Uma pequena homenagem do blog Futebol Maranhense Antigo e deste titular, Professor Hugo Saraiva, ao ex-jogador Pelezinho, campeão brasileiro da Série B em 1972 com o Sampaio Corrêa e que veio a falecer nesta quarta-feira, 06 de março, em São Luis. De acordo com a família, Pelezinho vinha tendo um acompanhamento oncologico e acabou tendo um infarto. Pelezinho jogou nos três grandes de São Luís, mas foi no Sampaio que marcou sua carreira.
Trecho do livro "Memória Rubro-Negra: De Moto Club a Eterno Papão do Norte"
Discorrer sobre a vida e obra do maior jogador do futebol mundial de todos os tempos torna-se até desnecessário. Quem viu em campo Edson Arantes do Nascimento, que iniciou a sua carreira profissional ainda na adolescência, em 1956, sabe que poucas linhas tornam-se impossíveis para descrever a trajetória daquele que foi coroado como o eterno Rei do futebol. Pela década de 1950 também despontava outro Pelé. Por obra de Deus e para alegria do futebol maranhense, o garoto, que também atuava como ponta de lança, se lançou para os gramados em São Luis, mais especificamente no Bairro do Anil. Esse era o jovem José Dolimar Nunes, o Pelezinho, futuramente um atacante inteligente, veloz e muito habilidoso, que driblava e protegia muito bem a bola, apesar do corpo franzino.
O grande ídolo rubro-negro da década de 1960 nasceu em São Luis, em Outubro de 1941, no Bairro do Anil, onde havia muito campo de terra batida e onde Pelezinho começou a jogar futebol na infância. O Anil, aliás, era famoso por revelar grandes atletas que já brilharam nos gramados de São Luis, como os craques Gojoba, Coelho, Toca, Carlos Alberto, Faísca, Euzébio, Jacinto, Zezico, Jocemar, entre outros. Quando o Rei do futebol iniciou a sua carreira, Pelezinho começava a jogador ainda de foram amadora em Pedrinhas. Foi lá, inclusive, que veio o apelido que o consagraria: por sua baixa estatura e pela maneira como jogava, com extrema facilidade, foi apelidado por Maria do Carmo – torcedora do Vila Nova do bairro Pedrinhas. Porém, o craque deu os primeiros passos no futebol de campo em 1959, aos 17 anos, atuando pelo 1º de Maio Futebol Clube, do Bairro do Anil, no campo onde hoje funciona a FUNAC (Fundação Nacional de Assistência à Criança), a antiga FEBEM. Daí surgiu o convite para atuar pelo Vila Nova, por onde atuava aos finais de semana. Pelezinho nem chegou a disputar o Campeonato Anilense (amador) pelo 1º de Maio (atuou apenas partidas amistosas com um grupo formado por Gojoba e outros atletas da época): o senhor Elias Serra Pinto – mais conhecido como Boi de Bota – era goleiro e dono do 1º de Maio. Ele se zangou [...] e emprestou uns cinco atletas para o Bahia disputar a competição. Fui nesse embalo. Apesar dos reforçou, a equipe perdeu a decisão daquele ano para o Cruzeiro. Apenas no ano seguinte, 1960, Pelezinho foi campeão amador pelo Bahia. Segundo informações1, a decisão que foi disputada na preliminar de Sampaio x Moto, no Nhozinho Santos. O time do Bahia venceu por 3x0, com três gols de Pelezinho, o que despertou o interesse dos chamados grandes, inclusive do Vitória do Mar.
Após as suas atuações pelos campos do Anil, Pelezinho foi procurado no Liceu Maranhense, onde estudava, por pessoas ligadas à diretoria do Vitória do Mar. Porém, antes de assinar em 1961 com o chamado “Clube da Estiva”, o seu primeiro clube profissional, Pelezinho, chegou a passar por um período de testes no Sampaio Corrêa, onde realizou algumas partidas amistosas pelo Tricolor. Porém, não assinou contrato com o time boliviano por dois motivos: ainda mantinha vínculo com o Bahia do Anil e as condições de contrato do Presidente do Sampaio, Antônio Bento, que ofereceu apenas o custeio dos seus estudos, no Liceu Maranhense. Assim, Pelezinho retornou ao Bahia. Ainda passou pelo Maranhão Atlético Clube, mas jogou apenas uma partida, pois o jogador não havia se habituado ao ambiente conturbado no clube Quadricolor. O Sampaio Corrêa voltou a oferecer um contrato, mas Pelezinho assinou com o Vitória do Mar por um salário de C$ 5 mil.
