“Não sinto saudade do futebol. Sinto saudade das amizades feitas através dele”. Com a voz embargada, indiferente e distante do futebol desde quando deixou de jogar profissionalmente pelo Maranhão Atlético Clube em 1961, Moacir Graça da Costa nos recebeu em sua residência, no bairro do Anil e, de forma lúcida, clara, demonstrando estar gozando de plena forma física e mental, contou-nos um pouco da sua trajetória no esporte maranhense. Uma história simples, como de tantos outros, que marcou pelos quase 10 anos vestindo a gloriosa camisa do clube das quatro cores.
José
Aragão, Stelman, José Pinto, Vivaldo, João Pedro, Bi e outros colegas se
juntaram a Moacir Graça, no final de 1939 e início de 1940, para bater peladas
descalços em plena Rua das Flores, bairro do Anil. Após as peladas, era sagrado
tomar banho nas águas limpas e azuis do Rio Azul (que depois passou a ser
conhecido como Rio Anil).
Com
14 anos de idade, após concluir o quarto ano primário e o exame de admissão,
ingressos na Escola Técnica Federal do Maranhão – ETFM (hoje IFMA). “Era um
sonho estudar na Escola. Naquela época, morar no Anil era como morar no
interior, de tão difícil acesso. Estudar na Escola, então, era como se tivesse
entrado hoje na Universidade”, lembra.
O
primeiro ano como aluno na Escola foi marcante por dois motivos: primeiro, porque
teve a oportunidade de mostrar suas qualidades como jogador de futebol nos
torneios interclasses e depois na seleção da entidade ao lado de amigos inesquecíveis,
como o goleiro Boquinha, Lelé, Pilho, Orcinho Guterres, Xavier (Peru),
Claudino, Sadi e Erismar, nas disputas das Olimpíadas Colegiais. Marcou também sai
reprovação no primeiro ano por altas, já que era muito comum “matar” aulas para
treinar futebol o para assistir aos treinos da seleção de basquete da escola. “Eu
ficava encantado com a habilidade daqueles atletas. Não lembro o nome de nenhum
deles, até porque eram bem mais velhos do que eu e cursavam o último ano, mas
eram bons, parecia coisa de cinema”.
Paralelo
às atividades esportivas desenvolvidas na Escola Técnica, Moacir ainda jogava
no Cruzeiro do Anil, também conhecido como Leão da Vila Famosa. Caladão,
gostava mais de ouvir do que falar. Em campo, segundo alguns amigos da época, dava
gosto vê-lo jogar no meio ou na ponta esquerda. Mesmo sendo destro, fazia
muitos gols com a perna esquerda, principalmente quando a bola vinha rolando em
sua direção. Hábil, ainda cabeceava bem, ajudava na marcação e distribuía melhor
ainda as jogadas para o ataque.
Assim
que se formou, resolveu ir a Belém-PA para prestar exame para a Escola de
Sargento da Aeronáutica. Gastou tempo e dinheiro porque não divulgaram os
resultados das provas. Desgostoso, retornou a São Luis.
Por
volta de 1952, quando já estava com 21 anos, foi treinar no tricolor de São
Pantaleão. No meio do treino, sofreu uma torção tão forte no tornozelo que a
tornozeleira teve que ser cortada. “Ninguém me deu assistência. Fui pra casa cheio
de dor e me automediquei. Fazia compressas de água quente e massagens”.
Pedrinho,
um amigo do Anil ligado ao Maranhão Atlético Clube, soube o que estava acontecendo
com Moacir Graça e resolveu fazer-lhe uma visita. Escabreado, ouviu Pedrinho
dizer que se isso tivesse acontecido no MAC, teria recebido assistência. Para
confirmar o que estava dizendo, Pedrinho garantiu que iria ajuda-lo e depois de
curado iria treinar no MAC.
Em
menos de dez dias estava em forma novamente e comparece a treino no MAC.
Comitante era o técnico atleticano. O grupo era formado por “cobras criadas” e
havia conquistado o campeonato estadual de 1951. Moacir treinou bem e ganhou a
confiança de todos. No domingo já estava jogando no time principal que formou
com Derval, Arel e Carapuça; Dico Pero Preto, Palheta e Gegeca; Marianinho,
Inaldo, Cabeço Duro, Ananias e ele.
Daí
pra frente foram quase dez anos como titular absoluto. Não ganhou nenhum título
estadual, mas teve o privilégio de fazer de um período altamente técnico do
futebol maranhense. “Jogar ao lado de Cabeça, Moacir Bueno, Nunes, Nélio, Carne
Assada, Serra Pano de Barco, Morais, Jaime e outros craques foi um grande
aprendizado e muita satisfação”.
Uma das formações do MAC em 1953/54: em pé - Serra Pano de Barco, Cabeça, Carrinho, Derval, Moacir Bueno e Marianinho; agachados - Nunes, Nélio, Morais, Moacir Graça e Carne Assada
Uma
passagem interessante que gosta de relembrar aconteceu após um jogo. “Era um
habito dos jogadores que bebiam sair direto do campo para o Moto Bar, que
ficava na Praça João Lisboa, no Centro de São Luis. Peguei carona com o amigo
Arel, que tinha carro, pensando que ele iria para os lados do Anil. Só que ele
estava indo rumo ao bar. Eu não bebia. Os nosso companheiros, quando me viram,
ficaram admirados e começaram a gritar ‘carvoeiro... carvoeiro’ – meu apelido
entre eles. Colocaram cerveja no meu copo e eu fingia que estava bebendo.
Quando foi passando um ônibus que ia para o Anil, saí correndo e fui embora sem
dar tchau. Passaram um bom tempo gozando da minha fuga”.
No
último ano de clube (1961), Moacir se chateou com o técnico Zequinha, que havia
trocado o Ferroviário pelo MAC. “Nos treinos ele colocava Cabeça, Moacir Bueno
e eu em uma posição e quando chegava na hora do jogo, colocava a gente em outra
posição. Fui me chateando e disse ao amigo Napá, diretor do clube, que queria a
minha liberação. O Presidente Nicolau Duailibe Neto assinou meu atestado
liberatório e voltei para o Cruzeiro do Anil, onde joguei mais uns três anos e
parei com o futebol”.
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