sábado, 2 de fevereiro de 2013

Eraldo Leite, goleiro de Cristo na Bolívia Querida

Eraldo de Vasconcelos Leite foi goleiro do Sampaio Corrêa no final da década de 60 e início da década de 70. Assim como qualquer garoto da sua idade, o jovem goleiro teve os primeiros contatos com a bola muito cedo. Rapidamente passou a integrar a equipe infanto-juvenil do Náutico, em 1966. Pelas suas qualidades, logo foi convidado defender o Santa Cruz, na mesma categoria. Posteriormente, Eraldo integrou a equipe do juvenil e aspirante do Sport Clube do Recife, no inicio de 1969. Alguns meses depois, em Setembro de 1969, o craque estava de malas prontas para viajar com a delegação do Flamengo (RJ), intermediado pelo gerente de campo do Sport, Tomires (Tricampeão carioca em 1953/54/55 pelo Flamengo e que posteriormente trabalhou com futebol no Sport e no próprio Flamengo). Apesar dos três meses de salários atrasados, Eraldo não viajou. Contudo, ele e alguns atletas do rubro-negro foram cobrar os seus vencimentos ao Presidente do Sport, José Rosemblit, na frente do presidente do Corinthians, Wadih Helú. Todos os atletas receberam o pagamento no mesmo dia junto a uma carta de dispensa, menos Eraldo e Adeildo. Para o jovem goleiro foi, sem dúvida, um dos dias mais tristes em sua ainda curta carreira no futebol. “Um dos dias mais triste em minha vida, pois já estava com 19 anos e sem chances de me profissionalizar . “Passei a noite do sábado sem dormir e chorando muito, orei e deixei nas mãos de Deus. Disse: Senhor, se for de Tua vontade, que eu continue como um profissional de futebol”, relembra Eraldo. No domingo pela manhã chovia muito na capital pernambucana. Eraldo jogava pelada no campo do Ferroviário, próximo à sua residência, quando foi abordado pelo treinador do Sampaio Corrêa, Ênio Silva, que o convidou a jogar pelo Tricolor maranhense. Em poucos dias Eraldo desembarcou na capital São Luis, levando ainda por sua indicação o volante Adeildo, que havia jogado no Sport. Na época que Eraldo chegou a São Luís, o goleiro do Sampaio Corrêa era Netinho, que depois jogou algum tempo entre os profissionais.

Chegou por um empréstimo de apenas três meses. Foi contratado pelo Sampaio para a equipe de profissionais. Na época ele ganhava Cr$ 250 mil e mais uma complemento de Cr$ 150 mil,sendo um dos mas bem pagos pelo clube. Trouxe ainda mais três atletas que atuavam em clubes pernambucanos: o lateral direito Paulo Alves (falecido), Claudemir e José Carlos (zagueiro central). Desembarcou em São Luis no dia 22 de Setembro de 1969 e, no aeroporto Hugo Cunha Machado, esperavam-nos o presidente boliviano, Dr. Rupert Macieira Gonçalves. Eraldo e os outros atletas ficaram hospedados por um tempo no Hotel Maranhense, localizado na Praia Grande. Depois, foram transferidos para concentração na Rua do Passeio, onde residiram pro alguns meses até serem levados para a concentração definitiva, localizada à Rua Santa Rita, número 62, no Centro de São Luis.

O goleiro estreou pelo Tricolor no dia 12 de Outubro de 1969, no extinto Torneio Nordestão, diante do River de Teresina, no Nhozinho Santos. Sob o comando de Ênio Silva, assim entrou a campo a Bolívia Querida: Eraldo; Oswaldo, Zé Carlos, Claudemir e Corrêa; Dedé e Roberto; Waldeci, Ivanildo, Bosco e Everaldo. Apesar do empate, o novo goleiro tricolor foi um dos melhores em campo e logo ganhou a simpatia da apaixonada torcida boliviana. Três dias depois do Sampaio atuou em Teresina diante do Flamengo. Apesar da derrota, novamente Eraldo foi o destaque do jogo. Mesmo machucado, o goleiro, pelas suas ótimas atuações, acabou sendo escalado para o jogo seguinte, dia 19 de Outubro, diante do Esporte Clube Piauí, ainda em Teresina. Eraldo havia sido vetado pelo departamento médico, mas o Presidente do Sampaio, que foi a Teresina somente para assistir àquela partida, assumiria toda a responsabilidade pelo jogo e defenderia todos os atletas perante a imprensa. Eraldo foi para o gol diante do Piauí e, apesar da derrota pelo placar de 2 a 1, foi mais uma vez considerando o melhor em campo. Após a partida, o goleiro recebeu da diretoria do clube uma carta, assinada por Claudio Ferreira (Vice-Presidente) e Rupert Macieira (Presidente), em agradecimento por ter atuado mesmo sem condições físicas normais.


No final de Novembro de 1969, durante um amistoso onde o Sampaio Corrêa goleou o Maranhão por 5 a 1, em uma jogada dentro da grande área o zagueiro Ribeiro foi rebater uma bola e por infelicidade deu uma pancada muito forte no rosto de Eraldo, que fraturou o maxilar, abandonando a partida. O goleiro foi levado para  a Santa Casa de Misericórdia, onde teve a sua cabeça engessada e por lá acabou passando a noite em repouso. Pelo desconforto, o gesso foi substituído por ataduras, em uma recuperação que durou mais de 40 dias. Porém, no dia 07 de Dezembro ele foi a campo assistir ao amistoso entre Sampaio e Paysandu. Eraldo estava nas arquibancadas do Municipal quando os alto-falantes do Estádio o chamaram aos vestiários do Sampaio. O Presidente boliviano o pediu para que jogasse aquela partida, pois havia feito uma  aposta e queria ganhar de qualquer jeito. A princípio, Eraldo relutou, mas foi convencido a trocar o uniforme e entrar a campo com a equipe. Após o jogo, novamente Eraldo foi o melhor em campo do elenco Tricolor e o Paysandu acabou oferecendo uma troca: daria ao Sampaio o Goleiro Holanda e mais C$ 20 milhões. A proposta era tentadora tanto para o atleta como para o Sampaio. Contudo, foi justamente nesse época que Eraldo conheceu e começou a namorar com Izabel. Resolveu não arriscar e decidiu continuar em São Luis. Com a saída de Ênio Silva, Alberino de Paula, o Bero, assumiu o seu lugar e, para o ano de 1970, assumiu o cargo de treinador boliviano o já falecido Edésio Leitão.

O ano de 1970 foi muito difícil para o Tricolor maranhense.  A diretoria contratou alguns atletas do Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza, entre eles o goleiro Dudinha, José Carlos, Serjão, Adalberto, Célio Costa, Valdeci e outros. Eraldo acabou indo para a reserva de Dudinha. No Campeonato Maranhense daquele ano, o Sampaio Corrêa chegava ao Terceiro Turno em uma situação um tanto quanto delicada, quando o Maranhão Atlético Clube já havia conseguido a sua vaga para disputar a decisão do Estadual em uma melhor de três jogos: em um confronto diante do Ferroviário, dia 12 de Agosto, tanto a Bolívia Querida quanto o chamado time da RFFSA não poderiam sequer empatar, sendo então ambos eliminados, dando de bandeja a vaga para o Moto Club. Nessa partida o Dudinha estava adoentado e, mesmo assim, foi escalado para jogar. Apesar da sua grande atuação, deixou o campo no intervalo queixando-se de falta de condições físicas para prosseguir na partida. Por incrível que pareça o treinador Edésio quis o obrigar a prosseguir no jogo. O Presidente Rupert Macieira, ao lado do alambrado, chamou Eraldo para uma conversa reservada nos vestiários do Municipal. Rupert disse-lhe para entrar em campo e que confiava no goleiro. E Eraldo fechou o gol. O Sampaio acabou fazendo o gol da vitória de 1 a 0 aos 37 minutos do segundo tempo, classificando-se com uma grande vantagem sobre o MAC.

Sampaio Corrêa em 1971. Eraldo é o penúltimo em pé

O Sampaio Corrêa entrou determinado na decisão do Estadual diante do Maranhão, que naquela época também formava com um timaço, sob o comando do vitorioso treinador Marçal Tolentino Serra: Da Silva, Baezinho, Sansão, Clécio e Elias; Iomar, Almir e Walker; Euzébio, Antônio Carlos e Hamilton. Os atletas passaram a concentrar em uma escola de Agricultura e todos davam como certa escalação de Eraldo até antes do jogo, sobretudo pela sua atuação diante do Ferrim. Na hora de assinar a súmula, porém, o treinador colocou o Dudinha para jogar a primeira partida, realizada no dia 30 de Agosto. E o treinador pagou caro pela aposta: o Maranhão venceu a primeira partida decisiva pelo placar de 1 a 0, gol de Jacinto, que entrara no lugar do goleador Hamilton, aos 12 minutos de jogo. Na segunda partida novamente Edésio apostou em Dudinha e mais uma vez a Bolívia se atrapalhou com as suas próprias pernas: Com 2 a 0 no placar, gols de Célio Costa e Zé Carlos, o Sampaio permitiu uma virada espetacular, com três gols de Antônio Carlos e somente não deixou o campo com uma nova derrota por conta do meia Djalma Campos, que fez de pênalti o gol de empate. Para a terceira partida todos davam como certa a entrada de Eraldo no gol. E novamente o treinador colocou Dudinha como titular. Eusébio e Jacinto trataram de dar números finais ao jogo, vencido pelo Maranhão Atlético (2 a 0), bicampeão estadual. Apesar do vice-campeonato, o Tricolor realizou uma boa campanha no ano de 1970. Resultados expressivos foram obtidos, como a vitória diante do Náutico pelo placar de 2 a 1, em jogo realizado no dia 20 de Novembro.

