quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Misael, o xerife do Vitória

 Seleção maranhense em 1953. Em pé: Misael, Terrível, Walber Penha, Negão, Biné e Esmagado; Agachados: Pitú, Nabor, Laixinha, Zezico e Joãozinho

Matéria do jornal O Estado do Maranhão, de 22 de março de 1999

Antes de mais nada, Misael faz questão de dizer que é maranhense de São Luís e que sente orgulho de ter jogado futebol em uma época em que os craques afloravam nos campeonatos e torneios da segunda e primeira divisões. Ele vestiu as camisas do Ferroviário, Moto, Sampaio Corrêa e Vitória do Mar – onde foi campeão invicto em 1952. Conquista merecida por um jogador que se dedicava com muito afinco dentro do campo. Aliás, ele foi um guerreiro respeitado por seus próprios companheiros, que impunha respeito aos atletas adversários só com presença física.

Ríspido, corajoso, forte, determinado, desde menino, Misael Santos Morais. Ele não fugia de uma boa briga. Limitado tecnicamente se sobressaía por ser taticamente disciplinado.

Nascido em 16/12/1931, morou no João Paulo, Monte Castelo e Madre Deus. No João Paulo deu os primeiros chutes no campo do São Paulo, que ficava nos fundos da casa onde morava: “Eu jogava bola e esquecia de hora de ir para o colégio. Quando meu pai brigava minha mãe me passava um sermão e me dizia que eu seria um jogador de futebol. Mais tarde, ela ficou orgulhosa de saber que pequeno que queria que eu desejava quando crescesse”.

O primeiro time mais conhecido que jogou foi o famoso Flamengo do Monte Castelo. Com 10 anos de idade já vestia a camisa do segundo quadro do rubro preto. Os amigos sentiam que, pela garra que tinha, se jogasse de defesa seria muito melhor. “Fui ficando e me adaptei. Quando ia para a zaga, os atacantes não passavam. Com o passar do tempo fui melhorando cada vez mais”.

Uma de suas características era se comunicar bem, saber falar, orientando seus companheiros. Quando chegava junto era para desarmar o atacante ou fazer a falta providencial, que parava a jogada. Não era desleal, mas jogava duro. Isso o credenciou para as convocações às seleções e aos combinados que foram ídolos nos gramados maranhenses.

Aos 16 anos deixou o time de 1947) Misael se transferiu para o Sampaio do Monte Castelo. Naquele ano, vestiu a camisa tricolor e disputava a segunda divisão com: Neguinho – irmão do Peta, Dico Preto – irmão do Peta, Dico Preto – irmão do João Batista. A Segunda divisão dessa época era disputada por equipes que representavam quase todos os principais bairros de São Luís. “Tinha muita gente boa”.

Três anos foram suficientes para que Misael fosse um zagueiro central e ser indicado para o Vitória do Mar Futebol Clube, time que pertencia ao Sindicato dos Estivadores de São Luís. Foi levando o São Paulo do bairro João Paulo.

Em 1950 o Vitória do Mar jogava na segunda divisão e em dois anos seguidos subiu para a primeira Divisão. O time do General Mourão, por ser um time de estivadores, não usava chuteira e jogava com o pé no chão. “Era um futebol mais viril, mais bonito. Conquistou pela primeira e única vez o título do Campeonato Maranhense de Futebol da Primeira Divisão de forma invicta e merecidamente. A final contra o Maranhão Atlético Clube foi emocionante. Os dois gols foram marcados por Gafanhoto. Os campeões: Bastos (João Preto), Peba e João Cinco, Lourival (Chapola) e Gordo (Leié); Zé Rocha, Ambrósio, Benedito, Gafanhoto, Ferreira (Ivan) e Lobato. Técnico: Valdemar Dobal”.

O Vitória foi um dos primeiros campeões com jogadores que nunca se imaginou fossem jogar futebol e conquistar o feito de todos os tempos no futebol do Maranhão. “Nós, estivadores, éramos simples e humildes. Mostramos que os grandes clubes foram obrigados a nos respeitar e que foram contratados de outros estados para defender os chamados grandes clubes do nosso futebol”. Até hoje os estivadores são lembrados como valentes.

Misael nunca levou desaforo para casa e em uma partida marcante aconteceu um lance que o credenciou. O atacante Nabor, com dribles covardes e velozes, que não ameaçavam, levou uma entrada de Misael que o jogou no chão. Na cobrança do lateral, o beque tricolor foi à frente, tomou a bola no meio de campo e driblou todos, inclusive o goleiro. “Foi um dos meus gols mais bonitos”.

Em 1953, Misael foi participar do Torneio Centenário da Cidade de Teresina/Piauí, jogando pelo combinado Maranhão e Piauí. Essa foi a sua estreia com a camisa da Seleção Maranhense.

O Sampaio atuou com: Justino Vares, Cosmo, no Quadro Negro; Hernani, Santos e Caroba; Lourival e Kikiki. O Presidente Maranhão era o capitão PM Aurélio.

Depois foi defender o Sampaio no Torneio de Teresina/Piauí, em 1954.

Misael foi convidado para o Nacional de Teresina, onde viveu a final contra o Gentilândia, ganhando por 7 x 1 na soma de pontos.

No campeonato de Misael foi lateral direito quando não tinha o titular.

Em 1961, o zagueiro Misael foi atuar no Maranhão até 1964, quando se aposentou.

Aos 67 anos de idade Misael, já aposentado, é só alegria, principalmente quando recebe visitas de atletas famosos que jogaram ao seu lado nos bons tempos de futebol. “Basta a gente se lembrar das concentrações, viagens e jogos para bater uma boa conversa”, disse o veterano que recebeu a visita de grandes craques, como João Bala, Pedro Bala, Esmagado, Kikiki, Lourival, Zézinho Botafogo, grandes fluminenses, Sanches e tantos outros.

O futebol não acabou para ele. Em 1968, atuando pelo time da empresa onde trabalhava – Moraes Wan-Lume – o distrito industrial revelou mais uma vez seu bom futebol. Em 1980 foi um dos fundadores do Clube Atlético São João e levou seu time a conquistas inéditas.

Misael é um homem feliz, pois apesar de não ter sido um profissional da bola, é reconhecido como um grande beque do futebol maranhense. Nessa época profissionalmente estava na LBA (Legião Brasileira de Assistência).

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