Texto extraído do livro "Salve Salve Meu Bode Gregório: a História do Maranhão Atlético Clube", de 2014.
O ano de 1964 ficaria marcado na história do MAC com a primeira competição interestadual oficial da CBD que o time atleticano participaria. Bem antes da criação do atual Campeonato Brasileiro, a CBD havia instituído a chamada Taça Brasil, competição criada para substituir o deficitário Campeonato Brasileiro de Seleções. Entre 1959 e 1968, a taça foi disputada no formato de copa devido às dificuldades de locomoção e transporte da época, impedindo que existisse um torneio nacional mais integrado. Reunia as equipes campeãs estaduais (os representantes do Rio de Janeiro e São Paulo já entravam na fase semifinal) e definia os representantes brasileiros na Taça Libertadores da América.
A Taça Brasil de 1964 foi realizada em duas fases. Na primeira, os clubes foram divididos nos seguintes grupos: Norte, Nordeste (se enfrentariam para decidir a vaga destinada ao Grupo Norte), Central e Sul (se enfrentariam para decidir a vaga destinada ao Grupo Sul). Na segunda e decisiva fase, os vencedores da primeira fase enfrentariam os clubes pré-classificados na semifinal, e os vencedores decidiriam o título do campeonato. O Maranhão, atual campeão maranhense, garantiu para o ano de 1964 a vaga para a Taça Brasil, a sua primeira competição a nível nacional. Vale ressaltar que o Campeonato Maranhense de 1963, iniciado em Setembro desse ano, somente se encerraria em Fevereiro de 1964. Assim, o MAC conseguiu manter a mesma base campeã para as disputas da competição promovida e custeada pela CBD.
Apesar da recente conquista Estadual, o ambiente no Quadricolor era de indefinição pelos recentes fracassos da equipe. O Presidente do clube, Tenente Amazonas Lamar, reforçou a equipe atleticana visando as disputas da Taça Brasil. Alguns abnegados maqueanos tentaram organizar uma reunião, onde seria feito uma lista de assinaturas para arrecadar certa quantia em dinheiro para ajudar na contratação de pelo menos seis novos reforços para o clube. O Bode, aliás, vinha de derrotas frente ao Piauí e Flamengo, pelo Torneio Maranhão/Piauí e o treinador Walber Penha preparou um relatório, onde ficou evidente a falta de craques em um plantel já reduzido. Alguns nomes foram cobiçados pelo MAC, como Vadinho e Damasceno, já que o clube necessitava urgentemente de um zagueiro e um lateral-esquerdo pelo menos para as disputas da Taça Brasil. Como havia pouco tempo para se reforçar, a diretoria atleticana chegou mesmo a pensar em viajar para Belém, a fim de realizar contratações.
Enquanto pairava a indefinição sobre novos reforços, o treinador Walber Penha reiniciava os trabalhos com a equipe atleticana, parado havia um tempo, com treinamentos no campo do General Sampaio e do Santa Izabel. Enquanto se realizavam as sessões de treinamentos, o goleiro Lunga foi confirmado como um dos atletas no elenco Quadricolor para a competição. Além disso, ficou decidido que o MAC solicitaria quatro reforços de Sampaio e Moto quando das proximidades da Taça Brasil. Os principais nomes eleitos pela diretoria seriam o de Vadinho e Sabará, do Sampaio Corrêa, e Hamilton e Ronaldo, do Moto Club. Walter Baldez, diretor atleticano, seguiu para Recife, com a missão de observar jogadores para o plantel maqueano. Voltou trazendo na bagagem três bons reforços: Nininho, Adalberto e Roberto, este último recebendo Cr$ 150 mil de luvas e ordenado mensal de Cr$ 35 mil por uma temporada. Os outros dois assinaram contrato também de um ano, mediante luvas de Cr$ 80 mil e salário de Cr$ 30 mil.
Para a estreia do clube na competição, o Maranhão entrou em regime de concentração total no Sitio do Maracanã, saindo apenas para a viagem rumo a Teresina, onde iria encarar o Hexacampeão mafrense River na fase de mata-mata. Na competição, a vitória, independente do saldo, contava para a classificação, Assim, em caso de uma vitória para cada equipe nos dois jogos, uma terceira data já estava reservada para o jogo de desempate, que seria realizado no dia 04 de Agosto. O time piauiense entraria reforçado para a competição com a contratação de Loloca, Luizinho, Pedroca e Augusto, todos adquiridos em Recife pelo conhecido treinador Ênio Silva. Para o confronto no Lindolfo Monteiro, a única dúvida do treinador Walber Penha recaia sobre o zagueiro Negão, em fase de recuperação.
Vários associados e torcedores acompanharam a delegação atleticana em Teresina. A diretoria atleticana ainda propôs que a renda da primeira partida, na capital piauiense, fosse totalmente destinada ao clube riverino e a quantia da arrecadação do jogo da volta, no Santa Izabel, fosse revertida ao Maranhão. Pelos resultados nos treinamentos, a grande esperança atleticana para a competição recaia sobre o pernambucano Croinha, em grande fase e dono de um futebol rápido, inteligente e de uma habilidade incrível. A contar pelo que o craque aprontava nos treinamentos, onde, às vésperas da viagem a Teresina, ele assinalou sete gols no treino apronto (quatro pela equipe titular e três pelos reservas), a partida seria bem disputada.
