sábado, 4 de agosto de 2012

Toca, ídolo maqueano

Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, em 08 de Março de 1999

Não há dúvidas de que o Bairro do Anil, um dos maiores e mais tradicionais de São Luis, continua sendo o que mais revela craques para o futebol profissional maranhense. Toca foi um deles. Se destacou no Cruzeiro e chegou a ser ídolo no Maranhão Atlético Clube. Jogava por amor ao clube que aprendeu a gostar desde a época que o pai o levava aos estádios. Até hoje dirigentes e torcedores do MAC não o esquecem e falam dele com muito orgulho e respeito.
Um ídolo, que acima dos seus próprios interesses profissionais coloca o clube, é difícil de se encontrar. Toca era assim, até porque o futebol sempre esteve no sangue da sai família. O pai dele, conhecido no Anil como Chico Velho, fez fama como half-direito (lateral-direito) do Esporte Clube Cruzeiro, um dos times mais tradicionais do Anil. Também era bom de bola o tio Alemão, irmão de Chico Bola e pai de um dos maiores atletas que o maranhense já viu em campo, o meio campista Carlos Alberto (que jogou nas principais equipes profissionais de São Luis e que morreu no Sul do Brasil).
Os dois, pai e tio, jogavam em times opostos, como nos conta Toca. Para vencer, eles chegavam a brigar em campo. “Meu pai jogava no Cruzeiro e meu tio no Botafogo. Com eles não tinha moleza. Meu batia muito no tio Alemão. Quando eles chegavam em casa, meus avós já tinham conhecimento do que havia acontecido no campo entre os dois que acabavam sendo surrados pela avó. Isso era até engraçado. Esse duelo é lembrado até hoje no Anil”. O interessante é que seu Chico, torcedor do Maranhão Atlético Clube, gostava de jogar futebol mas não queria que os filhos seguissem a carreira de atleta profissional. “Ele chegava a proibir a gente de jogar até no próprio bairro”.
Escapando da marcação serrada do pai, Toca vestiu uma camisa do time pela primeira vez aos 12 anos de idade. “Foi no Botafoguinho. Um time que tinha na curriola meu primo Carlos Alberto, Mundão, Ali Uta, Neife, Pingo, Zequinha e outros amigos do bairro. Jogávamos todos descalços. Chegamos a ficar invictos em 53 partidas. Era bom demais aquela época”.
Toca e os amigos jogaram no Botafoguinho durante dois anos. Depois, todos foram para os clubes que disputavam o principal campeonato anilense: Cruzeiro, Nascente, Botafogo e 1 de Maio. “Como o patrono do Botafoguinho era o Carrinho Sales, o principal dirigente do Botafogo, muitos dos amigos saíram do Botafoguinho e foram direto para o Botafogo. Apenas eu e Zé Carlos fomos para o Cruzeiro”.
Antônio José Buna Ribeiro (26/11/1947) não sabe porque e nem quando ganhou o apelido de Toca. Se destacou desde cedo no futebol pela inteligência, garra, força, vontade e excelente controle de bola. Muito criativo na distribuição das jogadas de ataque, fazia diferença principalmente pelo amor com que entrava em campo. Jogava porque sabia e gostava. Lutava pela vitória até o apito final do árbitro. Emotivo, não gostava de perder. Quando vinha a derrota, chorava de tristeza. Quando era premiado pela vitória, chorava de alegria.
Dos 14 aos 17 anos de idade, Toca jogou no meio de campo do Cruzeiro, clube que até hoje é a imagem da família Buna. Sua primeira grande experiência foi quando a seleção anilense enfrentou o seu time do coração. “Quando eu estava com 17 anos, Carrinho Sales formou uma Seleção Anilense para jogar um amistoso contra o MAC, no antigo Estádio Sant Isabel. O técnico era meu tio Alemão, que acabou me colocando na seleção como centroavante. Foi um dia de glória para mim. Primeiro porque eu iria enfrentar pela primeira vez o time que meu pai e eu torcíamos. Segundo porque ganhamos o jogo por 3 x 2, com dois gols meus. Foi o máximo”.
O Presidente do MAC na época, Raul Guterres, se encantou com o futebol apresentado pelo garoto Toca no amistoso. O MAC tinha acabado de vender o centroavante Croinha para o Fortaleza/CE e estava procurando um substituto. O maior problema era encontrar o seu Chico e deixar o garoto jogar profissionalmente. Inteligentemente, Raul Guterres fez com que Babá Azevedo, atleticano e primo de seu Chico, convencesse-o de deixar o filho vestir a camisa do Bode Gregório. “Babá pegou meu pai pelo coração e eu acabei realizando meu sonho de menino, que era vestir a camisa gloriosa do MAC”.
Toca, por ser novo, jogava na equipe principal do MAC e também na aspirante. Pelo excelente desempenho, caiu nas graças da torcida. Se adaptou bem na posição de centroavante e passou a marcar belos e importantes gols. Mesmo jogando na frente, entrava duro nos zagueiros. Era respeitado por eles. Jogava bem com a bola no chão ou no alto, com a cabeça. Mas ele jamais disse que esse desempenho era mérito só dele, muito pelo contrário. “Era fácil jogar com um meio de campo formado por Barrão e Zuza. Barrão sempre me deixava na cara do gol com lançamentos precisos. Vivi momentos mágicos ao lado dos meus ídolos da época”.
O técnico do MAC, José Carlos de Assis, foi o introdutor do esquema tático conhecido como 4-3-3. Todos os times da época jogavam no 4-2-4. “Ele aproveitou minhas habilidades e me mostrou que eu poderia me dar bem jogando no meio, ao lado de Zuza e Barrão. Gostei da nova formação e o time seguiu uma carreira vitoriosa”. O MAC dessa época jogava com Bastos; Neguinho, Decadela, Geraldo e Carlinhos; Zuza, Barrão e Toca; Euzébio, Mazola e Coelho. Uma curiosidade é que esse time ganhou todas as Taças Cidade de São Luis que disputava. Porém, quando vinha o campeonato oficial, quem levava era o Moto, tricampeão estadual em 1966/67/68.

