Texto extraído do livro "Memória Rubro-Negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte"
Isso mesmo: ocorreu, em Setembro de 1947, um jogo amistoso envolvendo o Fortaleza Esporte Clube e um combinado organizado com as equipes do Moto e Maranhão, vestido com a camisa do Moto Club. A idéia em selecionar os melhores atletas dos elencos rubro-negro e atleticano e vesti-los com a gloriosa camisa do Moto Club de São Luis partiu da própria diretoria motorizada. Nessa data do embate envolvendo cearenses e maranhenses, ocorreria, pelo Campeonato Maranhense daquele ano, um clássico Maremoto, que não chegou a ocorrer. A diretoria do Moto Club solicitou à Federação Maranhense de Desportos o adiamento do grande clássico e viabilizasse a data para um jogo amistoso contra o representante do Ceará, quando da sua passagem por uma excursão pelo Norte do Brasil. Pedido aceito, a FMD transferiu as partidas Moto x MAC e Tupan x Santa Isabel para, respectivamente, 01 e 05 de Outubro e deu carta-branca aos motenses para aproveitar a data como lhe conviesse.
O Fortaleza Esporte Club, uma das maiores forças do futebol da nossa região e o atual campeão do Nordeste, estava em excursão pelo Norte do Brasil. Antes de exibir-se em nossa cidade, o clube estivera atuando pelos Estados do Amazonas e do Pará. O promotor da vinda do clube alencarino à nossa capital foi o Moto Club, que ofereceu a quantia de 24 mil cruzeiros exigida pelos cearenses para uma série de três apresentações no Estádio Santa Isabel. Além, é claro, do próprio Moto Club, o Fortaleza jogaria contra as equipes do Sampaio Corrêa e do Maranhão Atlético Clube, recebendo, logo, a importância de 8 mil cruzeiros por adversário em nossa cidade. Porém, por conta da humilhante derrota em Belém para a Tuna Luso Comercial por 5x1, os dirigentes Tricolores resolveram cancelar a vinda a São Luis, o que gerou certo aflito por parte dos representantes motenses, certos de uma grande arrecadação nas três partidas em nossa capital. Os dirigentes do Moto, então, se movimentaram antes mesmo de o Fortaleza deixar a cidade de Belém. Uma nova exigência foi feita pelo chefe da embaixada do Fortaleza, o Sr. Figueiredo. Adiantou que o clube cearense não mais poderia apresentar-se em nossa cidade para três jogos, uma vez que o Campeonato Cearense estava em andamento, necessitando o Tricolor regressar à capital alencarina o mais cedo possível. Somente uma partida o clube cearense poderia realizar, desta vez mediante “luvas” de 20 mil cruzeiros. Contudo, a direção do Moto, com o apoio da FMD, aceitou a proposta e a partida entre Fortaleza e o combinado Moto Club/Maranhão, utilizando as camisas rubro-negras, foi confirmado para a tarde do dia 27 de Setembro de 1947.
Os cearenses, por conta dos compromissos com o Campeonato Cearense, chegaria à capital maranhense e realizaria o jogo no mesmo dia, sem tempo para descanso. Além disso, a delegação alencarina se concentraria, vejam só, conforme declarou o dr. Amaury Gurgel, [...] á bordo do ‘Iatapé’, devendo saltar somente por ocasião do embate. A notícia do cancelamento das partidas contra maqueanos e bolivianos pegou de surpresa as diretorias de Maranhão e Sampaio Corrêa. Inclusive sabia-se que o Fortaleza ia terçar armas com o Moto integrado, exclusivamente com seus valores. [...] entretanto, [...] em vista do rubro-negro não poder contar com o concurso de alguns dos seus titulares, por se acharem enfermos, vários elementos do MAC foram solicitados, inclusive o ala Merci, o zagueiro Erasmo, o meia Arel, dentre outros. Esse foi o principal motivo pela qual a imprensa maranhense na época destacou a partida como um autentico combinado Moto/MAC. O árbitro escolhido para dirigir o embate foi o maranhense Ferreira Novaes, escolhido através de comum acordo entre as duas diretorias.
