sábado, 27 de janeiro de 2024

Especial Moto Club: “CAMPEÃO DOS CAMPEÕES DO NORTE O MOTO CLUBE DE S. LUIZ!” (1948)

 Trechos, fotos e fichas extraídas do livro "Memória Rubro-Negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte" (2012)

“CAMPEÃO DOS CAMPEÕES DO NORTE O MOTO CLUBE DE S. LUIZ!”. O título citado estampou uma das páginas do jornal O Globo, de 04 de Agosto de 1948, na sua sempre bem visitada coluna sobre esportes. Também foi destaque em outros importantes jornais em circulação em São Luis, um dia após a conquista que parou a nossa cidade e consagrou o time rubro-negro nos gramados Norte a fora. O feito do Moto Club, antes de ser uma conquista pessoal, foi um orgulho para todo o desporto maranhense, que pela primeira vez em sua história via um clube maranhense triunfar em uma competição da grandeza e importância que foi a Copa dos Campeões do Norte. O Moto Club de São Luis, em definitivo, colocou o seu nome como uma das maiores e mais respeitadas agremiações de todo eixo Norte e Nordeste brasileiro e coroou para sempre o título de Papão do Norte, alcunha alcançada desde a época em que o rubro-negro emprestara praticamente todo o seu time principal para a Seleção Maranhense de Futebol, que conquistou o título de Campeão da Zona Norte do Campeonato Brasileiro de Seleções, em 1946. Há registros que, desde essa conquista pela nossa Seleção, brilhantemente representada pelo plantel motorizado, o Moto Club passou a ser designado como “Papão do Norte brasileiro”. Não se pode afirmar que essa respeitável denominação ao rubro-negro maranhense tenha partido pela conquista da Seleção Maranhense, suntuosamente representado, em sua gigante maioria, pro atletas do elenco do Moto Club. Porém, os registros encontrados na época (1946) ou antes da Copa dos Campeões (Agosto de 1948) já mostram textos em jornais, inclusive em periódicos paraenses, tratando o Moto Club como Papão. Em Abril de 1948, quatro meses antes da participação do Moto na Copa dos Campeões do Norte, encontramos na publicação de O Globo um vestígio de que essa denominação é anterior a essa competição. Na matéria, quando do empate do Moto contra o Flamengo do Rio de Janeiro durante amistoso no Estádio Santa Isabel, a reportagem de capa foi enfática: “Respeita o Papão do Norte!”. O atleta Beto, do Flamengo, declarou após a partida a repórteres no campo: “Sabem de uma coisa, pessoal?: Respeita o Papão do Norte! Direi a mesma coisa lá no Rio e não exagero nisso!”

Também é praticamente errôneo afirmar que o Moto tenha sido considerado com essa denominação pela conquista da Zona Norte da Taça Brasil de 1968, com alguns torcedores sugerem. Em uma matéria publicada no jornal O Esporte, de 1949, após uma vitória do rubro-negro sobre o Botafogo do Piauí, o título que estampa a matéria de capa descreve que “foi esmagado o Botafogo pelo Papão do Norte”. De novo: não temos a intenção de reafirmar sobre essa denominação do Moto, mas os indícios são claros de que o clube passou a ser conhecido por essa alcunha muito antes de 1968. Dessa forma, contesta-se a conhecida versão de que o Moto Club de São Luis passou a utilizar esse termo por conta do titulo de campeão do Torneio dos Campeões, em 1948. O mais provável, o mais próximo que podemos deduzir é de que, com essa conquista em 1948, o Moto consagrou de vez o título de Papão do Norte, passando a ser muito mais explorado pela imprensa maranhense – a partir dessa data, há maior facilidade em encontrar registros em jornais da época falando sobre a eterna alcunha do rubro-negro, inclusive imortalizado na letra do seu próprio hino.

