Um post especial, dedicado a um dos últimos grandes nomes no gol atleticano, o goleiro Raimundão. O itapecuruense e um dos atletas do futebol maranhense de nome na década de 90 abandonou a carreira aos 42 anos de idade, não sem antes deixar o seu nome registrado nos anais do nosso futebol pela conquista do inédito Tricampeonato Estadual com o MAC. O texto foi extraído do livro "Salve, Salve, meu Bode Gregório: a História do Maranhão Atlético Clube":
Após pendurar as chuteiras, aos 42 anos, Raimundão fez história no MAC e deixou saudades. Tricampeão Maranhense pelo clube que o revelou e um dos ateltas que mais disputou partidas com a camisa atleticana em todos os tempos, o experiente goleiro daria provas de amor ao clube que lhe deu a primeira chance como atleta profissional. Com altos e baixos na carreira, Raimundão rodou por diversos clubes, mas sempre retornava às suas origens, o Parque Valério Monteiro, onde foi, além do dono da camisa 1 durante muitos anos, preparador de goleiros e até dirigente. E não foram poucas as dificuldades passadas na vida desse grande nome da história do Glorioso.
Raimundo Nonato Sampaio nasceu em Itapecuru-Mirim no ano de 1969. E logo aos 13 anos começou a jogar como goleiro pelo time amador do Trizidela, do desportista Edson, funcionário da Estrada de Ferro. Com uma infância muito humilde, desde cedo o jovem trabalhava para ajudar nas despesas da casa, já que seu pai era garimpeiro e a mãe, dona de casa. Após sair de casa aos 14 anos, começou a jogar, aos 15, no Vasquinho da cidade de Bacabal, onde residia. Aos 16 anos, o craque resolveu mudar para São Luís, onde trabalhava e jogava pelas equipes do Isabelense, do Bairro da Vila Isabel, e do São Paulo, de São José de Ribamar. A convite do olheiro Agnaldo, do Tupan, por muito pouco Raimundão não foi para a base do time indígena. Como não receberia salário, optou em não participar e continuou a trabalhar em uma gráfica, na Rua Cândido Ribeiro, onde era empregado. Em 1987, Raimundão recebeu um convite do Prefeito e desportista Antônio Joaquim, de Codó, para disputar o Campeonato Codoense pelo América. Com uma proposta salarial bem maior do que aquele que recebia na gráfica, Raimundão não hesitou em deixar o emprego e seguir para o interior, onde ainda rodou pelo Nacional, em 1988 e 1990, sempre atuando como um goleiro muito técnico, rápido e arrojado, sendo sua especialidade as bolas altas.
Zezinho Machado, desportista de Itapecuru-Mirim, recrutou Raimundão e outros craques para a Seleção Itapecuruense para o Torneio Intermunicipal, no segundo semestre de 1991. Raimundão, que já era residente e trabalhava no Departamento de Trânsito em Codó, jogava pela seleção apenas nos dias de folga e pelo América – às vezes atuava no sábado por um e no domingo pelo outro. A fase final do Intermunicipal aconteceu já no final do ano. Jackson e Juca, que jogaram respectivamente no Fabril e São Paulo de Codó e já levados pela diretoria atleticana para a base do MAC, indicaram Raimundão ao Maranhão pelas suas atuações no Intermunicipal. Na época, o goleiro chegou a ser pretendido, inclusive, pelo River de Teresina, a pedido do treinador Mormaço.
A convite do Diretor de Futebol França Dias, Raimundão passaria por um período de testes no MAC, logo após a decisão do Intermunicipal de 1992. Com o aval da família, deixou Codó, aos 23 anos, e veio a São Luís para a decisão do torneio e também de mudança, para jogar pelo MAC. Com o vice do Intermunicipal, perdido para a Seleção de Balsas, Raimundão passou a ser trabalhado por João Batista (ex-goleiro do Tupan e Vitória do Mar) para assumir a titularidade no gol atleticano, sobretudo após o afastamento do goleiro Clemer, que havia se acidentado.
