domingo, 3 de março de 2024

Ferroviário no Campeonato Brasileiro em 1972

Texto extraído do livro "Almanaque do Futebol Maranhense Antigo: Clubes Menores da Capital"

Com o título de campeão maranhense em 1971, o Ferroviário, teoricamente, se credenciaria a participar, pela primeira vez em sua história, do Campeonato Brasileiro de Futebol (na época, o equivalente à Segunda Divisão do Nacional, o Brasileirinho ou simplesmente Campeonato Nacional). Compondo a chave formada por Campinense, Calouros do Ar, River de Teresina, América de Natal e o cearenses do Maguari, o Ferrim, de imediato, protestou diante da confecção da tabela. Reunidos, os mandatários do representante da RFFSA chegaram à conclusão que, diante dos fatos, não poderiam cumprir a primeira rodada do Nacional. É que a C.B.D. não havia informado sobre as passagens aéreas (a entidade patrocinava a competição com o custeio dos voos) e ainda marcou o jogo para Campina Grande. Como o clube não dispunha de condições de pagar passagens pelo alto custo e pelo fato de as rendas sequer cobrirem os gastos, a diretoria férrea comunicou tal fato de imediato à C.B.D., pedindo uma modificação na primeira rodada ou a imediata liberação das passagens.

O Campeonato Nacional era um plano secundário da C.B.D., que dava pouca importância ao certame. Ela a promovia como uma maneira de conformar os clubes do Norte e Nordeste que ficaram alijados do campeonato da divisão principal. Como se não bastasse todas as dificuldades, a pouca chance de bom faturamento diante da concorrência dos grandes jogos do certame da primeirona, a C.B.D. ainda criava uma série de problemas e incertezas até na confecção da tabela - como o posterior cancelamento da própria tabela e a ameaça de anulação dos primeiros jogos já realizados, como Campinense x Ferroviário, este último com grande prejuízo somente pela ida a Campina Grande. O Ferrim deixou de receber Cr$ 5 mil por um amistoso pela Paraíba e voltou correndo a São Luís para um jogo que acabou adiado.

Sem as passagens, o jeito foi encarar uma longa viagem via rodoviária até a Paraíba. Para as disputas, a diretoria conseguiu a contratação do carioca Roberto, integrado de imediato ao elenco e ainda se cogitou a vinda de Hamilton Melo e Luizinho, solicitados por empréstimo ao Ferroviário do Ceará. Riba, do Maranhão, que vinha treinando normalmente, acabou liberado, uma vez que o Bode Gregório fez muitas exigências pelo empréstimo, além de o jogador ter uma crônica contusão no joelho.

O time desembarcou em Campina Grande às 6h30 da manhã da véspera da estreia, com os componentes da delegação encontrando a cidade beirando os 14 graus de temperatura – o que não impediu a equipe a realizar um treino leve no local do jogo. Sob o comando do experiente treinador Calazans e atuando com Marcial; Miguel, Alzimar, Antônio Carlos e Carrinho; Santana e esquerdinha; Adhemir, Carlos Alberto, Sarará e Coelho, o cansaço acabou contribuindo para o baixo desempenho maranhense na estreia e a Campinense venceu pelo placar mínimo.
Desfalcado de Antônio Carlos e Esquerdinha, contundidos no jogo em Campina Grande, o treinador Calazans aproveitou a folga de oito dias na tabela para organizar melhor a sua equipe, desta vez em confronto diante do River, dentro do Lindolfo Monteiro, na capital piauiense. O empate em 2 a 2 foi considerado como um excelente resultado, sobretudo pela tradicional pressão desumana da torcida mafrense nos confrontos diante dos maranhenses – cusparada, chuva de pedras, agressões e até prisão contra os nossos craques e torcida maranhense, tudo isso fazia parte do embate contra os piauienses em Teresina.

A vitória em casa por 1 a 0 diante do limitadíssimo Calouros do Ar (gol de Adhemir, aos 20 minutos, em jogo tecnicamente fraco) e o empate contra o América de Natal mantiveram o Ferrim na terceira colocação, atrás do próprio representante potiguar e do Maguary, o seu próximo adversário, em um jogo que poderia custar o cargo do treinador Calazans, já que não vinha agradando muito aos dirigentes. Sobre essa a partida, aliás, o representante cearense aceitou a permuta do campo e mandou o seu jogo em São Luís. Assim, o Ferroviário dividiu a renda da bilheteria com o Maguary, além das despesas de passagem e hospedagem da delegação alencarina. Uma derrota tiraria qualquer a chance de classificação dos maranhenses à fase seguinte do Nacional. Em campo, porém, prevaleceu a maior disposição férrea, apesar do fraco jogo. Ademir, aos 6, e Coelho aos 35, ambos na etapa final, garantiram o cargo do treinador Calazans e a terceira colocação na tabela, com seis pontos ganhos, finalizando assim a sua participação no Primeiro Turno do Nacional.

