terça-feira, 7 de outubro de 2014

Neto “Peixe Pedra”


Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, de 6 de Setembro de 1999


Poucos jogadores tiveram o privilégio de jogar nas quatro grandes equipes de futebol profissional de São Luís nas décadas de 50 e 60: Ferroviário, Maranhão, Sampaio Corrêa e Moto Club. Dentre esses pouco, uma minoria de craques foi campeã estadual, vestindo as camisas destes clubes. Neto foi um desses abençoados que nasceram com o dom de jogar e serem campeões, caindo nas graças das principais torcidas do Estado. Por ter nascido na cidade de São José de Ribamar, distante 35 km da capital maranhense, ganhou desde garoto o apelido de “Peixe Pedra”, pescado famoso e saboroso do lugar.

André Pacheco Castro Neto, nascido em 02/07/1936, é filho de Salustiano Diniz Castro e Francisca Pacheco Castro, já falecidos. Tem duas irmãs: Telma e Maria da Graça e um irmão: Mário, que foi quem o levou a dar os primeiros toques na bola, na Praia do Barbosa, em São José de Ribamar. A curriola (turma) deles eram formada pelo Augusto, Gedeão Matos, Genésio ‘Pelé Branco’, Paciência, Minguinho e outros. “Éramos tarados por bola. De manhã e no final da tarde, íamos à praia e o pau comia. Nessa época eu tinha 10 anos. Jogamos juntos até os meus 17 anos. Adorávamos quando chegava o período de férias. É que na época, o pessoal de São Luís vinha passar férias em Ribamar. A cidade ficava cheia e nós aproveitávamos pata jogar contra o pessoal da capital. Era o máximo! Inesquecível”, relembra.

O apelido de Peixe Pedra veio depois que jogou em equipes amadoras de São Luís. Era uma fórmula carinhosa de diferenciá-lo dos companheiros de equipe que tinham o mesmo nome dele. Assim que começou a bater as peladas na praia de Ribamar, Nero era conhecido por “Empinge Braba”, isso porque quando grudava na marcação de alguém, era difícil de largar. Quando se profissionalizou, ganhou outro apelido dos boleiros mais íntimos: Sané.

Aos 17 anos de idade, Neto foi descoberto pelos irmãos Cabeleira, que tinham um time em São Luís, conhecido como Onze Amigos. A sede era no Beco da Pacotilha, no Centro da cidade. “Eu jogava em Ribamar no Vera Cruz e em São Luís no Onze Amigos”. Estava em plena forma técnica e, principalmente, física”, assegura.

A verdade é que Neto não jogou nenhum ano completo no Onze Amigos. Em 1954, o Sampaio Corrêa foi jogar amistosamente em São José de Ribamar, contra o Vera Cruz. O Tricolor ganhou o jogo, mas ele, que havia jogado como ponta-esquerda no Vera Cruz, mostrou serviço e acabou sendo convidado para treinar no time de maior torcida do Maranhão. “O amigo Lourival, que era centroavante do Sampaio, foi quem me indicou ao Jafé Mendes Júnior. Aceitei o desafio e fui em frente. Aos 18 aos de idade, assinei meu contrato como atleta profissional”.

O interessante é que Neto é motense e quis o destino que ele defendesse o Sampaio Corrêa, arqui-inimigo do seu clube de coração e que fosse campeão estadual em 1954, no primeiro campeonato disputado como profissional. “Outro dia tentei lembrar a formação do time campeão e não consegui. Lembro-me bem que tínhamos o Leça no gol, na lateral-esquerda Cacaraí, no meio Sururu e no ataque eu, Gedeão Matos, Henrique Santos, Lourival “Bazar da Amélia”, Ki Ki Ki e Pipira. Era um excelente time”.

Quem jogou com neto garante que ele era valente e não abria pra ninguém. Tinha um condicionamento físico invejável. Chutava com precisão com a perna direita ou esquerda. Era habilidoso e técnico. Gostava de jogar para a frente, porém, ajudava na marcação quando preciso. Fazia seus golzinhos quando os adversários vacilavam na marcação. Falava durante todo tempo que estava em campo. Era amigo dos amigos, dentro e fora dos campos. Gostava de tomar umas cervejinhas depois dos jogos, mas era responsável.

