quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Alencar, o “Canhão do Bode”


Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.

Alencar era daquele tipo de ponta-esquerda que todo treinador gostaria de ter no time hoje, como todas as modernidades introduzidas no treinamento de futebol. Imagine então na época em que jogou, 39 anos atrás, no MAC e Fortaleza/CE. Habilidoso, técnico, responsável e cumpridor rigoroso do seu papel tático na equipe, tinha também um fôlego privilegiado e um talento nato: era preciso nos passes e lançamentos. Talvez tenha se espelhado na máquina que admirava, a do Santos Futebol Clube, de Pelé e companhia. Chegava a ser comparado a Pepe, famoso ponta santista, que tinha o apelido de “O Canhão da Vila” (Belmiro). Em outras ocasiões, pela forma com vinha buscar o jogo atrás, ou ainda quando ajudava na marcação do meio de campo, diziam que se assemelhava a Zagalo “Formiguinha”, do Botafogo e da Seleção Brasileira.

A história de Edson Alencar com o futebol começa e termina em Coroatá, cidade que fica no interior do Estado, a pouco mais de 300 km de São Luis. O pai dele, Oton Alencar Araripe, sempre foi apaixonado por futebol. Quando jovem, defendeu as cores do Vera Cruz, como zagueiro central. O filho Edson acompanhava o pai nos jogos e, evidentemente, tomou gosto pela bola também. Magrinho e com seus 13 para 14 anos de idade, Alencar estudava, mas não abria mão das peladas batidas à beira do Rio Itapecuru. Foi lá que ele percebeu o gosto pela profissão de jogador de futebol. Gostava de jogar no meio de campo ou de ataque. Começou a se destacar e rapidamente já estava jogando no América de Coroatá.

Ao completar 16 anos, Alencar veio prestar exame para entrar na antiga Escola Técnica Federal do Maranhão (ETFM), depois Centro de Ensino Federal Tecnológico (atual IFMA). “Passei no exame e fiquei como interno da Escola. Lá, os professores Braga e Rubem Goulart me viram jogar em uma das aulas de Educação Física e me convocaram para a seleção. A primeira disputa foi contra o Liceu, no Estádio Santa Izabel. Vencemos por 3x1, com dois gols meus. Foi uma loucura! Muita gente me chamou para jogar em times amadores e eu acabei aceitando o convite do professor Micuin e fui para o São Paulo, do Bairro do João Paulo”.

Em uma preliminar de Moto x MAC pelo campeonato de profissionais de 1858, Alencar estava lá. Após a partida, os dirigentes dos dois times foram conversar com ele. Como o professor Micuin era muito amigo de Nicolau Duailibe Neto, dirigente do MAC, não deu outra, Alencar acabou indo para o Bode Gregório. Aos 17 anos de idade, dava início a carreira de profissional de futebol de um dos maiores talentos genuinamente maranhense. Se tinha talento nato, quando ele chegou ao MAC, encontrou muita gente boa e um ambiente saudável para crescer. Jogavam Moacir Bueno, Valdeci, Adaupi, Juraci (goleiro), Haroldo (goleiro), Edson Moraes Rego, Joca, Jaime e outros. “Nessa época para jogar dependia de todos os esforços possíveis. Ou mostrava serviço ou estava fora do time”. Como Alencar havia assinado como “não-amador”, de vez em quando ele dava uma escapulida da Ilha de São Luis e ia defender o América, no clássico amador de Coroatá, contra o Bangu. Além dessas viagens corridas, ele arrumava tempo para estudar e jogar futebol de salão no Rio Negro (ao lado de Pula Pula) e no Elmo, de João Bento. A paixão mesmo, o futebol, ele ia peando experiência e, aos poucos, conquistando a torcida, comissão técnica e dirigentes maqueanos. Durante muito tempo foi titular absoluto da ponta-esquerda. Parecia um diamante bruto sendo lapidado aos poucos. Quanto mais tempo passava, melhor ele ficava.

