quinta-feira, 20 de junho de 2024

A história do Sport Club Luso Brasileiro

O Sport Club Luso Brasileiro foi fundado em 24 de fevereiro de 1917, pelo comerciante português Edgar Figueira. Sua sede ficava na Praça João Lisboa e o campo na Quinta do Monteiro (Rua do Passeio ou Rodrigues Fernandes), ao lado do Hospital Português (onde hoje se encontram vários imóveis e o prédio do SENAC).

Apesar do nome “Luso”, de funcionar ao lado do Hospital Português e do Centro Republicano Português, e de ter sido fundado por um português, o clube não tinha as cores de Portugal, mas sim o azul e o branco (provavelmente em homenagem ao clube português F. C. Porto, fundado em 1893, cujo uniforme era similar, além de um detalhe no escudo).

A agremiação estava fortemente respaldada pela inclusão de antigos associados do Fabril Athletic Club, que tinham feito a opção pelo novo clube.

A primeira diretoria foi assim composta: Presidente: Manoel Antônio Araújo; 1º Secretário: Diamantino Nina de Oliveira; 2º Secretário: Flávio Pereira Tribuzi; Tesoureiro: Albino Augusto Pinto e Diretor de Esportes: Albino Ribeiro de Farias.

A primeira equipe foi formada com Cavalcanti, Barbosa e Flavino; Abílio, Diamantino e Nunes; Miguel, Oliveira, Bizarro, Saraiva e Braga.

A diretoria arrendou junto ao Hospital Português, a antiga Quinta Monteiro, à margem da Rua do Passeio. Feito o campo, a estréia deu-se diante dos marujos do Cruzador brasileiro “Tiradentes”, com o Luso Brasileiro vencendo por 2 x 1.

Logo depois, o Luso passou a reforçar sua equipe, que passou a escalar-se com Tavares (capitão), Guilhon e Santa Maria; J. Rêgo, Napoleão e Bernardo; Lauro, Raul, Monterrey, Jupira e Seltz.

O número de associados cresceu tanto que o clube acabou constituindo duas equipes para as disputas internas: o Saturno e o Júpiter.

Depois do jogo com os marujos, tem-se notícia de uma outra apresentação do “alvi-azul”, quase no final de 1917. Teria acontecido no dia 16 de dezembro, diante do Militar, time do 48º Batalhão de Caçadores. O Luso venceu por 2 x 0.

Com a presença de uma nova força no futebol maranhense, começava a esperança de estruturar-se o futebol do Estado, criando-se uma Liga capaz de congregar os clubes, que já existiam em quantidade regular.

Uma das primeiras tentativas foi a criação da Liga Maranhense de Sports, em 27 de março de 1917, reunião da qual fez parte o Luso Brasileiro.

A festa de inauguração da Liga, marcada para o dia 1º de abril, no F. A. C., seria em benefício dos desabrigados das cheias do rio Itapecuru e se mostrou como um evento grandioso, que contou com jogos entre as nove agremiações fundadoras. O Luso compareceu com a seguinte equipe: Cavalcanti, Barbosa e Flaviano; Abílio, Diamantino e Nunes; Miguel, Oliveira, Bizarro, Saraiva e Braga. No sorteio, coube ao Luso enfrentar o F. A. C., que venceu por 3 x 0.

O Luso cresceu em 1918 e, com isso, nascia a rivalidade com o F. A. C., de Nhozinho Santos. Ninguém ignorava a potencialidade do F. A. C.

A segunda vez que Luso Brasileiro e F. A. C. (que agora já não se chamava mais Fabril e sim Football Athletic Club) jogaram foi a 9 de abril de 1918. Foi uma partida nervosa. No primeiro tempo, o F. A. C. venceu por 2 x 1. No final do clássico, foi assinalada uma penalidade máxima contra o F. A. C., o que acabou por determinar o empate em 2 x 2.

Foram estas as equipes desse encontro histórico: F. A. C. – Medeiros, Martins e Guilhon; Jorge, Cláudio e Domingos; Galas, Zezé, Acir Marques, Carneiro e Joaquim Carvalho. Luso Brasileiro – Tavares, Aldo e Santa Maria; Kenard, J. Rêgo e Diniz; Lauro, Olímpio, Lebre, Jupira e Napoleão.

Naquela época, jogo que terminava empatado era como se não tivesse sido realizado. De pronto ficou acertado novo encontro, a ser realizado em 21 de abril de 1918, desta feita, entretanto, no campo do F. A. C., na Rua Grande. O F. A. C. foi vitorioso por um marcador bastante significativo: 4 x 0.

