Fragmentos do capítulo sobre a parceria Tupan/Mirante, extraídos do livro "Almanaque do Futebol Maranhense Antigo - Clubes Menores da Capital":
Foi um trabalho perfeito do ponto de vista organizacional. E de um ineditismo dentro do futebol maranhense - e talvez até na história do futebol brasileiro. O patrocínio de um clube por canais de televisão era algo até então impensável, sobretudo para uma emissora que estava no ar havia pouco mais de dois anos. A Lei 9.615, mais conhecida como Lei Pelé, permitia que emissoras patrocinassem e divulgassem suas marcas nas camisas de times de futebol. Em verdade, a lei era silente sobre esse ponto, não havendo qualquer restrição (tanto que o Fluminense foi patrocinado pelo Sportv, MTV e NET na década de 1990). A despeito disso, em janeiro de 2001, durante a partida decisiva da Copa João Havelange válido ainda pelo ano de 2000, o Vasco da Gama entrou em campo estampando em seu uniforme a marca do SBT. Tudo isso, porém, aconteceu após o já distante 1989, quando o Grupo Mirante resolveu adotar/bancar o clube indígena no Estadual daquele ano, com a fusão que ficou conhecida como Tupan/Mirante.
A parceria foi proposta por Joaquim Heickel e fechada a título de experiência por apenas uma temporada. Joaquim era expoente na ideia de que empresas e indústrias locais deveriam patrocinar os clubes maranhenses. Além do vasto material esportivo, a Mirante garantiria ao Tupan substancial ajuda financeira mensal, o suficiente para transformá-lo num concreto candidato a uma boa campanha no campeonato daquele ano. Junto ao presidente tupanense Augusto Pellegrini (também funcionário da Mirante), passaram a compor o grupo que iria gerir o clube Luis Fernando Heickel (Diretor de Futebol), José Trajano Neves (Vice-Presidente de Futebol) e Herberth Fontenele (representante do clube na F.M.D.), todos saídos da Associação Desportiva Mirante, equipe com experiência no campo amadorista – o canal de televisão ainda cederia alguns dos seus atletas do futebol amador para integrar o elenco tupanense.
No final de janeiro, o clube iniciou a sua preparação para o Estadual, com o primeiro treino realizado na praia do Olho d’Água, em frente ao Bar Veleiro – foi, na verdade, o primeiro contato entre dirigentes, atletas e comissão técnica, já que as sessões físicas ficariam para o campo do Itapiracó e os coletivos para o Nhozinho Santos ou no campo da Associação Recreativa CEMAR (AREC). A concentração dos atletas para partidas de maior importância acontecia apenas um dia antes do jogo, com os atletas recebendo tratamento diferenciado: houve uma parceria com o grupo Lusitana, que fornecia lanche e alimentação e, na medida do possível, cesta básica a alguns jogadores.
Sem fazer grandes contratações, o Tupan/Mirante tentou negociar a vinda de nomes como Juca Baleia, Vander e Tica, liberados pelo Maranhão, e o veterano zagueiro-central Ademir e Riba. O Sampaio Corrêa e Moto Club colocaram alguns dos seus atletas à disposição (houve a possibilidade da chegada dos ponteiros tricolor Joãozinho e Bimbinha e do zagueiro rubro-negro Moacir). O Tupan/Mirante ainda tentou, sem sucesso, a contratação do ponteiro-direito Neco, que acabou renovando com o Maranhão. A propósito, durante a fase de contratações, a direção tratou de desmentir os comentários sobre vantagens que estariam sendo oferecidas aos jogadores que chegavam ao clube, com a oferta de emprego na CEMAR aos atletas.
Para o início dos trabalhos, o grupo contou com exatos 26 atletas, entre profissionais e amadores: Juca Baleia, Jorge e César (goleiros); Dorivan e Nonato (laterais-direitos); Zé Mário e Mauro (zagueiros-centrais); Uberaba, Ademir e Jéferson (quartos-zagueiros); Serginho e Bira (laterais-esquerdos); Neto, Reginaldo e Luis Alberto (volantes); Tica, Jorge Santos e Léo (meias-direitas); Vander e Henrique (meias-esquerdas); César, Admoran e Chiquinho (centroavantes); e Lélio e Bau (pontas-esquerdas).
