Major Pereira dos Santos, na época Presidente do Papão
Nesta terça-feira, 03 de Setembro, o futebol maranhense e o Moto Club de São Luís perderam uma de suas maiores referências: morreu, aos 92 anos, Antônio José Pereira dos Santos, vítima de uma pneumonia. Por muitos anos, Pereira dos Santos e o Moto Club foram sinônimos, já que o major exerceu os mais diversos cargos no Papão: presidente, diretor, conselheiro, ou simplesmente torcedor. Ou seja: um eterno apaixonado pelas cores rubro-negras. O Blog Futebol Maranhense presta uma pequena, mas muito significativa homenagem, àquele que fez muito pelo Moto e pelo futebol maranhense em geral. Eu, Hugo Saraiva, fiquei muito feliz em tê-lo no lançamento do livro do Moto Club, sobretudo por ser acho que a sua última aparição em público, já que o ex-dirigente, por questões de saúde, andava longe da vida pública. Deixo aqui alguns trechos extraídos do livro "Memória Rubro-Negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte",incluindo trechos inéditos, não publicados:
Sua vida
O nome do Centro de Treinamento é uma justa homenagem em ao Major Antônio José Pereira dos Santos, que prestou valiosos serviços ao Papão do Norte sem qualquer pretensão financeira, muitas vezes tirando do próprio bolso para dar ao clube. Ele foi Presidente, torcedor, Diretor, Conselheiro, enfim, um verdadeiro abnegado, um apaixonado pelo Moto Club. A sua vida mistura-se à do Papão do Norte, sobretudo pela dedicação e amor que o eterno mandatário doou ao rubro-negro. Pereira dos Santos nasceu no dia 15 de Maio de 1921, em Tutóia. Em 1929, de navio, a sua mãe conseguiu levá-lo para Recife, onde o garoto foi registrado, aos oito anos de idade. O seu padrasto, um renomado Militar da capital pernambucana, o incentivou aos estudos, sobretudo à formação Militar. Após a conclusão do Ensino Médio na Escola Preparatória do Exército de Recife, Pereira dos Santos passou a residir em Porto Alegre, onde prestou vestibular e estudou na AMAN, Escola Superior do Exército, e concluiu os estudos em Resende (RJ). Quando terminou de servir ao exército, foi promovido e ganhou o direito de escolher onde gostaria de morar. Por ter saído de Tutóia, sem qualquer perspectiva de vida e alcançado um bom padrão de vida pela carreira Militar, Pereira dos Santos acreditava possuir uma dívida de gratidão com aquela cidade e deveria voltar ao Maranhão para prestar algum serviço ao seu Estado natal. Com o espírito de querer participar da vida pública na capital maranhense e de todas as instâncias da nossa cidade (política, futebol, etc.), nunca mais retornaria ao Rio de Janeiro; São Luis seria o seu destino em definitivo.
O Major dedicava-se ao Moto dentro e, principalmente, foram dos gramados. Toda vez que alguém se apresentava a ele como Boliviano, Pereira dos Santos, brincando, retrucava, dizendo que “todo mundo tem direito a ter defeitos”. Na Praça João Lisboa ou no Nhozinho Santos, alguns torcedores do rival diziam que ele deveria virar boliviano para enriquecer a sua torcida e acabar o Moto. Pereira dos Santos, no mesmo tom de brincadeira, não perdia tempo: “Deus me livre!”, encerrando assim o assunto. Ele mesmo ia, durante os intervalos dos jogos, no meio da torcida do Moto e passava uma bandeira, onde o torcedor, sensibilizado e certo do destino que o seu dinheiro teria, contribuía com qualquer valor, jogando a sua quantia dentro da bandeira estendida. Partidário da idéia de que o verdadeiro torcedor era aquele que ia ao estádio, Pereira costumava dizer em programas de rádio que o Moto Club possuía a maior torcida do Estado, o que era prontamente contestado pelos diretores bolivianos. Para comprovar a sua teoria (e também poder provocar e gerar renda no Superclássico), faziam os ingressos separados (os ingressos vermelhos eram do Moto e os verdes eram do Sampaio) e vendiam em bilheterias separadas. Havia torcedores que compravam até mais de um ingresso, sempre na iniciativa em ajudar o clube e aumentar o número de bilhetes vendidos. Coincidência ou não, as vendas dos ingressos do Moto sempre superavam as somas dos bilhetes dos bolivianos, o que gerava polêmica (saudável, é claro) semanas a fio...
