sábado, 16 de agosto de 2025

Entrevista com o radialista Fernando Sousa: "cronista acertava todas no microfone"

 Fernando ao lado de Guioberto Alves no velho Estádio Santa Isabel

Matéria de 01 de abril de 1996, extraída do jornal O Estado do Maranhão:

Ele foi o “comentarista que mais acerta no futebol”, mas não conseguiu repetir a proeza como técnico. Na direção do Graça Aranha, uma permanente falta de estrutura da equipe roubou-lhe a chance de ser o campeão que foi diante do microfone. Mas teve uma conquista de consolação no basquetebol. Durante cerca de 40 anos sua voz marcou presença no rádio e na TV; principalmente no rádio, onde, na Difusora, teve sua figura associada ao Difusora Opina, um editorial radiofônico; e o Teletipo Difusora, noticiário em horário nobre. Hoje, afastado do rádio e da televisão, só quer passear e ver filmes, pois a atividade esportiva não lhe atrai mais: “o futebol acabou; e o rádio AM”. Ressalta sua preferência pela FM, destacando a Mirante e a Universidade. Este é um ligeiro perfil do nosso entrevistado Fernando Domingos Alves de Souza. Aqui ele fala da carreira, dos companheiros de rádio, dos nomes que marcaram época em várias modalidades esportivas mas, principalmente, no futebol, sua paixão.

O Estado – Como você iniciou sua carreira.
Fernando – Entrei no rádio por concurso. Para integrar o quadro de locutores da Rádio Difusora, tive que submeter-me a um concurso público. As provas foram realizadas no Liceu Maranhense e no estúdio da emissora. De todos os integrantes passaram quatro candidatos, dois homens e duas mulheres: [ilegível], Coimbra Filho, Maria Tereza e Ana Maria. A banca examinadora era constituída pelos jornalistas Bernardo Almeida e Amaral Raposo e pelo professor de inglês Ribeiro, o mesmo dos festivais dos cursos [ilegível].

O Estado – Quem foram ou quem são as grandes figuras do rádio maranhense?
Fernando – Qualquer matéria sobre o rádio maranhense tem por obrigação reverenciar as figuras de Durval Paraíso, Marcos Vinícius de Almeida, Ernani Otelo Cavalcante, Elvas Ribeiro (Parafuso), Lima Júnior, Mário França, Moreira Serra, Raimundo Bacelar, Bernardo Almeida, Djar Martins, Abraão Skeff, Caraninho e Jafé Nunes, que contribuíram decisivamente para sua evolução e formação de novos profissionais.

O Estado – Quais foram os tempos áureos do Rádio AM?
Fernando – A partir de 1955, com a inauguração da Difusora, passamos a viver um período de evolução do rádio maranhense. Tanto em relação aos recursos humanos quanto à participação da sociedade. O rádio, então, passava a ser o veículo de comunicação dos maranhenses.

O Estado – Surgiram muitos profissionais? Cite nomes!
Fernando – Durante esse tempo vários profissionais maranhenses de talento foram surgindo. Destaco, entre outros, Almeida Filho, Lauro Leite, Coimbra Filho, Rui Dourado, Sérgio Brito, José Joaquim, José Branco, Florisvaldo Sousa, Rayol Filho. Outros vindos de fora como Diel Carvalho, Jorge Gonçalves, Ivan Lima, Almir Silva, Carlos Lemos, Herberth Fontenele para reforçar a nova Timbira de Djar Martins. Oliveira Ramos, Juracy Vieira e Adolfo Vieira vieram para tornar competitiva a Rádio Educadora. Assim, a disputa pela audiência transformou o rádio maranhense no melhor da região.

O Estado – E o rádio de hoje?
Fernando – O advento das rádios FM, todas equipadas com sistemas de som estéreo, de qualidade incomparável, aliado à incompetência e falta de criatividade dos administradores e gerentes das AM, provocou uma grande queda na audiência destas. Elas estão agora relegadas à segunda [ilegível]. Hoje, na briga pela audiência, as FM passaram de emissoras elitizadas, com programações alternativas, para veículos de massa, usando e abusando dos recursos das antigas AM, com disk-jóqueis, locutores animadores, sorteios, brincadeiras de estúdios, recheadas de músicas bregas. A Rádio Mirante FM é uma honrosa exceção.

O Estado – No rádio quais foram as suas funções?
Fernando – Locutor comercial, locutor animador e noticiarista no rádio e televisão; locutor, apresentador e chefe de reportagem de rádio e televisão; narrador e comentarista esportivo de rádio e televisão; disc-jóquei, diretor de esportes e redator de TV.

O Estado – Quais os programas que mais marcaram sua carreira?
Fernando – Os dois programas que mais marcaram minha carreira foram: Difusora Opina e Teletipo Difusora.

O Estado – Qual o seu maior momento no rádio?
Fernando – [Trecho inicial ilegível]. A narração foi de Guiberto Alves e eu [ilegível] recepção local [ilegível]. [ilegível] Carlos [ilegível] Schuller[ilegível].

O Estado – Com quais narradores esportivos você trabalhou?
Fernando – Os narradores do rádio maranhense que foram meus companheiros: Guiberto Alves – preciso no acompanhamento dos lances, vibrante nos momentos certos, o melhor de todos. Luciano [Silva] era mais vibrante. Juracy Vieira, excelente profissional, bom ritmo, [ilegível].

O Estado – Para você, qual foi a fase de ouro do futebol maranhense?
Fernando – O futebol maranhense [ilegível] sua fase de ouro [ilegível] excursão do Sampaio [ilegível] pelo Norte/Nordeste. [ilegível] pernambucanos, paraenses [ilegível]. Daí o apelido de “Papão do Norte”. [ilegível] Terminou vencendo Minas Gerais por [ilegível] e [ilegível] (1º jogo 6 a 4 para Minas). [ilegível].

O Estado – Dá para lembrar nomes?
Fernando – Rui, Carapuça, Nascimento, Galego, Valentim, [ilegível]. [ilegível] fizeram parte [ilegível].

O Estado – E os dirigentes?
Fernando – [Início do parágrafo aparece no final da coluna anterior] Pereiras dos Santos – apesar de [ilegível].

Raimundo Silva – um gentleman, na verdadeira acepção do termo; conciliador por excelência, trazia sempre uma palavra de paz nos instantes mais turbulentos.

José Oliveira – trabalhou e conseguiu, graças ao seu prestígio nos meios empresariais, trazer a sede da FMD para a rua da Paz, dando-lhe melhor estrutura funcional.

Olímpio Guimarães – ainda hoje é aclamado como um dos grandes nomes que presidiram a federação, pela sua capacidade de trabalho [e] empenho. Trabalhou diretamente pela construção do Castelão.

Biló Murad – realizou os campeonatos mais rentáveis, reestruturou a FMD, publicou mensalmente os balanços financeiros [da entidade] e teve, como seu maior mérito, eliminar o amadorismo, que à época já causava danos ao nosso futebol.

Domingos Leal – com ele o futebol maranhense viveu uma época de prestígio junto à CBF e, em conseqüência, em todo o Brasil. Nossos árbitros passaram a ser conhecidos nacionalmente, dirigir jogos importantes pelo campeonato brasileiro. Nossos dirigentes ocupavam cargos de relevo na confederação e nossos jornalistas esportivos, beneficiados com transmissões internacionais. Infelizmente, seus assessores e representantes junto à federação, meteram os pés pelas mãos e transformaram eventos regionais em jogos de cartas marcadas, com o benefício da imprensa esportiva, resultando nisso o que é hoje o futebol maranhense.

O Estado – Hoje temos bons profissionais?
Fernando – Poucos. Raramente. No rádio AM encontram-se ainda bons profissionais. Alguns que tenho escutado mas que não me vêm o nome, são bons. Mas é um fato raro, dois, três, quatro, cinco no máximo. Agora na televisão não: tem muita gente boa.

O Estado – Dá para comparar o futebol de hoje com o de ontem? Por exemplo, hoje temos craques?
Fernando – Não temos craques hoje nem aqui, e nem no país. Hoje não se vê, do meio-campo para a frente, nenhum jogador igual a Zico, Rivellino. Nem mesmo o Pelé porque ele é hors concours. Em relação ao futebol maranhense, Djalma e Canhoto, com o futebol que jogavam à época, jogariam hoje em qualquer time do país. Gostaria de citar um grande jogador, que foi o que mais marcou para mim no começo de minha carreira como comentarista esportivo: foi o Jarbas, que jogou no meio-campo do Sampaio Corrêa. Esse era cracaço de bola, sabia tudo, era quem armava todo o time. Igual a ele raramente se vê.

O Estado – A televisão acabou com o rádio AM?
Fernando – Não. Não foi a televisão. Quem acabou com as AM foram as FM, por incompetência dos administradores das AM. As últimas têm som e equipamentos sofisticados; algumas destas [ilegível] na briga pela audiência [ilegível] Mirante e [Universidade?] [ilegível]. A FM é uma emissora alternativa para quem tem gosto de boa música e de programação educativa.

O Estado – A Difusora, a mais poderosa emissora do Norte do Brasil, continua sendo?
Fernando – Não. A Difusora acabou. A Difusora não renovou em termos de rádio. O pessoal que ainda consegue manter a rádio em uma, ou pelo menos tenta, está lá: José Branco, Florisvaldo Sousa, Robertinho, Leonor e mais alguns. Não houve renovação. Nesta geração que aí vem, o moço, Adalberto Melo, que é bom narrador. Também o Roberto Fernandes tem muita vivência, fala fácil.

O Estado – Você preferia o rádio ou televisão?
Fernando – Preferia o rádio. [Trabalhei] nos dois. A televisão passou na minha vida por um curto período. [ilegível]. [Em] São Luís, [ilegível] da Difusora, foi [ilegível] credibilidade [ilegível].

O Estado – Quais os melhores locutores noticiaristas do tempo áureo de rádio?
Fernando – O melhor foi Coimbra Filho e eu trabalhei com ele. Lauro Leite, Diel Carvalho, Jorge Gonçalves, José Santos, Almeida Filho (muito bom, timbre de voz excelente!) e Fernando Cutrim. São os que me lembro agora.

O Estado – E no esporte?
Fernando – Narrador esportivo cada um tem seu estilo. O mais completo era Guiberto Alves, que se concentrava para transmitir futebol e exercia uma linha paulista. Luciano Silva era mais vibrante. Juracy Vieira entendia futebol mais do que qualquer um, não oferecia nenhum tipo de dificuldade ao comentarista. Dessa geração nova, gosto muito de Gilson Rodrigues, da Mirante.

O Estado – E repórteres de pista?
Fernando – Na pista o melhor foi Herberte Fontenele. Foi o melhor repórter de pista que o Maranhão já teve. Depois tivemos o Heraldo Moreira que era muito bom. O Albino Soeiro é bom. O Biguá fez um excelente trabalho. Destaco ainda J. Alves, José Branco e Adolfo Vieira.

O Estado – E no futebol de salão, quem eram os nossos craques?
Fernando – Existiram grandes craques do futebol de salão, na época em que eu frequentava. Inclusive, fui campeão maranhense – eu e José de Assis – dirigindo o Graça Aranha. Comecei dirigindo o Graça Aranha. Num jogo com o Drible fui expulso e fiquei chateado. O José de Assis pegou, continuou o trabalho e fomos campeão. Nós traçamos o esquema para ganhar do Cometas de 3, como ganhamos do lado de fora e ele dentro da quadra. Havia um grande entrosamento entre nós. Ele, aliás, foi um dos grandes comentaristas que tivemos. Sobre os jogadores destaco Nonato Cassas, Biné, Canhoto, Joãzinho – o Cláudio Fontana Pula-Pula – e Djalma. Djalma chegou e tomou conta, foi o grande jogador realmente de todos os tempos.

O Estado – As outras modalidades, você chegou acompanhar? Basquete, vôlei, handebol…
Fernando – Não. Eu fui campeão de basquetebol jogando pelo Vera Cruz, no tempo de Campêlo Arruda, Nordman, Jurandi, que tinha uma ótica. Ele era o presidente. Nessa época, o basquete era um esporte que chamava atenção de multidões no Santa Isabel e Escola Técnica.

O Estado – O Teletipo Difusora fechava audiência…?
Fernando – A Difusora Opina era primeiro. Quando a característica entrava parava a cidade toda, era escrita por Bernardo Almeida e lida por mim. Cinco minutos depois vinha o Teletipo Difusora – antes o Teletipo Sabbá – mas sempre o Teletipo. Foi realmente o programa que marcou minha presença como noticiarista.

O Estado – Falavam que você torcia pelo Moto. Qual o seu time?
Fernando – Eu sou Flamengo. É o único time que eu torço. Fui treinador de futebol pelo Graça Aranha. Como eu era o comentarista mais ouvido, todo mundo queria que eu ganhasse um campeonato dirigindo o Graça Aranha. Mas o time não tinha estrutura, não concentrava porque tinha local, a preparação física era deficiente. Era difícil ganhar, mas conseguimos vencer o Ferroviário, empatar o Moto, ganhar todos os pequenos. Perdemos apenas para Sampaio e Maranhão. Armavam até uma gozação: “o homem que mais acertava no futebol não acertava no Graça Aranha”.

O Estado – O que Fernando Souza está fazendo hoje?
Fernando – Fernando está aposentado, passeando pelo Brasil inteiro, gozando a vida, aprendendo a tocar teclado, com uma antena parabólica sintonizada nos canais da Globo Sat, assistindo muitos filmes.

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