No Vitória do Mar, o craque passou dois anos, tempo suficiente para que o “baixinho” mostrasse que era bom de bola e pudesse despertar o interesse pelos outros grandes do nosso futebol. A sua estréia, no Campeonato Maranhense de 1961, aconteceu no jogo Maranhão 2x1 Vitória do Mar, dia 01 de Julho de 1961. Apesar da derrota, Pelezinho marcou logo na sua estréia. O jogador permaneceu no clube até 1963, quando o Presidente do Sampaio Corrêa, Antônio Bento, ofereceu um salário de C$ 15 mil por um contrato de um ano. Segundo consta4, as luvas foram pagas de uma forma totalmente inusitada: ganhou um rádio à pilha, aparelho que começava a se popularizar na época em nossa cidade. Pelezinho, que inicialmente ganhava C$ 15 mil no Sampaio, viu o seu salário dobrar em pouco tempo. Na Bolívia Querida, porém, Pelezinho alcançaria apenas a terceira colocação no Campeonato Maranhense daquele ano, vendo o Maranhão Atlético Clube interromper o tricampeonato do Tricolor.
Em 1964, por indicação, um empresário queria levá-lo para o Sport Recife, que já contava com o futebol de Garrinchinha e Gojoba. Segundo informações5, Pelezinho aguardava o carro para levá-lo ao treino do Sampaio, na Maioba, quando o Presidente do Tricolor o chamou e perguntou sobre a sua vontade em ir jogar em outro Estado. Antônio Bento, então, falou sobre o empresário que queria levá-lo ao Sport. Como não se chegou a um acerto financeiro, a transferência não foi concretizada com esse empresário. Porém, nesse mesmo ano, Pelezinho desembarcaria em Recife, onde passou três anos atuando pelo rubro-negro da Ilha do Retiro. Quem acabou levando-o foi o próprio Diretor do Sport, Antônio Palmeira, que veio pessoalmente a São Luis para contratá-lo, aproveitando a sua vinda à cidade por conta do falecimento do pai de Gojoba. Palmeira fez a oferta de C$ 1,5 milhão pelo passe de Pelezinho ao Sampaio Corrêa e mais C$ 70 mil de salário e C$ 300 mil de luvas. Antônio Bento, que morava na Rua Grande, aceitou a proposta e liberou o craque, que abriu de vez as portas para os maranhenses jogarem fora do nosso Estado.
Na capital pernambucana, o jogador permaneceu durante a temporada de 1964 e 1965. Apesar de conquistar somente vice-campeonatos pelo Leão, Pelezinho foi campeão do Nordeste, no começo de 1966, pelo Sport, quando jogavam Pedrinho no gol, Dodó, Alemão (irmão do lendário goleiro Manga), Manoel e Henilton, Leduar e Gojoba, Garrinchinha, Djalma, Pelezinho e Fernando. Foi também pelo Sport que Pelezinho vivenciou um dos maiores momentos da sua vida como atleta profissional: Gojoba e ele atuaram pela Seleção Pernambucana que enfrentou a Seleção da Alemanha e o Peñarol, do Uruguai. Contra os alemães, a seleção ganhou de 1x0. Contra os uruguaios a vitória foi de 2x1. Foram dois gols inesquecíveis para mim. Me dava a impressão que estava defendendo a Seleção Brasileira, confidenciaria anos depois o atacante. Em 1965 o Sport perdeu para o América do Rio de Janeiro o zagueiro Alemão e o ponta Garrinchinha, que depois jogaria pelo Moto Clube. O clube pernambucano entraria o ano de 1966 em uma fase de transição. Para encontrar substitutos à altura, o clube contratou o treinador Gentil Cardoso, que trouxe alguns atletas por sua indicação e não queria contar com alguns jogadores do elenco antigo do Sport. Com o seu contrato quase acabando e por não concordar com o trabalho de Gentil, Pelezinho acabou pedindo o seu desligamento do Sport.
Em 1966 o Moto Club estava em má fase e o Diretor de Futebol do rubro-negro, Salomão Mattar, entrou em contato com alguns jogadores para compor o elenco. Nessa época o Sampaio Corrêa possuía um time forte, à base de muitos atletas que haviam sido promovidos dos juvenis, como Djalma Campos, Fifi, João Bala, etc. Já o Moto Club possuía jogadores mais experientes, como Nabor, Zezico, Hamilton, Laxinha, Alzimar, Corrêa, Alvim da Guia. Mattar queria ter no Papão Pelezinho e Gojoba juntos. “Era um sonho particular dele. Gojoba não pôde vir, Pelezinho veio em junho de 1966 e junto vieram também Chico – meia esquerda que pertencia ao Sport – e Paulo, lateral direito que tinha passe preso ao Arapiraca, de Alagoas” (BIGUÁ, Edivaldo; BIGUÁ, Tânia, 1998a, p. 4). Com os novos reforços, o Moto formou um timaço: Vila Nova, Paulo (substituto de Baezinho), Alzimar, Alvim da Guia e Corrêa; Ronaldo e Ananias (depois cedeu lugar a Chico); Zezico, Hamilton, Pelezinho e Nabor. O rubro-negro foi Tricampeão Maranhense (1966/67/68) com sobras, sendo o Maranhão o único clube que dava trabalho ao Moto.
