domingo, 24 de agosto de 2025

Falecimento do jogador Riba, ex-jogador do Sampaio Corrêa e Ferroviário, em 1981


 Matérias sobre o jogador Riba, falecido no dia 05 de abril de 1981:

Ainda repercute em toda a cidade, o falecimento prematuro do apoiador Riba, ex-jogador do Sampaio Corrêa e Ferroviário, e que pertencia ao Sergipe. Como se sabe, Riba foi vítima de um infarte do miocárdio, logo após ter deixado o campo de jogo aos 27 minutos do segundo tempo, de uma partida em que o seu time disputava com o Leônico.

Lamentável acontecimento enlutou o futebol do Maranhão e principalmente a torcida tricolor, que durante todo o dia passado comentou com tristeza a morte de Riba, um jogador que acima de tudo teve um comportamento exemplar, não se envolvendo em indisciplinas, tampouco se revoltando pela longa condição de reserva que o relegaram, apesar de em momento algum mostrar inferioridade aos que ocupavam na sua posição, a condição de titular.

O treinamento do Sampaio que estava programado para ontem, pela manhã, foi suspenso por luto, e não haverá nenhuma atividade, porque a maioria dos jogadores se mostraram deseosos de comparecerem ao sepultamento.

O ambiente em meio aos atletas sampaínos era de enorme tristeza e a única resposta que se pode obter de todos foi um só: “lamentável”. Riba, além de bom jogador, sempre foi um grande amigo e companheiro.

Ricardo, o ponta-direita que foi trocado exatamente por Riba, mostrava-se desolado e nem quis falar sobre o assunto, tamanho foi o choque que recebeu pela divulgação da notícia. E Juan Célly, o técnico responsável pela troca, mantinha-se cabisbaixo e calado.

O corpo de Riba estava sendo esperado ontem à noite, por via rodoviária, ficando na sede do Sampaio até a hora do sepultamento, que deverá ocorrer hoje às nove horas. Na residência de seus pais, na rua Cristovão Colombo, muitos foram os amigos do jogador que compareceram para dar as condolências. A maioria não resistia à tristeza dos irmãos de Riba e chorava. Acredita-se que, no sepultamento marcado para hoje, muitos torcedores do Sampaio e das demais equipes se farão presentes, acompanhando-o até sua última morada, no cemitério de São Pantaleão.

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Somente esta madrugada chegou a São Luís o corpo do jogador Riba, que morreu em Aracaju em conseqüência de uma parada cardíaca, logo após participar de uma partida de futebol, defendendo o seu novo clube, o Sergipe. Riba, que completaria 24 anos de idade no próximo mês de maio, jogou no Ferroviário e Sampaio Corrêa, tendo a ser apontado como uma das grandes esperanças de nosso futebol.

O seu sepultamento será realizado no Cemitério de São Pantaleão. Riba morreu ainda no vestiário do estádio Lourival Batista.

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A repercussão da morte do apoiador Riba, nesta capital, foi, como já se esperava, de muitas lamentações. O Sergipe está “arrumando a casa” e trazendo novos valores. O Riba demonstrou que era um bom jogador e ganhou logo a simpatia da torcida, porque foi o que mais se destacou entre os novos contratados. Aracaju é uma cidade pequena e a notícia da morte de Riba foi logo se alastrando até tomar conta de todos os pontos da capital sergipana. Os dirigentes do Sergipe também lamentaram profundamente o fato, nas entrevistas que prestaram aos órgãos de comunicação social, porque também encheram os olhos quando da apresentação do jogador.

Jogavam Sergipe e Leônico e Riba se esforçava muito, destruindo, armando, construindo jogadas e agradando em cheio à torcida alvi-rubra. Decorriam exatamente vinte e sete minutos do segundo tempo, quando ele pediu substituição e foi atendido pelo técnico Antoninho (o mesmo que já esteve aí, no Sampaio, Maranhão e Moto). Como tinha jogadores para a posição na reserva, o treinador atendeu o pedido. Riba saiu tranquilo, parecendo um pouco cansado, mas tudo parecia bem. Concedeu entrevista à imprensa e desceu para o vestiário. Tomou banho e logo começou a sentir-se mal. O médico, dr. José Luís Sandes, que, notando que o atleta passava mal, tentou fazer respiração “boca-a-boca”, mas tudo foi em vão. O jogador foi levado para o hospital São Lucas (uns mil metros do estádio Lourival Batista), mas não houve jeito. Ele, ao que tudo indica, já chegou morto àquela casa. O laudo médico apontou “infarto do miocárdio súbito”. Riba foi levado para o Instituto Médico Legal e necropsiado, mais tarde embalsamado e, por volta das duas horas da manhã, levado em um carro da funerária para São Luís do Maranhão.

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Seu nome completo era José Ribamar Santos Garcia. Ia completar no dia cinco de maio, exatamente 24 anos, pois a data do seu nascimento, segundo o registro, é de 18/5/57. Filho de Maria Tereza Santos Garcia e de João da Cruz Garcia, Riba morava na rua Cristóvão Colombo, 45, no bairro do Diamante. Tinha mais nove irmãos, sendo quatro homens e cinco mulheres. Solteiro, ainda não pensava em casamento, pelo menos não vinha externando isso a ninguém.

Desde garoto, Riba sempre gostou de jogar futebol e seu pai, sempre observando a habilidade do garoto, dava-lhe o maior incentivo, embora lembrando sempre que ele não deveria esquecer os estudos.

Embora sendo motense de coração, pelo exemplo do pai, Riba teve sua oportunidade primeira no Ferroviário, onde começou ainda nos juvenis. Em 1976, atuando contra jogadores profissionais, ele foi considerado por unanimidade da crônica esportiva como “A Revelação do Ano”. Na gestão do professor Rinaldi Maia, como treinador, Riba foi promovido a atleta profissional, em 1977.