O Torneio Campeão dos Campeões, visando “tornar mais estreitas as amistosas relações existentes entre os três estados amigos”, foi organizado pela Federação Maranhense de Desportos com um orçamento de Cr$ 160 mil. Entretanto, a competição arrecadou apenas Cr$ 100 mil, causando prejuízo para o Moto Club e para a própria Federação mentora desse triangular, no qual estiveram emprenhadas as melhores representações do futebol dos Estados do Maranhão, Ceará e Pará. “Moto Club, Paisandu e Fortaleza, campeões respectivos do Setentrião Brasileiro, estarão empenhados num certame de dois turnos que poderá se constituir numa das maiores atrações do futebol nortista dos últimos tempos”. A Federação Maranhense de Desportos, expressando o sentido que a fez organizar o Torneio dos Campeões, apresentava “aos desportistas maranhenses as mais credenciadas representações de futebol, com [...] campeões, respectivamente, do Ceará, Pará e do Maranhão”. E essas três importantes equipes do futebol brasileiro apresentavam jogadores de grande nome em seus respectivos Estados. Pelo lado maranhense, o Moto Club configurava-se como uma verdadeira máquina. O time, na época o atual tetracampeão estadual (o quinto título somente chegaria no final do ano, já que as disputas do certame de 1948 começariam apenas em Outubro), apresentava um elenco fortíssimo, sob a presidência do eterno César Aboud e treinado por José Gonçalves da Silva. A base do fortíssimo time do Moto Club de São Luis era assim composta: Valber Penha, Santiago e Carapuça; Sandoval, Gegeca e Pretinho; Galego, Tidão, Batistão, Ananias e Valentim. Um verdadeiro esquadrão para o nosso futebol. Estava muito bem representado o Estado do Maranhão nessa competição.

Diante da impossibilidade de o Paysandu e o Fortaleza trazer um juiz, como insistentemente solicitou a nossa Federação, a fim de cada partida ser apitada por um mediador neutro, FMD, em todos os jogos, mesmo naqueles em que devia prevalecer a sua indicação, entre o Fortaleza e o Paysandu, deixou que “a escolha do juiz venha sendo feita pelos srs. Presidentes das duas embaixadas, atitude imparcial e reveladora de justo apreço às duas distintas agremiações visitantes”.

A cidade de São Luis respirava essa grandiosa competição. Com o início das disputas do Campeonato Maranhense marcado somente para o final do segundo semestre, todo o cenário esportivo ludovicense concentrava as suas atenções no Torneio dos Campeões. O Moto Club, que em anos anteriores serviu como a base para o selecionado Maranhense no Campeonato Brasileiro de Seleções, entraria na competição como franco favorito, uma vez que o seu cartaz de “Papão do Norte” já ganhava as principais páginas dos jornais em São Luis e até em outros Estados, como Belém do Pará. Antes do seu início, a competição, realizada entre os meses de Julho e Agosto, já estampava as páginas dos principais jornais de São Luis, que previam todo o tipo de sorte para o rubro-negro e para as disputas: O torneio dos campeões que a nossa mentora vai promover, [...] ao que tudo indica está fadada a um completo êxito. Além de tudo trata-se de uma disputa em que existe maior garantia para os litigantes, uma vez que não será efetuada no sistema de eliminação. Uma representação, mesmo que seja infeliz numa partida, poderá se reabilitar completamente nos outros jogos, conquistando o título máximo do torneio.

O Torneio dos Campeões do Norte do país, disputado no sistema de turno e returno, teve início na tarde do dia 18 de Julho de 1948, em São Luis. Todas as partidas foram disputadas no campo do Estádio Santa Isabel, na época de proprietário do Presidente rubro-negro, César Aboud. A seguir, jogo a jogo, destacaremos toda a brilhante campanha do rubro-negro maranhense naquela que ficou marcada como uma das maiores e mais importantes competições alcançadas pelo Moto Club de São Luis, definitivamente Papão do Norte!

