Texto de setembro de 1976
O futebol brasileiro através dos tempos ofereceu sempre curiosidades, incoerências, surpresas agradáveis e desagradáveis. Em relação a atletas, por exemplo, grandes ídolos existiram e que foram idolatrados pelas massas e marcaram época. Heleno de Freitas, Friedenreich, Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Batatais, Ademir Menezes e Pelé são alguns exemplos de grandes jogadores. Mas estes, independentemente do talento, possuíam boa compleição física, eram grandes no futebol e também no tamanho, o que lhes dava uma grande vantagem.
Mas como explicar o êxito dos pequenos jogadores ou jogadores anões? Este é um fenômeno que não pode ser desprezado e merece análise e um capítulo especial. Talvez caiba ao Fluminense o mérito de ter sido o clube brasileiro que deu maiores oportunidades aos jogadores “mignons”, mas o Flamengo também teve os seus e no time de cima. Quem não se recorda daquele meia extraordinário que era a maior estrela do time tricolor carioca do supercampeonato de 46 e que formava ao lado de Pedro Amorim, Ademir, Carreiro e Rodrigues? Sim, referimo-nos a Orlando, carinhosamente chamado de “Pintor de Ouro”, craque de pequena estatura, mas de um talento impressionante.
Um pouco mais tarde surgiriam, quase na mesma época, dois grandes no Flu: primeiro o “Pequeno Polegar” Tim, que chegou ao América revelando Maneco, considerado o mais brilhante atacante de um time apelidado de “Pó de Arroz no Pó de Arroz” (alusão à torcida), e no Flamengo recorda-se as presenças de Biguá, um lateral que de baixa estatura ficou famoso pela raça, e de Vevé, um ponta-esquerda baixo, mas extremamente técnico, que de baixa compleição física era o menor jogador da história da Gávea.
“Os baixinhos” da terra
Na área local, o rasgo é grande, e até mesmo com sérias dificuldades em se encontrar outra cidade onde mais “anões” jogaram e brilharam vestindo as camisas de times famosos. A história registra nomes como Mascote, Benedito e Diquinho e, segundo a trajetória com Mourãozinho, Sandoval, Jaime, Os Dudú, Celso Cantanhede, Zé Ferreira, Osvaldo “Lata de Lixo” e por aí afora.
Mas em nenhuma época, aqui e lá fora e talvez só Paulinho do Fluminense tenha se aproximado, existiu um jogador tão pequeno no tamanho, apesar do grande futebol que pratica, como este admirável Bimbinha que atua pelo Sampaio Corrêa. É sem dúvidas, o menor jogador em atividade atualmente no futebol brasileiro e talvez o único ídolo que permanece na reserva, sem estar contundido e em plena forma. A própria torcida não consegue entender o jogador que mais lhe dá contentamento não aparecer nem mesmo no banco. Mas os dirigentes explicam que “ele não tem todos os documentos e não pode ser legalizado”.
Mas a torcida não quer saber disso e exige a presença do seu “menino de ouro” na ponta-esquerda, porque “se ele joga contra o Flamengo de Teresina o time ganhava o jogo”.
Quem é Bimbinha
Reginaldo Castro é produto de uma família de craques, possuindo mais precisamente um irmão que brilhou nas seleções juvenis do Maranhão, e seus pais Reinaldo (lateral no Moto) e Egui (ponta-esquerda no Ferroviário) brilharam nas peladas do Itapecuru, um lugar quase esquecido que teve o privilégio de possuir um futebolista de grande qualidade e de tamanho mignon.
Bimbinha ganhou o nome pelo seu tamanho, e teve a sua primeira oportunidade no Aliança, como um substituto de emergência, já que o titular, no caso o seu irmão Egui, não pôde jogar neste dia. Mesmo não acreditando no seu futebol, o treinador o escalou e, após fazer suas jogadas e dribles habituais que o seu tamanho gerava, ficou fácil descobrir que era um talento que se firmava.
