quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Moto Club ganhou, mas não levou: Cassas de Lima mandou recolher o troféu

Texto que não entrou no livro "Memória Rubro-Negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte".


"Às vezes ocorrem coisas que parecem acontecer somente em nosso futebol. Evidente que, como em outros Estados, fatos curiosos e até mesmo dignos de verdadeiras novelas acontecem, sobretudo por se tratar de um esporte como o futebol, que move multidões e trabalha com a paixão. Esta última às vezes fala mais alto do que simplesmente a razão, o que facilita acontecimentos simplesmente inacreditáveis no esporte mais popular do mundo. E em São Luis não seria diferente. Quando se pensa que já vimos de um tudo no futebol do Maranhão, eis que surge uma preciosidade, um dos fatos mais impressionantes, dignos de verdadeira nota, envolvendo o Presidente em exercício da FMF e do conselho deliberativo do Moto Clube, o competente e respeitado médico ortopedista Dr. Cassas de Lima.

Eu, particularmente, conheço muito pouco sobre o ex-presidente rubro-negro. Além de ter sido o meu professor durante a minha graduação no curso de Educação Física (fato que me deixou bastante envaidecido, pelo renome que o mesmo tem em nossa cidade e pelos anos de trabalhos prestados à nossa população), o Dr. Cassas, pelo que sempre ouvi falar, foi um motense muito apaixonado e envolvido diretamente com tudo o que rolava dentro dos bastidores rubro-negro. Foi um excelente Presidente? Sinceramente não posso responder, pois não tive a oportunidade de acompanhar o futebol maranhense quando da sua passagem na administração do clube. Muitos rubro-negros falam que foi um dos melhores, ao lado do Pereira dos Santos. Outros simplesmente renegam a passagem do médico pela presidência do Moto Club. Se foi ou não, que se julgue depois. O fato é que, como presidente do Papão, o Dr. Cassas, segundo registrado, cometeu uma das maiores lambanças já ocorridas em nosso futebol.

Tudo aconteceu na abertura oficial da temporada do futebol maranhense em 1999, no domingo do dia 31 de Janeiro. O Moto Club de São Luis participava da Taça Domingos Leal, esses rápidos torneios de fim de semana com o simples intuito de apresentar oficialmente o plantel para a torcida, testar os novos jogadores e fazer experiências visando às competições posteriores. O Moto ganhou, mas não levou o troféu. Após vencer o “Maranhão por 3x2, nos pênaltis, depois de 1x1 no tempo normal, o Papão não recebeu a Taça Domingos Leal, por ordem do Presidente interino da FMF, Cassas de Lima, que mandou recolher o troféu, sob a alegação de que tinha recebido recurso do MAC” (MOTO..., 1999a, p. 1). No caso, o Maranhão alegava a utilização do jogador Silvério, expulso de campo no jogo anterior e que não poderia ter disputado a decisão. O rubro-negro justificou o lançamento do jogador, sem cumprimento de suspensão automática, “alegando que a competição não é oficial e que para jogos amistosos não existe necessidade de cumprimento da ‘lei do cão’. [...] o presidente em exercício, mesmo que o torneio fosse oficial, não poderia impedir a entrega do troféu” (MOTO..., 1999a, p. 1), já que o recurso não tem efeito suspensivo. A cena que se viu no Estádio Castelão foi simplesmente deprimente, certamente fezendo tremer no túmulo o finado Domingos Leal, que não merecia que o torneio em sua homenagem acabasse de uma forma tão melancólica.

A cena mais deprimente, porém, aconteceu em seguida, quando os jogadores do Moto, por justo merecimento, pegaram o troféu do torneio para dar a uma simbólica volta olímpica, numa satisfação para uma pequena torcida no Castelão. O presidente em exercício da FMF, Dr. Cassas de Lima, “colocou o policiamento de prontidão para tomar o troféu de volta, caso não fosse devolvido. Quem tem um presidente de conselho deliberativo assim, não precisa de adversário” (FONSECA, 1999, p. 4). Tal atitude foi relevada, supostamente, por conta da inimizade entre o presidente interino da Federação Maranhense de Futebol e o Presidente do Moto Clube, Antônio Henrique. Indiferenças à parte, o que vale ressaltar aqui é que uma atitude dessas (e em qualquer circunstância) jamais deveria ser tomada por um Presidente de Federação, sobretudo quando o Tribunal de Justiça Desportiva, em um caso como ocorrido nesse lamentável torneio, destaca para um fator importante: o torneio em questão, por não fazer parte do calendário oficial, não necessita o cumprimento de suspensão automática. E caso configurasse como competição oficial, o recurso do Maranhão Atlético Clube não tinha efeito suspensivo. Dessa forma, a Federação deveria acatá-lo e mandá-lo ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD). “O correto seria o presidente Cassas de Lima entregar o troféu ao Moto, logo depois da conquista do torneio. Mais tarde, se o TJD desse ganho ao MAC, que pedisse o troféu de volta” (FONSECA, 1999, p. 4). Fazer o que foi feito soou como mero revanchismo e pegou muito mal para o nosso já machado futebol.

A cena, contudo, não foi a primeira proporcionada pelo médico Cassas de Lima. Em 1979, pelo mesmíssimo Torneio Domingos Leal e contra o mesmo Demolidor de Cartazes, o então mandatário rubro-negro simplesmente ordenou a retirada de todo o Moto Club do campo. Isso mesmo: o jogo contra o Maranhão Atlético Clube não chegou ao seu fim, tendo sido suspenso aos 5 minutos da segunda etapa, quando o Moto Club resolveu retirar-se de campo por ordem do Presidente Cassas de Lima. Tudo começou quando o árbitro da partida, Gildásio Lélis, que já tinha expulsado no primeiro tempo o jogador Stefferson, expulsou o segundo jogador do Papão, Edmilson Leite, por ofensas morais, a exemplo do primeiro, o que gerou revolta por parte do Presidente do Moto Clube. Cassas de Lima, então, “determinou imediatamente a retirada do time, fazendo com que o Maranhão fosse considerado vencedor pó 1x0 e ao mesmo tempo, perde a equipe motorizada a parte que lhe caberia da renda de acordo com a legislação esportiva” (CASSAS..., 1979, p. 12). O fato é que, mesmo com algumas atrapalhas dentro da sua administração, tudo isso não desmerece o Dr. Cassas de Lima e não apaga tudo o que o mesmo fez em favor do Moto Clube. É a paixão falando mais alto do que a razão..."

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