Dirigente dos mais antigos do futebol maranhense, Pereira dos Santos foi ainda Presidente da FMD, sempre dando total apoio ao Moto Club. Quando esteve à frente da presidência rubro-negra e teve que se afastar por motivos particulares, deixou o vice, Ibrahim Assub, dando continuidade ao seu trabalho. Atualmente com problemas de saúde, o ex-mandatário rubro-negro vive dos momentos em que dedicou boa parte do seu tempo, da sua saúde e das suas forças pelo clube que ajudou a reerguer após a saída dos Aboud. Sobre a sua importância dentro do Papão do Norte, Pereira dos Santos foi categórico ao afirmar, durante a inauguração do CT que leva o seu nome: “Sou suspeito para falar sobre esse Centro, porque vivo em função do Moto. Acho que fizemos um bom trabalho aqui, mas ele e só o começo e temos que continuar trabalhando pelo clube", ressaltou Pereira dos Santos, o homenageado. E com todo o merecimento.
O Major dedicava-se ao Moto dentro e, principalmente, foram dos gramados. Toda vez que alguém se apresentava a ele como Boliviano, Pereira dos Santos, brincando, retrucava, dizendo que “todo mundo tem direito a ter defeitos”. Na Praça João Lisboa ou no Nhozinho Santos, alguns torcedores do rival diziam que ele deveria virar boliviano para enriquecer a sua torcida e acabar o Moto. Pereira dos Santos, no mesmo tom de brincadeira, não perdia tempo: “Deus me livre!”, encerrando assim o assunto. Ele mesmo ia, durante os intervalos dos jogos, no meio da torcida do Moto e passava uma bandeira, onde o torcedor, sensibilizado e certo do destino que o seu dinheiro teria, contribuía com qualquer valor, jogando a sua quantia dentro da bandeira estendida. Partidário da idéia de que o verdadeiro torcedor era aquele que ia ao estádio, Pereira costumava dizer em programas de rádio que o Moto Club possuía a maior torcida do Estado, o que era prontamente contestado pelos diretores bolivianos. Para comprovar a sua teoria (e também poder provocar e gerar renda no Superclássico), faziam os ingressos separados (os ingressos vermelhos eram do Moto e os verdes eram do Sampaio) e vendiam em bilheterias separadas. Havia torcedores que compravam até mais de um ingresso, sempre na iniciativa em ajudar o clube e aumentar o número de bilhetes vendidos. Coincidência ou não, as vendas dos ingressos do Moto sempre superavam as somas dos bilhetes dos bolivianos, o que gerava polêmica (saudável, é claro) semanas a fio...
Dirigente dos mais antigos do futebol maranhense, Pereira dos Santos foi ainda Presidente da FMD, sempre dando total apoio ao Moto Club. Quando esteve à frente da presidência rubro-negra e teve que se afastar por motivos particulares, deixou o vice, Ibrahim Assub, dando continuidade ao seu trabalho. Atualmente com problemas de saúde, o ex-mandatário rubro-negro vive dos momentos em que dedicou boa parte do seu tempo, da sua saúde e das suas forças pelo clube que ajudou a reerguer após a saída dos Aboud. Sobre a sua importância dentro do Papão do Norte, Pereira dos Santos foi categórico ao afirmar, durante a inauguração do CT que leva o seu nome: “Sou suspeito para falar sobre esse Centro, porque vivo em função do Moto. Acho que fizemos um bom trabalho aqui, mas ele e só o começo e temos que continuar trabalhando pelo clube", ressaltou Pereira dos Santos, o homenageado. E com todo o merecimento.
