quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Primeiro Campeonato Brasileiro disputado pelo Maranhão Atlético Clube (1971)

O Campeonato Brasileiro foi uma extensão do antigo Torneio Rio-São Paulo, tradicional competição do futebol nacional e que evolvia os principais clubes dos dois Estados. O torneio era disputado logo após a realização dos respectivos campeonatos estaduais. Aos paulistas e cariocas, juntaram-se os gaúchos, os mineiros, os pernambucanos e os baianos, tornando-se a maior competição do mundo. Nascia ali o torneio que, ao longo dos anos, já teve diversos nomes, como Campeonato Nacional de Clubes, Copa Brasil, Taça de Ouro (1ª Divisão), Taça de Prata (2ª Divisão), Taça de Bronze (3ª Divisão), Copa União, Copa João Havelange e o atual Campeonato Brasileiro, hoje subdividido em cinco divisões (Séries A, B, C e D).

Em 1971 seria realizada a quarta edição do Torneio Norte-Nordeste, mas com o início do Campeonato Brasileiro, que contou com a participação alguns dos mais importantes clubes do Nordeste, a 4ª edição do torneio foi rebatizada de Campeonato Nacional Norte-Nordeste de 1971, para agregar os clubes das duas regiões, que não estavam na disputa de elite do Campeonato Nacional, dando ao campeão Norte-Nordeste de 1971 (Clube do Remo, de Belém do Pará) o direito de disputar a primeira final Nacional da 1ª Divisão (atual Série B).

O Estado do Maranhão estreou na competição em 1971, ano da primeira edição do torneio, com Maranhão e Sampaio Corrêa representando o nosso Estado no certame nacional da Segunda Divisão. A competição foi disputada, primeiro, em uma fase local, onde, além de MAC e Sampaio, Ferroviário e Moto Club concorriam a duas vagas destinadas ao nosso futebol para a fase regional, incluindo os representantes do futebol piauiense e cearense. A base atleticana no Quadrangular Regional classificatório para a fase Interestadual era a mesma que vinha disputando o Campeonato Maranhense, sob o comando do treinador Leonildo Vilanova: Da Silva; Baezinho, Luís Carlos, Sansão e Elias; Almir e Lucas; Euzébio, Riba, Hamilton e Dario. No banco, o time atleticano ainda contava com o futebol do goleador Croinha, este já em final de carreira.

Após vitória diante do Moto e uma derrota no Samará, o time atleticano ficou na terceira colocação, empatado com o rubro-negro, com apenas 2 pontos. O Sampaio Corrêa, líder com 4, enfrentaria na última rodada o Moto e o Maranhão ainda pegaria o Ferroviário, que, apesar de apresentar apenas 1 ponto, brigava pela segunda vaga. Com todos os clubes ainda no páreo, restava ao Bode vencer o time da REFFSA e torcer por um tropeço ou um empate do Papão no Superclássico para assegurar uma das vagas maranhenses para a competição.  

No apronto coletivo no Tirirical, o treinador optou em escalar Hamilton no lado de Riba, uma vez que Antônio Carlos desempenhava a mesma função que o companheiro do craque paraense. O lateral-direito Baezinho entrou no lugar de Gilson e o elenco maqueano ainda ganharia um reforço extra para a partida no clássico Ferrimar: uma gratificação na ordem de Cr$ 120 cruzeiros para cada atleta em caso de classificação. No Ferrim, o treinador Maçal Tolentino Serra promoveu a volta do goleiro Martins e do meia Valdinar em lugar de Marcial e Santana, que não vinham rendendo o esperado durante os jogos nessa fase classificatória.

