sábado, 30 de agosto de 2025

Ernani Luz, massagista de mão cheia

 Ferroviário Esporte Clube em 1969. Em pé: Martins, Alberto, Ivan, Vivico, Valdiná, Luis Carlos e Ernani Luz; Agachados: Alzimar, Carlos Alberto, Sarará, Esquerdinha e Coelho.

 Equipe do Sampaio Corrêa campeão em 1961. Em pé: Ernani Luz, Omena, Chico, Antoninho, Cláudio Ferreira (diretor), Roberto, Vadinho, Professor Rinaldi Maia (técnico) e Antônio Bento Farias (diretor); Agachados: Zé Raimundo, Batuel, Peu, Walfredo, Carioca, Jarbas, Nivaldo, Sabará, João Bala e Pernambuco (auxiliar de massagista).
 
Texto extraído do jornal O Estado do Maranhão, de 27 de julho de 1998.

Quando você fala em Ernani Luz dos Santos só os amigos mais chegados e a família sabem de quem se trata. Nós outros fomos acostumados a ouvir falar das mãos milagrosas de um massagista que fez história no esporte maranhense e que teve no tio o espelho maior. Como atleta foi limitado. Como profissional da massagem foi incansável e continua sendo respeitado pelo trabalho com o futebol, sua grande paixão. Vamos conhecer um pouco a trajetória do segundo massagista da família Luz: o Ernani do Ferroviário, MAC e Sampaio Corrêa.

Ernani começou a ter intimidade com a bola no Campo do Zezé Caveira, nas peladas da Rua da Barraquinha, Centro de São Luís. Sonhava em ser goleiro já que não tinha muita habilidade com os pés. Aos 15 anos de idade jogava no Bangú, time do bairro. Como sabia das suas limitações técnicas, desde cedo resolveu colaborar com o grupo e, além de jogar, ajudava na parte técnica e, por influência do tio famoso “Nego Luz”, que era massagista titular absoluto do Moto Clube, dava os primeiros passos na profissão que acabou o consagrando. “Eu queria mesmo era estar entre os amigos num campo de futebol. Mesmo no amador eu achava o máximo estar no meio”, justifica.

Ernani Luz foi ficando rapaz, acabou entrando para o Quartel (24º BC) e foi parar no Santos, time da segunda divisão que era dirigido por Jafet Mendes Nunes, “Era o coringa”. Jogava onde o escalavam, não porque era craque, mas porque tinha o espírito de colaborador. Isso foi por volta de 1955. “Eu jogava no Santos ao lado de Miguel Fecury, José Reinaldo Tavares – nosso vice-governador hoje –, Raimundinho, Lotério, Pedrinho, Nego Tupizupi e outros. Era um bom time.”

As oportunidades como atleta foram rareando. Em 1958, já com 22 anos de idade, Ernani Luz resolveu aceitar um convite feito pelo Zuza (ex-Ferrim, Moto e MAC) para substituir o Verné, massagista oficial do Ferroviário Esporte Clube, que estava adoentado e não poderia acompanhar o time no Campeonato Estadual. “O Zuza me apresentou ao técnico do Ferroviário, professor Zequinha Gonçalves. Substituí o Verné e tomei gosto pela massagem.”

No ano seguinte (1959), Zequinha Gonçalves se transferiu para o Maranhão Atlético Clube – MAC – e levou o Luz consigo. “O Zequinha foi muito importante na minha vida profissional. Ele era professor de Educação Física formado pela Escola Nacional. Me incentivou e me ensinou muito em como dar massagens. Tomei gosto e fui procurar meu tio (Nego Luz) que trabalhava no Moto. Ele me perguntou se eu tinha certeza que queria mesmo seguir a carreira de massagista. Como a resposta foi afirmativa, me deu o livro Aprenda a Fazer Massagem. A partir daí, não parei de aprender.”

Dessa época do MAC, Luz lembra bem de alguns jogadores: Harold, Zuza, Lunga, Barrão, Cabeça, Ribeiro Garfo de Pau, Pretinha, Moacir Bueno, Edson Moraes Rego, Jaime, Joca.

