Desde
garoto, Carlos Alberto França Bezerra sonhava com o futebol. Queria ser jogador
profissional. O caminho começou a ser traçado quando disputava a segunda
divisão no Renner, time do Bairro do Monte Castelo. Já era conhecido como Carrinho.
Fez testes no Ferroviário Esporte Clube, onde acabou profissionalizando-se e
foi campeão estadual. Em outras três temporadas defendeu o Maranhão Atlético
Clube. Encerrou a carreira aos 32 anos de idade, vestindo a camisa do São José,
do bairro do João Paulo. Era um lateral esquerdo que tinha como característica chegar
com extrema facilidade e de forma dura, junto aos atacantes, sem ser desleal.
Rindo de seu próprio jeito, conta que “acariciava” os adversários. Por causa
disso, os companheiros de clube chamavam-no de Carrinho “Carícia”.
O
filho mais velho de Geraldo Cantanhede de Bezerra e Laurina Melo França
Bezerra, nasceu na cidade de Perimirim, no interior do Maranhão, no dia 14 de
abril de 1949. Com dois anos de idade, acompanhou a mudança dos pais do
interior para São Luis. Foram morar na travessa do Milagre, no bairro do Monte Castelo.
Foi lá que deu seus primeiros chutes em uma bola de futebol. Jogava descalço no
campo da Salina juntamente com os amigos Mirinho, Fonseca, Pompeu Preto (que
jogou no Sampaio Corrêa) e outros.
Era
clara a paixão de Carrinho pelo futebol. O sonho de ser um atleta profissional
ficava cada vez mais enraizada na cabeça dele. Inteligente, como sempre,
mantinha o sonho, mas não abandonava os estudos.
O
garoto baixinho e franzino adorava jogar na ponta esquerda. Corria uma barbaridade.
Corria uma barbaridade. Gostava de ir pra cima do adversário. Não tinha medo de
pancadas. Apesar de canhoto, gostava mesmo era de preparar a jogada para
finalizar com a perna direita.
Com
todas essas qualidades, aos 13 anos de idade vestiu a gloriosa camisa do
Renner, do Monte Castelo, time dirigido pelo professor Prazeres, conhecido na
época como Tourinho. “Quem me levou para o Renner foi o Teodoro, meu amigo e
vizinho. Além de me indicar para o melhor time do bairro na época, ele ainda me
orientou para que trocasse a ponta esquerda pela lateral direita. Aceitei a
sugestão e me dei bem”, conta ele.
Os
amigos Mirinho e Fonseca também foram para o Renner. Lá, eles encontraram
outros bons jogadores do futebol amador de São Luis e acabaram sendo campeões
da segunda divisão.
Carrinho
se firmou como lateral esquerdo. Ganhou um pouco de massa muscular e despertou
o interesse do Moto Club pelo seu passe. O sonho de ser atleta profissional
estava prestes a ser realizado. “Cheguei a treinar no Moto, no antigo estádio
Santa Izabel. Só que a diretoria do clube não me dava nem o dinheiro da
passagem. Acabei desistindo e não apareci mais”.
Carrinho,
que não gostava do Moto por ser boliviano, não ligou para o fato. Continuou
jogando pela ilha em times amadores e defendeu a seleção da antiga Escola
Técnica Federal do Maranhão, em várias competições em São Luis, no estado e no
país, pelos Jogos Escolares Brasileiros do Ensino Médio – JEBEM.
Em
1968, o Ferroviário Espore Clube retomou as atividades como um dos grandes
times do futebol profissional do Maranhão. Em um dos treinos, lá estava
Carrinho com a juventude de seus 19 anos, além de muita coragem e determinação.
No primeiro treino, foi marcar de cara o grande nome do time, Garrinchinha. “Ele
foi um dos maiores pontas direitas que vi em toda a minha vida. Um maranhense
que nos deu muitas alegrias. No treino, não dei moleza. Chegava fungando no
cangote dele. Ao final do treino, Evandro Ferreira, que era o Diretor de
Futebol do Ferroviário, virou-se para Garrinchinha e perguntou: e então o que
achaste do garoto? Garrinchinha, na minha frente, disse: pode contratá-lo”.
O
sonho tornou-se realidade. Carrinho foi elevado à condição de atleta profissional
de futebol. Na estreia contra o Sampaio Corrêa, ele teve que marcar Djalma
Campos, o grande craque tricolor. “Menino, o homem era liso. Habilidade, tinha
de sobra. Eu procurava não dar espaço pra ele. Cho que fui bem, afinal a
partida acabou empatada em 1x1”.
Carrinho
jogou no Ferroviário por sete anos seguidos, alternando sua participação entre
os titulares e reservas das várias formações que o clube teve no período de
1968/75. A campanha de 1973 continua inesquecível. “Nesse ano fomos campeões
estaduais. O nosso time era formado com Marcial, Ferreira, Alzimar, Vivico e
eu; Jorge Santos, Gojobinha e Carlos Alberto; Seneguinha, Nivaldo e Ozimir. Um
belo grupo. Sinto saudade desse tempo”. Ele acrescenta ainda alguns amigos mais
chegados da época do Ferrim: Neguinho, Coelho, Miguel, Carioca, Antônio Carlos,
Odilon, Mário e Lubumba. Enaltece também o ponta direita Euzébio, que jogou
muitos anos no Maranhão Atlético Clube, com quem travava duelos sensacionais
que até hoje são relembrados pelas duas torcidas.
Equipe do Ferroviário em 1968. Em pé: Brito, Vivico, Nélio, Negão, Carrinho e Vadinho. Agachados: Garrinchinha, Preto Baldez, Cândido, Hamilton e Esquerdinha
Nessa
época ganhou os apelidos de “carícia” e “caricioso”. Os amigos contam que
quando perguntavam a ele porque jogava tão duro, a reposta era sempre a mesma:
só faço uma “carícia” neles. Levava todos à uma grande gargalhada.
O
brincalhão Carrinho, menino pobre que um dia realizou outro sonho com o
dinheiro ganho no Ferroviário: comprou uma casa para os pais, na Travessa do
Milagre, no Monte Castelo. “Foi ótimo ter jogado no Ferroviário”.
Em
1976 transferiu-se para o Maranhão Atlético Club, onde estavam João, Tataco,
Riba, Omero, Soeiro, Bite, Osni, Alcino, Dario, Neco, dentre outros. A passagem
pelo MAC durou três temporadas. Por volta de 1978 esteve bem próximo de ir para
o seu clube de coração, o Sampaio Corrêa. O destino não quis que ele realizasse
mais esse sonho. Acabou assinando com o Vitória do Mar. Três anos depois estava
no São José e, finalmente, em 1981, já com 32 anos de idade, parou de jogar
profissionalmente. Reverteu a categoria para amador e foi brincar no São Paulo
do Bairro da Camboa, voltando às origens.
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