Mesmo jogando no meio e sem se afirmar durante este período no Aliança, ele acabou se transferindo para o 11 Irmãos (time da diretoria de José Carlos Viana e seu filho Tredinho) onde ficou até ser contratado pelo MAC. Terminando a temporada, deixou o futebol para treinar no time maquiando, mas no caminho de casa, após refletir, decidiu se apresentar no Sampaio, onde passou a integrar o seu quadro de juvenis.
Nos treinos começou a despertar a atenção de todos e a sua rápida ascensão o levaria ao time de cima, onde sofreu oscilações, chegando a ser sacado da equipe, ficando na “geladeira” durante muito tempo, até que decidiram lhe dar uma chance de voltar e ganhar a confiança dos colegas e a admiração da torcida.
O carinho das massas
Não existe um torcedor, seja do Sampaio ou de outra agremiação, que não vibre com Bimbinha dentro do campo. Ele se constitui numa alegria constante para a torcida e, por isso mesmo, se torna útil. Não são apenas os seus dribles desconcertantes que animam o torcedor, mas a sua objetividade, a seriedade com que joga e o entusiasmo que o tornam jogador respeitado.
Sempre que entra em campo, Bimbinha é ovacionado. Humilde, sempre aceita o salário que lhe é oferecido, não reclama e está sempre sorridente, separando pobres e ricos na arquibancada e juntando-os pelo mesmo motivo: vê-lo jogar.
Eu tenho feito tudo o que tem sido possível fazer dentro do campo, luto, sei que a torcida gosta de mim, mas isso não me dá o direito de pensar que sou um dos grandes craques. Mas Deus me deu a oportunidade e eu vou tentar mostrar do que sou capaz.
Mesmo se quiserem fazer acusações, estou sempre pronto para aceitar sem desrespeitar o companheiro de profissão, pois sei muito bem que o futebol é um meio difícil e cumpro religiosamente o meu programa de treinamento, demonstrando uma forte personalidade.
Um dia, talvez, apareça alguém com a cabeça no lugar e lhe dê a Bimbinha o que ele merece, pois o seu valor, que hoje já é todo reconhecido, existe.
O futebol brasileiro através dos tempos ofereceu sempre curiosidades, incoerências, surpresas agradáveis e desagradáveis. Em relação a atletas, por exemplo, grandes ídolos existiram e que foram idolatrados pelas massas e marcaram época. Heleno de Freitas, Friedenreich, Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Batatais, Ademir Menezes e Pelé são alguns exemplos de grandes jogadores. Mas estes, independentemente do talento, possuíam boa compleição física, eram grandes no futebol e também no tamanho, o que lhes dava uma grande vantagem.
Mas como explicar o êxito dos pequenos jogadores ou jogadores anões? Este é um fenômeno que não pode ser desprezado e merece análise e um capítulo especial. Talvez caiba ao Fluminense o mérito de ter sido o clube brasileiro que deu maiores oportunidades aos jogadores “mignons”, mas o Flamengo também teve os seus e no time de cima. Quem não se recorda daquele meia extraordinário que era a maior estrela do time tricolor carioca do supercampeonato de 46 e que formava ao lado de Pedro Amorim, Ademir, Carreiro e Rodrigues? Sim, referimo-nos a Orlando, carinhosamente chamado de “Pintor de Ouro”, craque de pequena estatura, mas de um talento impressionante.
Um pouco mais tarde surgiriam, quase na mesma época, dois grandes no Flu: primeiro o “Pequeno Polegar” Tim, que chegou ao América revelando Maneco, considerado o mais brilhante atacante de um time apelidado de “Pó de Arroz no Pó de Arroz” (alusão à torcida), e no Flamengo recorda-se as presenças de Biguá, um lateral que de baixa estatura ficou famoso pela raça, e de Vevé, um ponta-esquerda baixo, mas extremamente técnico, que de baixa compleição física era o menor jogador da história da Gávea.
