Texto formulado a partir de fragmentos das publicações do jornal "O Estado do Maranhão", de 08 de julho de 1992, e do livro “Memória Rubro-Negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte”.
Se os jogadores de futebol que o Maranhão tem exportado nos últimos sete anos para o exterior continuassem até hoje aqui, teríamos, sem dúvidas, a melhor seleção da região Nordeste e a grave crise financeira que os clubes enfrentam agora, com certeza, poderia não estar acontecendo. O Castelão não estaria vazio como nos jogos do Campeonato Maranhense e seríamos respeitados pela convocação invejável que teríamos no ranking brasileiro, disputando a primeira divisão em vez da terceira.
Este é o pensamento geral da grande maioria dos desportistas, que não conseguem entender como os nossos craques aqui desvalorizados a partir do preço do passe cobrado junto aos empresários, fazendo sucesso lá fora, ao ponto de chamarem a atenção do Brasil inteiro, onde a imprensa também não encontra justificativa.
A conclusão a qual todos chegam é que nossos clubes não conhecem e nem prestigiam os valores que aqui temos revelado. Por causa disso, dezenas de jogadores são exportados a preço de banana para a Europa, notadamente para a Bélgica, onde mostram suas qualidades técnicas, assinam bons contratos, ganham dinheiro e até se naturalizam, como aconteceu com o famoso Oliverrá, cotado até para a Seleção Brasileira e outros que ali já estão construindo suas famílias.
Ao mesmo tempo em que mandam quase de graça nossos valores, os clubes não investem nas divisões inferiores, ignoram atletas de futuro existentes em grande número, no subúrbio e no interior maranhense, para simplesmente importar de forma exagerada todos os anos quase uma centena de jogadores das mais diversas regiões do país, com índice de aproveitamento muito além da expectativa. Resultado: ficam sem times, sem atrações, o torcedor foge dos estádios e a crise financeira desestimula até aqueles desportistas mais ousados, que, em épocas anteriores, tiveram a coragem de prestar socorro. Nesta reportagem, vamos explicar como tudo começou, porque eles saíram daqui, como chegaram ao exterior, onde jogam, quanto ganham e o que pensam do seu futuro.
OS DESTAQUES E SUA TRAJETÓRIA RUMO À EUROPA – Wamberto aparece como um dos maiores destaques dos últimos jogadores negociados por Rubillota, jogando no meio de campo do Seraing, da segunda divisão. Foi em setembro de 1991 e ganha aproximadamente CR$ 5 milhões. Já investiu seu dinheiro na recuperação da casa dos pais, na compra de um carro usado para o irmão (um Del Rey) e telefone para a família. Pela idade, é apontado como a estrela do time.
Dionísio foi para a Bélgica em setembro de 1988, para o Standart, da primeira divisão. Não conseguiu se firmar na primeira equipe e foi emprestado para a França, na temporada 1991-1992. No retorno, agora, seu próximo empréstimo será para o Tillon, da segunda divisão belga. O último salário de Dionísio girava em torno de Cr$ 4 milhões e seu investimento foi na recuperação da casa da família e na compra de um carro (Chevette).
Jânio não teve boa temporada este ano pelo Libramont, depois de ser campeão na temporada 1990-1991 – passou da quarta para a terceira divisão. Foi sétimo colocado e as contusões forma frequentes, mas tem grande prestígio no clube e ganha aproximadamente Cr$ 4 milhões. Jânio foi em maio de 1990 e além das aplicações, já investiu seu dinheiro na compra de um carro 9Fusca) e cada para a família.
Orlando foi o segundo melhor jogador dos novos levados por Rubillota e joga no Libramont, de Jânio. Foi em julho de 1991, junto com Fuzuê, que não ficou por contusão. Orlando tem proposta do Andene, também da terceira divisão. Atualmente ganha em torno de CR4 4 milhões e já ajeitou a casa dos pais, comprou telefone e uma casa para iniciar sua vida.
Fernando foi relevado pelo Expressinho e em agosto de 1990 saiu para a Bélgica, para firmar contrato no Arsenal, time da terceira divisão provincial, campeão da temporada 1991-1992 – subiu automaticamente para a segunda divisão provincial. Mas deve ir para um time da segunda divisão de Portugal, conforme promessa de Rubillota. Até o momento não fez nenhum investimento em São Luís, mas ganha aproximadamente Cr4 4 milhões.
Santa Rita (lá é chamado de Fernando, seu nome) joga no Ferciennes, campeão da quarta divisão e ganha CR4 4 milhões e 200 mil. Foi o terceiro artilheiro do campeonato, com 15 gols, e saiu do Moto para a Bélgica em maio de 1991. O dinheiro que ganhou nesse período já ajeitou a casa dos pais e projeta fazer investimentos em imóveis, em sua v=cidade, Santa Rita (daí o apelido).