Sobre o Campeonato Maranhense de 1989, a federação começou cedo os trabalhos, ainda em janeiro, com uma reunião para discutir sobre a proposta enviada pela imprensa esportiva com relação à fórmula de disputa. Com as ausências dos representantes de Sampaio Corrêa, Moto, Maranhão, Tocantins e até do pequeno Americano, o encontro acabou adiado. Com isso, a minuta do regulamento, datilografada, foi enviada aos clubes interessados em discutir o assunto, com a competição disputada em três turnos – nos dois primeiros, com a presença de todos os participantes; já na última e decisiva fase, com apenas os quatro melhores no geral. Foi colocada ainda a possibilidade de os jogos que terminassem empatados serem decididos através das cobranças de penalidades máximas, a exemplo do que esteve em vigor na Copa União do ano anterior, promovida pela C.B.F. A ideia, contudo, não vingou.
O Moto quase ficou de fora do certamente de 1989. A direção cogitou deixar o clube de fora por problemas com a federação e, sobretudo, o TJD. Do elenco do ano anterior, o rubro-negro manteve apenas os jogadores Caio e Zé Roberto. Da casa, a diretoria trouxe reforços mais modestos, como Valber, Preto e Roberto Silva, vindos do Expressinho. Braide Ribeiro e Edmar Cutrim foram os responsáveis pelas contratações que chegaram do futebol pernambucano e cearense. A base motense para 1989 era formada por Dênis (ex-Flamengo/RJ); Evandro, Gilmar, Paulo César e Uberaba; Flávio, Caio e Viegas; Bebeto, Osvaldo e Zé Roberto.
Antes do campeonato, a F.M.D. promoveu o retorno do Torneio Início, rápida competição para a torcida conhecer os novos craques das equipes e ter uma base de como transcorreria o Estadual de 1989. O torneio foi novamente idealizado pela federação, por sugestão do seu presidente Márcio Carneiro. A solenidade de abertura dos jogos, que aconteceu no dia 26 de fevereiro, no Nhozinho Santos, teve início às 14h45, com o hasteamento das bandeiras do Brasil, Maranhão e Federação Maranhense de Desportos, precedido pelo desfile de equipes e árbitros escalados para as partidas (jogos com duração de 20 minutos e decisão de 60 minutos).
O Tupan/Mirante estreou no quarto jogo da tarde, diante do Sampaio Corrêa, e escalado com Juca Baleia; Serginho, Ademir, Uberaba e Neto I; Neto II, Tica e Vander; Riba, César e Jorge Santos. Após um empate sem gols, o Sampaio venceu os tupanenses nas cobranças de pênaltis por 5 a 4 e passou à fase seguinte – os tricolores ainda eliminaram na semifinal os estivadores do Vitória do Mar e chegaram à decisão diante do Maranhão. O Sampaio Corrêa foi o campeão do Torneio Início após vencer os atleticanos pelo placar de 3 a 1 na decisão de pênaltis, com o goleiro Paraíba defendendo duas cobranças.
O Campeonato Maranhense de 1989 teve início no domingo, 05 de março, com quatro jogos entre capital e interior. E o Tupan/Mirante começou a sua trajetória diante da Caxiense, que retornava ao cenário esportivo após onze anos – em 1978, o clube entrou nas disputas do campeonato com o nome de Associação Desportiva Caxiense. Os tupanenses, que corriam o risco de ficar sem dois atletas por problema de inscrição, mas ganharam condições e foram a campo, foram escalados pelo treinador José Abreu assim em sua estreia no Estadual: Juca Baleia; Serginho, Ademir, Zé Mário e Neto II; Neto, Tica e Vander; Riba, César e Lélio. Em jogo equilibrado, o zagueiro Moacir, aos 23 minutos do segundo tempo, decretou a vitória do time caxiense por 1 a 0, diante de quase 8 mil pagantes, o melhor público da rodada de abertura. O Tupan/Mirante ainda reclamou de uma penalidade máxima não marcada pelo árbitro Nacor Arouche, num lance em que o ponteiro-direito Riba foi derrubado na área.