O Sr. João da Cruz, pai de Riba, confessa que dava o maior incentivo ao filho, embora reconhecesse que a mãe não gostava muito de futebol e pedia a ele o maior cuidado.

“Futebol sempre foi meu esporte predileto. Gostava do futebol do meu filho, dava muito incentivo a ele” — explica “seu” João — “mas a mãe estava sempre alertando para que ele não se machucasse. Eu lembrava também a ele que não se esquecesse dos estudos.”

Tanto é que Riba foi a Belém e fez um curso na escola de engenharia mecânica, sendo muito bem-sucedido e chegando aqui com o certificado, após um período de dez meses.

Na família existem outros irmãos que gostam de futebol, mas só praticam pelada, embora um deles seja professor de Educação Física. Seu nome é Fernando Antonio Santos Garcia e ensina em diversos colégios da capital.

Ele era bastante conhecido no bairro e tão logo a notícia foi divulgada pelo rádio, a residência dos seus pais começou a receber pessoas que iam transmitir a informação e apresentar os pêsames.

No dia seguinte, a expectativa continuou em torno da chegada do corpo, por via aérea. Mas os dirigentes do Sergipe informaram ser muito difícil isso acontecer, pois o único avião que faria escala, no horário matutino, seria o da Transbrasil — empresa que não funciona, no momento, em São Luís. Os demais, que viriam mais tarde, estavam com lotação completa. Uma caravana, de propriedade do clube, se encarregou de fazer o transporte, sem qualquer ônus para a família, vindo inclusive um diretor do Sergipe.

A pedido do secretário Amaral, o corpo ficou inicialmente na sede do Sampaio, saindo depois para a rua Cristóvão Colombo, no Diamante, e posteriormente para o cemitério do Gavião.

Sendo um dos valores da chamada “Prata de Casa”, como sempre ocorre, Riba ganhava pouco no Sampaio, mas o suficiente para a vida de solteiro. Mesmo trocando de clube — e sempre que isso acontece há interesse por um bom contrato — ele só ganhava no Sergipe Cr$ 15 000 por mês, tendo recebido ainda a modesta quantia de Cr$ 30 000 de luvas.

O médico Milon Miranda, do Sampaio, disse ontem que Riba nunca havia apresentado qualquer sinal de problemas cardíacos. Em Aracaju, a informação foi a mesma. O presidente do clube disse que, tão logo Riba chegou à capital sergipana, foi examinado pelo médico do clube, nada indicando que ele tivesse perigo de morrer do coração.

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Aproximadamente duas mil pessoas compareceram ontem ao cemitério de São Pantaleão para dar o último adeus a José Ribamar Santos Garcia, “Riba”, falecido no último domingo em Aracaju, após uma parada cardíaca que sucedeu-se logo depois de sua saída de campo onde disputava uma partida de futebol.

O cortejo fúnebre saiu do bairro do Diamante, exatamente às nove horas e dez minutos, sendo o caixão envolto sob a bandeira do Sampaio, conduzido pelos ex-companheiros de clube, entre eles, Cabrera, Rosclim, Cabecinha, Toninho e tantos outros. O ambiente de tristeza geral era contagiante. Ninguém da família tinha coragem de falar, pois o clamor era dominante. Lentamente, o cortejo foi conduzido até chegar ao cemitério. Ali pôde-se constatar a presença de torcedores de todos os clubes, dirigentes, jornalistas, árbitros de futebol e amigos íntimos do falecido.

Coube ao padre Vítor fazer a oração de “Corpo Presente”, acompanhado atentamente pela multidão. O “capitão” Cabrera falou em nome dos companheiros e, em certa ocasião, chegou a contagiar os presentes, inclusive ao veterano Djalma Campos, a Neguinho e o árbitro Leclínio Estrela. O clamor de seus pais, dona Maria Tereza e sr. João da Cruz, e mais dos nove irmãos, foi simplesmente incontrolável na hora em que o caixão desceu à sepultura. Sob milhares de acenos foi dado, finalmente, o último adeus: ao craque, ao amigo, ao garoto que desaparece prematuramente, porém cuja lembrança continuará durante muito tempo na mente daqueles que conheceram o seu futebol limpo, sua inteligência e, acima de tudo, o bom caráter que deixou em sua passagem pela Terra.

Em decorrência do falecimento de Riba, o Sampaio Corrêa cederá ao Sergipe o ponteiro-direito Fernando. Este não fez nenhuma objeção em se transferir para o futebol sergipano, afirmando mesmo não possuir qualquer superstição em torno do episódio. Tudo está ainda na dependência de um acerto financeiro entre o Sergipe e o jogador. O ponteiro-esquerdo Bimbinha é outro atleta que se encontra disposto a tentar a sorte no futebol sergipano. De ídolo, ele passou a reserva, porque Pacheco, um carioca de 24 anos, agora é o dono absoluto da camisa onze tricolor.

Por ocasião da partida de hoje à noite, entre Maranhão e Moto, será registrado, antes do início, um minuto de silêncio em homenagem póstuma a José Ribamar Santos Garcia, o Riba. Foi o que determinou a Federação Maranhense de Desportos, através do presidente Biló Murad. A FMD, no dia passado, já divulgara nota lamentando o desaparecimento de Riba e enaltecendo seu passado como jogador profissional.

Ontem, jogadores do Sampaio, liderados por Darci Munique e Neme, estudavam a possibilidade de realização de um jogo com renda totalmente revertida para os familiares do falecido jogador. Esse evento seria realizado na próxima quarta-feira.





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