Deixo hoje aqui no Blog um trecho interessante do ex-atleta Luizinho Bola Cheia, que atuo no Sampaio Corrêa no início da década de 70. Manoel Luis Melo, o Luizinho, é natural de Campina Grande e atuou por diversos clubes durante a sua carreira. Em 2010, lançou o livro "Futebol: a arte de um nômade" (muito bom, por sinal), uma autobiografia onde conta as suas passagens pelos clubes e fatos interessantes como atleta profissional. Foram 12 anos como jogador e 16 clubes profissionais. Luizinho foi fundador-presidente da Associação de Garantia ao Atleta Profissional da Paraíba – AGAP-PB, e do Sindicado dos Atletas Profissionais da Paraíba – SAFEPB, que atualmente preside. Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba, o autor é licenciado em Educação Física pela UFRN – onde também atuou como monitor da cadeira Futebol I e II, Pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Bacharel em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação da Furne (atual UEPB), e, ainda, técnico de Futebol pela Escola de Educação Física do Exército (Turma Pioneira), do Rio de Janeiro. Foi coordenador e professor do curso de Educação Física da UNIR, onde lecionou as disciplinas Futebol de Campo I e II, e Medidas de Avaliação em Educação Física na graduação. "Futebol: a arte de um nômade" é um dentre as suas oito publicações sobre esporte. Os outros livros são: "A Difícil Missão de Comandar", "Aprenda a Jogar Futebol" (em parceria com Nilton Santos), "Futebol com Humor", "Futebol para Todos, Vocabulário Popular e Humor do Futebol", "Futebol Também se Aprende na Escola", "Abecedário do Futebol" e "A Importância das Escolinhas de Futebol na Formação do Jovem Atleta de Campina Grande". Deixo neste post a capa desse belo livro e o capítulo sobre a sua passagem pelo Sampaio Corrêa, na década de 1970.
A MINHA IDA PARA O SAMPAIO CORREA
Rescindi com o time do Itabaiana de Sergipe e parti para Campina Grande com mulher e filhos a tira-colo, apenas uns trocados e as passagens. Já que não tinha ônibus direto, tive que viajar até Aracajú, e chegando a capital sergipana comprei novas passagens para Recife-Pe, num percurso de 12 horas de viagem. Logo que chegamos a Veneza brasileira, tivemos que dormir juntamente com os dois filhos num hotelzinho barca-furada, bem pertinho da rodoviária, para empreendermos última viagem até Campina Grande, para repousarmos em nossa residência, devido ao longo trajeto da viagem de um casal de "Turistas Forçados".
No meu lar, passei apenas dois dias, já que o Treze Futebol Clube estava de malas prontas para embarcar para uma excursão até o Maranhão; no retorno se apresentaria no Piauí e encerraria com uma apresentação contra o Ceará Sporting, em Fortaleza. Eu recebi um convite para integrar a delegação para reforçar o plantel do Galo da Borborema, e carregava o sonho de, em último caso, conseguir um contrato para poder ganhar dinheiro e manter minha família que ficaria à minha espera, ou melhor, à espera do dinheiro para adquirir os alimentos para o sustento da mulher e dois filhos.
Foram 26 horas de viagem, num ônibus desconfortável da Luso-Brasileira, que deixou os jogadores do Galo doloridos. Vocês imaginem quanto sofrimento dos atletas e dirigentes alvinegros nesta viagem. Mas, graças a Deus, tudo ocorreu às mil maravilhas, chegamos a São Luiz do Maranhão num domingo pela manhã às 06:00 horas, pois as 16:00 horas deveríamos estar em campo para enfrentar a equipe do Moto Clube.
O Galinho foi para o Estádio Nozinho Santos e faturou o time do Moto Clube por dois tentos a zero, numa excelente apresentação dos comandados de Zé Lima e do popular João Nogueira de Arruda (Pinta Cega). O Galo faturou o 12º adversário de maneira extraordinária, ficando a segunda partida para a quarta-feira quando o alvinegro colheu novo resultado diante do Sampaio Corrêa num empate de 1x1. Mesmo sem atuar contra o Moto Clube e o Sampaio Corrêa, dois treinadores necessitavam de um atleta que atuasse nas laterais com perfeição. Era o Moto e Ferroviário. O Primeiro convite partiu de Pereira, que era treinador do Moto, Pereira era aquele que jogava no Clube de Regatas Vasco da Gama do Rio de Janeiro e que, na época, era cognominado "Pau Pereira". Eu optei pelo time da REFESA (o Ferroviário), pois segundo os desportistas maranhenses, o dinheiro corria fácil, jamais atrasando os vencimentos dos atletas tricolores.
