado o futebol e começou a trabalhar como Diretor do Sampaio Corrêa.

A esposa teve um problema sério e precisou ser socorrida. Antônio Bento estava ao seu lado e ajudou com recursos para que ela fosse transferida para o Rio de Janeiro.

Omena foi transferido para o Ferroviário Esporte Clube. “Nada como ter fé. Minha cabeça começou a pirar”.

No início de 1967, já meio esquecido da bola e da mídia local, Omena foi parar no Maranhão Atlético Clube. “Eu já estava com 28 anos de idade. O casamento estava de cabeça baixa e pedi para o técnico Bibi que me deixasse no clube por mais alguns anos. “Eu sei tudo que devo ao Sampaio, mas sou pelo clube que quer o Rio hoje”. Ele sempre que quer o que é certo. De São Luís foi o Moto, o Sampaio e o MAC. Todos me quiseram só que escolhi o MAC”.

No início de 1969 encerrou a carreira. Não conseguiu mais emprego no Maranhão. Ele voltou para o Rio de Janeiro.

Como o assalto foi grande e o futebol não dava dinheiro como hoje, ele acabou indo para o “morro” como se diz no Rio.

“Eu estava sem nada, sem comida e fui viver do nada”.

— Eu era um sujeito que adorava sair, dançar e sempre tive muito orgulho da minha história. Meus filhos são frutos de muita luta. Fui embora, voltei, fui, sofri, chorei, mas eu fui”.

.............

Vem ai o livro ALMANAQUE DO FUTEBOL MARANHENSE ANTIGO: PEQUENAS HISTÓRIAS VOLUME 2, publicação do professor Hugo José Saraiva Ribeiro, um apanhado de 94 novas passagens curiosas que aconteceram dentro e fora dos nossos gramados. Clique AQUI para saber mais sobre o novo livro, que será lançado no segundo semestre pela Livro Rápido Editora e tem patrocínio da Max Vetor, Tempero Caseiro e Sol a Sol (Energia Renovável).

Nenhum comentário:

Postar um comentário