Ponte do São Francisco
Vou-me embora pro passado
Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas “daqui, ó!”
Roy Rogers, Buck Jones
Rock Lane, Dóris Day
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Que o passado é bom demais!
Lá tem meninas “quebrando”
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a Pó-de-Arroz
Da Cashemere Bouquet
Coty ou Royal Briar
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho.
No passado é outra história!
Outra civilização...
Mais uma vez volto ao assunto “passado”, tão importante que, sem ele, não teríamos “presente”. O passado está bem ali gente. Dá para cutucá-lo com a vara de derrubar mangas ou tangê-lo com um assopro que provoque um ventinho de nada. E, até hoje, ninguém disse que o “passado” mata. Mas alguém já disse que ajuda a viver.
Estamos no ano de mil novecentos e não sei quanto. A Rua do Comércio vive aquele burburinho ali próximo da Casa das Tulhas. Lá em cima, subindo as escadarias da Humberto de Campos – passando rápido pelo odor amoníaco de tanto mijo – atingimos a Praça João Lisboa, observamos o ir e vir dos bondes e paramos.
Paramos também no tempo. Estamos no hoje, onde a administração continua pública, as escadarias, além de muito mijo, passaram a receber também muita merda. É merda que ninguém aguenta. De manhã, além do já exposto, agora encontra-se também facilmente algumas camisinhas usadas. Algumas sujas da cor ocre, sinal que alguém andou “queimando rosca” por ali, nas vistas de todos os passantes.
E quem ousa bisbilhotar, costuma ouvir a pergunta: “...é teu?” Então continua, quem está aí atrás!
Mas, naquele tempo em que os bondes passavam pela João Lisboa, desciam a Magalhães de Almeida e até mesmo quando na esquina da Afonso Pena com a 14 de Julho funcionava a Rádio Gurupi, as cenas eram diferentes. Não eram como as de hoje, na escadaria da Humberto de Campos. Os ladrões – que nunca deixaram de atuar na área – continuam roubando o nada que existe no Primeiro Socorro do Tonico. Dia desses, zangados por não terem encontrado mais o que roubar, os ladrões resolveram rasgar um cartaz do Zeca Baleiro, filho Tonico.
Naqueles anos, no tempo em que se saía do Eden e se merendava caldo de cana com pão-doce na moenda do Guará, o buraco era mais embaixo. A Polícia era mais Polícia e não precisava passar a mão na garganta dizendo que precisava tomar uma cervejinha. Era outro tempo. Tempo em que Rei dos Homens bebia mais de 100 “caldos” por dia e continua sempre disposto a cobrar mais uma vez o “me dá o meu, o do caldo”.
Não tínhamos Djalma, ali no canto do Bradesco próximo do Mercado – há quem afirme que nem a chuva banha Djalma -, mas tínhamos o Boquinha cavoucando suas feridas, ficando sem os dedos. Se hoje temos “Seu Avico”, disposto a enfrentar chuvas e trovoadas por qualquer “merréis”, no passado tivemos também o Gerente, por anos titular absoluto no ataque do Flamengo ao lado de Vevé e Perácio. Ainda bem que esse só bebia café.
Atualmente, depois das 18 horas, todos os dias, alguns marmanjos preconceituosos se postam na Rua Grande para aporrinhar a Rosinha com os elogiosos “Rosinha Sapatão”, “Rosinha Sargentão”! Há alguns anos ninguém chegava próximo da Praça Pedro II para falar a mesma coisa contra quem se aboletou por quatro anos por ali! Quem mandou Rosinha nascer e continuar pobre?!
Buate da Maroca, cabograma da Western, Camaroada da Lenoca, Rádio Gurupi, Bonde Cara-Dura, Casas Pernambucanas, Bota pra Moer, Meruoca, Programa da Carochinha, Zuza e Barrão, Tempero pra peixe, Ferro de Engomar, Walber Duailibe, Moto Bar, hoje, ontem e anteontem.
O bonde, Professor Dionísio, o Trem pra Teresina, Caminho Grande, Estádio Santa Isabel, Canhoteiro, Goiabal, Djard Martins, Clóvis Viana, Jafé Mendes Nunes e o seu famoso “tem cu de boi na área do Sampaio”, Casino Maranhense.