 Formação do MAC com Toca, o terceiro agachado, ao lado do artilheiro Hamilton

MAC em 1969

O MAC sempre foi um time que deu e continua dando oportunidades aos atletas maranhenses. Com um trabalho desenvolvido de forma bem especial, os atleticanos chegaram ao título estadual de 1969 de forma espetacular e inquestionável com Da Silva; Baezinho, Luis Carlos, Sansão e Elias; Toca e Yomar; Eusébio, Jacinto ou Riba; Hamilton e Dario. “Um time pra ninguém botar defeito. Só o Hamilton não era maranhense, mas já estava radicado aqui há muito tempo”.
Já nessa época Toca trabalhava no extinto Banco Econômico. Ele trabalhava meio período e no outro, treinava. Ganhava bem pouco no MAC. Na verdade, jogava por puro prazer. Era segundo Raul Guterres, o grande capitão atleticano, que ajudava o clube dentro e fora de campo.
No final de 1969, a diretoria maqueana contratou o centroavante carioca Antônio Carlos. Sem contrato, Toca pensava e parar quando o Moto se interessou pelo seu passe, depois que ele foi participar de um amistoso contra o Remo em Belém, vestindo a camisa rubro-negra. “Perdemos por 1x0, mas joguei bem e o Moto comprou meu passe junto ao MAC por 4 mil cruzeiros, grana alta! Foi ai que joguei por dinheiro, até então jogava por paixão”.

 Maranhão Atlético Clube em 1969, em Manaus:  Coelho, Toca e Iomar

Em 1970 o MAC conquistou o bicampeonato. As coisas não andaram bem para o Moto e nem para Toca. No ano seguinte, o Moto formou um super time. Lá estava Paulo Figueiredo, Alzimar, Paulo Silva, Garrinchinha, Carlos Alberto, João Bala, Oberdan, Toca e outros feras mais. Quem ficou com o título foi o Ferroviário. “Um fato ocorrido nesse campeonato não me sai da cabeça até hoje. O episódio ficou conhecido como o “jogo do Paulo Figueiredo”. Ele era nosso goleiro. Na partida contra o Sampaio, valendo uma vaga para a grande final contra o Ferroviário, em menos de 10 minutos do primeiro tempo nos ganhávamos os tricolores por 2x0. Antes de completar 20 minutos ainda do primeiro tempo, Paulo Figueiredo tomou quatro gols seguidos e de forma estranha. O resultado: perdemos a partida e, coincidentemente, uma semana após essa histórica derrota, Paulo Figueiredo foi contratado pelo Sampaio. Estranho, não?”.

 Toca no Moto em 1969. Em pé: Paulo, Paulo Figueiredo, atleta não identificado, Almeida, Pinto, Pereira, Osvaldo, Alzimar, Geraldo, Manda e Assis. Agachados: Corrêa, Antônio Chupila, atleta não identificado, Toca, João Bala, Marcílio, Pelezinho e Cadinho.

Esse fato influenciou na decisão de Toca, 24 anos de idade, em plena forma, a abandonar o futebol profissional. “Estava bem empregado no Banco Econômico e, antes que eu me decepcionasse mais ainda com o futebol profissional, resolvi que só voltaria a jogar se fosse de forma amadora no meu Cruzeiro do Anil”. E assim aconteceu. Toca ficou no Cruzeiro mais uns dois anos, depois jogou no time da Família Buna e em seguida foi parando definitivamente com a bola”.

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