Trecho do livro "Salve Salve Meu Bode Gregório: a História do Maranhão Atlético Clube":
Famoso por jogar com até 120 kg em 1,85m, o ex-goleiro de Expressinho, Tupan, Sampaio e Maranhão fez carreira, fama e ganhou o status de personagem folclórico dentro do nosso futebol. A sua maior passagem, além de inesquecíveis jogos, foi a excelente participação na Copa do Brasil de 1992, quando o Sampaio Corrêa foi eliminado dentro de São Paulo para o Palmeiras no início da era Parmalat. Apesar da derrota, Juca foi ovacionado pela imprensa e torcida paulista após a partida. Mais do que uma bem sucedida carreira, amigos e reconhecimento, o prêmio mais importante do famoso goleiro maranhense veio de casa. “Enquanto você conseguir que as pessoas te vejam olho no olho e nunca abaixar a cabeça, você será sempre um homem rico!”, conselho que Juca ganhou do seu pai e que seguiu à risca, tornando-se um homem e atleta integro, honesto e muito querido pela torcida maranhense.
Juca nasceu Juvenal Marinho dos Passos, no dia 03 de Maio de 1959. De uma origem bastante humilde no Bairro do Sacavém, desde cedo ganhou do seu pai, um Militar, o bem mais valioso, que foi a formação e o caráter. Em 1967, aos oito anos de idade, entrou para o primeiro colegial e a sua família foi residir no Bairro da Cohab, onde o garoto passou boa parte da infância e adolescência. Foi por lá que ele teve o seu primeiro contato com o futebol, ainda na escola. Jogou no Olaria (do Presidente Arias Barros), uma das mais tradicionais agremiações da Cohab e que rivalizava com outros grandes do bairro, como o Flamengo do seu Peixoto, o Colorado e o Santos, este último do seu Zequinha. E já desde essa época o goleiro carregava o sobrenome que o marcaria no futebol. O apelido veio por conta do filme da baleia Moby Dick e, curiosamente, nada tinha a ver com o excesso de peso. Na verdade, Juca sempre foi comparado pelos belos saltos que dava em campo ao defender o gol. E a agilidade e destreza ele ganharia nos tempos em que estudava no Colégio São Luís, quando jogava futebol de salão. Depois, quando passou a praticar basquete, handebol, vôlei e outros esportes que garantiria ainda mais elasticidade e precisão na saída do gol, o apelido ficou de vez.
Em 1975, Juca disputava e se destacava no Campeonato da Cohab, sobretudo pelas suas arrojadas defesas e o incrível senso de colocação no gol. Rapidamente o goleiro começou a chamar a atenção, principalmente dos olheiros dos grandes clubes, que visitavam os bairros afim de garimpar algum talento para o futebol profissional. E numa dessas partidas, Juca acabou despertando a atenção do treinador dos juvenis do Sampaio Corrêa, o ex-atleta profissional Ribeiro ‘Garfo de Pau’, Bicampeão Maranhense em 1957/58 pelo Ferroviário e com passagens pelo Moto Club, Sampaio Corrêa e futebol cearense. Ribeiro convidou o jovem goleiro e o lateral-direito Batista, do Flamengo da Cohab, a ingressarem na base do Sampaio. O treinador ainda bateu de frente com a diretoria, receosa pela vinda de um goleiro visivelmente acima do peso. Juca, que já havia sido dispensado dos juvenis do Moto Club após fraca atuação nos testes, foi aceito e passou a treinar separado dos outros atletas. Ainda amador, chegou a defender a equipe principal do Sampaio em algumas ocasiões, quando jogou em lugar do goleiro Crésio pelo Campeonato Nacional.
A virada na sua carreira veio no final da década de 1970, quando, a convite do Presidente Jandir Castro, foi convidado a integrar o recém profissionalizado Expressinho Futebol Clube. Juca foi levado por Ribeiro e assinou o seu primeiro contrato como profissional pelo ‘Furacão da Cohab’. E o goleiro, apesar da pouca experiência, foi importantíssimo para a ótima campanha do então debutante Expressinho na elite: a equipe surpreendeu os grandes, deu trabalho para Sampaio, Moto e MAC e terminou o Estadual de 1980 na 4º colocação. E o nome de Juca aumentava. O goleiro participou, inclusive, da inauguração do Estádio do Castelão, no dia 01 de Maio de 1982, no Torneio dos Trabalhadores. Após eliminar o Moto Club, o Expressinho, dirigido pelo saudoso treinador Ananias, empatou na decisão contra o Sampaio Corrêa, perdendo o título nos pênaltis, em jogo para quase 60 mil torcedores. O Expressinho atuava com um bom elenco: Juca Baleia; Léo, Malícia, Ferreira e Bite; Genésio, Nascimento e Antônio Carlos Maranhense; Newton, Brígido e Binha.