O Ferroviário entrou a campo na tarde do dia 18 de Agosto, necessitando da vitória por uma diferença de três gols e, ainda assim, torcer por um tropeço do Moto Club no clássico contra os bolivianos. A derrota tanto para ferrins como para atleticanos representava o encerramento das atividades profissionais no ano. Em campo, porém, a melhor aplicação tática, aliada às erradas alterações do treinador Marçal foram decisivas para a vitória e a consequente classificação atleticana para a fase Interestadual do Brasileiro. Hamilton, com dois gols (sendo um de pênalti, já no segundo tempo) e Riba deram a vitória pelo placar de 3 a 1. Enquanto o Bode comemorava a passagem para a fase seguinte, a diretoria do Ferrim dispensou o treinador Marçal, culpado pela desclassificação. O comandante do Ferroviário, além de optar por um goleiro sem condições físicas, ainda discutiu com o meia Joari, no intervalo, a ponta de substituí-lo por Gimico. Com o empate no Superclássico, os bolivianos fizeram companhia aos atleticanos no Brasileiro.

Na chave, além dos representantes maranhenses, composta pelo Gurany de Sobral, River e Flamengo do Piauí, Maranhão e Sampaio Corrêa estreariam na competição logo em um Samará, abrindo a primeira rodada. O eliminado Ferroviário, após entrar com um ofício na FMD, cedeu ao Quadricolor os atletas Carrinho e Vivico para a competição nacional. O time boliviano, para a estreia, não pode contar com o ponteiro Zequinha, sendo substituído por Pelezinho. Nilvado retornou à quarta zaga em lugar de Serjão. No Maranhão, a única preocupação era com a sua defesa, que vinha caindo de produção, principalmente com Luis Carlos. Com Elias ainda sentindo uma contusão, o time atleticano ainda não lançaria a campo Carrinho, face a CBD não ter comunicado à FMD sobre a sua inscrição na competição.

Na tarde do dia 29 de Agosto, para um Municipal completamente lotado, bolivianos e maqueanos estrearam na fase interestadual do Campeonato Brasileiro. Assim formaram as duas equipes: Maranhão com Brito; Baezinho, Luís Carlos, Sansão e Elias; Almir e Lucas; Euzébio, Riba, Hamilton e Dario; o Sampaio Corrêa formou com Paulo Figueiredo; Célio Rodrigues, Neguinho, Aluísio e Heraldo Gonçalves; Gojoba e Roberto; Prado, Zé Carlos, Wamberto e Pelezinho. Apesar de a vitória sugerir dificuldades, o MAC foi inferior em quase todo o jogo. A equipe atleticana melhorou um pouco com a entrada de Yomar no meio e a descida de Lucas para o centro. O primeiro gol aconteceu aos 38 minutos do primeiro tempo, através de Roberto. Penetrando na área, o dianteiro recebeu um cruzamento de Prado, chutando de primeira, com Brito saltando e ainda tocando a bola, em vão. Cinco minutos depois, Wamberto recebeu na grande área e, notando a ligeira saída de Brito da área, tocou por debaixo do goleiro atleticano, dando números finais à partida.

A derrota logo na estreia foi sentida pelo conjunto atleticano, que colecionaria apenas resultados negativos na competição. No jogo seguinte, ainda em São Luís, nova derrota, desta vez para o Guarany de Sobral, que vinha de um heroico empate em Teresina diante do Flamengo. Jogando bem abaixo do esperado, o time atleticano foi irreconhecível em campo, em jogo realizado no Municipal, dia 08 de Setembro. A defesa atleticana, como descreveu um jornal à época, simplesmente dava pontapés a torto e a direito quando jogava com as nossas equipes, o que não acontecia com o embate diante dos representantes de outros Estados. Quando o Guarany abriu 2 a 0 no marcador, logo aos 6 minutos da etapa complementar, o artilheiro Hamilton, aproveitando uma falha do zagueiro Ademir, deu esperanças à torcida atleticana. Dedeu, que já havia se apresentado espetacularmente em São Luís em outras oportunidades pelo próprio time sobralense, marcou o terceiro gol e esfriou o ânimo do time atleticano. Nem o gol de cabeça do atacante Croinha, após uma cobrança de escanteio, dois minutos após o gol sobralense, conseguiu mexer com o brio dos jogadores maqueanos. 


