Trecho extraído do livro "Salve, Salve, meu Bode Gregório: a História do Maranhão Atlético Clube":
Após o título maranhense de 1993, quando o Maranhão venceu o Imperatriz em jogo conturbado no Castelão, o time atleticano credenciou-se para a sua primeira participação na Copa do Brasil. Sobre o torneio, que garantia ao seu vencedor uma vaga na Taça Libertadores da América, é interessante frisar: com a criação da Copa União em 1987, vários clubes de regiões menos populares que entravam no Campeonato Brasileiro por ser campeão estadual, deixaram de enfrentar os chamados grandes e, com isso, algumas agremiações corriam o risco até de fechar as portas. A solução foi criar uma copa nos moldes do que era disputado na Europa. Em 1989, na gestão de Ricardo Teixeira, a CBF deu vida à chamada Copa do Brasil, que permitia a entrada de clubes de todos os Estados. Inicialmente todos os campeões estaduais e mais os vices de alguns Estados com melhor representação nacional jogavam partidas de forma eliminatória. Ao longo do tempo o sistema de disputa teve algumas alterações. Em 1995 ficou estabelecido que nas duas primeiras fases, a equipe que vencesse por três gols ou mais de diferença, na casa do adversário, não precisaria disputar a segunda partida. No ano seguinte esta diferença caiu para dois gols – em 1993, por exemplo, quando ainda não havia a regra da "ida e volta restrita", o Internacional ganhou por 6 a 0 e 9 a 1 ao Ji-Paraná de Rondônia, somando 15 a 1, a maior soma de resultados da Copa do Brasil.
O Maranhão chegaria à competição reeditando com o Clube do Remo os históricos clássicos do extinto Torneio Maranhão-Pará. O time azulino, depois de chegar ao titulo paraense, à semifinal do Brasileiro e conquistar o Torneio Pará/Ceará, todos em 1993, entrava na competição após ser eliminado no ano anterior na Segunda Fase pelo Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Já o MAC debutava na competição. Sem o treinador Arnaldo Lira, que deixou o cargo após o título de 1993, a diretoria atleticana apostava no trabalho de José Carlos Baiano (ex-jogador de Sampaio e Moto) para levar o time maqueano o mais longe possível na Copa do Brasil (apesar das grandes dificuldades de clubes de menor expressão avançar à fase seguinte, o que eles queriam mesmo era poder enfrentar os chamados grandes para atrair público e renda). Da equipe campeã, pouco foi aproveitado para a estreia atleticana, em seu primeiro compromisso oficial no ano de 1994: dos remanescentes da decisão do ano anterior contra o Imperatriz, apenas os zagueiros Oliveira Lima e Carlinhos, o meia Jackson, o atacante Luis Carlos e o lateral Reginaldo entraria a campo diante do Remo.
O time atleticano, antes do embarque para a cidade de Belém, teve pouquíssimo tempo de preparação. Na bagagem, muito treino e apenas um único jogo amistoso como preparação para a competição: três dias antes do embarque, o Maranhão venceu pelo placar de 3 a 0 a inexpressiva Seleção de São José de Ribamar. Era reunir otimismo e muita força de vontade pelo pouco tempo de preparação e partir para o Pará. E logo na chegada uma notícia que (poderia) mexer com o brio dos atletas: a imprensa paraense vinculava nos jornais que o Remo deveria enfrentar o Vila Nova de Goiás ou o Atlético Mineiro na outra fase, colocando o time azulino como virtual classificado, o que causou indignação aos maranhenses. Mas só indignação não bastaria, faltaria futebol ao elenco maqueano.
Em jogo realizado no 22 de Fevereiro, no Estádio Baenão para 4.091 pagantes, o time atleticano perfilou assim para a sua primeira participação na Copa do Brasil: Raimundão; Oliveira Lima, Carlinhos, Ivanildo, Jackson e Marlon; Júlio César, Luis Carlos, Hiltinho, Reginaldo e Leandro. Apesar do otimismo do treinador atleticano, usando fator surpresa em virtude de o time ter jogado pouco em Belém nos últimos tempos, o Maranhão entrou a campo sem ritmo de jogo e acabou goleado por 3 a 0, com o goleiro Raimundão falhando em todos os gols, embora o arqueiro atleticano tenha defendido um pênalti, minimizando a vergonhosa apresentação em Belém.