Fui apresentado a Diretoria do Ferrim, e em seguida me levaram para conhecer o treinador de time, que na época era o Nélio, antigo jogador maranhense, que de imediato apresentou-me ao plantel. Era sábado, precisamente às 10:00 horas, tudo acertado, a minha estreia seria contra o meu ex-clube, o time que me havia trazido para a excursão, a partida entre Treze e Ferroviário decidindo o título da competição, pois tanto o Galo da Borborema como o Ferrim estavam em igualdade de pontos na tabela do "Torneio Paraíba-Maranhão".
Eu iria marcar o excelente ponteiro esquerdo Josa, que estava no auge da sua forma futebolística. O Vandinho, ponteiro canhoto do Botafogo de João Pessoa-PB, era o reserva do crioulinho, um amigo meu de longas datas. Foi iniciada a partida, eu estava muito tranquilo, pois a minha condição física era das melhores. Josa não deu um chute, eu estava dando um verdadeiro show de bola, eu estava atuando contra o Galo da Borborema como se já jogasse pelo Ferrim há bastante tempo, peguei logo entrosamento com a rapaziada e tudo estava correndo às mil maravilhas. Nos primeiros 45 minutos eu fui senhor das ações, como já frisei anteriormente, o ponteiro esquerdo do Treze não existia pra mim.
O Juiz terminou o primeiro tempo e fomos para os vestiários do Estádio Nozinho Santos. A imprensa local dava os maiores elogios ao lateral Luizinho, como também o treinador Nélio na sua preleção no intervalo do 1º para o segundo tempo.
Voltamos para o gramado e foi iniciada a etapa complementar da contenda decisiva do citado torneio. Exatamente aos dez minutos da fase final, o meia esquerda Soares lançou uma bola nas minhas costas, quando eu tinha ido auxiliar o nosso ataque e estava voltando quase sem fôlego, então quando senti que não dava para pegar o Josa na corrida, sem refletir direito, segurei a bola com as mãos. Aí o árbitro apitou pênalti que foi cobrado por Zé Pequeno, que marcou o tento da vitória trezeana.
Perdemos o jogo por 1 x 0 e eu fui o responsável direto pela derrota do Ferroviário. Após o jogo eu estava desolado, muito tristonho, pois eu achava que nenhum clube do maranhão iria me contratar. Puro engano. Além do Ferrim, o Moto Clube queria ficar comigo, eles acharam que eu coloquei a mão na bola, como último recurso.
No time do Ferrim, eu passei três meses jogando na lateral direita. Ao chegar ao final do ano de 1971, todos os jogadores profissionais estavam recebendo os seus vencimentos para o período do gozo de férias, então eu recebi o meu ordenado e fui ao comércio fazer umas compras para trazer para Campina Grande. Quase todo o dinheiro do meu ordenado gastei na compra de presentes que levaria para os meus familiares.
Na concentração do quadro tricolor da REFESA mostrei a rapaziada os objetos e roupas que havia comprado. Quem joga futebol sabe perfeitamente que os jogadores de fora recebem dinheiro sempre na frente, sempre primeiro do que os de casa (prata de casa). Falei para a turma, que iria tomar umas cervejas com os companheiros paraibanos, que jogavam no Sampaio Correa: Brito, Valdecy, Soares, Wamberto, Paraíba, Lima e o Adelino, que iriam empreender viagem às 04:00 horas da Madrugada numa camioneta C-10 de propriedade do comerciante Paraibano Antonio Gaudêncio, que vinha passar o Natal em companhia dos seus familiares em Campina Grande.
Acertei minha viagem com a turma e rumei para a sede do Ferrim. Quando ali cheguei, os jogadores estavam todos dormindo. Então eu fui procurar dormir também, pois às 04:00 horas, eu iria pegar uma “moleza”. Viajar de São Luis do Maranhão para Campina Grande na carroceria de uma camioneta, até minha cidade natal, era dose para elefante. No dia seguinte, eu estava com as malas prontas, juntamente com os amigos paraibanos para viajar para casa finalmente.
Do Maranhão até Campina Grande, nós vínhamos ingerindo aguardente, quase que não dava para sentir às 25 horas de viagem na carroceria da C-10, mas até que enfim chegamos em casa, eram 10:00 horas da manhã e eu fui direto para minha residência.
Ao chegar em casa fui logo abrindo as malas para mostrar as blusas lindas que havia comprado para minha esposa. Aí foi que sofri uma grande decepção, pois nada do que havia comprado estava na minha bagagem, apenas um amontoado de jornais. Passei vários minutos tristes, pois não tinha a menor ideia de quem havia me roubado.
Passei o período de férias e regressei para São Luis. Lá tive muito ódio de alguns fatos que uns colegas, amigos mais íntimos contaram-me em segredo, de que o goleiro Martins e o lateral esquerdo Antônio Carlos foram os ladrões que tiraram os meus pertences das malas, quando da minha partida para gozar férias. Eles ficaram gozando com a minha cara com grande cinismo, dizendo que eu tinha dado de presente aos dois descarados todas as oito camisas que havia comprado no comércio maranhense.
Ambos eram colegas de profissão, moravam comigo na sede do clube e planejaram o furto quando eu saí para a sede do Sampaio Corrêa para visitar os amigos paraibanos. Para constatar se era verídico o fato que os atletas me relataram, eu fiquei deitado na minha cama e disse para a turma que estava me sentindo mal, e que não iria almoçar no restaurante da estação do Ferrim. Então fiquei na sede, fechei as portas e fui revistar as malas dos jogadores (ladrões), e para meu espanto, vi com os meus próprios olhos as camisas que eles haviam furtado na ocasião da minha viagem. Então tomei uma atitude de imediato, fui até os dirigentes e relatei todo o ocorrido, disse para os diretores que não iria mais permanecer na sede com os ladrões e queria a minha documentação imediatamente.
Ferroviário campeão maranhense em 1971
O diretor de esportes, Evandro falou-me que iria descontar nos vencimentos de Martins e Antonio Carlos, o valor das blusas que eles haviam me roubado. Para não criar uma celeuma, eu não aceitei e pedi com urgência os meus documentos, fui de imediato atendido, fui até a Federação Maranhense de Futebol e recebi toda a papelada, devidamente assinada.
Devido as minhas boas atuações pelo Ferrim, fui procurar o diretor de esportes do Sampaio Corrêa, o famoso Dr. Antonio Ben¬to, que demonstrou-se interessado pela minha contratação, na época o treinador era o Astrogildo Neri, do time "Boliviano"(as mesmas cores da Bolívia): os seus torcedores eram apelidados de Bolivianos. Acertei logo o meu contrato Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros) de luvas, que até hoje vivo procurando este dinheiro, e Cr$ 600,00 (seiscentos cruzeiros) mensais, que passei seis meses sem receber.
Pelo time do Sampaio Correa, atuei poucas partidas, na ocasião (1972), os melhores laterais jogavam no quadro vermelho, amarelo e verde, Célio Rodrigues era o lateral direito e Valdecy, o melhor lateral-esquerdo, tudo engrossou para o meu lado. Recordo-me como se fosse hoje o Sampaio Corrêa iria participar de uma excursão por Brasília e Goiás e na oportunidade, o lateral-esquerdo Valdecy estava com o pé no gesso e o senhor Astrogildo Nery não era mais o treinador do time e sim o maranhense Marçal Tolentino e eu era o lateral que iria disputar todas as partidas na excursão. Moral da história: Soares, o paraibano que tinha a fama de entregar entre o plantel tricolor, Valdecy e Brito se dirigiram até o Banco do Brasil para terem uma conversa com o presidente àquela Walter Zaidan, quando retornaram para a sede do Sampaio, o meu nome havia sido cortado da delegação e cancelada a minha passagem de avião, e no meu lugar iria o outro lateral esquerdo, Brito (Fonca), Valdecy acompanharia a delegação com o pé no gesso.
Foi aí que constatei que havia um "dedo-duro" no time e no dia seguinte, a turma viajou até Teresina para pegar o avião no Aeroporto Santos Dumont e prosseguir viagem até Brasília. Eu fiquei sozinho na concentração, sem comida, sem dinheiro e entregue as baratas. Não pensei duas vezes, fui falar com o presidente Valter Zaidan e ele me relatou toda a trama que o Soares havia feito com um conterrâneo.
O Presidente me disse que o Soares como era capitão do time, declarou para ele que na última vez que jogamos contra o Ferrim, ele me reclamou e então eu respondi-lhe com a mesma moeda com um palavrão, justificando que estava sem receber a três meses e que só jogaria bola no momento em que eles me pagassem.
Falei as palavras acima porque o Soares queria ser o dono do time e, no meu modo de vê, não era para ele entregar dessa forma um pai de família que ganhava seu ordenado suado para sustentar sua família. Depois dessa sacanagem de um conterrâneo, eu falei para toda turma quando regressou da excursão sobre o papel bonito que o Soares tinha feito comigo.
Hoje ele está pagando pela maldade que fez comigo, e como tantos outros, como se diz por aí, "Deus tarda mais não falha".
Devido a estes acontecimentos, resolvi tomar um pileque com uns amigos e quebrar toda a sede do clube. Quebramos tudo, com exceção do televisor que um motorista chamado Chapinha rapidamente pegou e levou para a casa do presidente, Tenente Salomão, um valente da Polícia Militar do Maranhão que quando soube do ocorrido, mandou um forte policiamento para prender os jogadores (eu, Ivan Freitas, Nivaldo, Wamberto e Edmilson Leite). Todos se mandaram e apenas eu fiquei na sede e paguei tudo sozinho.
Fui expulso da sede no dia seguinte, aí dei entrada na justiça comum e desportiva, pois o time ainda me devia as luvas de Cr$ 1.000,00 (mil cruzeiros) e mais seis meses de salários atrasados. O goleiro carioca, Paulo Figueiredo do Madureira do Rio, que também havia brigado com a barca-furada do Sampaio, deu-me todo apoio necessário: colocou-me dentro da casa dele e não faltou nada, tinha do bom ao melhor.
Logo quando Paulo havia chegado da Guanabara para o Moto Clube contraiu uma hepatite e o time o desprezou. Graças a uma mulher (prostituta), por nome de Ritinha, que morava num prostíbulo na rua 28, em São Luiz, o amigo não veio a falecer. A mulher fazia a vida para sustentar a ela e ao Paulo que foi o melhor amigo que tive durante os doze anos que vivi como um nômade, andando por 16 estados do imenso território brasileiro.
Na casa de Paulo, enquanto aguardava o dia da audiência (julgamento), aproveitei o tempo para escrever para a Revista Placar, relatando todo o drama ocorrido comigo, a mulher e dois filhos nesta lamentosa situação. Relatei todo o drama na minha missiva para a redação, inclusive ilustrando tudo com uma fotografia minha com a camisa do time. Com menos de quinze dias estourou a reportagem com a seguinte matéria: "LUIZINHO NÃO ESTÁ CONTENTE", contando que eu estava passando fome com a mulher e dois filhos.
O fator divulgado pela revista Placar, com circulação em todo o território brasileiro, foi a maior vergonha para eles. Eu já estava numa situação ruim e com isso foi que piorou. Chegado o dia e a hora do meu julgamento na justiça (mais lenta que tudo), desconfiei que até o advogado que havia contratado foi comprado pelo Presidente Jurandy do Sampaio. Isso porque, das duas testemunhas que se ofereceram para me defender, apenas o goleiro Paulo (amigo de fé) compareceu ao Tribunal, o Prado (ponteiro direito do maranhense), acovardou-se e não apareceu, levando um sumiço de vários dias.
Na hora da audiência tudo estava contra a minha pessoa. O ilustre advogado, Dr. Júlio Mota, não deu nenhuma palavra e o Juiz marcou nova audiência para depois de 90 dias. Devido a isso, então eu quis pegar o presidente e foi aquele tumulto. Ainda corri atrás dele, mas não foi possível alcançá-lo, tendo este se trancado dentro do seu escritório com um 38 em cima da escrivaninha, para quando eu entrasse ele atirar sem pestanejar.
Após o tumulto fui apanhar a mulher e os meninos, e fiquei sentado na bagagem juntamente com a minha família. De repente surgiram vários locutores e jornalistas para me entrevistar diretamente do local, causando uma grande celeuma, pois a imprensa jogou as torcidas locais contra a atual diretoria. Minutos após o fato ocorrido, surgiram todos os Cartolas e resolveram, de imediato, a minha situação. Dos Cr$ 4.600,00 (quatro mil e seiscentos cruzeiros) que eu tinha direito por lei, recebi apenas a metade, em comum acordo entre o "nômade Luizinho" e diretores do Sampaio Correa.
Como sempre, juntei as minhas coisas e retornei para a minha terra natal. Era final de ano e os clubes estavam dando férias aos jogadores de todo o Brasil. Descansei uns dias e parti para Fortaleza para uma nova tentativa do andarilho Luizinho. Chegando na Federação Cearense de Futebol, encontrei com o gringo Janos Tatray, que imediatamente telefonou para o presidente do Guarany de Juazeiro, dizendo que o lateral esquerdo Luizinho seguiria para assinar contrato com o rubro-negro da terra do Padre Cícero. Quando cheguei à sede do Guarany, encontrei outra vez o "homem do chapéu", o mestre Astrogildo Nery (outro nômade), que já tinha sido meu treinador no Treze, Sampaio e agora, no Guarany.
O primeiro jogo do rubro-negro do juazeiro era contra o Leão da Ilha (Sport), outro rubro-negro. Faltavam dois dias para a estreia da equipe e então os dirigentes mandaram um recado, que era para eu fazer a assinatura de contrato, juntamente com Beto e o Lineu. Eles foram primeiro e eu dialoguei com os dirigentes, por último, nada resolvido, pois eles (os diretores) não queriam dar as luvas a nenhum jogador. Então eu pedi o dinheiro da minha passagem e voltei para Fortaleza, juntamente com Tião das Ovelhas, que não aceitou a proposta do Guarany.
No Fortaleza (o tricolor do pici), havia vários laterais, no Ceará idem, no Ferrim a barca estava furada e o treinador Vicente Trajano só queria meninos no seu plantel. Devido a isso, fomos para a quarta força alencarina, o Calouros do Ar, time da Base Aérea.
Chegando no Calouros do Ar, encontrei vários amigos que já me conheciam pelo Norte e Nordeste do Brasil, por causa da reportagem publicada na revista PLACAR, quando briguei com o Sampaio Corrêa. No elenco tricolor, encontrei os amigos Zezinho e Gildo (ex-Palmeiras), Ramalho (Defelê de Brasília) e o velho amigo Nivardo (ex-campeão pelo Alecrim de Natal). O técnico do tricolor do Alto da Balança era o Mangaba, ex-atleta do Paissandu do Pará. A turma amiga teceu os melhores elogios ao futebol praticado por minha pessoa. Iniciei os treinamentos, abafei e o contrato veio na hora. Mas vi que nosso time não ganhava de ninguém, nem para o Quixadá nós ganharíamos. Conseguimos apenas um honroso empate diante do Fortaleza, numa quarta-feira à noite, que a torcida do "tricolor do pici", inconformada achou por bem derrubar o alambrado todo das arquibancadas para dar uma surra no árbitro da partida, que não estava apitando bem, puxando sempre para o nosso lado. Foi uma verdadeira guerra: torcida do Fortaleza x Polícia. Das arquibancadas, os torcedores atiravam tijolos e a polícia retribuía com tiros que mais parecia o "Vietnam". Nós jogadores ficamos abaixados no gramado, pois as pedras eram para nós também por não deixarmos o Fortaleza ganhar a partida. Fomos para a nossa sede depois do tumulto, quando lá chegamos, na avenida 13 de Maio, no centro da cidade, encontramos vários torcedores querendo amassar o carro do goleiro Pedrinho (ex-Santa Cruz e Palmeiras, de São Paulo), e a confusão começou. Éramos uns vinte e botamos os torcedores para correrem.