18 de Julho de 1948: Moto Club 5x2 Paysandu (PA) – Um jogaço! Sem exageros, assim poderia resumir-se o que foi o encontro evolvendo rubro-negros e bicolores na abertura do torneio, na animada tarde no campo da Fabril. “O Estádio Santa Isabel não apanhou um público numerosíssimo, apesar da grandiosidade do certame. [...] Contudo, muita gente esteve na cancha ‘motorizada’ na certeza de que iríamos ter um espetáculo soberbo de futebol”. Após o desfile dos dois participantes da competição, o professor Luiz Rêgo, Presidente da FMD, fez um breve discurso, seguido pelo hasteamento da bandeira nacional, na tribuna de honra do Estádio Santa Isabel. Teve, assim, início à partida envolvendo maranhenses e paraenses. Sob a arbitragem do Sr. Jaime Pires Neves, árbitro do quadro maranhense, o que se viu em campo foi um verdadeiro duelo de campeões, na verdadeira concepção da palavra. O Moto Club, que chegou a abrir a vantagem de 2x0 no placar, cedeu o empate ainda no primeiro e se agigantou na etapa final. Um espetáculo digno das duas maiores potências do futebol maranhense e paraense. “Apesar da derrota, a apresentação do Paysandu foi convincente. O pentacampeão paraense honrou o bom nome do Pará esportivo. Caiu como um gigante, batalhando sem cessar até os últimos minutos da partida”. Na equipe motorizada, o destaque ficou por conta da atuação de Rui, Mourão, Gegeca, Pretinho, Galego (autor de dois gols) e Ananias, os melhores elementos do representante maranhense em campo.  Assim perfilaram as duas equipes: Moto Club - Rui, Santiago e Mourãozinho; Sandoval, Gegeca e Pretinho; Galego, Tidão, Batistão, Ananias e Valentim; Paysandu - Aloísio, Bria e Jesus; Bendelaque, Manoel Pedro e Pedro; Hozana, Dengoso, Hélio, Guimarães e Aracaty. O time paraense era treinado por Dimas Teles, que por muito tempo exerceu a função de técnico do Maranhão Atlético Clube. Era o pontapé inicial motorizado para a conquista do torneio e a sua consagração em definitivo como um dos grandes do futebol nortista.

Na segunda partida da competição, envolvendo cearenses e paraenses, um incidente que paralisou a disputa durante mais de meia hora: aos 36 minutos de jogo, o zagueiro Bria deu um pontapé proposital no atacante Piolho. A falta foi tão violenta que Piolho ficou desacordado por um bom tempo, tendo sido retirado de campo nos braços dos seus companheiros para receber socorros no vestiário motense. O Juiz Cícero Romão Batista, incontinente, expulsou de campo o zagueiro Bria, provocando uma tremenda confusão. O time do Paysandu não queria continuar jogando sem Bria e estava intransigente na sua decisão de não atuar com apenas 10 homens. Entretanto, depois de muito bate-boca, foi resolvida a situação: o presidente da embaixada do Paysandu em São Luis, Jorge Aguiar, fazendo valer a sua autoridade, ordenou que os seus comandados prosseguissem a partida. No final, o Fortaleza bateu o Paysandu pelo placar de 3x2. Depois desse jogo, cearenses e paraenses abandonaram a Escola Técnica, onde estavam hospedados, e seguiram para o Hotel Brasil, por motivos de acomodação (no antigo alojamento, os jogadores e comissão técnica de ambas as equipes reclamaram da comida escassa e as camas estreitas e duras).

O Moto Club, no intervalo entre a primeira e segunda partidas, confirmou a vinda de mais três reforços, todos trazidos pelo técnico Zequinha, do rubro-negro, que esteve em Alagoas, Rio Grande do Norte e Pernambuco atrás de peças para compor o elenco. Chegaram ao clube motorizado Laixinha, vindo do C. F. Brasil, Nascimento, meia-esquerda oriundo do América de Pernambuco, e Palheta, centro médio do Comercial F. C.