Raimundão estreou pelo Maranhão no dia 28 de Fevereiro de 1993, na derrota diante do Sampaio Corrêa por 1 a 0 pela Taça Cidade de São Luís. Já como titular no gol, disputou quase todo o Estadual daquele ano. Na véspera da final, contra o Imperatriz, o seu primeiro filho havia nascido e isso o motivou ainda mais para a partida decisiva. Por ser um atleta vindo do interior, sem base e criticado em suas primeiras atuações na competição, acabou disputando e perdendo a posição com o goleiro Paulo Márcio, recém-contratado e com mais experiência. Após a saída de Arnaldo Lira, que havia colocado Raimundão novamente como o titular do gol atleticano, José Dutra assumiu o MAC e barrou Raimundão para a final contra o Cavalo de Aço. “Você é atleta da casa. Se o MAC ganhar ou perder o título, o Paulo Márcio vai embora amanhã. Se você ganhar, você vai ser o herói do jogo, mas se perder, será crucificado”, justificou-se Dutra na época. Raimundão, é claro, aceitou calado a ordem, mas depois de muitos anos entendeu a sábia decisão do treinador.
Raimundão na comemoração do tricampeonato maranhense, em 1995
Treinando
Bode campeão em 1995
Após o título, Raimundão foi levado pelo treinador Arnaldo Lira para o Fortaleza no início de 1994, juntamente com Luis Carlos, Reginaldo e Carlinhos. Com o encerramento do Campeonato Cearense, retornou ao MAC, onde foi bicampeão em 1994/95. No ano seguinte, Raimundão foi emprestado ao Comercial de Ribeirão Preto (juntamente com Jackson, Carlinhos e Rejane), onde disputou o Paulistão e o Brasileiro. Após ganhar o seu passe junto ao MAC em 1997, o goleiro começou a sua peregrinação por diversos clubes: Juazeiro (1997/98), Galícia da Bahia (1998), Maranhão (1998/99), Potiguar de Mossoró (1999), Rio Branco do Acre (1999 a 2001), Fluminense de Feira (2000), Castanhal (2002), Maranhão (2001 a 2003), Treze (2004), Potiguar de Mossoró (2005), Guamaré da Paraíba (2005), Maranhão (2006), Bacabal (2007), Comerciário (2008), Maranhão (2008/09), IAPE (2009/10) e Maranhão (2011), além de trabalhar como auxiliar-técnico e treinador no São José de Ribamar, em 2012.
Raimundão passou por alguns grandes mementos em sua carreira. Além do Tricampeonato Maranhense, a conquista da Taça Cidade de São Luís em 2006, vencida diante do Imperatriz e com o Maranhão contando com um timaço, com Carabina, Pires, Johildo, Paulo César e Cacá, entre outros. O outro foi no ano de 2008, quando ajudou o Maranhão na luta contra o rebaixamento no Estadual. O Bode necessitava de duas vitórias em três jogos. Com a vitória no Samará e o empate no Maremoto, o time atleticano escapou da Série B após vitória, na última rodada, diante do BEC, em São Luís, com grande atuação do goleiro Raimundão, que chorou muito após o jogo, temeroso em ter manchada a sua grande história pelo clube atleticano com uma possível queda à Segunda Divisão.
Após o Campeonato Maranhense de 2011, Raimundão, já com 42 anos e sem a mesma agilidade, decidiu encerrar a carreira no final da temporada. Após passar, a pedido, todo o Primeiro Turno da Copa União no banco de reservas, ele assumiria o gol atleticano nos jogos decisivos da competição. E a sua despedida dos gramados veio de forma melancólica: na primeira partida da final da competição, o time atleticano, vergonhosamente, foi goleado pelo Sampaio Corrêa por 7 a 1, dia 01 de Dezembro daquele ano. Os sete gols na despedida, porém, não mancharam a vitoriosa carreira do goleiro que já havia entrado para a restrita galeria de grandes nomes na história do MAC. E a prova de maior carinho e consideração ao Glorioso veio em 2003, quando ninguém se dispunha a assumir a presidência do clube para o segundo semestre. Raimundão, juntamente com o treinador Arlindo Azevedo, formou uma pequena Junta Governativa e colocou o time maqueano a campo no Brasileiro da Série C. Apesar da fraca campanha (perdeu todos os jogos na competição), a experiência seria de grande utilidade para Raimundão no futuro.
Já aposentado dos gramados, Raimundão passou pela sua primeira experiência como cartola de futebol, ao profissionalizar a Associação Itapecuruense de Futebol, criada em 2003 e que apenas em 2013 disputou a segundona de 2013, seu primeiro ano como filiado à FMF. Com Raimundão assumindo as funções de Presidente, técnico e Diretor de Futebol, o Itapecuruense disputou a competição com apenas cinco reforços experientes, sendo a base composta por atletas da cidade e região. Mais uma grande investida na carreira do versátil goleiro que marcou uma época no futebol do Estado do Maranhão.