O desenho de São Luís era outro, pintado a lápis multicor. No comércio do João, na Rua do Ribeirão, “seu” Rubem ainda enrolava manteiga em papel de embrulho – foi assim que aprendeu e viu fazer no Ceará -, vendia salgados de porco e de boi tirados da terrina e pesava os quilos utilizando uma pedra. Fazia rápido, as contas, no papel colocado no balcão, sem máquina de calcular, e recolocava o lápis Johan Faber novamente atrás da orelha.
O Liceu não era ali. A Praça do Pantheon não existia e se jogava bola todas as tardes no Goiabal, no Sítio do Apicum, no Tabocal e até mesmo no campo do Luso. A Rua do Sol era outra e ali moravam parentes de Nonato Cassas, de Salim Duailibe. O Teatro Artur Azevedo apresentava retretas. Hoje só existe “meio passado”. O “passado completo” ficou para trás. Por isso que o “presente” é o que é.
Moradores pescavam de caniço na Rua do Machado, esquina com o Beco da Bosta. E era dali mesmo que, antes da construção da ponte, se podia ver o por-do-sol fantasiando ainda mais as ondas da maré de sizígia. Foi dali que muitos conseguiram ver o incêndio e o naufrágio do navio.
Estou no passado. Totalmente no passado. Leio os versos de Gullar, de Cunha Santos e as odes de amor de João Mohana. Dialogo com Nascimento de Moraes, com Nauro Machado. Longe, escuto Lauro Leite e, não tão distante dá para ouvir Ruy Dourado e seus personagens que fizeram a alegria de muitos desportistas no seu “lé com lé, cré com cré”.
O centro. Galinha caipira da Diquinha. Cine Éden. Pacamon com quiabo na Dona Roxa da Casa das Tulhas. Mota Preto, farmácia do “Seu” Riba e uma mijadinha na escadaria, que ninguém é de ferro. Ribamar Bogéa, Moscoso, Vera Cruz Marques, Eider Paes, Ray Santos, Maria Inês Sabóia, Zé Linhares.
Sampaio e Moto no Santa Isabel. Farofa do Mariceu velho. Tá Rindo, Massagista Gaudêncio, Zuza e Barrão, Sorvete no Elefantinho, Valdecir, Wilson, Croinha e Alencar. “Gol Ferrado” de Baezinho para João Nabor e o “bicho” garantido pago por Aboud.
No passado é outra história!
Outra civilização...
Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas “daqui, ó!”
Roy Rogers, Buck Jones
Rock Lane, Dóris Day
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Que o passado é bom demais!
Lá tem meninas “quebrando”
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a Pó-de-Arroz
Da Cashemere Bouquet
Coty ou Royal Briar
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho.
No passado é outra história!
Outra civilização...
Mais uma vez volto ao assunto “passado”, tão importante que, sem ele, não teríamos “presente”. O passado está bem ali gente. Dá para cutucá-lo com a vara de derrubar mangas ou tangê-lo com um assopro que provoque um ventinho de nada. E, até hoje, ninguém disse que o “passado” mata. Mas alguém já disse que ajuda a viver.
Estamos no ano de mil novecentos e não sei quanto. A Rua do Comércio vive aquele burburinho ali próximo da Casa das Tulhas. Lá em cima, subindo as escadarias da Humberto de Campos – passando rápido pelo odor amoníaco de tanto mijo – atingimos a Praça João Lisboa, observamos o ir e vir dos bondes e paramos.
Paramos também no tempo. Estamos no hoje, onde a administração continua pública, as escadarias, além de muito mijo, passaram a receber também muita merda. É merda que ninguém aguenta. De manhã, além do já exposto, agora encontra-se também facilmente algumas camisinhas usadas. Algumas sujas da cor ocre, sinal que alguém andou “queimando rosca” por ali, nas vistas de todos os passantes.
E quem ousa bisbilhotar, costuma ouvir a pergunta: “...é teu?” Então continua, quem está aí atrás!
Mas, naquele tempo em que os bondes passavam pela João Lisboa, desciam a Magalhães de Almeida e até mesmo quando na esquina da Afonso Pena com a 14 de Julho funcionava a Rádio Gurupi, as cenas eram diferentes. Não eram como as de hoje, na escadaria da Humberto de Campos. Os ladrões – que nunca deixaram de atuar na área – continuam roubando o nada que existe no Primeiro Socorro do Tonico. Dia desses, zangados por não terem encontrado mais o que roubar, os ladrões resolveram rasgar um cartaz do Zeca Baleiro, filho Tonico.