Apesar da grande expectativa, o Tupan/Mirante não teve forças para realizar uma grande competição. Ainda no primeiro turno, o clube ainda teve um lapso de esperança, após duas vitórias (por goleada) consecutivas – 4 a 0 sobre o Tocantins e 5 a 0 frente ao Boa Vontade. A renda da partida diante do representante do bairro de Fátima, porém, mostraria que financeiramente o Tupan, com ou sem a Mirante, não atraia aquele tão esperado público: apenas 119 pagantes, para exatos Cr$ 205,00, o que nem de longe dava para cobrir as despesas básicas. Sem conseguir chegar sequer à fase seguinte nos dois turnos, o time ficou pelo meio da tabela, em uma participação apenas tímida no campeonato daquele ano.
Sem o Tupan/Mirante, as atenções do Estadual voltaram-se para a conquista do título daquele ano pelo Moto Club, evitando que o seu maior rival, o Sampaio Corrêa, chegasse ao seu inédito hexacampeonato seguido. E um momento negativo da competição aconteceu durante a partida envolvendo justamente bolivianos e motenses. Em jogo válido pela última rodada da fase final do Segundo Turno, o Moto Club venceu o seu rival pelo magro 1 a 0. O juiz Nacor Arouche simplesmente expulsou de campo todo o time do Sampaio Corrêa, incluindo treinador e até o presidente boliviano, Pedro Vasconcelos, que autorizou a retirada do seu time de campo, inconformado com a não confirmação de um gol feito por Raimundinho, aos 34 minutos do primeiro tempo, quando o time boliviano perdia por 1 a 0. O Moto Club, por sua vez, assistiu a tudo, sem se envolver com o pífio episódio.
Porém, o momento mais marcante ocorreu justamente no jogo envolvendo Moto Club e Maranhão. A última e decisiva partida do quadrangular final aconteceu no dia 06 de setembro de 1989, quando o rubro-negro venceu o quadricolor pelo placar de 2 a 0, gols de Zé Roberto e Lamartine, para 16 mil pagantes no Estádio Castelão. Mais do que uma simples vitória e a consequente conquista do campeonato, o Papão evitou que os atleticanos ganhassem o título mais fácil de toda a sua história. Na época, o goleiro maqueano Salvino foi apontado como um dos responsáveis pela vitória motense. Salvino teria facilitado a vida dos atacantes do time motense. Segundo contam alguns torcedores que vivenciaram aquela decisão e os seus bastidores, o goleiro já foi a campo com a mala de roupas, de onde saiu direto para o aeroporto após a decisão, justamente para não ter que se justificar à imprensa e à torcida pelos gols sofridos. De São Luis, ele seguiu direto para o Ceará, sua terra natal.
Os resultados foram considerados excelentes, mas não o esperado pelo grupo Mirante, apesar da insistente interferência da administração do clube. Os chamados grandes (Sampaio Corrêa, Moto Cube e Maranhão) também fizeram pressão e a ideia de renovação da parceria não foi adiante. Valeu, claro, pela experiência.
CAMPANHA NO CAMPEONATO MARANHENSE DE 1989 (6º COLOCADO)
PRIMEIRO TURNO (PRIMEIRA FASE)
05.03.1989: Caxiense 1x0 Tupan
09.03.1989: Tupan 4x0 Tocantins
12.03.1989: Tupan 5x0 Boa Vontade
19.03.1989: Tupan 2x1 Vitória do Mar
26.03.1989: Maranhão 1x0 Tupan
02.04.1989: Tupan 2x0 Expressinho
08.04.1989: Sampaio Corrêa 4x1 Tupan
13.04.1989: Imperatriz 2x2 Tupan
16.04.1989: Moto Club 2x0 Tupan
SEGUNDO TURNO (PRIMEIRA FASE)
17.05.1989: Expressinho 2x0 Tupan
21.05.1989: Tupan 2x1 Maranhão
27.05.1989: Tupan 2x2 Caxiense
04.06.1989: Sampaio Corrêa 2x0 Tupan
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