Pereira dos Santos e a Política
Em Março de 1964, um golpe militar foi deflagrado contra o governo legalmente constituído de João Goulart. A falta de reação do governo e dos grupos que lhe davam apoio foi notável. Jango desistiu de um confronto militar com os golpistas e seguiu para o exílio no Uruguai. Antes mesmo de Jango deixar o país, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, já havia declarado vaga a presidência da República. O poder encontrava-se em mãos militares. Os militares envolvidos no golpe de 1964 justificaram sua ação afirmando que o objetivo era restaurar a disciplina e a hierarquia nas Forças Armadas e deter a "ameaça comunista" que, segundo eles, pairava sobre o Brasil (acreditavam que o regime democrático que vigorara no Brasil desde o fim da Segunda Guerra Mundial havia se mostrado incapaz de deter a "ameaça comunista"). Pereira participou e apoiou, como direitista, a Revolução de 1964, como Secretário de Segurança (Pereira foi, talvez, o único Comandante da Polícia Militar que ocupava paralelamente a função de Secretário de Segurança, cargo ocupado em 1965). Um ano antes, em 1963, foi eleito Deputado mais votado até então em nosso Estado. Houve eleição em 64 para governador. Queriam fazer uma revolução com cara de democracia. Após um ano, fariam novas eleições e o Brasil voltaria ao que era. Porém, durou 20 anos. Existia um combate ao comunismo. Houve a eleição para governador. O governo se dividiu e essa divisão favoreceu Sarney, que não tinha tanta projeção e foi eleito governador. Após eleito, Sarney optou pelo grupo do Arena, que era favorável à Revolução. Pereira acabou optando pelo grupo do MDB, a oposição ao Governo. Como era Militar, Pereira acabou sendo perseguido, cassado e afastado do Exército.
Pereira dos Santos garante vaga ao Papão na primeira participação de um clube maranhense na elite do futebol nacional
Nos anos 70, a FMD era composta em sua grande maioria por motenses e o Dr. Pereira dos Santos, com o seu estilo Eurico Miranda de ser, tinha voz muito ativa dentro da instituição. Havia uma grande tendência de o Sampaio ser o representante direto, mas se verificou que não havia um critério pré-definido que sustentasse a tese que o time boliviano fosse o representante maranhense no campeonato. Foi nessa lacuna que Pereira dos Santos viajou até o Rio de Janeiro para conversar pessoalmente com o então Presidente João Havelange, reivindicando a presença do Moto em uma seletiva contra o Sampaio para indicar o nosso representante. A CBD, não aceitando a indicação simples feita pelos dirigentes da FMD, mandou um ofício à Federação Maranhense de Desportos, determinando a realização de uma melhor de três entre Sampaio Corrêa e Moto Club de São Luis.
Os verdadeiros motivos para a inclusão do Moto em uma seletiva contra os bolivianos, porém, foram outrosI: o Sampaio Corrêa tinha um timaço formando por Jaime Tavares e seria o nosso natural representante na competição. No final de uma tarde, na Rua 28 de Julho, perto do Primeiro Distrito Policial, Nagib Heickel (empregado dos Aboud) chamou o Diretor Raposo e outros membros da diretoria do Moto para uma reunião. Comentou sobre a idéia de como conseguirem um bom dinheiro para o clube para o ano seguinte, 1974, pois o Papão atravessava uma fase ruim (foi o terceiro colocado no Maranhense em 1972). O clube havia dispensado boa parte do elenco e ficado com apenas oito atletas, todos pratas da casa. O Sampaio, por sua vez, já estava praticamente confirmado, pois Pedro Neiva de Santana, com o intermédio de José Sarney, conseguiu com a CBD o convite para que o Tricolor representasse o Maranhão na competição. Nagib, então, comentou que havia conversado com Jaime, para organizar uma melhor de duas partidas, onde o time que somasse quatro pontos seria o representante. O Moto, teoricamente, não tinha a menor condição de ganhar do fortíssimo Sampaio Corrêa daquele ano. Jaime Tavares, convicto de uma vitória fácil do Tricolor, aceitou o desafio, na intenção de apresentar alguns novos contratados à torcida naqueles jogos e testar a equipe para a competição. Valia pela rivalidade e até a vaidade em vencer o Moto Club antes da estreia na competição. Em suma, a seletiva serviria apenas para o Sampaio Corrêa golear o Moto, mostrar os novos contratados à torcida e o rubro-negro reforçar o caixa com a renda das partidas.