Em 1955 e 1956, Neto continuou no Sampaio. Nestes anos o Moto foi bicampeão estadual. Em 1957 o Ferroviário Esporte Clube, time da estrada de ferro, montou uma super equipe. Lá estava ele. “O Walber Penha era o goleiro e aí vinha Ribeiro Garfo de Pau, Santos, Augusto e Peruzinho; Gentil e Waltair; Pitú, eu, Frango e Vicente; Um time que acabou sendo campeão, desbancando os favoritos Moto e Sampaio Corrêa”.

No ano seguinte (1958), o Ferrim manteve a mesma base do ano anterior e acabou conquistando o bicampeonato em cima do Moto Club. “A decisão foi no campo do Moto (Estádio Santa Izabel), em um domingo de muita chuva. Ganhamos de quatro ou cinco a zero, não me lembro precisamente o placar final. O que sei é que foi uma festa danada. Não tinha jeito, éramos mesmos os melhores da época. Jogávamos de igual para igual com qualquer equipe da região ou do Sul/Sudeste do país. O Ferrim era super organizado. Recebíamos nossos salários em dia. Tudo o que precisávamos, o seu Brito (Presidente do clube) e o Dr. Arias Guimarães (vice-Presidente) nos arrumava. Eles não deixavam faltar nada para nós. Infelizmente um ano depois da conquista do bicampeonato, o Ferrim foi extinto. Até hoje não entendo porque isso aconteceu”.

Do elenco do Ferroviário, alguns atletas foram para o Maranhão e outros para o Moto. Neto, como bom rubro-negro, aceitou a proposta do Major Pereira, então Presidente motense, e foi defender o clube de sua paixão, onde acabou sendo, mais uma vez, bicampeão estadual, em 1959/60. “Uma das formações desta conquista tinha o Bacabal no gol e mais Baezinho, Baezão, Laxinha (isso mesmo, meu compadre jogou atrás e no meio de campo do Moto) e Esmagado; Ananias e Gojoba; Zezico, Nabor, Casquinha e eu. Um belíssimo time que atropelou todo mundo que aparecia na frente”.

No Moto, Neto ficou até 1962. Em 1963, com 27 anos de idade e no auge da carreira, ele acabou trocando o Moto pelo Maranhão. “Foi uma grande temporada. Lunga; Negão, Neguinho, Clécio e Carlindo; Zuza e Barrão; eu, Wilson, Croinha e Alencar. Jogávamos por música. Era um time pai d’égua de bom. Ganhamos o campeonato com tranquilidade. Foi meu sexto título. Enfrentamos nesse ano amistosamente o Vasco, Botafogo, Fluminense, Bangu e Flamengo do Rio de Janeiro e Santos e São Paulo, da capital paulista. Ganhamos vários desses jogos e vendemos caro nossas derrotas. O futebol essa época era nivelado por cima”, relembra todo orgulhoso.

Aos 31 anos de idade (1967), Neto jogou na Seleção Maranhense que disputou o Campeonato Brasileiro Era titular absoluto no time que era formado por Bacabal ou Lunga no gol; Ribeiro Garfo de Pau, negão, Omena e Português; Gojoba e Chico; Garrinchinha, Croinha, Hamilton e ele. Um ano depois (1958), neto voltava a integrar a Seleção Maranhense de Futebol. Depois que disputou o Campeonato Brasileiro de Seleções, foi para Belém do Pará, onde defendeu o Clube do Remo por uma temporada.

Em 1969 Neto retornou a São Luís e, aos 32 anos de idade, resolveu jogar pelo Graça Aranha Esporte Clube. Em 1970, depois de 16 anos de profissão, Neto decidiu parar com a bola. Foi uma decisão bem pensada e sem possibilidade de retorno. Nunca se decepcionou com o futebol. Ganhou pouco dinheiro e muitos amigos e sempre foi admirado e respeitado pelos diretores, presidentes e torcedores dos clubes que defendeu com muita garra e coragem.

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