Moto 5x2 Paysandu/PA
 
25 de Julho de 1948: Moto Club 5x1 Fortaleza (CE) Um passeio – com direito a mais uma goleada. O Moto Club, em sua segunda aparição no torneio, mostrou o porquê do tetracampeonato maranhense e do seu atual elenco, seguramente um dos melhores em toda a sua história. A segunda goleada, agora frente ao rival cearense, mostrava que continuava de pé o cartaz que o Moto trazia na bagagem. Mais um grande do futebol caia diante do Papão. A tarde do dia 25 em São Luis estava propícia para a prática do futebol. “Muito sol e nem um leve sinal de chuva. Isso foi o suficiente para um grande público no Estádio Santa Isabel, afim de presenciar a última luta do primeiro turno do Torneio dos Campeões do Norte”. O árbitro Jaime Pires Neves, que deveria atuar na partida, foi substituído pelo experiente Ferreira Novaes. Os chamados “aficionados da pelota”, expressão muito utilizada pela imprensa esportiva da época, estiveram presentes no campo da Fabril, certos de que teriam um espetáculo rico em técnica e combatividade. Com um elenco forte como o do Moto, não foi necessário fazer uma previsão muito longa para adivinhar o que ocorreria naquela partida. Batistão, Pretinho, Ananias e Tidão, este último com dois gols, mostraram mais uma vez a superioridade do rubro-negro em campo e deram números finais à segunda goleada motense na competição – fora o baile. Sobre os nomes da partida, vale fazer um destaque: Na equipe motorizada merece destaque a figura de Valber Penha, sem dúvida alguma o melhor valor do esquadrão rubro-negro. Pretinha e Gegeca foram também grandes figuras da retaguarda motense. Na linha de frente agigantaram-se Tidão e Sebastião. No conjunto alencarino Jujú teve um bom desempenho não tendo sido culpado dos 5 tentos que deixou passar. [...] Arrupiado, enquanto teve fôlego, foi um jogador bastante esforçado. No ataque, Paulinho foi o melhor elemento, seguido de perto por Antony e Pipiu.

Apesar de o comando da ofensiva cearense apresentar altos e baixos, o Moto Club, com um futebol rápido, dinâmico, não deu espaço para o Fortaleza sequer pensar em reagir. Batistão, Pretinho e Ananias começaram o martírio dos Tricolores. Quando Pipiu deu um sinal de vida à equipe cearense logo após o seu gol, ainda no primeiro tempo, Tidão, jogando talvez a sua melhor partida na competição, tratou de anotar dois gols (o seu terceiro naquela altura do torneio) e acabou com as esperanças alencarinas. Um 5x1 gigante, do tamanho do futebol rubro-negro! O Moto Club perfilou assim contra o representante cearense: Valber Penha, Santiago e Carapuça; Sandoval, Gegeca e Pretinho; Galego, Tidão, Batistão, Ananias e Valentim. O Fortaleza entrou a campo com esta formação: Juju, Saraiva e Zé Sérgio; Natal, Deim e Arrupiado; Antony, Paulinho, França, Pipiu e Piolho. 
 
Moto 5x1 Fortaleza/CE

28 de Julho de 1948: Moto Club 1x2 Paysandu (PA) – Enfim, de volta à realidade. O returno do Torneio dos Campeões do Norte prosseguiu com o embate envolvendo motenses e bicolores, a primeira partida da fase de volta. Por causa do espetacular primeiro turno, onde o Moto Club cravou duas impiedosas goleadas sobre cearenses e paraenses, parece que o representante maranhense havia entrado a campo com um belo salto alto. A derrota no returno diante do Paysandu foi cruel e não esteve nos planos do time motense. “A luta teve um transcorrer bastante movimentado, finalizando com o marcador acusando o seguinte resultado: Moto Clube 1 x Paisandú 2”. Foi a derrota da subestimação. Após dois resultados que deixaram a torcida motorizada em plena euforia, o rubro-negro tropeçou nas suas próprias pernas justamente por acreditar que encontraria vida fácil no restante da competição. Pelo contrário, o time do Moto começou o returno bem abaixo daquele que começou o Primeiro Turno. A derrota para os cearenses acendeu o sinal de alerta rubro-negro. Sobre a atuação individual das duas equipes, Valber – não repetiu sua atuação anterior. Falhou lamentavelmente no lace do primeiro ponto dos visitantes. Santiago – Firme como sempre. Rebateu bem as bolas que vieram para o seu setor. Prendeu Hélio, em algumas jogadas, soltando em outras. Mourão – Falhou bastante na marcação de Hosana. O jovem atleta esteve numa tarde negra.