A seletiva foi oficializada na CBF e Sampaio Corrêa e Moto Club se defrontariam em uma melhor de duas partidas, com a necessidade de uma terceira em caso de dois resultados iguais, para ser conhecido o representante maranhense na competição (naquela época a vitória valia somente dois pontos; em caso de uma vitória de um empate, o time ficava com a vaga). Como anteriormenteI o Tricolor já estava garantido, a diretoria havia liberado os seus atletas para as férias. Com a inclusão do Moto, que não havia liberado o seu reduzido elenco, o Sampaio foi formado às pressas, tendo casos de jogadores que se reapresentaram às vésperas da primeira partida da seletiva. Muitos imaginavam que o Sampaio Corrêa, por ser o atual campeão do Brasileirinho e cheio de craques, com 25 atletas em seu plantel, bateria facilmente o Papão. Já o Moto Club apresentava um elenco reduzido e bastante limitado. O time, sob a presidência de Pereira dos Santos, contava com apenas 13 jogadores para essa seletiva. Pra ser mais exato, Sousa, Chico, Marins, Laudenir, Barbosa, Zé Augusto, Faísca, Lins, Nelsinho, Artur, Marcos Pintado, Nestor e Sérgio, sob o comando do experiente treinador Rack. Para reforçar o elencoI, o Moto pediu emprestado ao Club do Remo alguns atletas, já que as disputas do Campeonato Paraense haviam acabado havia uma semana. O grande destaque do time azulino era o craque Arturzinho. Com o que tinha em mãos, o Moto Club foi disputar a melhor de três jogos contra o elenco campeão do Sampaio Corrêa.
Para as partidas, trouxeram o árbitro carioca Carlos Costa. No primeiro jogo, realizado no dia 17 de Maio de 1973, o Moto Club atuou com a seguinte escalação: Sousa; Chico, Marins, Laudenir e Barbosa; Faísca, Lins e Zé Augusto; Arturzinho, Marcos Pintado e Laudenir II. O Sampaio Corrêa entrou a campo com Batista; Ferreira, Clécio, Nivaldo e Valdeci; Gojoba, Marcos e Iratan; Djalma Campos, Adelino e Itamar. A partida terminou 0 a 0 e as duas equipes voltaram a campo três dias depois, 20 de Maio. Assim perfilaram as duas equipes: Moto Club - Sousa; Chico, Marins, Laudenir e Barbosa; Faísca, Lins e Zé Augusto; Arturzinho, Marcos Pintado e Nestor. Sampaio Corrêa - Batista; Ferreira, Neguinho, Nivaldo e Valdeci; Gojoba, Marcos e Edmilson Leite; Lima, Adelino e Pelezinho. O árbitro ainda anulou um gol do Sampaio Corrêa, marcado por Adelino. Com o novo empate, houve a necessidade de uma terceira e última partida, realizada no dia 23 de Maio, com as duas equipes assim perfiladas: Moto Club - Sousa; Chico, Marins, Laudenir e Barbosa; Zé Augusto, Lins e Nelsinho; Arturzinho, Marcos Pintado e Nestor. Sampaio Corrêa - Batista; Ferreira, Neguinho, Nivaldo e Valdeci; Gojoba, Marcos e Edmilson Leite; Lima, Adelino e Pelezinho. Os jogadores do Remo se entrosaram rápido. O Sampaio se defendia e partia perigosamente no contra-ataque. Houve uma prorrogação 30 minutos.