Quando Hilton Rocha, mandatário do Expressinho e declaradamente motense, resolveu deixar a presidência do alviverde da Cohab, levou alguns atletas para o Papão, como Léo, Ferreira, Binha e Newton, este último posteriormente brilhando pelo São Paulo e Atlético Mineiro. Juca acabou não acertando com o Papão do Norte por ter o seu passe preso ao Expressinho.
Contratado pelo Maranhão em 1983, ele viraria referência dentro da equipe. A sua estreia com a camisa atleticana ocorreu fora de São Luís: no dia 15 de Junho daquele ano, o MAC realizaria um amistoso em Belém, diante do Clube do Remo. Com o Estádio do Baenão lotado e debaixo de muita chuva, Juca acabou transformando-se no melhor elemento em campo, no empate em 1 a 1. Sob o comando do treinador Marçal, o Bode, naquela ocasião, levou a campo Juca Baleia; Mendes, Tataco, Timbó e Newton; Meinha, Tica e Hélio Rocha; Walter, Bacabal e Alberto. Seria o início de um longo período de quase sete anos com a camisa número 1 do MAC.
Quando jogou ‘magro’, com 85 kg, viveu sua pior fase no futebol, quando ainda jogava pelo Maranhão e teve que fazer uma dieta para perder 20 kg. “Foi a minha pior fase. Não sei se era porque já me havia me acostumado a jogar gordo, mas ficava com mais medo de sair do gol. Antes eu estava sempre melhor colocado”, afirmou. “Não pegava mais nada. Todo mundo falava que eu não era mais aquele. Depois, ganhei uns quilinhos e voltei ao normal”, continuou. A sua melhor fase pelo Glorioso viria ainda naquele ano, quando Juca Baleia acabou eleito como o jogador revelação do Campeonato Maranhense e o Melhor Atleta do ano. Também disputou um ótimo Campeonato Brasileiro no ano seguinte. Em 1989, antes do início do Estadual, Juca Baleia encerraria o seu ciclo com a camisa atleticana pra buscar novos ares na carreira. Acertou, então, com o Tupan, na época patrocinado pela TV Mirante.
Outros grandes momentos na sua carreira viriam ao assinar com o Sampaio Corrêa, onde passaria três anos até pendurar as chuteiras. O goleiro assinou com a Bolívia Querida por intermédio de Humberto Trovão, que o convidou pessoalmente após o seu desligamento do Tupan. Juca Baleira chegou a disputar o Campeonato Brasileiro de 1990, ao lado de grande feras, como o ponta Caio Franco, ex-Moto Club, Grêmio e Portuguesa de Desportos. Foi Tricampeão Maranhense (1990/91/92) pelo Sampaio e contando, na época, com o amigo e preparador de goleiros Marcial, que o ajudava e o incentivava nos treinamentos.
A sua decisão inesquecível na carreira, apesar do reconhecimento com a camisa atleticana, viria justamente atuando pelo rival, na final do Estadual de 1992 entre Maranhão e Sampaio Corrêa, na partida em que Juca fez uma das suas melhores apresentações. Aos 43 minutos da etapa final, o lateral atleticano Reginaldo cruzou uma bola por baixo e, chovendo, o atacante Juca cabeceou para o chão. Juca Baleia, em um lance que até hoje não consegue explicar, milagrosamente fez uma defesa que garantiu o empate e o título boliviano daquele ano.