 Maranhão Atlético Clube em 1963. Alencar é o último agachado

  Maranhão Atlético Clube em 1963. Alencar é o segundo agachado

  Maranhão Atlético Clube em 1963. Alencar é o penúltimo agachado

 Maranhão Atlético Clube em 1965. Em pé: Zuza, Clécio, Neguinho, Juvenal, Juraci e Carlindo. Agachados: Patrocínio (massagista), Wilson, Silvio, Croinha, Barrão e Alencar

Amigos lembram que quando Alencar lançava uma bola para alguém, pedia sempre para esse alguém não sair do lugar. A bola, como se medida milimetricamente, chegava aos pés de quem ele queria. Além de ser preciso, era frio, uma fortaleza inabalável. Tinha um chute fortíssimo com a perna esquerda que amedrontava alguns goleiros. Os jogadores de defesas adversárias faziam de tudo para tirá-lo do sério, para se livrarem dele com uma expulsão. Não conseguiam!

O futebol começava a lhe dar fama, mas dinheiro que era bom, nada. De 1958 a 1965, defendeu o MAC. Foi campeão do Torneio Epitácio Cafeteira, Taça Cidade de São Luis, Torneio La Ravardiere. Em 1963 conquistou o campeonato estadual ao lado de uma das melhores formações do clube, que tinha Lunga; Neguinho, Clécio, Vareta e Moacir Bueno; Negão e Barrão; Valdeci, Wilson, Croinha e ele. “Um time inesquecível, que jogava por música e prazer”. Em 1965 a máquina atleticana conquistou o título do Torneio Maranhão/Piauí e troféu Marinho Rodrigues. Alencar estava em estado de graça. Tudo o que fazia dentro de campo dava certo. O Vitória (BA), o próprio Bahia, Fluminense (RJ) e outros times da região de interessaram pelo seu passe. O MAC não vendia sua joia, até porque podia ganhar dinheiro, mas ter outro igual para substituí-lo, seria muito difícil.

“No início de 1966 as coisas não estavam bem financeiramente no MAC e a diretoria acabou aceitando a proposta feita pelo Fortaleza (CE) para ficar com meu passe. Foram pagos 6 milhões de cruzeiros pela minha transferência. Para que tudo se concretizasse, tive que abrir mão dos 15% que tinha direito e até dos meus salários atrasados no clube. Iniciei vida nova na capital cearense”. Alencar viveu momentos mágicos por lá. Estreou contra o Ceará Sporting e venceu por 3x1. Além de marcar um dos gols, deu os passes para outros gols, de Birungueta e Croinha, “Fiquei de moral elevado”. E não era pra menos! Alencar defendeu o Fortaleza durante três temporadas: 1966/67/68. Foi campeão em 67 com uma formação que os torcedores do clube não esquecem jamais: Pedrinho; Mesquita, Renato, Português e Carneiro; Joãozinho e Zé Augusto; Birungueta, Luiz Mário, Croinha e Alencar. “Quando fomos receber as faixas de campeões, jogamos contra o Botafogo (RJ). Garrincha autografou a minha. Tenho-a guardada até hoje com muito orgulho”.

Os tempos bons de Fortaleza foram embora com a chegada do técnico pernambucano conhecido como Caiçara. “Ele me sacaneou o que pode. Não aguentei”. Com o passe preso ao Fortaleza, Alencar desembarcou em São Luis no inicio de 1969. Por conta própria, foi treinar no Moto Club. Por lá ficou apenas uma semana. “Fizeram uma molecagem comigo no Moto que não gosto nem de lembrar. Alguns caras que pensei que fossem meus amigos, me sacanearam e eu acabei me desiludindo com o futebol e voltei para Coroatá”. No interior, Alencar trabalhava e jogava no Santa Cruz nos finais de semana. Em 1970 casou-se, passou a ser técnico do Bangu, representante de Coroatá no Torneio Intermunicipal e, depois, parou definitivamente com a bola como profissional. O passe dele continua preso ao Fortaleza até hoje.

3 comentários:

  1. Infelizmente, ele nos deu adeus hoje!!!
    :'(

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  2. Eu o conheci no Mac
    Grande ponta!! Deus o tenha. Sds eternas?!!

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  3. Ele era meu sogro mais fico muito feliz por mostra para as minhas filhas 😊 que tiveram um maravilhoso avô!!😍

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