Em 1960 aconteceu um fato que marcou muito a vida de Luz. O MAC foi jogar um amistoso no interior do estado (Alto Alegre). O técnico Zequinha Gonçalves era muito exigente e acabou penalizando uns atletas que nem me lembro por quê. Só tinham 10 para entrar em campo. Ele me chamou e disse que o time dele não iria incompleto e que eu iria jogar na ponta direita. Ganhamos o jogo por 2x1, mas eu fui uma negação porque havia comido muito antes de ser surpreendido com a escalação. (Nesse dia, o MAC jogou com um ataque formado assim: Luz, Laixinha, Jaime e Joca. É mole?) Foi o último jogo de Luz como atleta.

No ano seguinte (1961), Luz aceitou o convite do diretor de futebol do Sampaio Corrêa, Antônio Bento Cantanhede Farias, e se transferiu para o Mais Querido. “Era meu time do coração. A maioria do pessoal da minha casa era motense por causa do meu tio (Nego Luz). Eu não. Eu tinha o coração tricolor.”

A primeira fase de trabalho no Sampaio foi de 1961 a 69, onde levantou quatro títulos, dois bi – em 61/62 e 64/65.

Quando perguntado qual o melhor time do Sampaio que viu jogar nessa época, Ernani Luz foi enfático: “O de 1964 que era formado por Manga no gol, Omena, Walfredo Carioca, Maneco e Ivaldo, Vadinho, Antoninho e Maiobinha, Jarbas, Chico e Peu. Era um timaço.”

No meio do ano de 1969, Luz deixou o Sampaio Corrêa e foi para o Ferroviário Esporte Clube de Marcial, Ferreira, Alzimar, Vivico, Carrinho, Isaías, Evandro e Carlos Alberto, Saneguinha, Odilon e Mário. “Foram três anos de sucesso pleno. O Ferrim estava a mil, fomos campeões em 71.”

Em 1972, logo que acabou o Campeonato Estadual, onde o Sampaio foi o campeão, Luz se transferiu para o Tiradentes do Piauí, levado pelo Almir (Barca Furada). Lá foi campeão. Depois retornou a São Luís e ao Ferroviário, atendendo solicitação do Dr. Franco – presidente do Ferrim.

Em 1973, foi novamente campeão pelo time da Estrada de Ferro. Por lá permaneceu até 1980. “Trabalhar no Ferroviário foi uma experiência única. Aprendi muito e obtive a consagração total como profissional.”

Em 1981, Luz estava de novo no MAC, onde ficou até 83. Em 84, Walquírio Barbosa – Paraíba –, Djalma Marques e Pedro Vasconcelos convenceram-no a voltar para o Sampaio Corrêa, onde ficou até 92, quando se aposentou. No Tricolor ganhou mais sete títulos: tetracampeão de 84 a 88, o tri de 90 a 92. “O Sampaio é uma grande força do futebol maranhense. É um time vencedor.”

Ernani Luz deixa claro que lamenta não ter ganho título pelo MAC. Por ironia do destino, apesar da vontade da família, nunca trabalhou no Moto.

Durante sua longa vida no futebol profissional, Luz destaca alguns craques que viu. Dentre os maranhenses, relembra bem do Carlos Alberto (Ferroviário), Santana (Moto), Djalma (Sampaio), Gojoba (Moto), Vareta (Vitória do Mar), Carlindo (MAC), Nabor (Moto), Garcia, conhecido como Kikiki (Sampaio), Barrão (MAC), Neguinho, Ribeiro e Vivico (Ferroviário) na marcação. De fora, ele destaca Jarbas (meio de campo, Sampaio), Alvim da Guia (zagueiro, Moto), Miguel (lateral direito, Ferrim), Croinha (atacante, MAC) e Hamilton (atacante, Ferrim/MAC).

Um ano antes de se aposentar (91), Ernani Luz começou a sentir vários problemas de saúde: artrose reumática, diabetes e debilidades no coração. “Sinto problemas até hoje, só que, graças a Deus, consigo controlar tudo com medicamentos especiais e muita força de vontade.”

Ao longo de uma carreira vitoriosa, Luz emprestou seus serviços a equipes e seleções estaduais de atletismo, basquete, handebol, futebol de salão, futebol amador e voleibol.
 

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