Inda sobre a partida, aos 20 minutos da etapa complementar um torcedor invadiu o campo para tentar agredir o jogador Cacetão, do Paysandu, sendo contido pelos policiais. Assim perfilaram rubro-negros e bicolores no jogo apitado pelo maranhense Emílio Vieira: Moto Club - Valber Penha, Santiago e Mourãozinho; Sandoval, Gegeca e Pretinho; Galego, Tidão, Batistão, Ananias e Valentim; Paysandu - Aloísio, Bria e Jesus; Bendelaque, Manoel Pedro e Pedro; Hozana, Dengoso, Hélio, Cacetão e Aracaty. Um tropeço que quase custou caro ao Moto Club, que viu os seus dois adversários crescerem durante a competição. Quando o Fortaleza novamente venceu o Paissandu, na rodada seguinte, o Moto Clube respirou aliviado. Diante do Fortaleza, na última partida do torneio dali a alguns dias, bastava um simples empate para o time da Fabril. “Uma vitória ou empate do grêmio ‘motorizado’ significaria a conquista do título. Em caso de derrota, o torneio ficaria com 3 líderes”.
 
Paysandu/PA 2x1 Moto Club
 
03 de Agosto de 1948: Moto Club 2x2 Fortaleza (CE) – Uma verdadeira batalha configurou-se na tarde do domingo de 03 de Agosto, no campo do Estádio Santa Isabel, praticamente lotado. O público, apesar das atrações que o espetáculo apresentava, “não compareceu em massa ao campo da Fabril. Os dirigentes da FMD esperavam uma renda superior a vinte mil cruzeiros para aliviar um pouco o prejuízo. Contudo, não foi a arrecadação além dos 13 mil, o que contribuiu para aumentar o valor do prejuízo”. A capital maranhense parou para acompanhar a decisão, ao vivo nas arquibancadas ou pela irradiação das poucas rádios naquela época. Parecia que São Luís em peso estava ali no Santa Isabel. O então Governador de São Luis, Sebastião Archer, prometeu feriado em caso de título. Antes da partida, boatos correram pela cidade, dando conta de que o Fortaleza entraria para o jogo contra os motenses reforçados com cinco jogadores do Maranhão Atlético Clube. Contudo, os boatos “ruíram por terra e não se confirmaram. É que os alencarinos, mesmo se ressentindo, visivelmente, do ‘massacre’ de domingo, apareceram [...] na cancha iluminada da Fabril somente com elementos genuinamente tricolores”. Os cearenses disputaram a última e decisiva partida do Torneio numa desesperada tentativa de obter a conquista de mais dois pontos ao invés de entregá-los sem lutar ou sem atender aos regulamentos da competição.
 
Assim perfilaram Moto Club de São Luis e Fortaleza, respectivamente: Rui; Santiago e Carapuça; Sandoval, Gegeca e Pretinho; Galego, Tidão, Batistão, Ananias e Valentim. O representante cearense atuou com Juju; Saraiva e Airton; Sapenha, Deim e Arrupiado; Sofia, Otávio, França, Pipiu e Antony. No primeiro tempo, rubro-negros e Tricolores lutaram com bravura indômita. Enquanto os alencarinos provocavam aplausos da torcida, a linha de frente do Moto não conseguia passar pela fraca retaguarda cearense, onde o goleiro Juju, visivelmente contundido, não passava grande confiança. Por outro lado, a improvisada ofensiva tricolor, com extrema facilidade, passava pelo setor defensivo motense. E todos os prognósticos de fácil vitória motorizada foram contrariados com a batalha de igual para igual: “o Fortaleza inaugurou o placard aos nove minutos apenas, mercê de um centro do ponteiro Sofia, finalizado de cabeça por França”. O Santa Isabel silenciou. A tão animada torcida rubro-negra se calou diante do inesperado. Porém, o silêncio virou loucura no empate de Galego aos 20 minutos - de maneira bastante esquisita: Galêgo cobrou um corner contra o Fortaleza. A esfera foi ter no arco tricolor e oscilou junto à trave direita do arco de Jujú. Lance completamente duvidoso. Mas o juiz Pires Neves marcou. Não queremos acreditar tivesse o juiz consignado um tento inexistente, pois estava ele junto ao goal e tudo viu bem de perto.
 