Parecia que o terceiro jogo seria decidido logo na primeira etapa, mas o Sampaio Corrêa não soube aproveitar a superioridade territorial, grandes oportunidades de gol foram desperdiçadas do meio campo e o ataque. Inteligentemente, o Papão, mesmo com um plantel limitado, resistiu ao forte poder de fogo do time Tricolor. Sem reservas, o rubro-negro se desdobrava, ninguém ia ao ataque de forma desesperada e todos ficavam mais tempo segurando as jogadas na defesa. Com um campo pesado e escorregadio, os times encontravam dificuldade para mostrar o seu melhor futebol, prevalecendo o empate no tempo normal em virtude da enorme vontade de vencer e da fibra rubro-negra, que não permitiu que o Sampaio convertesse em gols a sua nítida superioridade dentro de campo. A jornada dos craques motenses pode ser classificada como heroica, pois o goleiro Sousa jogou machucado todo o segundo tempo, Nilsinho arrastava-se em campo e sem a menor condição física, e Marins comandava o time como um comandante gravemente ferido, sendo atendido de instante em instante pelo massagista do Moto. O Papão enfrentou problemas, obrigando-o a improvisações no último jogo. Abusou da retranca para jogar a última cartada nos pênaltis.
Após 300 minutos de jogo sem movimentação no marcador, motenses e bolivianos decidiriam a sorte através das cobranças de pênaltis. Antes das cobranças das penalidades máximas, o então Presidente do Moto, Nagib Heinckel, em tom forte disse que em caso de derrota, todos os atletas motenses estariam dispensados. Sérgio, reserva do Papão na decisão, contou sobre a reação dos seus companheiros: "estávamos sentados e relaxando perto do banco de reservas do Nhozinho Santos. Depois que o homem disso isso minhas pernas tremeram. Eu não conseguia nem levantar. E o que é pior, fui escalado para bater um pênalti". Heickel era assim: em caso de derrota, mau humor e ameaças, mas em caso de vitória, churrasco na casa dele, principalmente quando a vitória vinha sobre o maior rival. Em comum acordo, o Moto realizaria cinco cobranças, seguido pelas cinco do Sampaio. Marins, Lins, Marcos e Faísca assinalaram para a equipe do Moto; Sérgio desperdiçou. O Sampaio perdeu duas chances com dois caras que não costumavam perder pênaltis: Neguinho perdeu a primeira e, como Gojoba também desperdiçou a segunda cobrança, a disputa de pênaltis acabaria em 4x0 para o Moto Clube, que representou o Maranhão no campeonato Brasileiro de 73. Segundo relatoI, nos pênaltis, Neguinho deu um chute tão forte que a bola passou por cima do muro do estádio, parando na Catulo da Paixão. Um locutor de rádio ainda ironizou: “o grande capitão chutou uma bola que nem urubu pegava”, por causa da altura que a bola alcançou.
Ao final da cobrança de pênalti, o treinador Rack ajoelhou-se em cima da linha divisória, chorando e beijando um escapulário de Nossa Senhora da Conceição. O Presidente Nagib não resistiu à emoção e desmaiou no cento do campo, sendo amparado pro Pereira dos Santos e Carlos Guterres. Porém, a maior preocupação de Nagib era a sua torcida e fez questão de ser levado até ela para em seguida ser atendido pela equipe médica do Moto. A alegria de alguns atletas enquanto outros choravam deu um toque todo especial ao vestiário motense. Todos eram unânimes nos elogios ao Sampaio, que soube valorizar o grande triunfo motense, recebendo com esportividade o resultado: os diretores foram até o vestiário rubro-negro cumprimentar a todos. Mariceu contratou um macumbeiro, que ficou ‘batendo tambor’ dentro de uma Kombi, do lado de fora do estádio. A comemoração em um terreiro do pai de santo Zé Negreiro era mais do que justa. A diretoria ainda pagou C$ 400 de gratificação pela classificação e a maior zebra de todos os tempos. Com a vitória motense, segundo relatoI, Jaime ficou tão furioso que não quis ceder jogadores do Sampaio Corrêa para o Moto disputar o Brasileiro. No dia seguinte à vitória motense, as rádios tocaram insistentemente a música “E Agora José”, do cantor Paulo Diniz. A imprensa bateu forte no Sampaio, condenando a diretoria por ter aceitado o jogo, pois falavam que o Moto sempre crescia nos confrontos contra o time boliviano.