“Os baixinhos” da terra
Na área local, o rasgo é grande, e até mesmo com sérias dificuldades em se encontrar outra cidade onde mais “anões” jogaram e brilharam vestindo as camisas de times famosos. A história registra nomes como Mascote, Benedito e Diquinho e, segundo a trajetória com Mourãozinho, Sandoval, Jaime, Os Dudú, Celso Cantanhede, Zé Ferreira, Osvaldo “Lata de Lixo” e por aí afora.
Mas em nenhuma época, aqui e lá fora e talvez só Paulinho do Fluminense tenha se aproximado, existiu um jogador tão pequeno no tamanho, apesar do grande futebol que pratica, como este admirável Bimbinha que atua pelo Sampaio Corrêa. É sem dúvidas, o menor jogador em atividade atualmente no futebol brasileiro e talvez o único ídolo que permanece na reserva, sem estar contundido e em plena forma. A própria torcida não consegue entender o jogador que mais lhe dá contentamento não aparecer nem mesmo no banco. Mas os dirigentes explicam que “ele não tem todos os documentos e não pode ser legalizado”.
Mas a torcida não quer saber disso e exige a presença do seu “menino de ouro” na ponta-esquerda, porque “se ele joga contra o Flamengo de Teresina o time ganhava o jogo”.
Quem é Bimbinha
Reginaldo Castro é produto de uma família de craques, possuindo mais precisamente um irmão que brilhou nas seleções juvenis do Maranhão, e seus pais Reinaldo (lateral no Moto) e Egui (ponta-esquerda no Ferroviário) brilharam nas peladas do Itapecuru, um lugar quase esquecido que teve o privilégio de possuir um futebolista de grande qualidade e de tamanho mignon.
Bimbinha ganhou o nome pelo seu tamanho, e teve a sua primeira oportunidade no Aliança, como um substituto de emergência, já que o titular, no caso o seu irmão Egui, não pôde jogar neste dia. Mesmo não acreditando no seu futebol, o treinador o escalou e, após fazer suas jogadas e dribles habituais que o seu tamanho gerava, ficou fácil descobrir que era um talento que se firmava.
Mesmo jogando no meio e sem se afirmar durante este período no Aliança, ele acabou se transferindo para o 11 Irmãos (time da diretoria de José Carlos Viana e seu filho Tredinho) onde ficou até ser contratado pelo MAC. Terminando a temporada, deixou o futebol para treinar no time maquiando, mas no caminho de casa, após refletir, decidiu se apresentar no Sampaio, onde passou a integrar o seu quadro de juvenis.
Nos treinos começou a despertar a atenção de todos e a sua rápida ascensão o levaria ao time de cima, onde sofreu oscilações, chegando a ser sacado da equipe, ficando na “geladeira” durante muito tempo, até que decidiram lhe dar uma chance de voltar e ganhar a confiança dos colegas e a admiração da torcida.
O carinho das massas
Não existe um torcedor, seja do Sampaio ou de outra agremiação, que não vibre com Bimbinha dentro do campo. Ele se constitui numa alegria constante para a torcida e, por isso mesmo, se torna útil. Não são apenas os seus dribles desconcertantes que animam o torcedor, mas a sua objetividade, a seriedade com que joga e o entusiasmo que o tornam jogador respeitado.
Sempre que entra em campo, Bimbinha é ovacionado. Humilde, sempre aceita o salário que lhe é oferecido, não reclama e está sempre sorridente, separando pobres e ricos na arquibancada e juntando-os pelo mesmo motivo: vê-lo jogar.
Eu tenho feito tudo o que tem sido possível fazer dentro do campo, luto, sei que a torcida gosta de mim, mas isso não me dá o direito de pensar que sou um dos grandes craques. Mas Deus me deu a oportunidade e eu vou tentar mostrar do que sou capaz.
Mesmo se quiserem fazer acusações, estou sempre pronto para aceitar sem desrespeitar o companheiro de profissão, pois sei muito bem que o futebol é um meio difícil e cumpro religiosamente o meu programa de treinamento, demonstrando uma forte personalidade.
Um dia, talvez, apareça alguém com a cabeça no lugar e lhe dê a Bimbinha o que ele merece, pois o seu valor, que hoje já é todo reconhecido, existe.
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