Não fosse o gramado de jogo totalmente alagado, o Moto Club e Sampaio Corrêa teriam realizado a melhor partida de todo o primeiro turno do Campeonato Maranhense de 1976 (nomeado como Taça Cidade de São Luís). Mesmo assim, com o gramado quase impraticável para o futebol, as duas equipes proporcionaram momentos de vibração para o grande público que lotou as dependências do estádio. O Sampaio nos pareceu uma equipe coordenada tecnicamente, com uma defesa segura, um meio campo mais correto e um ataque que tinha em Cabecinha a sua peça principal.
O Sampaio foi o primeiro a sacudir a galera quando Cabecinha, com uma finta espetacular sobre Martins, perdia a grande oportunidade tocando na trave com o goleiro já batido. Daí se sentia do que o Sampaio estava disposto a vencer o jogo, haja visto ser precavido na retaguarda e explorava as pontas por onde a passagem era mais fácil para chegar ao gol de Ney. Com o termino da primeira etapa em 0 a 0, todos previam que o Sampaio jogaria a segunda etapa na retranca para garantir o placar que lhe era favorável. O Moto, que tinha como única opção a vitória, nos pareceu uma equipe acomodada, esperando um erro da retaguarda sampaína para marcar o seu gol. Forçava o centro de área onde Moisés e Sérgio davam conta do recado e os pontas apresentavam pequeno rendimento, impossibilitados de melhor produção graças à marcação cerrada de Cabrera e Ferreira, ora até utilizando a violência para neutralizarem Acy e Prado.
Para a segunda etapa, o Moto veio mais disposto com a saída de Edmilson leite (contundido) e a entrada de Toninho. Essa mudança realmente surtiu efeito, já que o novato mostrou ser perigoso com a bola nos pés e deu nova vida a um ataque prejudicado pela fraca atuação de Carbono. Nos minutos iniciais da segunda etapa, o Sampaio passou por maus momentos, onde Crésio mostrou boas qualidades e excelente senso de colocação. A equipe sampaína chamou o Moto para o seu campo e ia aguentando como podia à espera de uma oportunidade para um contra-ataque. Felizmente esta oportunidade veio com um erro do Moto na substituição feita e que deu nova vida ao Sampaio. Teve um gol nulo por impedimento correto, perdeu outra grande oportunidade por intermédio de Cabecinha e anotou o seu gol quando não havia mas tempo para uma reação motorizada.
Atuando com vontade de vencer, o Sampaio Corrêa levantou o primeiro turno do Campeonato Maranhense e a Taça Cidade de São Luís, jogando um futebol voluntarioso e solidário, sempre à procura do gol, ainda que fosse beneficiado pelo empate. A partir dos primeiros movimentos de peleja, todos sentiram a disposição do quadro sampaíno, marcando pressão o campo todo, não oferecendo espaço ao adversário e disputando as divididas com garra e valentia, como mandava o figurino, principalmente em se tratando de final de turno.
A maioria dos jogadores motorizados, sentindo a barra pesada, se limitaram durante todo o primeiro tempo a reclamar as entradas mais duras deste ou daquele adversário, esquecendo que estavam ali para jogar futebol e mostrar sérvio numa partida em que só a vitória interessava. O Sampaio começou a mandar no jogo no momento em que a sua meia cancha dominou inteiramente as ações, graças ao trabalho perfeito do bloqueio do volante Eliezer, muito bem coadjuvado por Bolinha, e ao excelente futebol do ponta de lança Tupan, que ais uma vez se constituiu na peça principal de sua equipe, armando todas as jogadas na intermediária e anulando completamente o meia-esquerda Edmilson Leite.
Como o Nunes não estava bem e Rogério permanecia inexplicavelmente preso entre os zagueiros Marins e Paulo Ricardo, o meio-campo boliviano soube explorar os espaços deixados naquele setor e criar as melhores situações da peleja, como o arremate de Cabecinha na trave e uma puxeta espetacular do mesmo jogador que propiciou a Ney a mais arrojada intervenção do jogo.
Para a equipe que necessitava apenas da vitória, o Moto Club realizou muito pouco dentro de campo. Permaneceu no 4-3-3 durante grande parte do espetáculo, não soltou os seus laterais Haroldo e Bitonho para o ataque e ficou com Rogério atuando em seu próprio campo defensivo, deixando mais uma vez os extremas sem apoio e o centroavante Carbono sacrificado lá na frente. O time rubro-negro dava a todos a impressão de que jogava tão somente para não perder.
No segundo tempo o treinador motense ainda tentou modificar o panorama da partida, fazendo entrar Toinho para o lugar de Edmilson Leite numa tentativa de transformar o esquema em 4-2-4 e oferecer maior presença na área sampaína, mas essa mexida não surtiu o efeito desejado porque o Moto continuava preso pelas extremas, onde nem Prado nem Acy conseguiram ganhar um lance sequer dos laterais Ferreira e Cabrera, respectivamente, e não conseguia nada sem jogadas pelas pontas.
O Sampaio Corrêa, sentindo a possibilidade da conquista do turno depois de 25 minutos da fase final, recuou um pouco o seu meio-campo e testou inteligentemente as jogadas de contragolpes através de lançamentos longos e de surpresa. Em três oportunidades, Cabecinha e Maneca estiveram perto de marcar, e num desses lances o centroavante sampaíno venceu a zaga central contrária na velocidade, aplicou uma finta desconcertante no goleiro Ney e entrou com bola e tudo no arco rubro-negro, sacudindo a numerosa torcida boliviana presente ao Nhozinho Santos. Gol de placa com a marca de Pelé, gol de decisão de campeonato.
Em meio a dirigentes e torcedores do Moto, a derrota para o Sampaio foi recebida com muita naturalidade, apesar de ter decretado a perda do turno e da classificação para as finais do campeonato. Não houve em momento algum protesto ou reclamação dos rubro-negros pelo resultado e alguns jogadores chegaram a considerar o resultado justo. O diretor de futebol, Alexandre Francis, chegou a ir ao vestiário do Sampaio para cumprimentar os bolivianos, reconhecendo que o placar fez justiça. A torcida também parece ter entendido a superioridade do time adversário, mas houve ainda quem argumentasse impedimento no lance que decidiu o jogo. De um modo geral, as restrições foram somente quanto a modificações feitas pela direção técnica no decorrer do jogo, o que, contudo, não chegou a ameaçar o atual preparador considerado pela diretoria, como totalmente prestigiado.
FICHA DO JOGO
Sampaio Corrêa 1x0 Moto Club
Data: 02 de maio de 1976
Local: Estádio Nhozinho Santos
Renda: não divulgada
Público: 16.936 pagantes
Juiz: Wilson de Moraes Wanlume
Bandeirinhas: Nacor Arouche e Josenil Sousa
Gols: Cabecinha aos 35 minutos do segundo tempo
Expulsão: Tupan aos 44 minutos do segundo tempo
Sampaio Corrêa: Crésio; Cabrera (Zé Alberto), Moisés (Cabrera), Sérgio e Ferreira; Elieser, Tupan e Bolinha; Gilmar, Cabecinha e Maneco. Técnico: Brito Ramos
Moto Club: Ney; Haroldo, Marins, Paulo Ricardo e Bitonho; Rogério, Nunes e Edmilson Leite (Toinho); Prado, Carbono (Lima) e Acir. Técnico: Marçal Tolentino Serra
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