A delegação do Fortaleza chegou a São Luis trazendo a bordo o dr. Stênio Azevedo, do Diário do Associados, do Ceará, que acumulou as funções de secretário e tesoureiro da embaixada cearense. Como convidado especial, integrou também a delegação o cronista José Carlos, da Associação dos Cronistas Desportivos do Ceará. O elenco do Fortaleza era composto por atletas de renome na região Nordeste na época. O zagueiro Natal, por exemplo, fazia a ala do Flamengo do Rio de Janeiro, em 1939, ao lado de Domingos da Guia; Arrupiado, considerado o melhor meia do futebol cearense; Jombrega, com passagens por Corinthians e São Paulo e oito vezes convocado para a Seleção Cearense; e até mesmo uma particularidade: o zagueiro Zé Sérgio, muito seguro e disciplinado em campo, era “um dos pouquíssimos amadores que formam entre os titulares do Fortaleza, formado em odontologia.
Assim perfilaram as duas equipes no jogo realizado no campo do Santa Isabel, em uma tarde de muito sol na capital maranhense: Moto Club - Walber Penha; Erasmo e Carapuça; Merci, Frázio e Arel; Alberto, Haroldo, Cosmo, Zuza e Tico. Fortaleza: Jujú; Natal e Zé Sérgio; Jorge, Otávio e Arrupiado; Gilberto, Pipiu, Stenio, França e Piolho. Apesar de o Moto Club ser reforçado com os melhores atletas do Maranhão Atlético Clube, a equipe cearense venceu a partida pelo placar de 2x1. Foi muito mais do que uma derrota, foi uma grande decepção para o público maranhense, sobretudo pela grande rivalidade existente à época entre essas duas praças esportivas. E a decepção foi ainda maior porque vimos uma representação das forças máximas do nosso futebol cair vencida ante um adversário física e moralmente abatido, depois de uma série de exibições medíocres em Manaus e de uma malograda temporada em Belém do Pará. Até a própria imprensa cearense não acreditava em um resultado positivo do representante alencarino, visto as desastrosas partidas realizadas pelo Norte. O jornalista José Carlos, que acompanhou a delegação do Fortaleza, foi realista ao afirmar: "não se espantem se sairmos de campo vencidos no mínimo por um escore de 4x1... Nossos jogadores estai visivelmente esgotados". O próprio goleiro Jujú ainda afirmou: "Para ser franco, não queria nada com a bola ultimamente. Estamos esbagaçados e um torpor enorme invade-nos o corpo. Não fosse por determinação superior", disse o atleta, em alusão à cansativa e desgastante viagem de navio até a capital maranhense.
O Fortaleza, inferior tecnicamente durante praticamente todo o tempo, abriu o marcador logo aos 12 minutos de jogo, por intermédio do centroavante Stênio. Quando Alberto conseguiu empatar, já no segundo tempo, novamente Stênio colocou o Tricolor cearense à frente do marcador. A vergonha maranhense poderia ser menor: aos 40 minutos da etapa final, o meia Jorge cometeu pênalti a favor dos combinado local e Zuza foi o encarregado de empatar a partida, o que evitaria um vexame maior no Santa Isabel, em uma partida onde nem o mais otimista torcedor alencarino acreditava em uma vitória. O resultado da cobrança? As palavras do próprio goleiro do Fortaleza: As minhas melhores defesas eu faço pela esquerda, pois sou canhoto. Conheço Zuza e as suas artimanhas. Ao cobrar o pênalty, Zuza olhou o meu canto esquerdo duas vezes, fez menção de chutar nêle e acabou chutando mesmo. Não tive dúvidas e saltei sem vacilar.
O futebol maranhense não estava reabilitado. Uma derrota como aquelas soou mal no meio desportivo maranhense, sobretudo por se tratar de uma equipe como o rubro-negro da Fabril, com os melhores jogadores importados do Norte e Nordeste e reforçado por excelentes atletas do MAC. O Moto Club esperaria por um ano para vingar-se daquela tão humilhante derrota. Mas a espera valeria a pena, pois em Agosto de 1948 o Moto Club alcançaria talvez o maior titulo de toda a sua gloriosa trajetória dentro do futebol. E que título!
terça-feira, 7 de maio de 2024
Combinado com as camisas do Moto Club enfrenta o Fortaleza (1947)
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