Em 1971 a equipe do Sampaio Corrêa montou uma grande equipe. Walter Zaidam assumiu o cargo de Presidente naquele ano e diversos atletas se alternaram no elenco durante o ano: Eraldo, Toinho, Célio Rodrigues, Paulo Silva, Neguinho, Nivaldo, Gojoba, Soares, Djalma Campos, Adelino, Itamar, Heraldo Gonçalves, Roberto, Garrinchinha, Carlos Alberto, Prado, Pelezinho e outros. Apesar do vice-campeonato, o clube conseguiu alguns bons resultados, como o empate diante do fortíssimo Olaria do Rio de Janeiro, dia 29 de Julho, em São Luis. O Olaria na época era o fantasma carioca, com Afonsinho, Alfinete e muito craques (o clube estivera em excursão por São Luis e, dois dias antes, havia empata contra o Moto Club). Nesse ano Eraldo também atuou no combinado Sampaio/Moto, formando a Seleção Maranhense, diante do Botafogo (RJ) de Djalma Dias, Zequinha, Jairzinho e Nei Oliveira, em jogo amistoso disputado no Municipal, dia 15 de Outubro. O destaque do Fogão era o goleiro pernambucano Wendel, que havia defendido as cores do Santa Cruz e foi goleiro da Seleção Brasileira.

Eraldo deixou o Sampaio Corrêa no final de Outubro de 1971. Antes de sair, falou com o presidente Walter Zaidam para dar uma oportunidade ao Paulo Figueiredo, goleiro que jogava pelo Moto Club e que, por não se enquadar às normas do clube, estava de viagem marcada de volta ao Rio de Janeiro. Eraldo, já casado, voltou a Recife, onde ficou treinando no Sport e posteriormente atuando pelo Alecrim (RN), e Paulo Figueiredo assumiu o posto de titular no gol Boliviano.

Eraldo em ação em jogo no Nhozinho Santos

 Eraldo com o goleiro Wender, do Botafogo (RJ)

 Nos juvenis do Santa Cruz (PE)

 Juvenis do Náutico

 Eraldo em jogo pelo Sampaio Corrêa, no Nhozinho Santos

 Entrada do Sampaio Corrêa a campo. Eraldo vem à frente

 Sampaio Corrêa 2x1 Náutico (PE). Eraldo defendendo

 Formação do Sampaio Corrêa em 1969


12 comentários:

  1. Linda história... tempo de muita saudade e orgulho deste goleiro singular: ERALDO LEITE, MEU PAI AMADO....

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    1. Filha Coruja hehehe, mas esta falando a verdade, tive a HONRA de ver o grande Goleiro Eraldo Leite atuar e depois uma HONRA maior ainda jogar ao lado do seu filho ORLANDO LEITE. Saudades desse tempo!

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  2. Orgulho também para todos nós da família, que muito nos alegramos com esta linda homenagem que o SENHOR Hugo Saraiva postou...Agradeço em nome de toda família!

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  3. Sempre grande em tudo que faz. Eraldo Leite é o cara. ESTELA

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  4. Só vim aqui dizer o quão grande é o orgulho e admiração que eu tenho por este senhor, Eraldo Leite, a quem posso chamar de avô
    Espero herdar dele a determinação e a capacidade na hora de fazer qualquer coisa em minha vida, tenho certeza que todas essas vitórias não foram fáceis, mas ele conseguiu e se saiu muito bem. Além de tudo ainda trouxe algo que acredito ter sido inédito entre os que o rodeavam, sua fé e religião, que por uma casualidade o fez encontrar o amor de sua vida.
    Fico muito alegre em ver esta homenagem porque sei que ele é alguem que a merece
    Agradeço ao autor que fez um trabalho excelente :)

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  5. Sr. Eraldo sem duvida é merecedor de todos os elogios! PARABÉNS!

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  6. Tenho muito orgulho desse grande homem, que é uma grande referência na família. Eu não conhecia essa parte da história dele como jogador e fico muito feliz por sua consagração como um jogador de destaque, parabéns pelo grande sucesso!

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  7. Grande Eraldo! Bonita história. Sou MAC mas torço pela Bolívia-Querida em todos os jogos interestaduais. Sou antes de tudo pelo futebol maranhense. Nasci em Recife, no SPN, no bairro da Madalena, em 1956, mas sou maranhense de coração.
    Lembro daquele bicampeonato do MAC em 1969/70. Era um timaço. Sampaio também. Tinha o torneio Maranhão-Pará que era muito interessante. Hoje não tem mais; o futebol de cada estado é isolado. Mas tem as séries C e D que ajudam.
    Parabéns por sua história. Outro pernambucano maranhense de coração!

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  8. Parabéns Eraldo Leite pela história.........

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  9. Desculpa, meu amigo e colega de trabalho: eu nunca acreditei em suas histórias de jogador de futebol. Vou mostrar para os seus amigos Fulni-ô.

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  10. Você é o Cara. Incrível é a sua história. Só não é nota 10 porque é Bolsonarista.

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