Dois jogos marcaram a carreira de Pelezinho pelo rubro-negro da Fabril: em 1969, já numa fase irregular no Papão, Antônio Bento Cantanhede, agora Presidente do Moto Clube, trouxe alguns jogadores do Madureira do Rio de Janeiro. Pereira, ex-lateral do Vasco, já em final de carreira, estreava pelo Moto numa partida contra o Sampaio. O Moto perdeu por 3x0 com um show particular de Djalma Campos. O radialista Haroldo Silva, no dia seguinte, entrevistou Antônio Bento, perguntando-lhe pela derrota e o baixo rendimento de Pelezinho, por conta de uma contusão. O Presidente do Moto alfinetou o atleta, dizendo inclusive que poderia rescindir o seu contrato com o Moto, caso Pelezinho quisesse. Após conversa, Pelezinho e Antônio Bento se entenderam e ele voltou a treinar, mesmo sentido a contusão. No jogo revanche, um torcedor motense, o dono de um laboratório de remédios, ofereceu C$ 100 pelo gol da vitória. Pelezinho fez o único gol do jogo. Quando Pelezinho foi receber o prêmio pelo gol, uma surpresa: vários jogadores do Moto se adiantaram, receberam o dinheiro antes e Pelezinho voltou pra casa sem o seu prêmio.
Em 1969 o Moto Clube entrou em uma fase ruim, onde a diretoria começou a atrasar os salários dos atletas e o time caiu de produção (para se ter idéia da situação, Carlos Alberto, o goleiro Assis, Oberdan, Pinha e Toinho “Chulipa” ganhavam por jogo disputado no Papão). Alguns jogadores foram dispensados e Pelezinho foi emprestado, junto com Carlos Alberto, ao Maranhão Atlético Clube, para as disputas no Nordestão. Começava também uma fase ruim para Pelezinho, que se machucou em um dos primeiros jogos pelo MAC e foi abandonado pela diretoria atleticana, retornando logo em seguida para o Moto Club, quase sempre sentindo a contusão. Quando acabou o seu contrato e Pelezinho passou a ter o passe livre, o Moto o procurou, para que ele assinasse praticamente de graça. Pelezinho ficou parado, aguardando a decisão, e o Sampaio Corrêa, em 1970, fez a proposta para cobrir o que o Moto pedia. Segundo informações6, o diretor de esporte do Tricolor, Cláudio Ferreira, foi pessoalmente à sua casa fazer a proposta. Porém, era uma proposta irrisória, pois os dirigentes não acreditavam em uma recuperação total do jogador. Fizeram, então, um contrato de seis meses. Para surpresa dos dirigentes e do próprio jogador, Pelezinho entrou em forma e voltou a jogar como nos velhos tempos, fato esse que motivou a diretoria do Tricolor a querer renovar o contrato do atleta antes mesmo do final dos seis meses iniciais. Pelezinho estranhou o interesse de renovação mesmo com o contrato vigente. Os diretores do Sampaio disseram que, por não acreditarem que Pelezinho voltasse a jogar bem, não deram entrada no documento que eles tinham datado o contrato e o mesmo perdeu a validade. Na renovação, Pelezinho pediu novos valores: C$ 250 de salário e C$ 5 milhões de luvas, o que foi aceito, ainda em 1971.
Em 1972, o Sampaio Corrêa fez boas renovações, como Gojoba (vindo do Ceará), e o Sampaio foi o supercampeão maranhense daquele ano. “Fomos campeões também do Brasileirinho com Jurandir, Célio Rodrigues, Neguinho, Nivaldo e Valdeci Lima. Gojoba e Edmilson Leite. Lima, Djalma, Pelezinho e Jaudemir. Um timaço!”. No ano seguinte, 1973, após a eliminação do Sampaio Corrêa na seletiva para o Brasileiro, a diretoria resolveu encerrar as atividades profissionais do time e Pelezinho, já com 31 anos, resolveu parar. Conseguiu um emprego no Estado, em Novembro desse mesmo ano. Porém, ficou jogando amistosamente pelo Vitória do Mar, quando Djalma Campos, vereador na época, tomou de conta do time da Estiva e realizou algumas apresentações pelo interior, como Viana, Pindaré e Imperatriz. O elenco era formado, em sua maioria, por atletas do Sampaio Corrêa de 1973 e que estavam parados por conta da desativação do time profissional. Em 1974 Marçal Tolentino Serra o procurou, para ele assinar novamente com o Moto Club. Porém, Pelezinho rejeitou, pelo fato de estar empregado no Estado por ter decidido parar com o futebol, até para preservar o nome que conquistou nos gramados. E parou no auge, como o Rei Pelé. Esse era o nosso “Rei” Pelezinho.
Repercussão na imprensa sobre o falecimento do eterno ídolo boliviano:
Imirante: https://imirante.com/esporte/sao-luis/2024/03/06/morre-pelezinho-campeao-com-o-sampaio-em-1972
Jornal Pequeno: https://jornalpequeno.com.br/2024/03/06/idolo-do-sampaio-correa-pelezinho-morre-aos-83-anos-em-sao-luis/
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