Quatro dias antes de desembarcar a São Luís para o confronto com os atleticanos, o bicampeão Flamengo ainda encontrou tempo para derrotar o Sampaio Corrêa dentro do Lindolfo Monteiro. A equipe rubro-negra, então, chegava para o confronto na capital maranhense totalmente credenciado. Para a sua terceira partida na competição, o time atleticano contou com a volta de Luis Carlos para a zaga central, com Lucas subindo novamente para a armação ao lado de Almir. Sem Riba, contundido seriamente diante do Guarany, e Euzébio ainda se recuperando de uma contusão, o time atleticano perderia em velocidade na linha de ataque, apesar de Croinha, que vinha jogando bem, não ser jogador de ponta. Nos bastidores, o clima era complicado, com a saída tumultuada do goleiro Brito, que foi dispensado pela diretoria. A partida seria o reencontro e a oportunidade de o Maranhão devolver a recente derrota em amistoso contra o Flamengo, dentro de Teresina.

Antes do jogo, realizado na tarde do dia 12 de Setembro, no Municipal, uma fato curioso: o juiz potiguar Luis Meireles, escalado para a partida, não compareceu. Em seu lugar, o maranhense Raimundo Sena apitou o encontro entre rubro-negros e atleticanos. Jogando mal, errando e sem nenhum sentido tático, mais uma vez o Maranhão decepcionou a sua grande torcida que compareceu a campo. Com um meio de campo jogando mal, onde Lucas em momento algum se entendeu com Almir e com Antônio Carlos predido com Senega, Hamilton e Dario, o Maranhão foi uma caricatura de um time de futebol. Já o time flamenguista entrou a campo receoso de qualquer reação por parte da torcida atleticana e jogando recuado para tentar vencer nos contra-ataques. O único gol aconteceu já nos acréscimos do segundo tempo, quando Almir cobrou mal uma falta, entregando a bola de presente a Matintin, que lançou em profundidade para Gringo. Este, que corria centro, recebeu, driblou a zaga atleticana e, mesmo marcado por Sansão, chutou cruzado e rasteiro, na saída do goleiro Da Silva.

Para a sua quarta partida, já em Teresina, o treinador pernambucano acabou sacando Lucas da equipe, que não vinha produzindo o suficiente. Em seu lugar, Vilanova apostou na entrada de Yomar, ao lado de Almir, dando segurança ao meio de campo e contando com a ajuda de Hamilton e Senega, que voltava para o meio, afim de lançar Croinha e Dario, já que Hamilton ficaria um pouco recuado para receber as bolas de Baezinho e encostar com o lateral-direito na ajuda da defesa. O MAC ainda teria o desfalque do goleiro Da Silva, afastado por não comparecer ao treino. Paralelamente à derrota boliviana em Sobral, o Maranhão acabou perdendo a sua quarta partida na competição, dentro do Estádio Lindolfo Monteiro, contra o River e a tradicional agressiva torcida piauiense. Jogando mal e sem banco de reservas, o time maqueano, que viajou improvisadamente de Kombi para a capital piauiense, não teve pernas para aguentar o cansaço e a pressão riverina. O zagueiro Ailton, em um forte chute da intermediária, fez o gol da vitória, deixando o Maranhão com o mínimo possível de classificação para a fase seguinte e empurrando o Bode para a lanterna da chave.

