sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Tupan em seu último Campeonato Maranhense da primeira divisão (1994)

Moto x Tupan, pelo Estadual de 1994

 Texto extraído do livro "Almanaque do Futebol Maranhense Antigo: Clubes Menores da Capital" (2023):

O Campeonato Maranhense de 1994 foi marcado pelo número recorde de treze inscritos, a exemplo do ano anterior: Caxiense, Bacabal, Coroatá (campeão da Segunda Divisão em 1993 e contando com a experiência do goleador Bacabal, ex-Maranhão e Sampaio), Boa Vontade, Duque de Caxias, Expressinho, Maranhão, Moto Club, Porto Franco, Sampaio Corrêa, Imperatriz, Vitória do Mar e, claro, Tupan. Prevendo o óbvio, que era o prejuízo financeiro, a federação organizou uma tabela onde os três grandes da capital e mais o Boa Vontade foram alocados na chave principal e os demais, chamados clubes menores, foram manejados para outro grupo. Assim, Tupan, Vitória do Mar e Expressinho ficaram na Chave D, em jogos de ida e volta, onde o primeiro colocado passaria à fase final com os melhores colocados dos demais grupos. Com o previsível diminuto público nos jogos dos menores, o Tupan iniciou então a sua última participação pela divisão principal do nosso futebol.

Disparado como o mais fraco de todos os tempos, o Estadual foi também o pior em termos de público desde o ano de 1982 (em jogos entre Nhozinho Santos e Castelão). Só nesse ano de 1994, a queda de público no campeonato bateu todos os recordes negativos da história, mesmo em relação ao ano anterior, que já tinha sido o pior de todos os tempos. Em 73 partidas disputadas em 1994, tivemos apenas 34.568 pagantes – o que, em outros tempos, esse número equivalia a dois públicos de um Superclássico, por exemplo, no Municipal. O maior público do ano foi em um Sampaio x Moto: 2.297 pagantes, na primeira fase do Estadual. O jogo decisivo da competição, por mais incrível que possa parecer, teve a vergonhosa marca de 1.382 espectadores no Castelão. No geral, a média de público no certame de 1994 foi de 460 pessoas por partida – muito abaixo dos 109.166 totais em 1982 (ou média de 3.704 pagantes por jogo).

O público foi apenas reflexo do bagunçado campeonato. Além de uma fórmula de disputa desinteressante, o Estadual foi jogado praticamente sem uma tabela, tornando quase impossível do público acompanhar as partidas, que só eram marcadas com dois ou três dias de antecedência. Esse foi o ponto mais negativo do certame de 1994, ocasionando dois jogos por WxO: o Bacabal não veio a São Luis enfrentar o Moto, quanto o Imperatriz, já na reta final do returno, também não compareceu para jogar na capital contra o Maranhão. Por conta desses desacertos, o público preferiu se ausentar dos estádios nesse ano.

O clube indígena demorou a confirmar participação no Estadual de 1994. O presidente Herberth Veras e o patrono Eugênio Rodrigues defendiam ardorosamente a ideia de o Tupan não ser incluído no campeonato daquele ano. Para os diretores, o melhor seria pedir uma licença na F.M.D., em virtude da grave crise financeira, sobretudo após a sua participação no Torneio da Integração. No final de julho, às vésperas do início do campeonato, Humberto Trovão poderia voltar à presidência do clube. O presidente Herberth Vera Cruz Marques, disposto a deixar no cargo, convidou Trovão para assumiu o seu lugar (cogitou-se, em caso de negativa de Trovão, em passar o Tupan à federação). No entanto, Eugênio o convenceu a seguir na presidência tupanense, além de organizar um grupo de apoio para cobrir as despesas do clube no campeonato de 1994. Assim, o diretor Alexandrino Cabral iniciou o registro dos atletas a tempo da estreia na competição. O elenco indígena era apenas modesto, em virtude da falta de dinheiro para investir em contratações de peso. Os diretores mantiveram no comando do Tupan a experiência de Caio Franco.

A primeira fase foi disputada sem grandes atrativos, sobretudo pelo chaveamento imposto pela F.M.D. A estreia tupanense aconteceu diante do Expressinho, com o elenco dispondo de apenas quatro dias de preparação para o seu jogo inaugural. No dia 07 de agosto, na preliminar de Moto Club 3 a 0 no Maranhão, os dois times iniciaram a sua participação no campeonato. Com o reforço do lateral Mancha, que estava no Moto, e do lateral Lucivaldo, retornando de contusão, o Tupan mandou a campo Ronaldo; Mancha, Roni, Lucivaldo e Hamilton; Riba, João Carlos, Careca e Evandro; Ailton e Adão; já o Expressinho, que venceu o Vitória do Mar na estreia por 1 a 0, atuou com Jackson; Paulo, Osmar, Josué e Ronaldi; Neco, Cleiton e Iris; Fernando, Jacques e Jobert. Diante de econômicos 767 torcedores, o Tupan estreou vencendo pelo placar de 2 a 0, com gols de Riba e Airton, já na fase final.