Na véspera da viagem, a notícia de que o treinador Walber Penha poderia deixar o clube para o lugar do carioca Rubinho, o que foi prontamente negado pelo técnico atleticano. Porém, na noite da viagem à capital piauiense, o treinador foi forçado a deixar o clube, por motivos internos, o que seguramente mexeu com os atletas para a estreia. E o time atleticano sentiria o lado psicológico. No jogo realizado no dia 27 de Julho, no Estádio Lindolfo Monteiro, Nélio Vasconcelos assumiu interinamente da equipe atleticana e mandou a campo a seguinte formação: Lunga; Neguinho, Negão, Clécio e Juvenal; Zuza e Barrão; Waldecy, Wilson, Croinha e Alencar. Jogando de forma muito abaixo do que vinha rendendo no Estadual, o Maranhão acabou goleado pelo placar de 4 a 1, com o River dominando todas as ações. O estreante Pedroca, aos 45 minutos da etapa inicial, abriu o marcador para o River. O também estreante Loloca, após boa jogada de Pedroca, recebeu a bola e tocou na saída do goleiro Lunga. O gol atleticano coube a Wilson, de cabeça, após falha do zagueiro Zequinha. Loloca assinalou o terceiro e Tassú, de cabeça, após cobrança de escanteio, fechou o placar.
Após a chegada da delegação a São Luís, José Carlos de Assis foi apresentado ao elenco como o novo treinador atleticano. Com a derrota em Teresina, o Maranhão, inevitavelmente, forçaria o terceiro jogo para passar à fase seguinte da Taça Brasil, já que a derrota pelo placar de 4 a 1 não influenciaria no resultado na capital maranhense. Uma simples vitória do Maranhão já seria o necessário para a realização do terceiro jogo. Para a partida de volta, aliás, o MAC mandaria o seu jogo no acanhado Estádio Santa Izabel, uma vez que o Nhozinho Santos estava fechado para uma reforma geral desde o mês de Abril – e somente seria reaberto em 1966. O River chegou a São Luís disposto a eliminar logo a equipe atleticana da competição. O treinador Ênio Silva, para tanto, somente confirmou a escalação riverina no dia da partida, a exemplo do técnico maqueano José de Assis, que mandou a campo Lunga; Neguinho, Negão, Clécio e Carlindo; Juvenal e Barrão; Adalpe, Wilson, Croinha e Waldecy.
Diante de 1.625 torcedores, o Santa Izabel foi palco de um bom jogo, com fortes emoções para o torcedor atleticano, que viu o River abrir o marcador aos 7 minutos da etapa inicial, com Pedroca. Após o gol de empate atleticano, assinalado por Waldecy, o Maranhão sofreria novo revés, com Tassú, a três minutos do final da etapa inicial. Waldecy ainda encontrou tempo para empatar a partida antes do apito do juiz Sena Muniz. O MAC, que se apresentou de forma desordenada no primeiro tempo, voltou ao campo para a etapa final com uma equipe mais aplicada tecnicamente. O treinador José Carlos lançou a campo o ponta-esquerda Alencar, que inegavelmente ajudou a equipe atleticana para a heróica virada, que começou a ser desenhada à base da superação. A um minuto para o final da partida, Croinha, ao receber um lindo passe, chutou forte, sem chance de defesa para o goleiro riverino Miguel. Até o diretor Nélio Vasconcelos correu para abraçar o endiabrado goleador pernambucano, enquanto a torcida, já cabisbaixa, comemorava de forma eufórica nas arquibancadas do velho Santa Izabel. A terceira partida estava, assim, mais do que garantida.
Para o jogo do tira-teima, o treinador atleticano optou em lançar de imediato o ponta Alencar, na frente junto a Wilson e Croinha. O time riverino, contudo, sofreria consideráveis desfalques para a decisiva partida: o goleiro Caxambu e o zagueiro Zequinha, que sofreu uma forte pancada no lábio superior e foi prontamente substituído por Filomeno. No Maranhão, a equipe ficou desfalcada do zagueiro Negão e por muito pouco a baixa na equipe aumentaria para Juvenal e Neguinho, que acabaram confirmados pelo treinador para a partida.