A nova Liga não vingou e, na reunião em que compareceram os representantes do Luso Brasileiro, Vasco da Gama, Brasil, Anilense e Sam Christovam (tendo o F. A. C. se recusado a participar), decidiu-se por um torneio eliminatório, pela fundação de uma nova Liga e que os clubes filiados não poderiam jogar contra os “não-filiados”. O Fênix entrou em seguida e formou com os cinco clubes supracitados o grupo dos disputantes da “Taça do Comércio”, considerada o primeiro Campeonato Maranhense, vencido pelo Luso Brasileiro, ao bater, na final, o Fênix por 3 x 0, no dia 8 de dezembro de 1918. Estava criado o Campeonato Maranhense, mas a Liga Maranhense de Sports (LMS) só seria estabelecida oficialmente no início de 1919.

Preparando-se para a série de jogos com o Paysandu, de Belém (PA), em janeiro de 1919, o Luso goleou o Fênix (5 x 1) e empatou com o Vasco da Gama. Para melhorar o padrão do seu jogo, chegou a “importar” alguns valores do futebol paraense.

A 18 de janeiro de 1919, chegava a São Luís o Paysandu. Na tarde do mesmo dia da chegada, aconteceu o primeiro jogo Luso Brasileiro x Paysandu. Um enorme público compareceu ao campo da Rua do Passeio. Mas, o Paysandu não deu a menor chance aos maranhenses, vencendo-os por 4 x 0. No dia 20, aconteceu outro jogo entre as mesmas equipes e o placar se repetiu a favor do clube paraense.

A temporada de jogos continuou e a série de insucessos também. No terceiro, nova derrota do Luso, desta vez por 4 x 1. O pior estava por vir. No dia 26 de janeiro, o Luso sofreu o maior revés de todos os tempos. Foi arrasado por 8 x 0. Logo depois, no dia 2 de fevereiro, nova goleada sofrida, por 6 x 1.

Em março de 1919, Luso e FAC resolveram se unir para enfrentar, num jogo-treino, o Sport Club do Recife, que faria escala em São Luís, com destino a Belém. Resultado do jogo: vitória do Sport, por 4 x 2.

No dia 14 de abril de 1919 era anunciada a vinda do Fortaleza, do Ceará, para uma temporada contra o Luso. Os placares revelaram a retumbante superioridade do time maranhense: 6 x 1, 5 x 2, 3 x 3, 1 x 0 e 5 x 0, recebendo muitos troféus pelos feitos.

Em 1919, o que se viu foi um Luso Brasileiro soberano, sem adversários à altura, facilitando o seu bicampeonato. Foram oito vitórias em igual número de jogos. Marcou 43 gols e sofreu apenas dois. Para se ter uma idéia da supremacia “lusa”, os segundos colocados, Vasco da Gama e Fênix, somaram apenas sete pontos ganhos.

Em janeiro de 1920, o América, de Recife, bicampeão pernambucano, também de passagem para Belém, fez escala em São Luís e bateu o Luso num animado jogo-treino, por 4 x 2.

Nesse ano de 1920, o FAC voltou à LMS e, em março desafiou o Luso para um amistoso. No dia 21 de março, o Luso entrou em campo com Dico, Negreiros e Rodolfo; Jupira, Sazão e Santa Rosa; Santana, Dantas, Joãozinho, Rochinha e Carvalho. O FAC, por sua vez, jogou com Paulo, Martins e Souza; Carlito, Saracura e Trajano; Carlos Rêgo, Cantuária, Oliveira, Pau Amarelo e Enéas. O jogo terminou com o placar de 2 x 0 para o FAC.

Após o Torneio Início, que terminou com o FAC em 1º e o Anilense em 2º, as equipes do Luso, Fênix, Paulistano e Cruz Vermelha abandonaram a Liga, alegando não concordarem com multas impostas e/ou resultados de jogos. Essas quatro equipes e mais Cruzeiro, Internacional e Tupan se uniram e fundaram mais uma entidade, a União Desportiva Maranhense (UDM), que fez oposição, durante todo o ano, à LMS, mas que não teve longevidade. O FAC foi o campeão de 1920.

Em agosto daquele ano, o Yole Club, de Belém, fez dois jogos contra o Luso, vencendo por 2 x 1 e perdendo por 4 x 3. Dois meses depois, foi a vez do Ceará Sporting Club, de Fortaleza, fazer sua exibição na capital maranhense, empatando três jogos (2 x 2, 1 x 1 e 0 x 0) e perdendo um (2 x 1), para o Luso.

Mesmo tendo conquistado o título de 1920 e também o do Torneio Início de 1921, mais uma vez o FAC desistiu de disputar o campeonato de 1921. O motivo da saída teria sido a não participação no Torneio Início de Luso, Vasco da Gama, Fênix, Internacional e Colombo. O clima esteve quente em 1921, com toda a diretoria da LMS pedindo demissão. Depois da saída do FAC e do Sam Christovam, além dos desencontros da Liga em relação ao Athenas, Colombo e Paysandu Maranhense, restou à LMS fazer um campeonato bem modesto, com a Série A composta apenas por Luso Brasileiro, Vasco da Gama e Fênix, e a B, por Colombo, Paysandu e Anilense, tendo sido campeões maranhenses de 1921, nas duas respectivas divisões, o Fênix e o Anilense.