Os verdadeiros motivos para a inclusão do Moto em uma seletiva contra os bolivianos, porém, foram outrosI: o Sampaio Corrêa tinha um timaço formando por Jaime Tavares e seria o nosso natural representante na competição. No final de uma tarde, na Rua 28 de Julho, perto do Primeiro Distrito Policial, Nagib Heickel (empregado dos Aboud) chamou o Diretor Raposo e outros membros da diretoria do Moto para uma reunião. Comentou sobre a idéia de como conseguirem um bom dinheiro para o clube para o ano seguinte, 1974, pois o Papão atravessava uma fase ruim (foi o terceiro colocado no Maranhense em 1972). O clube havia dispensado boa parte do elenco e ficado com apenas oito atletas, todos pratas da casa. O Sampaio, por sua vez, já estava praticamente confirmado, pois Pedro Neiva de Santana, com o intermédio de José Sarney, conseguiu com a CBD o convite para que o Tricolor representasse o Maranhão na competição. Nagib, então, comentou que havia conversado com Jaime, para organizar uma melhor de duas partidas, onde o time que somasse quatro pontos seria o representante. O Moto, teoricamente, não tinha a menor condição de ganhar do fortíssimo Sampaio Corrêa daquele ano. Jaime Tavares, convicto de uma vitória fácil do Tricolor, aceitou o desafio, na intenção de apresentar alguns novos contratados à torcida naqueles jogos e testar a equipe para a competição. Valia pela rivalidade e até a vaidade em vencer o Moto Club antes da estreia na competição. Em suma, a seletiva serviria apenas para o Sampaio Corrêa golear o Moto, mostrar os novos contratados à torcida e o rubro-negro reforçar o caixa com a renda das partidas.
A seletiva foi oficializada na CBF e Sampaio Corrêa e Moto Club se defrontariam em uma melhor de duas partidas, com a necessidade de uma terceira em caso de dois resultados iguais, para ser conhecido o representante maranhense na competição (naquela época a vitória valia somente dois pontos; em caso de uma vitória de um empate, o time ficava com a vaga). Como anteriormenteI o Tricolor já estava garantido, a diretoria havia liberado os seus atletas para as férias. Com a inclusão do Moto, que não havia liberado o seu reduzido elenco, o Sampaio foi formado às pressas, tendo casos de jogadores que se reapresentaram às vésperas da primeira partida da seletiva. Muitos imaginavam que o Sampaio Corrêa, por ser o atual campeão do Brasileirinho e cheio de craques, com 25 atletas em seu plantel, bateria facilmente o Papão. Já o Moto Club apresentava um elenco reduzido e bastante limitado. O time, sob a presidência de Pereira dos Santos, contava com apenas 13 jogadores para essa seletiva. Pra ser mais exato, Sousa, Chico, Marins, Laudenir, Barbosa, Zé Augusto, Faísca, Lins, Nelsinho, Artur, Marcos Pintado, Nestor e Sérgio, sob o comando do experiente treinador Rack. Para reforçar o elencoI, o Moto pediu emprestado ao Club do Remo alguns atletas, já que as disputas do Campeonato Paraense haviam acabado havia uma semana. O grande destaque do time azulino era o craque Arturzinho. Com o que tinha em mãos, o Moto Club foi disputar a melhor de três jogos contra o elenco campeão do Sampaio Corrêa.