Juca Baleia considera a melhor exibição feita em sua carreira na decisão do Campeonato Maranhense de 1991, contra o Moto Club. “O time deles era excelente, com Zanata, Mazolinha e muitas outras feras. Eles eram os grandes favoritos. No jogo, nos deram uma grande pressão, mas nesse dia peguei tudo, garantindo o 0 a 0 que nos deu o título de campeão, o primeiro de minha carreira. Minha preocupação depois do jogo, entretanto, era só com o que eu iria dizer em casa, pois minha família era toda motense”, relembrou, acrescentando que o rubro-negro foi quem mais sofreu em suas mãos, nos três anos pelos quais jogou no Sampaio. “Mesmo levando bronca em casa, meu maior prazer era vencer o Moto”, confessou.
Mas foi pela Copa do Brasil de 1992 que Juca viraria a principal atração daquela competição. Enfrentando o Palmeiras em sua estreia na competição, em São Luís, o goleiro fez defesas impossíveis. No jogo de volta em São Paulo, todos queriam conhecê-lo. No hotel em São Paulo, o repórter da Globo, Roberto Tomé, fez uma matéria com o goleiro boliviano. Na partida, torcedores fizeram um cordão para Juca entrar no gramado e o camisa 1 do Sampaio virou manchete nacional. Porém, o Palmeiras da era Parmalat, infinitamente superior naquele momento, passaria pelo Sampaio Corrêa do goleiro-estrela, que nada pôde fazer nos gols sofridos. E o placar só não foi maior porque o goleirão pegou muito outra vez. O Sampaio parou na primeira fase, mas as atuações de Juca tiveram repercussão e elogios de jogadores do time alviverde. Ficou de consolo a fama e a camisa do arqueiro Carlos, que jogou a Copa de 1986 e na época defendia o alviverde.
Juca conta que ex-treinadores chegaram a trazer goleiros magros para as equipe onde atuava, mas nem assim deixou de perder a posição de titular. “Teve treinador que chegou e não me conhecia. Eu olhava no semblante dos caras e pensava: ‘vou ficar mais um mês, no máximo, por aqui’. Teve caras que trouxeram outros goleiros que terminaram na reserva. Eu me destacava e os técnicos ficavam receosos de mudar”, falou. Ele lembra que já surpreendeu muitos adversários com sua elasticidade, mesmo com tanto peso. “Quando os caras viam, não acreditavam. Falavam que eu driblei a lei da física. O Roberto Dinamite uma vez perguntou: ‘como você joga com esse corpo?’. Mas essas coisas nunca me incomodaram, só me motivaram”, finalizou.
Juca Baleia mantém até hoje o espírito jovem e brincalhão. Ainda pratica futebol atuando na categoria ‘cinquentão’. Um dos personagens mais folclóricos do futebol do Maranhão, o ex-goleiro colocou em prática durante muito tempo uma das coisas que mais queria após encerrar a carreira: ajudar os jogadores e ex-atletas. Ele foi o Presidente da AGAP (Associações de Garantia ao Atleta Profissional) do Estado do Maranhão, entidade filiada à FAAP (Federação das Associações de Atletas Profissionais), associação criada em 1974 pelo ex-jogador e Capitão da Seleção Brasileira, Wilson Piazza, que, através de uma comissão, reivindicou ao Governo Federal a criação de um sistema de assistência social e educacional para os atletas profissionais, visando sua profissionalização alternativa e readaptação ao exercício de uma nova atividade. Juca Baleia realizou inúmeros projetos, todos visando melhorar as condições de vida daqueles ex-jogadores que, por um motivo ou outro, não tiveram oportunidade de desenvolver outra atividade profissional e ainda dependiam dos favores dos amigos conquistados através do futebol.
Juca Baleia encerrou sua carreira em 1994, no Sampaio Corrêa. Desde então já foi caminhoneiro, dono de escolinha de futebol e atualmente é, também, comentarista de futebol. Conquistou o que nenhum outro jogador conseguiu: mesmo estando à frente apenas de equipes do Maranhão, ele alcançou reconhecimento nacional por suas atuações e carisma. Por conta de sua popularidade no futebol e trabalho na área social, já recebeu diversos convites para adentrar à política. Mas se recusa por ter medo de uma decepção. “Todo ano eu recebo convite. Tenho medo de me decepcionar, como me decepcionei algumas vezes por ajudar quem é eleito e, depois de eleito, a pessoa não toma nem conhecimento de você mais. Não quero cair em um sistema e decepcionar meus amigos, um sistema que eu não acredito”.
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