Pelos jogos da volta, o empate diante do Expressinho garantiria matematicamente o grêmio indígena na fase final da competição. E foi o que aconteceu: o 0 a 0 contra o time da Cohab deu a liderança isolada com 5 pontos e a passagem à fase seguinte; o Expressinho, com 3 pontos, e Vitória do Mar, sem pontuar, passariam à fase de repescagem (ao lado de Boa Vontade, Duque de Caxias e Porto Franco). O time tupanense, com um elenco sensivelmente melhor que os demais adversários, terminou na primeira colocação, empatando apenas uma partida; já o Vitória do Mar, que montou um elenco a toque de caixa e sem aspiração a absolutamente nada no Estadual, não venceu sequer uma partida e foi para a repescagem.

Classificado para o Octogonal final, o Tupan estreou nessa fase diante do Sampaio Corrêa. Sem o meia Ica (terceiro cartão amarelo) e o lateral-esquerdo Paulo César (motivo de contusão), os bolivianos ainda ficaram desfalcados de mais dois jogadores para o confronto diante dos tupanenses: o lateral-direito Roi e o zagueiro Luis Oliveira, ambos suspensos e à espera de absolvição pelo TJD. Para compensar os desfalques, o treinador Erandy Montenegro promoveu a estreia do ponta-direita Mael (ex-Náutico e revelado pelo Maranhão), que jogaria ao lado de Neto e Piti, com Valdo recuando para o meio de campo, ao lado de Ricardo e Robertinho. O Tupan, apesar de lançar a campo a sua melhor formação, não teve forças para superar os bolivianos, que estrearam na fase com a vitória.

Uma semana depois, para o encontro diante do Bacabal, no interior, a diretoria tupanense ameaçou não viajar. Em nota enviada à federação, o Tupan comunicou que o time bacabalense não se responsabilizaria pelo pagamento das diárias e das passagens rodoviárias para a delegação indígena, como fora previamente combinado em regulamento – ou seja, na qualidade de dono da casa, o mandante deveria pagar o valor correspondente às duas diárias, passagens rodoviárias, em ônibus de linha, para a delegação adversária. Os dirigentes telefonaram para o presidente do Bacabal, relembrando-o sobre a responsabilidade das despesas, mas ouviram a negativa sobre o custeio da viagem (o máximo que fariam seria dividir a arrecadação do jogo. Com tudo resolvido, as duas equipes empataram em 2 a 2 no Estádio Correão, com os donos da casa abrindo 2 a 0 no placar; Adão, com dois gols, garantiu o ponto extra na bagagem do Tupan na volta a São Luis.

Daí em diante, o Tupan foi ladeira abaixo no campeonato, perdendo todas as partidas no Octogonal decisivo. Em seu terceiro jogo, o Tupan chegou a ser goleado pelo mistão do Moto Club, que poupou praticamente todo o elenco para as disputas do Campeonato Brasileiro, diante da Tuna Luso. Já eliminado, o Tupan encerrou a sua passagem pela elite do futebol maranhense sendo goleado pelo Maranhão por 3 a 0. O jogo foi tão fácil para os atleticanos que em momento algum o time tupanense ameaçou sequer fazer um gol (Alex e Jean ainda foram expulsos). A vitória atleticana abriu caminho para o bicampeonato do Maranhão naquele ano. Ao Tupan, restou despedir-se do campeonato em último lugar no Octogonal, diante de 118 pagantes naquela tarde do dia 03 de novembro, no Estádio Municipal Nhozinho Santos.

Obviamente que não foi uma campanha tecnicamente boa e tampouco aquela desejada pela direção do clube. Aliás, alguns anos após a fase de ouro tupanense o clube começou a entrar em declínio. Para a publicação deste livro, em conversa com algumas pessoas da própria direção e abnegados do clube, o Tupan começou a perder fôlego no futebol justamente após a entrada de muita gente indiferente à realidade e ao dia a dia da agremiação. Pelo Campeonato Maranhense de 1994, ano da última participação do time indígena pela elite do nosso futebol, a Sociedade Esportiva Tupan ficou na última colocação na fase final, mas a história construída ficou por toda a eternidade.

CAMPANHA DO TUPAN NO CAMPEONATO MARANHENSE 1994


PRIMEIRO TURNO (CHAVE D):


07.08.1994: Tupan 2x0 Expressinho
14.08.1994: Tupan 3x1 Vitória do Mar
28.08.1994: Tupan 0x0 Expressinho
07.09.1994: Tupan 2x1 Vitória do Mar

SEGUNDA FASE:

17.09.1994: Sampaio Corrêa 2x1 Tupan
24.09.1994: Bacabal 2x2 Tupan
28.09.1994: Moto Club 4x0 Tupan
09.10.1994: Coroatá 3x1 Tupan
16.10.1994: Caxiense 2x1 Tupan
24.10.1994: Tupan 0x2 Imperatriz
03.11.1994: Maranhão 3x0 Tupan

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