Para as partidas, trouxeram o árbitro carioca Carlos Costa. No primeiro jogo, realizado no dia 17 de Maio de 1973, o Moto Club atuou com a seguinte escalação: Sousa; Chico, Marins, Laudenir e Barbosa; Faísca, Lins e Zé Augusto; Arturzinho, Marcos Pintado e Laudenir II. O Sampaio Corrêa entrou a campo com Batista; Ferreira, Clécio, Nivaldo e Valdeci; Gojoba, Marcos e Iratan; Djalma Campos, Adelino e Itamar. A partida terminou 0 a 0 e as duas equipes voltaram a campo três dias depois, 20 de Maio. Assim perfilaram as duas equipes: Moto Club - Sousa; Chico, Marins, Laudenir e Barbosa; Faísca, Lins e Zé Augusto; Arturzinho, Marcos Pintado e Nestor. Sampaio Corrêa - Batista; Ferreira, Neguinho, Nivaldo e Valdeci; Gojoba, Marcos e Edmilson Leite; Lima, Adelino e Pelezinho. O árbitro ainda anulou um gol do Sampaio Corrêa, marcado por Adelino. Com o novo empate, houve a necessidade de uma terceira e última partida, realizada no dia 23 de Maio, com as duas equipes assim perfiladas: Moto Club - Sousa; Chico, Marins, Laudenir e Barbosa; Zé Augusto, Lins e Nelsinho; Arturzinho, Marcos Pintado e Nestor. Sampaio Corrêa - Batista; Ferreira, Neguinho, Nivaldo e Valdeci; Gojoba, Marcos e Edmilson Leite; Lima, Adelino e Pelezinho. Os jogadores do Remo se entrosaram rápido. O Sampaio se defendia e partia perigosamente no contra-ataque. Houve uma prorrogação 30 minutos.
Parecia que o terceiro jogo seria decidido logo na primeira etapa, mas o Sampaio Corrêa não soube aproveitar a superioridade territorial, grandes oportunidades de gol foram desperdiçadas do meio campo e o ataque. Inteligentemente, o Papão, mesmo com um plantel limitado, resistiu ao forte poder de fogo do time Tricolor. Sem reservas, o rubro-negro se desdobrava, ninguém ia ao ataque de forma desesperada e todos ficavam mais tempo segurando as jogadas na defesa. Com um campo pesado e escorregadio, os times encontravam dificuldade para mostrar o seu melhor futebol, prevalecendo o empate no tempo normal em virtude da enorme vontade de vencer e da fibra rubro-negra, que não permitiu que o Sampaio convertesse em gols a sua nítida superioridade dentro de campo. A jornada dos craques motenses pode ser classificada como heroica, pois o goleiro Sousa jogou machucado todo o segundo tempo, Nilsinho arrastava-se em campo e sem a menor condição física, e Marins comandava o time como um comandante gravemente ferido, sendo atendido de instante em instante pelo massagista do Moto. O Papão enfrentou problemas, obrigando-o a improvisações no último jogo. Abusou da retranca para jogar a última cartada nos pênaltis.