O jogo, realizado novamente no Santa Izabel, no dia 04 de Agosto, levou a campo um excelente público. Com a arbitragem de Sena Muniz, o Maranhão entrou a campo com Lunga; Neguinho, Clécio, Juvenal e Carlindo; Zuza e Barrão; Waldecy, Wilson, Croinha e Alencar. Jogando com o volante Carlindo improvisado como lateral-esquerdo, o River foi mais time e pressionou o Maranhão durante praticamente todo o primeiro tempo. Na etapa final, logo a dois minutos, Vilmar, pegando um rebote do lateral Carlindo, chutou a queima-roupa, assinalando o primeiro gol da partida. O Santa Izabel silenciou rapidamente, mas três minutos depois Waldecy, o carrasco dos riverinos, empatou a partida. Após o gol, o Bode foi pra cima e começou a martelar a defensiva piauiense, com os artilheiros Wilson e Croinha jogando o fino da bola. E seria o próprio Wilson o dono da classificação atleticana: aos 27 minutos, após boa jogada de Barrão, o atacante recebeu a bola e tratou de virar a partida, garantindo o placar até o final da partida e a classificação atleticana para a fase seguinte da Taça Brasil.
Tão logo terminou a partida, Carlos Alberto Costa, Diretor de Futebol do clube, buscaria agilizar, em viagem ao Rio de Janeiro, junto à CBD, a legalização dos atletas Roberto (meia), Adalberto (zagueiro), Nininho (lateral-esquerdo) e Brito (zagueiro), já que era pensamento da diretoria aproveitá-los para as partidas diante do Paysandu, pela fase seguinte da competição. Após telegrama enviado pela CBD, os quatro atletas ganharam condições de jogo e estariam à disposição do treinador Rubinho.
O primeiro jogo da Segunda Fase da Taça Brasil seria em Belém, no acanhado Estádio da Curuzu, onde o Maranhão enfrentaria o Paysandu e a catimba da torcida Bicolor. Sem poder contar com a sua principal estrela, o centroavante Carlos Alberto, contundido, o treinador Santo Cristo confirmou o retorno do zagueiro Oliveira e do atacante Vila para o duelo diante dos atleticanos. No jogo, realizado dia 09 de Agosto, ambos os treinadores somente informaram a escalação das suas equipes minutos antes do início do jogo. O Maranhão mandou a campo Lunga; Neguinho, Clécio, Juvenal e Carlindo; Roberto e Barrão; Valdeci, Wilson, Croinha e Alencar; o Paysandu atuou com Jorge; Oliveira, Zé Ferreira, Abel e Paulo; Mangaba e Quarenta; Chininha, Vanderlei, Vila e Élcio.
Perante um numeroso público e apresentando-se melhor em campo, o MAC conseguiu um excelente empate diante do Bicolor, dentro da Curuzu, e somente não deixou Belém com a vitória face ao vacilo da zaga nos últimos dez minutos de jogo. Tecnicamente fraca, a partida mostrou um Maranhão mais organizado em campo. O Paysandu, jogando no 4-3-3, teve uma fraca atuação. Quarenta, de pênalti, abriu o marcador, encerrando a primeira etapa com 1 a 0 no marcador. Logo aos 7 minutos da etapa final, Barrão empatou, para o artilheiro Croinha, marcado por Zé Ferreira durante todo o jogo, virar a partida, dez minutos depois. O Paysandu somente empatou o jogo quando faltavam nove minutos para o final: o ponta Vanderlei ganhou a bola disputada entre Vila e Clécio e marcou o gol de empate, aos 36 minutos. Um 2 a 2 que levou a decisão para São Luís, dali a uma semana.
Para a partida de volta, o treinador Rubinho manteve a mesma base que surpreendeu em Belém. A única dúvida, contudo, recaía sobre Zuza, uma vez que o técnico atleticano não se decidia sobre o seu concurso de imediato na partida. Com Negão definitivamente fora dos planos, em virtude da sua contusão, o Maranhão entraria a campo com Lunga; Neguinho, Clécio, Juvenal e Carlindo; Roberto e Barrão; Valdeci, Wilson, Croinha e Alencar. Para a partida, a delegação paraense trouxe de Belém o árbitro Fernando Andrade – na partida de ida, o time atleticano levou o maranhense Wilson de Moraes Van Lume para apitar o jogo na Curuzu. Novamente os dois treinadores esconderam o máximo possível as escalações para a partida, realizada na tarde do dia 16 de Agosto, no Santa Izabel, que recebeu grande público para o encontro entre maranhenses e paraenses. A equipe vitoriosa dessa fase jogaria, na fase seguinte, contra o Náutico de Recife.
Apesar da espetacular reação nas últimas partidas, o time atleticano foi simplesmente irreconhecível em campo. Com Mangaba e Quarenta jogando praticamente sem marcação, o Paysandu foi superior em campo, jogando no 4-3-3. Com Roberto e Barrão perdidos, o meio campo atleticano foi obrigado a recuar. O gol do Paysandu saiu aos 38 minutos do segundo tempo, após a cobrança de uma falta por intermédio de Quarenta, onde a bola tocou no travessão e sobrou para Laércio cabecear e assinalar o gol da classificação Bicolor. Após o apito final, o árbitro paraense foi agredido por torcedores atleticanos que invadiram o campo. O Presidente Jorge Faciola ainda assegurou a gratificação da equipe em Cr$ 10 mil. Mais do que isso, a vitória garantia o representante paraense à fase seguinte da Taça Brasil, restando ao Maranhão apenas uma regular apresentação em sua única participação na já extinta competição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário