quinta-feira, 13 de junho de 2024

O retorno do Ferroviário Esporte Clube, em 1998

Trecho do livro "Almanaque do Futebol Maranhense Antigo: Clubes Menores da Capital"

Após quase duas décadas de paralisação, o Ferroviário Esporte Clube reativou o seu departamento de futebol profissional - apesar da longa pausa, o Ferrim sempre manteve as categorias de base em atividade. Quando retornou, a equipe já não possuía nenhuma ligação com a RFFSA, mas todos os seus diretores eram ligados à Estada de Ferro (o próprio dr. Clóvis Viana era um dos mandatários quando do retorno em 1998). A sua sede funcionava em prédios alugados e a parte administrativa localizava-se no final da Praça Gonçalves Dias, próximo ao prédio de Medicina da UFMA (hoje o imóvel, que na época abrigava a superintendência da Estada de Ferro em nossa capital, é disputado na justiça por antigos funcionários da empresa, mas o mesmo imóvel é tombado como propriedade da empresa; o caso arrasta-se até hoje na justiça).

A ideia de reativação do Ferrim surgiu em conjunto com antigos dirigentes, esperançosos na volta da equipe ao profissionalismo. O presidente da Assembleia Legislativa e também do Sampaio Corrêa, Manoel Ribeiro (agora patrono do Ferrim) possuía um elenco muito grande no tricolor para as disputas do Estadual em 1998. Houve então o contato com os antigos diretores férreos para a reativação do time da RFFSA no Campeonato Maranhense daquele ano. O Sampaio ajudaria tanto financeiramente como no empréstimo de atletas à equipe. O treinador Cabrera foi contratado para gerir a parte técnica e o Sampaio alugou o Estádio Fecurão da Cohab para os treinos. Uma casa do atleta foi alugada em um casarão na Praça Gonçalves Dias, pertencente ao supervisor geral da Estada de Ferro no Maranhão, para receber os jogadores.

No dia 11 de março de 1998, a F.M.F. confirmou a presença de dez equipes no Estadual daquele ano, incluindo a presença do Ferroviário e do Bacabal, os dois últimos a entrarem na competição. Mesmo com a garantia da participação no campeonato, a diretoria encontrou certa resistência na formulação do elenco. A maioria do plantel foi formado por atletas bolivianos. Como o Sampaio disputava naquele momento a já extinta Copa Norte, não poderia liberá-los de imediato, senão os mesmos perderiam o vínculo com o clube (como Cedral, Osvaldo, Willame, o goleiro Raul, Hamilton Gomes e Jurandir), fator esse que atrasou a apresentação desses atletas no Ferroviário.

No dia 26 de março ocorreu, enfim, a apresentação de atletas e comissão técnico, sob os cuidados do presidente Antônio de Jesus Pires, no Estádio Fecurão. No total, 14 atletas, o técnico Paulo Cabrera, o Diretor de Futebol Humberto Trovão, o massagista Joel, o Supervisor Jorge dos Santos (ex-atleta do próprio Ferrim na década de 1970 e que após encerrar a carreira entrou para a RFFSA, por onde se aposentou) e o Preparador Físico Fernando Trovão foram apresentados à imprensa e torcida (posteriormente o lendário Juca Baleia foi contratado para ser o treinador de goleiros). Dos novos jogadores do clube, alguns vieram do futebol pernambucano e baiano (como Ivanzinho, que jogou na Caxiense em 1996 e estava no Fluminense de Feira de Santana/BA) e dez jovens da base emprestados pelo Sampaio Corrêa (compareceram Jean, Válbson, Anderson, Cacá, Aleixo, Júnior II e Rayol). Ainda estiveram na apresentação os jogadores Gil (Brasília/DF), Ney (Francana/SP), Ronaldo (Porto do Monte/Chile) e Didi (vindo do futebol mineiro). Compunham ainda o elenco o meia-direita Carlos Eduardo (vindo do Osasco/SP), o volante Paulo André (Náutico/PE), o goleiro Ronald (Sport/PE), o lateral-esquerdo Geraldo, o lateral-direito Bal e o zagueiro Roberval, estes três últimos vindos do Picos (PI).

A estreia do Tricolor da RFFSA após quase 20 anos aconteceu na tarde do dia 12 de abril, na cidade de Pindaré, diante da equipe local (a grande novidade da rodada inicial ficou por conta da abertura dos portões de todos os estádios, em uma promoção do Governo do Estado e da Secretaria do Estado da Fazenda (SEFAZ), uma das patrocinadoras da competição). Em campo, o Ferrim lançou a equipe formada por Ronald; Cacá, Cedral, Marcelo e Ivan; Didi, Paulo André, Carlos Eduardo e Válbson; Ivanzinho e Gil. O empate em 1 a 1 foi considerado como positivo pela diretoria. E já na rodada seguinte o Ferroviário conseguiu a sua primeira vitória, diante do Boa Vontade, no Castelão. Jaudo, aos 25 minutos, abriu o marcador para a equipe do bairro de Fátima. Com personalidade, o Ferrim virou: cinco minutos depois, Ivanzinho invadiu a área e empatou a partida. Na etapa final, Válbson, de falta, garantiu a primeira vitória do Ferrim em seu retorno ao nosso futebol.

Em seu último compromisso na competição (e já sem aspiração a nada em termos de classificação, terminando assim o Estadual na honrosa sétima colocação na classificação geral, com oito vitórias e sete derrotas), a equipe do Ferroviário encarou novamente o Pindaré, no Estádio Nagibão, dia 01 de julho. A derrota pelo placar de 1 a 0 encerrou a discreta participação Ferrim em seu retorno ao futebol profissional. Aqui, cabe um fato curioso: o Pindaré teve uma estreita ligação com o Tricolor da RFFSA em sua volta: no Estadual de 1998, o confronto de estreia e despedida do Ferrim aconteceu diante do representante interiorano; em seu último Estadual, no ano de 2000, novamente o Ferroviário iniciou e se despediu da competição diante do Pindaré.

A regular campanha da equipe em 1998 teve, segundo comentários, um forte motivo: os jogadores emprestado do Sampaio disputaram poucas partidas pelo Ferrim. Na competição, a equipe férrea precisava de apenas dois pontos para a classificação para a fase seguinte do Estadual. O prazo de inscrição para a Copa Conmebol daquele ano terminava antes e, com isso, em caso de classificação do Ferroviário, esses atletas ficariam presos ao time da Estada de Ferro para o restante das disputas do Maranhense. Em caso de classificação, eles não disputariam a Conmebol (ou seja, competição de maior visibilidade). Houve, na época, um suposto corpo mole dos atletas, mais interessados em serem, assim, liberados para disputar a competição internacional pela Bolívia Querida. O fato, evidente, nunca foi comprovado.

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