Após 300 minutos de jogo sem movimentação no marcador, motenses e bolivianos decidiriam a sorte através das cobranças de pênaltis. Antes das cobranças das penalidades máximas, o então Presidente do Moto, Nagib Heinckel, em tom forte disse que em caso de derrota, todos os atletas motenses estariam dispensados. Sérgio, reserva do Papão na decisão, contou sobre a reação dos seus companheiros: "estávamos sentados e relaxando perto do banco de reservas do Nhozinho Santos. Depois que o homem disso isso minhas pernas tremeram. Eu não conseguia nem levantar. E o que é pior, fui escalado para bater um pênalti". Heickel era assim: em caso de derrota, mau humor e ameaças, mas em caso de vitória, churrasco na casa dele, principalmente quando a vitória vinha sobre o maior rival. Em comum acordo, o Moto realizaria cinco cobranças, seguido pelas cinco do Sampaio. Marins, Lins, Marcos e Faísca assinalaram para a equipe do Moto; Sérgio desperdiçou. O Sampaio perdeu duas chances com dois caras que não costumavam perder pênaltis: Neguinho perdeu a primeira e, como Gojoba também desperdiçou a segunda cobrança, a disputa de pênaltis acabaria em 4x0 para o Moto Clube, que representou o Maranhão no campeonato Brasileiro de 73. Segundo relatoI, nos pênaltis, Neguinho deu um chute tão forte que a bola passou por cima do muro do estádio, parando na Catulo da Paixão. Um locutor de rádio ainda ironizou: “o grande capitão chutou uma bola que nem urubu pegava”, por causa da altura que a bola alcançou.
Ao final da cobrança de pênalti, o treinador Rack ajoelhou-se em cima da linha divisória, chorando e beijando um escapulário de Nossa Senhora da Conceição. O Presidente Nagib não resistiu à emoção e desmaiou no cento do campo, sendo amparado pro Pereira dos Santos e Carlos Guterres. Porém, a maior preocupação de Nagib era a sua torcida e fez questão de ser levado até ela para em seguida ser atendido pela equipe médica do Moto. A alegria de alguns atletas enquanto outros choravam deu um toque todo especial ao vestiário motense. Todos eram unânimes nos elogios ao Sampaio, que soube valorizar o grande triunfo motense, recebendo com esportividade o resultado: os diretores foram até o vestiário rubro-negro cumprimentar a todos. Mariceu contratou um macumbeiro, que ficou ‘batendo tambor’ dentro de uma Kombi, do lado de fora do estádio. A comemoração em um terreiro do pai de santo Zé Negreiro era mais do que justa. A diretoria ainda pagou C$ 400 de gratificação pela classificação e a maior zebra de todos os tempos. Com a vitória motense, segundo relatoI, Jaime ficou tão furioso que não quis ceder jogadores do Sampaio Corrêa para o Moto disputar o Brasileiro. No dia seguinte à vitória motense, as rádios tocaram insistentemente a música “E Agora José”, do cantor Paulo Diniz. A imprensa bateu forte no Sampaio, condenando a diretoria por ter aceitado o jogo, pois falavam que o Moto sempre crescia nos confrontos contra o time boliviano.
GAMO - Grupo de Apoio ao Moto Club
Contudo, antes de falarmos da aquisição, do projeto e da construção final da casa do Papão, destacamos aqui a imprescindível participação de dois verdadeiros patrimônios do rubro-negro para a realização do sonho em construir o seu CT: o GAMO, Grupo de Apoio ao Moto, e o Major Pereira dos Santos. O GAMO resolveu vários problemas do Papão, inclusive a aquisição da sua sede própria. O grupo foi formado no início da década de 1970, após a saída dos Aboud, por pessoas que poderiam efetivamente contribuir em favor do Papão do Norte. Nessa época, o então Presidente Pereira dos Santos articulou a aquisição do terreno no Paranã, mas não havia dinheiro para a compra. Foi criado, então, o Grupo de Apoio do Moto Club, composto, entre outros, por Manoel Pedro, Dr. Cassas de Lima, Pedro Fernandes, Deputado Julião Amim, Sérgio Coelho, Osmarino Matos, Dr. Calvet de Lima, Hilton Rocha, Raimundinho Sá, João Henrique, Ademir, o próprio César Aboud, entre outros. Por objetivo em prestar apoio financeiro ao clube, o GAMO conseguiu fazer vários eventos para arrecadar recursos, como shows, bingos e outras atrações junto à torcida.
No lançamento do livro do Moto Club, em Setembro de 2012
Sendo homenageado no lançamento do livro do Moto Club
Matéria o Globo Esporte sobre o lançamento do livro do Moto Club e última aparição em público de Pereira dos Santos
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