Naqueles anos, no tempo em que se saía do Eden e se merendava caldo de cana com pão-doce na moenda do Guará, o buraco era mais embaixo. A Polícia era mais Polícia e não precisava passar a mão na garganta dizendo que precisava tomar uma cervejinha. Era outro tempo. Tempo em que Rei dos Homens bebia mais de 100 “caldos” por dia e continua sempre disposto a cobrar mais uma vez o “me dá o meu, o do caldo”.
Não tínhamos Djalma, ali no canto do Bradesco próximo do Mercado – há quem afirme que nem a chuva banha Djalma -, mas tínhamos o Boquinha cavoucando suas feridas, ficando sem os dedos. Se hoje temos “Seu Avico”, disposto a enfrentar chuvas e trovoadas por qualquer “merréis”, no passado tivemos também o Gerente, por anos titular absoluto no ataque do Flamengo ao lado de Vevé e Perácio. Ainda bem que esse só bebia café.
Atualmente, depois das 18 horas, todos os dias, alguns marmanjos preconceituosos se postam na Rua Grande para aporrinhar a Rosinha com os elogiosos “Rosinha Sapatão”, “Rosinha Sargentão”! Há alguns anos ninguém chegava próximo da Praça Pedro II para falar a mesma coisa contra quem se aboletou por quatro anos por ali! Quem mandou Rosinha nascer e continuar pobre?!
Buate da Maroca, cabograma da Western, Camaroada da Lenoca, Rádio Gurupi, Bonde Cara-Dura, Casas Pernambucanas, Bota pra Moer, Meruoca, Programa da Carochinha, Zuza e Barrão, Tempero pra peixe, Ferro de Engomar, Walber Duailibe, Moto Bar, hoje, ontem e anteontem.
O bonde, Professor Dionísio, o Trem pra Teresina, Caminho Grande, Estádio Santa Isabel, Canhoteiro, Goiabal, Djard Martins, Clóvis Viana, Jafé Mendes Nunes e o seu famoso “tem cu de boi na área do Sampaio”, Casino Maranhense.
O desenho de São Luís era outro, pintado a lápis multicor. No comércio do João, na Rua do Ribeirão, “seu” Rubem ainda enrolava manteiga em papel de embrulho – foi assim que aprendeu e viu fazer no Ceará -, vendia salgados de porco e de boi tirados da terrina e pesava os quilos utilizando uma pedra. Fazia rápido, as contas, no papel colocado no balcão, sem máquina de calcular, e recolocava o lápis Johan Faber novamente atrás da orelha.
O Liceu não era ali. A Praça do Pantheon não existia e se jogava bola todas as tardes no Goiabal, no Sítio do Apicum, no Tabocal e até mesmo no campo do Luso. A Rua do Sol era outra e ali moravam parentes de Nonato Cassas, de Salim Duailibe. O Teatro Artur Azevedo apresentava retretas. Hoje só existe “meio passado”. O “passado completo” ficou para trás. Por isso que o “presente” é o que é.
Moradores pescavam de caniço na Rua do Machado, esquina com o Beco da Bosta. E era dali mesmo que, antes da construção da ponte, se podia ver o por-do-sol fantasiando ainda mais as ondas da maré de sizígia. Foi dali que muitos conseguiram ver o incêndio e o naufrágio do navio.
Estou no passado. Totalmente no passado. Leio os versos de Gullar, de Cunha Santos e as odes de amor de João Mohana. Dialogo com Nascimento de Moraes, com Nauro Machado. Longe, escuto Lauro Leite e, não tão distante dá para ouvir Ruy Dourado e seus personagens que fizeram a alegria de muitos desportistas no seu “lé com lé, cré com cré”.
O centro. Galinha caipira da Diquinha. Cine Éden. Pacamon com quiabo na Dona Roxa da Casa das Tulhas. Mota Preto, farmácia do “Seu” Riba e uma mijadinha na escadaria, que ninguém é de ferro. Ribamar Bogéa, Moscoso, Vera Cruz Marques, Eider Paes, Ray Santos, Maria Inês Sabóia, Zé Linhares.
Sampaio e Moto no Santa Isabel. Farofa do Mariceu velho. Tá Rindo, Massagista Gaudêncio, Zuza e Barrão, Sorvete no Elefantinho, Valdecir, Wilson, Croinha e Alencar. “Gol Ferrado” de Baezinho para João Nabor e o “bicho” garantido pago por Aboud.
No passado é outra história!
Outra civilização...
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