sábado, 9 de agosto de 2025

Carneiro, goleiro, massagista

 Dia de festa do Camboa Esporte Clube em 1957. Carneiro em primeiro plano já marcava presença
 
Texto extraído do jornal O Estado do Maranhão, de 08 de fevereiro de 1999

Se hoje o futebol é um esporte que encanta a grande maioria dos brasileiros, apesar da concorrência de outras tantas modalidades, imagine quando reinava praticamente sozinho. Quem tinha qualidades técnicas para praticá-lo, ótimo. Quem não tinha era obrigado a participar como torcedor, dirigente, massagista, árbitro, só para não ficar de fora, longe da paixão. José de Ribamar Carneiro tinha vontade de jogar mas não tinha intimidade com a bola. O máximo que conseguiu foi arriscar-se no gol. Quando percebeu que não iria longe como jogador profissional, por amor ao futebol, seguiu a carreira de massagista, representante da Federação Maranhense de Futebol nos jogos oficiais, árbitro, bandeirinha amador e por aí afora.

Por onde passou, Carneiro demonstrou ter um gênio forte, herança do berço. Enfrentou até o pai, Eleotério Paulo Carneiro, ex-lateral direito do Sampaio Corrêa, quando este o proibiu de se envolver com o futebol. Eleotério era um desiludido com esse esporte e não permitia que o filho nem batesse peladas no bairro Madre Deus. Por ele, Carneiro deveria estudar a profissão de carpinteiro.

Sem medo das consequências, o filho não obedecia. “Eu saia escondido do meu pai para bater as peladas com a minha ‘curriola’ na época dos meus 12 anos de idade. Quando ele descobria, era surra na certa. E o pior de tudo era que eu não levava jeito para a bola. No gol eu achava que era mais fácil, não tinha que ter habilidade, bastava saber espalmar ou agarrar a bola. Mais tarde fui perceber que estava enganado. Jogar no gol é mais difícil que na linha. Na linha você pode errar, no gol, não”, ensinou sobre a experiência que foi obrigado a viver para não ficar como um simples espectador.

Carpintaria o garoto Carneiro não passou nem perto. Novamente contrariando o pai, optou por ser padeiro – chegou a trabalhar na famosa Padaria Cristal. Em 1947, ao completar 16 anos de idade, Carneiro vestiu pela primeira vez a camisa do Rui Barbosa, time amador do bairro onde ele nasceu (Madre Deus). “Eu sentia uma sensação indescritível quando vestia a camisa do Rui Barbosa. Me sentia importante. Um atleta. Um goleirão. Só que na verdade eu era muito frangueiro. Pegava bolas incríveis e deixava passar outras tão fáceis”, relembra sorrindo.

No Rui Barbosa ficou dois anos. Ao completar os 18 foi servir o exército no 24º Batalhão de Caçadores. Lá se entrosou com o grupo da bola e acabou jogando no gol da companhia que servia. Logo depois que deu baixa no exército, foi trabalhar na Estiva de São Luís. Foi “gorgulho” – suplente, na linguagem da Estiva – durante quatro anos. Depois foi efetivado.

Mesmo trabalhando na Estiva, Carneiro continuava insistindo em jogar futebol nas horas vagas. Jogou como amador no Flamengo do Monte Castelo e foi campeão estadual de profissionais pelo Vitória do Mar Futebol Clube, em 1952, como reserva do lendário goleiro Batatais, quando o time era mantido pelo Sindicato dos Estivadores de São Luís. “Fiz minha maior performance como atleta. Tenho orgulho de ter participado do time que conquistou essa façanha pelo Vitória do Mar e foi nessa época também que liguei o ‘desconfiômetro’ e percebi que não ia ganhar dinheiro jogando futebol e resolvi parar com tudo e continuar trabalhando.”

Como seu amor pelo futebol sempre foi muito grande, Carneiro aceitou o convite do massagista e amigo Patrocínio para aprender as técnicas de massagens. “O doutor Cassas de Lima também me incentivou e me ensinou muita coisa. Ele e o Patrocínio me ajudaram a continuar com o futebol, era uma coisa que eu gostava muito.”

O emprego na Estiva era seguro e, nas horas livres, Carneiro aplicava massagens em quem o procurasse. Além de aplicar massagens, especializou-se em botar “ombros no lugar” quando ocorriam luxações em atletas. Tinha muita gente que desmaiava o ombro quando sofria alguma pancada ou, simplesmente, batia com força numa disputa de bola. Santana, ex-Sampaio e Moto, e Moraes, ex-MAC, viviam constantemente com o ombro sendo deslocado num lance. Nessa época, Carneiro entrava em ação. “Fiz isso até o dia em que o Dr. Milon Miranda – médico do Sampaio Corrêa na época, especializado em ortopedia – me disse para tomar cuidado com essa prática de recolocar ombro no lugar, porque o dia que desse errado, o jogador iria cair em cima de mim. Percebi a gravidade do problema e parei com a atividade. Graças a Deus não me deparei com nenhum caso errado.”

Carneiro exerceu a função de massagista no Vitória do Mar e no Sampaio Corrêa Futebol Clube. Nunca trabalhou no seu clube de coração, o Moto.

José Alberto de Moraes Rego – Geografia – quando foi diretor do Clube Recreativo Jaguarena, levou Carneiro para assumir o departamento de massagens do clube. Também pelas mãos de José Alberto de Moraes Rego – Geografia chegou à Federação Maranhense de Esportes – FAME. “Tudo o que consegui no esporte amador como massagista devo ao Geografia. Ele é um par para mim. Serei eternamente grato a ele. Eu e minha família.”

Carneiro trabalhou durante 30 anos na Federação Maranhense de Desportos – FMD, hoje Federação Maranhense de Futebol – FMF. Na entidade exerceu as funções de representante em jogos oficiais, massagista dos árbitros profissionais e das seleções amadoras, além de árbitro e bandeirinha amador.

Na Estiva, Carneiro se aposentou aos 44 anos de idade, depois de 25 anos de trabalho. Dedicou todo o seu tempo ao futebol e ao esporte amador do estado onde nasceu. Foi massagista de seleções de basquete, futebol de salão, atletismo, voleibol e futebol. Conheceu muitas cidades e estados viajando com essas equipes. Viu muitos atletas se destacarem nos seus esportes. Se orgulha quando fala em Djalma Campos, um craque segundo ele, no futsal e no campo. “O maior atleta que vi jogar. ‘Canhotinho’ também era fora de série em várias modalidades. Atualmente me emprego com o Jackson – ex-MAC e hoje S.E. Palmeiras e Seleção Brasileira. É um garoto simples, humilde e que vai vencer na vida. É um fenômeno. Um orgulho para todos nós maranhenses.” 

.............

Vem ai o livro ALMANAQUE DO FUTEBOL MARANHENSE ANTIGO: PEQUENAS HISTÓRIAS VOLUME 2, publicação do professor Hugo José Saraiva Ribeiro, um apanhado de 94 novas passagens curiosas que aconteceram dentro e fora dos nossos gramados. Clique AQUI para saber mais sobre o novo livro, que será lançado no segundo semestre pela Livro Rápido Editora e tem patrocínio da Max Vetor, Tempero Caseiro e Sol a Sol (Energia Renovável).

Nenhum comentário:

Postar um comentário