Para o clássico Samará, Vilanova promoveu a estreia do lateral-direito Zequinha, cedido pelo São José ao MAC para o Nacional, em lugar de Baezinho. No ataque, Antônio Carlos e Dario formariam a dupla de área. Dessa feita, o treinador atleticano deixaria de jogar no 4-3-3, que não vinha obtendo resultado na competição. Já a Bolívia, do recém-contratado treinador Bero, também modificou a sua formação para o clássico. Após duas derrotas seguidas, o time boliviano buscaria a sua reabilitação e promoveria a entrada de Serjão no meio de campo em lugar de Nivaldo. Prado também deixou a equipe, cedendo lugar ao maestro Djalma Campos, na ponta-direita. Paraíba, que vinha marcando gols, foi elevado à condição de titular no ataque boliviano. Em campo, porém, prevaleceu a melhor colocação: facilmente o Sampaio Corrêa goleou o Maranhão pelo placar de 5 a 0. O time Tricolor dominou o jogo do início ao fim e só não deixou o campo com um placar mais elástico face a duas defesas impressionantes do goleiro Sousa. Hamilton ainda desperdiçou um pênalti aos 20 minutos da fase final, chutando a bola em cima do goleiro Paulo Figueiredo. Paraíba, com dois gols, Djalma Campos, Brito e Wamberto marcaram os gols bolivianos na tarde, enterrando definitivamente o Maranhão no Campeonato Nacional. 

Após a goleada e a definitiva desclassificação, o treinador pernambucano Vilanova foi demitido, apesar de alguns dirigentes, às vésperas do Samará, anunciarem na rádio que o treinador continuava prestigiado pelo elenco. Em seu lugar assumiu Walter Cruz. Em uma reunião logo após o jogo contra os bolivianos, a direção atleticana anunciou que, após o último compromisso maqueano na competição, haveria uma dispensa no elenco, considerado fraco para as pretensões do clube, embora tivesse esse mesmo elenco conquistado bicampeonato em 1969/70. Da lista de dispensas, deixariam o time do goleiro ao meio de campo, ficando apenas o zagueiro Sansão, com Luís Carlos tento seu passe colocado à venda e os demais receberiam o chamado bilhete azul, para tentar a sorte em outros clubes. Da linha de ataque, ficariam Riba, Euzébio, Antônio Carlos, Dario e possivelmente Senega, sendo dispensado Croinha.

O time atleticano, totalmente desmoralizado na competição, encerrou a sua participação após mais duas derrotas. Em seu último compromisso, em São Luís, o melhor resultado maqueano na competição: um empate em 0 a 0 contra o Guarany de Sobral. Além de se despedir melancolicamente da competição, o Maranhão ainda sairia no prejuízo, uma vez que a renda da partida somaria apenas Cr$ 3.317,00, cabendo ao time atleticano pagar os Cr$ 6 mil de cota ao time sobralense. O MAC terminou a competição na última colocação, dentre todos os 23 participantes, com um ponto ganho apenas, bem abaixo do Sampaio Corrêa, o outro representante maranhense e que encerrou a fase geral na 10º colocação. 

Maranhão 0x2 Sampaio Corrêa, pela abertura do Campeonato Brasileiro de 1971

Maranhão 0x2 Sampaio Corrêa, pela abertura do Campeonato Brasileiro de 1971

CAMPANHA: 

PRIMEIRA FASE (LOCAL) - 08.08.1971-Maranhão 1x0 Moto Club / 11.08.1971-Maranhão 1x2 Sampaio Corrêa / 18.08.1971-Maranhão 3x1 Ferroviário

PRIMEIRA FASE (REGIONAL) - 29.08.1971-Maranhão 0x2 Sampaio Corrêa / 08.09.1971-Maranhão 2x3 Guarani Sobral / 12.09.1971-Maranhão 0x1 Flamengo / 19.09.1971-River 1x0 Maranhão / 26.09.1971-Maranhão 0x5 Sampaio Correa / 03.10.1971-Maranhão 0x1 River / 06.10.1971-Maranhão 1x3 Flamengo / 10.10.1971-Maranhão 0x0 Guarani Sobral

Equipe base no Campeonato Brasileiro 1971: Da Silva, Baezinho, Luís Carlos, Sansão e Elias; Almir e Lucas; Eusébio, Riba, Hamilton e Dario.

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