Em janeiro de 1921, novamente o Ceará voltou a São Luís para enfrentar o Luso Brasileiro em quatro jogos. Resultado: duas taças para cada lado.

Seis times disputaram o campeonato maranhense de 1922, mais uma vez totalmente dominado pelo Luso Brasileiro, que o conquistou de forma invicta novamente. Nos dez jogos que disputou, venceu oito e empatou dois. Marcou 27 gols e sofreu 11.

O futebol maranhense atravessava períodos de altos e baixos, entre os quais merece destaque o encerramento das atividades futebolísticas do FAC, em 1923, vitimado pela crise que se alastrou na empresa que o mantinha. Sua última participação no campeonato maranhense aconteceu em 24 de novembro de 1923, ao derrotar o Fenix, por 2 x 0. O Luso sagrou-se bicampeão, com o FAC em segundo e o Fenix em terceiro.

Em janeiro de 1923, aconteceu a primeira excursão do Luso Brasileiro, quando foi a Parnaíba (PI), a convite do Internacional local. Entre os dias 12 e 17 de janeiro, perdeu para o Internacional e para o Coroa, ambos por 3 x 1, empatou com o Coroa (1 x 1) e com o Piauí (2 x 2) e venceu o último jogo, contra o Artístico, por 2 x 1. Formou com Dico, Pires e Beleza; Jupira, Carvalho e Elpídio; Venâncio, Santana, Guilhon, Clodomir e Mundiquinho.

No ano seguinte, o futebol maranhense capengava, sobretudo pelos partidarismos ainda latejantes entre os clubes e pelo “sumiço” da Liga.

Nos anos de 1924 e 1925, em campeonatos de curta duração (apenas um turno), o Luso Brasileiro manteve seu título de campeão sem problemas, chegando ao tetracampeonato. Nesses quatro anos de disputa, perdeu apenas dois jogos.

O campeonato de 1926, além de um maior número de participantes (nove), apresentou a estréia daquele que viria a ser o maior conquistador de títulos do campeonato maranhense, o Sampaio Corrêa. Ainda assim, o Luso Brasileiro chegou ao pentacampeonato, com o Sampaio Corrêa na segunda colocação.

O campeão da Bahia, Ypiranga, de Salvador, fez três jogos em São Luís, na última semana de agosto de 1926, um dos quais vencendo o Luso Brasileiro por 3 x 0, no dia 24.

Luso Brasileiro e Sampaio Corrêa foram novamente os protagonistas do campeonato maranhense de 1927, que foi decidido no “tapetão”. Em campo, no dia 18 de março de 1928, o Sampaio Corrêa golearia o Luso Brasileiro, por 4 x 1. Logo depois, perderia os pontos deste jogo e o título por utilizar irregularmente os jogadores Clarindo e Lobinho, que estavam suspensos pela A. M. E. A. Esta entidade, então, proclamou o Luso Brasileiro campeão. Formou o Luso Brasileiro com Dico, Belo e Osvaldo; Ferreira, Tavares e Guanabara; Caboclo, Josaphat, Guará, Zezico e França.

Em 1928, o Luso Brasileiro teve a sua seqüência de títulos quebrada pelo Vasco da Gama. Ficou com o vice-campeonato.

Em agosto de 1928, o Maguari, de Fortaleza, fez uma temporada de quatro jogos em São Luís, um deles o empate em 3 x 3 com o Luso Brasileiro.

Talvez sua torcida não soubesse mas, no dia 1º de janeiro de 1929, ao vencer o Syrio, por 4 x 0, jogo válido pelo campeonato de 1928, o Luso Brasileiro estaria fazendo sua última partida válida pelo campeonato maranhense. Guará, três vezes, e Caboclo, marcaram os gols. O Luso Brasileiro formou com Dico, Gutemberg e Picoli; Formigão, Tavares e Moreirinha; Albérico, Caboclo, Guará, Belo e França.

No dia 13 de agosto de 1929, a equipe do Luso Brasileiro fez a última partida de sua breve, mas gloriosa história, ao vencer o Independência, de Manaus, por 3 x 1. Após a partida, Tarquinio Lopes Filho, Diretor de Esportes do Luso Brasileiro, abraçou cordialmente os jogadores do time vitorioso e, depois de justificar os motivos da deliberação que tomou, comunicou a resolução do Luso em desaparecer das competições esportivas do futebol. Assim, chegava ao fim o maior time de futebol do Maranhão da época.

Com seus oito títulos de campeão, o Luso Brasileiro só é superado pelo “trio de ferro” do futebol maranhense: Sampaio Corrêa, Moto Clube e Maranhão.

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