A delegação maqueana retornou a São Luís frustrada com a péssima estreia. O MAC dependia agora de uma goleada diante dos paraenses para sonhar com a classificação. Contudo, o sonho, que já era difícil, ficou mais distante com o empréstimo dos atletas Reginaldo, Luís Carlos, Jackson e Jean Marcelo, e da suspenção do zagueiro Oliveira Lima, desfalcando o Bode para a partida de volta, no Castelão, dali a exato um mês. O ponta-direita Chita e o meia Zé Filho, cedidos pelo Moto Club, reforçariam o Maranhão para segunda partida.
Para o jogo da volta, a FMD, sutilmente, mudou o local. A atitude foi tomada em represália à posição contraria do MAC, que se colocou do lado da crônica esportiva na luta pela moralização e recuperação do nosso futebol. Os clubes profissionais de São Luís (além dos três grandes, Expressinho, Boa Vontade, Tupan e Vitória do Mar), para o ano de 1994, resolveram fundar uma Liga Independente pela Lei Zico, em pleno vigor no país à época. Uma comissão constituída por representantes de Sampaio, Moto e Maranhão organizaram uma junta governativa para gerir a competição. Com o apoio da imprensa, o Governo do Estado promoveria o Torneio Governador Edison Lobão, envolvendo clubes da capital e do interior, em competição bancada pela Sedel e sem nenhuma participação da FMD. Foi confirmado e realizado também o chamado Torneio da Integração, competição que envolvia os clubes profissionais e as seleções interbairros da nossa capital, como Vila Kiola, Cidade Operária, Bom Jardim, Liberdade, Vila Conceição, Vila Palmeira, Forquilha, dentre outras. O próprio Maranhão chegou a bater a Seleção da Vila Conceição pela alta contagem de 13 a 0. Em virtude da briga envolvendo clubes e federação, o Campeonato Maranhense de 1994 começaria apenas em Agosto.
Com a mudança para o Castelão, com um campo de dimensões maiores que o Municipal, o treinador Zé Carlos teve que alterar a formação do time atleticano: mandaria a campo uma formação com quatro jogadores no setor de meio-de-campo e não com três meias e três atacantes, como estava predeterminado. Para que fosse reforçado o meio campo, Zé Filho acabou iniciando a partida no banco de reservas. Em seu lugar, Hiltinho foi escalado, com Chita entrando para fazer o papel de falso ponta pela direita. A medida visava fechar mais o meio-de-campo e reforçar a marcação.
No jogo da volta, realizado no dia 22 de Março, no Estádio do Castelão para um público de minguados 726 pagantes, Zé Carlos mandou a campo Raimundão; Filho, Carlinhos, Ivanildo e Robert; Marlon, Júlio César e Hiltinho; Chita, Zé Cláudio e Chita II, com o treinador permanecendo no banco para orientar o time em campo – na partida em Belém, Zé Carlos havia sido expulso e cogitou-se a hipótese de o orientador maqueano ter que cumprir uma suspensão. Porém, não existia suspensão automática para treinador, que só ficaria impedido de sentar no banco caso viesse a ser julgado e punido pelo TJD.
Em campo, as mudanças repentinas na escalação acabaram mudando tudo aquilo que vinha sendo trabalhado para o jogo diante do Remo. O Maranhão abriu o marcador aos 15 minutos da etapa final, em cobrança de pênalti. O time atleticano ainda teve chance de ampliar, mas acabou cedendo o empate para o conjunto paraense aos 16 minutos, com Mazinho. Como o Maranhão precisava vencer com uma diferença de três gols, o Remo saiu de São Luís com a classificação assegurada para a fase seguinte da Copa do Brasil. Ao MAC, 26º colocado dentre os 32 participantes, restou a experiência em disputar a competição pela primeira vez.
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