segunda-feira, 22 de julho de 2024

Ferroviário campeão maranhense em 1957

Trecho do livro "Almanaque do Futebol Maranhense Antigo: Clubes Menores da Capital"

O inédito título de 1957 é lembrado até hoje pelos torcedores mais saudosistas. E não somente pela forte equipe apresentada pelo Ferroviário, mas pelo conjunto da obra em que o futebol maranhense atravessava, com verdadeiros craques que desfilavam pelos gramados do já extinto Santa Izabel e que encantavam multidões. A Bolívia Querida contava com nomes do quilate de Terrível, Valfredo, Vareta, Gedeão, Rack e outros; o Moto Club, com Bacabal, Reginaldo, Pedro Buna, Baé, Nabor, Gimico e demais craques; o Maranhão de Derval, Carrinho, Moacir Bueno, Mariano, Nélio, Serra, Moacir e outros. Uma época de ouro do nosso futebol.

O Estadual daquele ano foi vencido de ponta a ponta pelo Ferrim, com uma invejável campanha (a equipe perdeu apenas um jogo, mas acabou recebendo os pontos pela escalação irregular de dois atletas do Sampaio Corrêa). O grande trunfo naquele ano, porém, foi apresentar ao Maranhão e a todo o Nordeste uma lenda ainda viva que, não fosse apenas o erro geográfico em ter despontado no futebol aqui no Maranhão, seguramente teria sido considerado um dos maiores atletas da história do futebol brasileiro: o paraense radicado em São Luís, Hamilton Sadias.
Após conquistar o tricampeonato do Torneio Início (1955/56/57) com uma vitória na decisão sobre o MAC por 1 a 0, gol de Negão, o Ferroviário estreou no Estadual diante do Moto Club, que promovia a volta do experiente goleiro Bacabal. O Ferrim, por sua vez, lançava a campo o centro-médio pernambucano Toquinho, que fazia a sua estreia com a camisa do Tricolor da Estada de Ferro. Valber Penha; Esmagado e Santos; Peruzinho, Toquinha e Augusto; Pitú, Nonato Cassas, Valtair, Zuza e Negão, sob o comando do treinador húngaro Américo Brunner. Essa era a base que estreou no campeonato de 1957 com um empate diante do atual vice-campeão maranhense.

Em sua última participação no Primeiro Turno, o Ferrim, líder até então, lançaria a campo o seu recém adquirido atacante Hamilton, contratado após uma rápida excursão da Tuna Luso Comercial, o seu agora ex-clube, a São Luís. Hamilton destacou-se durante algumas partidas amistosas contra o Sampaio Corrêa e caiu nas graças do dirigente Clóvis Viana. O mandatário Ferrim, então, viajou até Pernambuco para contratá-lo, no momento em que ele se exibia em Recife com a Tuna. Reforçado a peso de ouro, Hamilton foi uma das aquisições mais caras para os padrões do futebol maranhense na época: ele recebeu cerca de Cr$ 100 mil (equivalente a R$ 12 mil em valores atualizados) por dois anos e meio de contrato. Era, então, o duelo Hamilton (pelo Ferrim) versus Terrível (pelo Sampaio) no encerramento do turno.

O artilheiro passou cerca de um mês apenas treinando e se habituando ao novo clube, até estrear contra o Sampaio Corrêa, no dia 07 de julho. Quatro dias antes, em um apronto para o duelo diante dos tricolores, o endiabrado atacante paraense já deu mostras do que o público poderia aguardar: em treino realizado no Santa Izabel, o craque assinalou nada menos que três gols na vitória dos titulares sobre os reservas pelo placar de 8 a 3. Na estreia, contra o time boliviano, Hamilton já mostrou ser um goleador nato. O Sampaio Corrêa fez 2 a 0 e Hamilton, ainda acanhado, não fez quase nada. A torcida boliviana começou a pegar no pé do atacante, gritando em coro: “Cadê os cem contos, cadê os cem contos?”. No início do segundo tempo Ribeiro fez logo um gol, o Ferroviário se animou e foi então que o artilheiro, de um temperamento calmo, se transformou, mostrando o seu verdadeiro futebol: marcou logo três gols e o Ferrim virou a partida para 4 a 2. Coisas do gênio chamado Hamilton.

Após vencer o vice-líder Maranhão pelo placar mínimo, o Ferrim entrou em sua penúltima partida, diante do Vitória do Mar, necessitando de apenas um empate simples para levantar o troféu de campeão por antecipação do certame de 1957. O Vitória, treinador por Waldemar de Almeida, lançou a campo a sua melhor equipe, com Batatais; Mizael e João Cinco; Lelé, Ivan e Zé Rocha; Abimael, Ferreirão e companhia, na tentativa de evitar o título do returno pelos ferrins e, de quebra, cravar uma vaga na melhor de três, em caso de título do returno. Não deu. O empate em 1 a 1 deu à equipe da Estrada de Ferro o troféu de campeão maranhense. O avante Joãozinho, do Vitória do Mar, assinalou diante do Ferroviário o seu sexto gol na competição, artilheiro absoluto do Estadual. Hamilton, com o seu tento assinalado na partida, chegou a quatro, vice-artilheiro geral do campeonato.

Em seu último compromisso no Estadual, o Ferrim enfrentou o Sampaio Corrêa, que recentemente havia empatado em jogo amistoso diante dos cariocas do Vasco da Gama, em excursão por São Luis. Na partida, realizada na tarde de 17 de agosto de 1957, no Estádio Municipal, assim perfilaram as duas equipes: o Sampaio Corrêa mandou a campo Dodó, Terrível, Arlindo e Valfredo; Vareta e Élber; Gedeão, Marcos, Cearense, Rack e Garcia; já o Ferrim atuou com Enemer, Peruzinho, Santos e Carapuça; Bebeto e Negão; Pitu, Valtair, Hamilton, Zuza e Vicente.

A derrota pelo placar de 2 a 1 frente aos bolivianos, porém, chamou a atenção por um fato inusitado: os três gols da partida foram assinalados em apenas três minutos. Aos 38 minutos da etapa final, Gedeão, deslocado para a ponta-esquerda, aproveitou-se de uma indecisão do goleiro Enemer e abriu o placar, de cabeça. Um minuto depois ele mesmo assinalou o segundo, em um forte chute. Aos quarenta, Negão marcou o gol de honra dos Ferrins. Apesar da derrota, o Sampaio Corrêa acabou penalizado com a perda dos pontos pelo TJD, por escalar de forma irregular os jogadores Arlindo e Vareta.

Com o título, a diretoria do Ferroviário ofereceu em sua sede social um coquetel aos seus atletas, clubes co-irmãos, associados e a imprensa em geral. A equipe ainda aproveitou o momento de festa para realizar uma breve excursão pela cidade de Caxias, onde atuou diante do Palmeiras e do Rodoviário. Toda a delegação com todos os titulares viajou para a Princesa do Sertão em um vagão especial da Estrada de Ferro São Luís/Teresina. Mais apropriado, impossível.

CAMPANHA DO TÍTULO DE 1957

PRIMEIRO TURNO

15.06.1957: Ferroviário 1x1 Moto Club
23.06.1957: Ferroviário 3x2 Maranhã0
30.06.1957: Ferroviário 1x0 Vitória do Mar
07.07.1957: Ferroviário 4x2 Sampaio Corrêa

SEGUNDO TURNO
21.07.1957: Ferroviário 1x0 Moto Club
03.08.1957: Ferroviário 1x0 Maranhão
10.08.1957: Ferroviário 1x1 Vitória do Mar
17.08.1957: Sampaio Corrêa 2x1 Ferroviário

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