Foi uma verdadeira festa nas dependências do estádio. Festa essa que silenciou novamente no minuto seguinte: “dada nova saída o Fortaleza arrancou com decisão conseguindo o desempate sensacional e fulminante, por intermédio de Sofia. Bela reação do Fortaleza, assegurando a merecida vantagem no primeiro tempo”. Fortaleza 2x1 e seguiu-se o inferno na terra. Entretanto, não se prenunciava o mesmo desempenho dos cearenses no segundo tempo, pois suas condições físicas eram, de fato, precárias – assim como em todo o torneio. E o Moto, apesar de pouco articulado, continuava ostentando grande disposição em busca do empate salvador, com o time cearense sempre jogando nos contra-ataques. O domínio era totalmente motense, embora o rubro-negro apresentasse o mesmo padrão técnico paupérrimo exibido na fase inicial. “Não obstante os tricolores adotaram a tática de defesa cerrada fazendo recuar os meias e toda a medianeira, para barrar o ímpeto dos motorizados, estes cumpriram ininterrupta pressão sobre os seus adversários”. O drama rubro-negro, porém, durou até os 30 minutos do segundo tempo: “os motenses desmancharam a vantagem do marcar. O goal foi realmente ‘sui-generis’ porquanto o tiro de Valentim deixou de ser aparado por Jujú. Entretanto, o goleiro deixou a esfera escapar-lhe das mãos agarrando de novo, mas dentro da meta”. Tidão, no rebote, balançou as redes: 2 a 2. Enquanto o Moto sagrava-se vencedor desempatando a partida, o Fortaleza desdobrava-se na defesa para assegurar o empate. Porém, o empate era suficiente para o Moto se tornava Campeão dos Campeões. Estava finda a batalha.

Apesar do título, o Moto Club vinha de uma sequência de partidas irregulares, sem o mesmo brilho que o fizera receber, com honras, a significação de “Papão”, por sucessivas e convincentes vitórias sobre os grandes do futebol do Norte e Nordeste em suas excursões. A publicação de “O Combate”, de 1948, destacava que o rubro-negro, mesmo com a inédita conquista, já não era mais o mesmo de outrora. “A sua atuação no Torneio dos Campeões, apesar da nossa esperança, não convenceu, absolutamente”. Técnico, jogadores, todos foram questionados sobre os motivos que fizeram o Moto decair tanto de produção nos últimos anos e, principalmente, na Copa dos Campeões. E a resposta mais clara foi o fraco desempenho no Segundo Turno do Torneio, onde o time maranhense quase se complica contra adversários tecnicamente inferiores. A publicação encerrou os questionamentos sobre a baixa produção do rubro-negro na competição alertando e já dedicando ao time motorizado a sua eterna aculnha endossada pelo título do Torneio: “ou o Moto continua a atuar como ‘Papão do Norte’, ou que se tire dele esse tpitulo honroso, se o mesmo não continuar a corresponder a expectativa”.