Para o returno, a diretoria conseguiu a renovação do contrato do atleta Esquerdinha para até o mês de fevereiro de 1973 (após essa data, o jogador tinha planos de concluir os seus estudos em Recife e abandonar o futebol). Vivico também havia renovado por mais uma temporada e a diretoria regularizou o termo de empréstimo do goleiro João Paulo, que pertencia ao Maranhão.

Após a vitória diante da Campinense (gol de Sarará, aos 31 minutos, escorando um cruzamento de Coelho), mais uma vez o Ferrim se beneficiou com a compra do mando de campo e trouxe o confronto diante dos cearenses do Calouros do Ar para a nossa capital, pela quantia de Cr$ 7 mil (patrocinados pela Prefeitura Municipal de São Luís), com cotas e as despesas por conta do clube visitante. No jogo realizado na tarde do dia 26 de outubro, a equipe maranhense somente deixou a vitória escapar por erro em seu setor defensivo. No primeiro gol, Vivico falhou clamorosamente, deixando Chiclete marcar como quis. O outro gol foi do lateral Ferrim Miguel, contra, já na etapa final. Um resultado injusto e que tirou o Ferroviário da liderança e dificultou a sua classificação – sobretudo pela derrota na rodada seguinte, dentro de São Luís, para o River, que venceu por 2 a 1 com um gol nos acréscimos.

Em seu penúltimo compromisso na Primeira Fase do Nacional, o Ferrim viajou via rodoviária e chegou a Natal chefiado pelo sr. Reis e levando na delegação o ex-atacante atleticano Riba, emprestado e apontado como a solução para o ataque da equipe da RFFSA. Adhemir, contundido, sequer viajou. Para piorar a situação, a diretoria anunciou a contratação do treinador Sousa Neto para a temporada de 1973, mediante proposta de Cr$ 10 mil de luvas e salário de Cr$ 3 mil, o que irritou um pouco o treinador Calazans, sentindo-se totalmente desprestigiado no clube para o confronto diante do líder América. E o empate em Natal praticamente obrigou o Ferroviário a vencer o seu último compromisso e ainda torcer por um tropeço de Campinense e América – o que não se confirmou.

Calazans, apesar de comandar a equipe em seu último compromisso, rescindiu o seu contrato com o Ferroviário antes de ser despedido (em seu lugar para o restante do Campeonato Maranhense assumiu o carioca Augusto Branco, residente em São Luís e formado em Educação Física, tendo passagens por alguns clubes no Sul do Brasil). O relatório do sr. Reis, que havia chefiado a delegação a Natal, culpou o treinador pela falta de autoridade perante os jogadores e até por erros na escalação do time. Alguns jogadores se revoltaram contra o restaurante, onde foram servidas as refeições e fizeram o que chamaram de greve de fome. A diretoria multou Marcial, Alzimar, Antônio Carlos, Santana, Esquerdinha, Carlos Alberto, Alcindo e Sarará em 40% dos seus vencimentos. Sarará acabou afastado por medida disciplinar, mas com vínculo ao clube até o final do campeonato.

Para a sua última partida, diante do Maguary, o Ferroviário entrou a campo totalmente desmotivado e com um déficit de cerca de Cr$ 30 mil em sua aventura pelo Campeonato Nacional. Com uma formação bastante modificada (João Paulo; Miguel, Alzimar, Antônio Carlos e Ademir Noronha; Santana e Américo; Valdinar, Carlos Alberto, Riba e Coelho), o Ferrim nem se deu ao trabalho para lutar por uma complicadíssima vaga: na véspera do confronto diante do Maguary, o América goleou o Calouros do Ar em Fortaleza por 3 a 0 e, durante a partida em São Luís, os auto-falantes do Municipal anunciavam os gols da Campinense diante do River, na Paraíba. A magra vitória maranhense pelo placar de 1 a 0 diante do Maguary (gol assinalado por Carlos Alberto, nos primeiros minutos de partida) foi um reflexo da discreta participação do representante da RFFSA na competição – foi apenas o 10º colocado; o campeão do Nacional daquele ano foi o Sampaio Corrêa, com um forte elenco formado por Jurandir; Célio Rodrigues, Neguinho, Nivaldo e Valdeci Lima; Gojoba e Edmilson Leite; Lima, Djalma, Pelezinho e Jaldemir.

CAMPANHA DO FERROVIÁRIO NO CAMPEONATO NACIONAL DE 1972

PRIMEIRA FASE

10.09.72: Campinense 1x0 Ferroviário
16.09.1972: Ríver 2x2 Ferroviário
24.09.1972: Ferroviário 1x0 Calouros do Ar
30.09.1972: Ferroviário 1x1 América-RN
07.10.1972: Maguari-CE 0x2 Ferroviário
18.10.1972: Ferroviário 1x0 Campinense
26.10.1972: Calouros do Ar 2x2 Ferroviário
29.10.1972: Ferroviário 1x2 Ríver
11.11.1972: América-RN 1x1 Ferroviário
19.11.1972: Ferroviário 1x0 Maguari-CE

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