domingo, 17 de agosto de 2025

Toca, ídolo atleticano

 
Em 1966, quando o Maranhão foi jogar em Manaus, lá estavam Coelho, Toca e Yomar
 
 Texto extraído do jornal O Estado do Maranhão, de 08 de março de 1999

Não há dúvidas de que o bairro do Anil, um dos maiores e mais tradicionais de São Luís, continua sendo o que mais revela craques para o futebol profissional maranhense. Toca foi um deles. Se destacou no Cruzeiro e chegou ao estrelato no Maranhão Atlético Clube. Jogava por amor à bola que aprendeu a gostar desde a infância. Até hoje dirigentes e torcedores do MAC não o esquecem e falam dele com muito orgulho e respeito.

Um ídolo, que acima de seus valores profissionais e pessoais se coloca ao nível de difícil de se encontrar. Toca era assim, até porque vinha de uma família de pé-de-chinelo. Sua família (o pai, Deu) conviveu ao lado com Chico Velho e fez amizade com Chiquinho (lateral direito do Esporte Clube Cruzeiro, um dos times mais antigos e tradicionais do bairro do Anil).

Além do amigo Chico Velho e Chiquinho, Toca conviveu e jogou em seu time amador, o Cruzeiro, com Raul Gutierrez (hoje presidente do MAC) e com os irmãos Carlinhos e Nascimento. Foi um grande amadorismo, pois São Luís é que ganhou com isso e que mais tarde se transformaria em profissionalismo no MAC.

A turma do Cruzeiro, onde Toca começou a jogar, era a base de um time que disputava o campeonato anilense: Cruzeiro, Nascente, Botafogo e 1º de Maio. Como o patrono do Botafogo trabalhava no Carneiro Sales – o principal dirigente do time – muitos dos amigos se transferiam do Botafogo para o Cruzeiro e do Cruzeiro para o Botafogo. Apenas Raul e Carlos Bonifácio ficaram no Cruzeiro.

Antônio José Buna Ribeiro (14/1/47), não sabe porque recebeu ainda na infância o apelido de Toca. Mas, como todo menino que gostava e sabia jogar bola, queria se tornar jogador profissional.

Ele mesmo reconhece que era um menino diferenciado, pois jogava como gente grande, com coragem e sem medo dos adversários e dos árbitros. Emotivo, não esquecia a primeira bola que ganhou de presente de aniversário.

Quando era premiado pelo futebol, Toca guardava de lembrança no fundo do coração: “Quando eu estava com 17 anos, Carlinhos me levou para um time anilense para jogar um amistoso contra o MAC, no estádio Nhozinho Santos. O time era o Alemão que acabou me colocando na ponta-direita”.

Mesmo franzino e com cara de menino, Toca surpreendeu no primeiro jogo porque vinha da várzea. Primeira oportunidade e primeira vitória: Alemão 1 x 0 MAC. No segundo amistoso Alemão venceu por 3 x 2 com dois gols. Fui para o MAC em 1965.

O Presidente do MAC na época, Raul Gutierrez, me convidou para integrar o time. O MAC tinha grandes jogadores. “Era um time prá ninguém botar defeito”.

O maior problema era convencer o ‘seu Chico’ a deixar o garoto jogar profissionalmente. Inteligentemente, Raul Gutierrez fez com que Babá Azevedo, excelente amigo de ‘seu Chico’, convencesse o pai do garoto a deixá-lo seguir no futebol. “Babá pegou na minha mão e no coração e eu achei realizável o meu sonho. Comecei como ponta-direita e depois me tornei meia esquerda”.

Toca, por ser novo, jogava sempre com a cabeça erguida, observando os companheiros e pensando nas jogadas. Pelo excelente desempenho caiu no mérito só dele. Foi capitão do time que jogava pelo bairro do Anil. Era respeitado como jogador.

Na realidade, Toca começou a viver mesmo o futebol em 1966. Era o início da fase de ouro do MAC. Foram disputar o título estadual e chegaram ao título estadual de 1969 de forma espetacular e indiscutível com Da Silva no gol; Baczinho, Luís Carlos, Sansão e Elias; Toca e Pomar; Euzébio, Jacinto ou Riba, Hamilton e Dario. “Um time prá ninguém botar defeito. Só o Hamilton não era maranhense mas já estava radicado aqui há muito tempo”.

Já nessa época Toca trabalhava no extinto Banco Econômico. Ele trabalhava meio período e no outro, treinava. Ganhava bem para a época. Era, segundo Raul Gutierrez, o grande capitão do time e o grande cabeça dentro e fora de campo.

No final de 1969 a diretoria do MAC era composta pelo craque maranhense Antônio Carlos.

Toca permaneceu no time por mais tempo e se orgulha de nunca ter sido expulso de campo. Era chamado de “Príncipe” pelos companheiros.

Mesmo não sendo campeão de 1970 o MAC era considerado o melhor time do Maranhão.

Em 1970 o MAC venceu o Moto no clássico com um gol de Hamilton. Naquele mesmo ano, jogou com a seleção maranhense contra o Paysandu no Pará, vencendo por 3 x 2.

Toca fez dupla com outros craques: Alzimar, Paulista, Zeca, Paulo César, Bocão, João Bala, Chico Coelho, entre outros.

Na década de 70 o MAC contou com jogadores como Juca Bala, Euzébio, Zuca, Barril e Zuar. Barril foi jogar no Remo e Zuar no Paysandu.

O MAC sempre teve bons times, mas com o tempo perdeu a hegemonia para o Sampaio Corrêa.

Toca sempre jogou com a cabeça no lugar. Nunca reclamou de árbitro e nunca foi expulso. No jogo com Paulo Figueiredo pelo Moto, o árbitro errou feio. Paulo Figueiredo prometeu quebrar minha perna e coincidência ou não, semanas depois, no campeonato seguinte, Paulo Figueiredo foi contratado pelo Sampaio. Estranho, não?

Hoje, aos 54 anos de idade, ele é funcionário aposentado do Banco Econômico, onde trabalhou por mais de 20 anos.

Toca é um dos ídolos do MAC e também no Cruzeiro, seu time amador.

Casado com Luiza Buna, com 5 filhos e 10 netos, Toca não esquece dos bons momentos e da família. E aposentou-se definitivamente com a bola.
 

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