Newton (chamado aqui de Tatu) foi jogador do Cruzeiro do Anil, onde jogava de ponta-direita. Esteve no Moto, mas não foi aproveitado e em maio de 1990 foi para a Bélgica. Depois de passar em vários times, voltou a São Luís, desiludido, para mais tarde retornar, desta vez levado pelo famoso Oliverrá. Hoje, Newton joga no San José, da terceira divisão, onde foi campeão, como lateral-direito. Ganha Cr$ 5 milhões e vai começar a investir.
Isaías foi em 1990 e hoje é titular absoluto do Saraing, da segunda divisão. Joga de cabeça de área e ganha aproximadamente Cr$ 5 milhões. Até o momento não fez nenhum investimento, mas tem planos de ajudar a família e comprar imóveis.
CASSAS DE LIMA FOI O SELECIONADOR DE FERAS – Orgulhoso por prestar essa valiosa colaboração ao futebol maranhense e magoado com a falta de consideração de alguns jogadores, que não sabem agradecer e reconhecer os verdadeiros responsáveis por suas vitórias na Bélgica. É assim que o médico Cassas de Lima sente-se nesse processo importante de ajudar o empresário Rubillota, com a indicação de nossos craques. Cassas salva apenas a pele de Jânio. “Esse é grato”, avisa. Financeiramente, confessa não ter retorno, mas já tem projetos prontos para montar uma empresa para fazer essas negociações, afinal de contas precisa ganhar dinheiro comas importações de jogadores.
Também com a presença dos Mabaelgas aqui, nofinal de cada temporada. Foi Cassas de Lima quem idealizou o jogo dos Marabelgas e no primeiro, em 1991, no teve retorno razoável – o Municipal recebeu grande público para ver o astro Airton Oliveira, que na época estava vivendo o maior momento de sua carreira.
PORQUE ALGUNS FORAM E NÃO FICARAM – Na relação de muitos jogadores levados pelos empresários Rubillota e Enéas Motoca para a Bélgica, alguns não forma bem-sucedidos e cegaram a falar mal dos empresários, como Izoni, do Moto, por exemplo, que em 1989 deu baixa no Exército e apostou tudo na sorte, para mais tarde sentir grande frustração. “Eu passei maus momentos por culpa exclusiva do senhor Rubillota, que não assiste necessariamente o atleta que não vai bem nos testes. Fica difícil você render tudo o que sabe se não tem apoio fora de campo. Pelo contrário, passa problema e o resultado disso é que no campo sua cabeça fica um trevo”, revela o artilheiro do campeonato, que deseja muita sorte para todos que forem, mas adverte que lá não é o paraíso que muitos pensam e sonham.
Moacir, também do Moto, que em 1990 foi levado por Motoca, atribui seu fracasso ao empresário. “Enéas é um cara legal, tem vontade, conhece realmente muitos países, tem acesso onde chega, mas precisa de mais prestígio para facilitar o emprego de atletas. Talvez a falta de melhor poder aquisitivo lhe atrapalhe. Isso também dificulta as negociações, porque entram outros empresários na jogada e fica muita gente querendo ganhar e quem sai perdendo é o jogador. Eu também passei outro drama: fui lançado de centroavante, quando todo mundo sabe que jogo de zagueiro e no máximo cabeça-de-área. Mas é isso, a vida é sorte e graças a Deus a maioria dos nossos colegas conseguiu”.
Paulo César, Hiltinho, Ailton, Ismael e Fuzuê, que também foram e não voltaram, não falaram o mesmo que Izoni e Moacir. Dividiram o fracasso na Europa com uma série de fatores, menos com os empresários.
RUBILLOTA, O GRANDE RESPONSÁVEL – Em 1985, o Maranhão começava a exportar jogadores para a Bélgica. Serjão, do Moto; Caíto, do Expressinho, e Airton Oliveira, do Tupan, foram os primeiros a pisar na Europa. Caíto não resistiu à saudade da família e da noiva e voltou. Mas o caminho estava aberto para os maranhenses e tinha um responsável, o italiano Giuseppe Rubillota, trazido a São Luís por Enéas Motoca (ex-jogador profissional com passagens por clubes de vários países e atualmente empresário). Mais tarde, Rubillota conheceria o médico Cassas de Lima, om quem firmou estreita amizade. Durante sete anos, foram mais de 25 jogadores negociados e tempo suficiente para Airton Oliveira ganhar fama internacional.
sexta-feira, 15 de março de 2024
Marabelgas, craques que fizeram fama e dinheiro na Bélgica
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