O título foi comemorado como se acontecesse uma Copa do Mundo. O rubro-negro da Fabril terminou a competição com o maior número de pontos (13), seguido por Paysandu (10) e Fortaleza (8). O time motorizado ainda teve ainda o artilheiro (Tidão, ao lado de Pipiu, do Fortaleza, ambos com quatro gols) e o vice (Galego e Batistão, ambos com três gols). O futebol maranhense, que em décadas passadas aprendeu com o futebol cearense e paraense, demonstrou que havia aprendido à risca e venceu de forma brilhante o torneio. O Paysandu voltou a Belém pelo avião da Cruzeiro do Sul; o Fortaleza retornou à capital cearense pela base aérea do Tirirical, no avião da Aerovias Brasil. E o Moto ficou em São Luis, com o eterno título de Papão do Norte.
 
FICHAS DOS JOGOS
CAMPANHA DO MOTO CLUBE NA COPA DOS CAMPEÕES DO NORTE 1948

Moto Club 5x2 Paysandu/PA
Data:
18 de julho de 1948
Local: Estádio Santa Izabel
Juiz: Jaime Pires Neves
Bandeirinhas: não informado
Gols: Galego (pênalti) aos 13 e Batistão aos 35 minutos do primeiro tempo; Hélio a 1 e 3, Tidão aos 12, Galego aos 19 e Inaldo aos 44 minutos do segundo tempo
Público: não informado
Renda: Cr$ 23.291,00
Moto Club: Rui; Santiago e Mourãozinho; Sandoval, Gegeca e Pretinha; Galego, Tidão (Inaldo), Batistão, Ananias  e Valentim (Mosquito)
Payssandu/PA: Aloísio; Bendelaque e Bria; Pedro (Vicente), Manoel Pedro e Jesus (Pedro); Hozano, Dengoso, Hélio, Guimarães (Cacetão) e Aracaty

Moto Club 5x1 Fortaleza/CE
Data:
25 de julho de 1948
Local: Estádio Santa Izabel
Juiz: Ferreira Novaes
Bandeirinhas: não informado
Gols: Batistão aos 6, Pretinha aos 20, Ananias aos 38 e Pipiu aos 41 minutos do primeiro tempo; Tidão aos 7 e 25 minutos do segundo tempo
Público: não informado
Renda: Cr$ 21.145,00
Moto Club: Walber Penha; Santiago e Carapuça; Sandoval, Gegeca e Pretinha; Galego, Tidão, Batistão, Ananias e Valentim (Mosquito)
Fortaleza/CE: Jujú; Saraiva e Zé Sérgio; Natal, Deim e Arrupiado (Airton); Antony, Paulinho, França, Pipiu e Piolho

Moto Club 1x2 Paysandu/PA
Data:
28 de julho de 1948
Local: Estádio Santa Izabel
Juiz: Emílio Vieira
Bandeirinhas: não informado
Gols: Hozano aos 23 minutos do primeiro tempo; Batistão a 1 e Hozano aos 16 minutos do segundo tempo
Público: não informado
Renda: Cr$ 20.218,00
Moto Club: Walber Penha; Santiago e Mourão; Sandoval, Gegeca e Pretinha; Galego, Tidão, Batistão, Ananias (Inaldo) e Valentim (Mosquito)
Payssandu/PA: Aloísio;  Bria e Jesus; Bendelaque, Manoel Pedro e Pedro (Vicente); Hozana, Aracaty, Hélio, Dengoso (Guimarães) e Cacetão

Moto Club 2x2 Fortaleza/CE
Data:
03 de agosto de 1948
Local: Estádio Santa Izabel
Juiz: Jaime Pires Neves
Bandeirinhas: não informado
Gols: França aos 9, Galego aos 20 e Sofia aos 21 minutos do primeiro tempo; Tidão aos 30 minutos do segundo tempo
Público: não informado
Renda: Cr$ 20.218,00
Moto Club: Rui; Santiago (Genaro) e Carapuça; Sandoval, Gegeca e Pretinha; Galego, Tidão, Batistão, Ananias e Valentim
Fortaleza/CE: Juju; Saraiva e Airton; Sá Penha, Deim e Arrupiado; Sofia, Otávio, Pipiu, França e Antony

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