quarta-feira, 1 de outubro de 2014

AMISTOSO - Moto Club 2x0 Atlético Mineiro (1981)



O Atlético Mineiro, vice-campeão brasileiro, chegou a São Luís para uma partida amistosa diante do Moto Club de São Luís, no Estádio Municipal Nhozinho Santos. Foi a primeira vez que o galo veio ao Maranhão e a sua apresentação foi aguardada com grande expectativa pelo público maranhense. A delegação atleticana desembarcou na tarde do dia 27 de Abril de 1981, véspera da partida, com todos os seus principais jogadores, com destaques para Reinaldo, Cerezo, Palhinha, Éder e João Leite, todos atletas de nível de seleção. O Moto Club esteve treinando em tempo integral para a apresentação contra o campeão mineiro.

Silvio Barros e Neguinho acreditavam na boa disposição dos motenses. Para a partida, o Moto foi confirmado com a mesma escalação que vinha jogando e atuado pela última vez em Imperatriz, na derrota para o Cavalo de Aço por 1x0. Apesar de os promotores do jogo terem proposto o empréstimo de alguns jogadores do Maranhão e Sampaio para reforçar o time, os dirigentes rubro-negros foram contrários à ideia por acharem que grande parte da torcida não aceitaria tal coisa. E um dos grandes desfalques do Papão estava na defesa, onde o zagueiro-central Paulinho havia sumido dos treinos sem deixar qualquer informação.

Dizendo-se satisfeito com as duas últimas apresentações do clube sob a sua orientação, embora tenha lembrado que tinha esperava mais do grande elenco que dirigia, o conhecido Pepe, ex-ponta-esquerda do Santos e da Seleção Brasileira, agora treinando o Atlético depois de uma passagem brilhante pelo seu ex-clube santista, atendeu aos repórteres ainda no aeroporto, respondendo com muita simplicidade as perguntas e até lembrando de fatos da sua carreira como jogador de futebol. Em determinado momento sua memória funcionou mesmo e ele perguntou pelo ex-zagueiro Terrível, que há quase 20 anos defendeu o Sampaio Corrêa. Interrogado porque tanta lembrança daquele jogador maranhense, sobejamente respeitado pelos atacantes e principalmente pelos extremas, Pepe apenas completou: “o apelido já diz tudo”. Terrível, como sua geração bem recorda, era o tipo de jogador Raçudo, que não temia nem mesmo tendo à frente craques famosos que até hoje tanto quanto Pepe ainda não o esqueceram.

Sobre o time que dirige, o treinador mostrou-se confiante na possibilidade da conquista do próximo campeonato, “porque o elenco é um dos melhores do país e isto deixa a gente mais tranquilo”. Pepe justificou a ausência do Atlético nas finais da Taça de Ouro, dizendo que “o regulamente precisa ser modificado, para que tenhamos critérios mais justos na hora da classificação e da disputa final”.

No dia da partida, 28 de Abril, assim perfilaram as duas equipes, diante de um bom público que compareceu ao Municipal: Moto Club: Bessa; Martins. Airton, Irineu e Luís Carlos; Emerson, Beato e Edésio; Pirila, Jorge Guilherme e Raimundinho Lopes; Atlético Mineiro: João Leite; Orlando, Osmar, Luisinho e Jorge Valença; Chicão, Cerezo e Palhinha; Frazão, Reinaldo e Éder. O torcedor passou para assistir noventa minutos de futebol e acabou vendo um espetáculo feio, provocado pelos jogadores do Atlético Mineiro e endossado por mais uma arbitragem nervosa de Nacor Arouche, que expulsou quatro jogadores da equipe visitante, o técnico Pepe e ainda por cima revidou a agressão de um dirigente do clube mineiro. O jogo não chegou ao seu final. Aos 25 minutos do segundo tempo o Atlético ficou reduzido a sete homens e retirou-se de campo quando perdia por 2 a 0. A renda foi recorde, superando os dois milhões de cruzeiros (Cr$ 2.200.000,00).

 Jogadores do Atlético Mineiro do Aeroporto do Tirirical, em São Luís

 Técnico Pepe, do Atlético Mineiro


O JOGO – O público que compareceu ao Municipal para assistir um espetáculo de primeira grandeza, praticado pelos carques do Atlético Mineiro e os modestos jogadores do Moto, deixaram aquela praça de esportes decepcionados e até irritados com tanta balbúrdia. O Atlético Mineiro não jogava bem quando sofreu o primeiro gol, logo aos 9 minutos, em jogada individual do juvenil Raimundinho Lopes, que driblou três defensores mineiros, inclusive Cerezo e Osmar, para atirar sem chance de defesa para o goleiro João Leite. Aos 16 minutos o atacante Palhinha subiu legalmente com Emerson para tentar a cabeçada, mas o juiz assinalou uma falta contra o Atlético. Palhinha reclamou e recebeu o cartão amarelo. Tornou a reclamar e recebeu o cartão vermelho e foi expulso. O jogo, que ainda sem sequer agradava o público, piorou. Inconformados com a expulsão de Palhinha e a inferioridade no marcador, os jogadores atleticanos tentaram tumultuar ainda mais o espetáculo, reclamando rigorosamente contra as marcações e recebendo em troca três cartões amarelos do juiz Nacor Arouche.

Para aumentar a dose de inconformismo do Atlético, que não jogava nada de bola, o juiz acertadamente invalidou um gol feito por Éder, que estava impedido. Depois Nacor começou a se perder na arbitragem e a inverter ou deixar de marcar faltas, culminando com uma marcação aos 40 minutos contra o gol de João Leite. A barreira andou duas vezes e receberam cartões todos os jogadores que nela se encontravam. O lateral Valença reclamou ou ofendeu o juiz e recebeu o cartão vermelho. O banco do Atlético, que já havia invadido o campo na hora que o gol de Éder foi nulo, desta vez não deixou por menos. O técnico Pepe foi tomar satisfações com o juiz e também foi expulso. O direto Marcelo Guzela também se aproximou do árbitro para ofendê-lo moral ou fisicamente e acabou recebendo um tapa (de leve), não reagido porque a estas alturas o juiz já estava sob proteção da polícia.

O primeiro tempo foi encerrado logo depois e os dirigentes, apesar de muitas ameaças de não autorizar o retorno da equipe para o segundo tempo, resolveu desistir da ideia. Mas em represália, trocaram Reinado por Chico Spina e fizeram mais duas modificações. Irritados com as encenações do juiz que cava catão amarelo sempre que ouvia determinada reclamação, perdendo o jogo e não mostrando absolutamente nada de futebol, os jogadores irritaram-se ainda mais após o segundo gol rubro-negro, assinalado de cabeça por Jorge Guilherme, aos 20 minutos, numa falha de João Leite. Momentos antes, Éber, por excesso de reclamação, foi expulso. Reduzido a oito homens, o Atlético, cada vez mais irritado, ficaria mais tarde com apenas sete, quando Luisinho também foi premiado por desrespeito ao árbitro. Os dirigentes do Atlético entraram em campo e retiraram o time, aos 25 minutos do segundo tempo.

O árbitro Nacor Arouche foi apontado pela torcida presente ao Municipal como o principal responsável pelos desagradáveis acontecimentos registrados, em virtude do time mineiro ter ficado reduzido a apenas seis jogadores, pelas expulsões de Palhinha, Jorge Valença, Éder, Luisinho e Chico Spina. Para os torcedores e até para a crônica esportiva, faltou pulso ao apitador para levar o jogo até o final sem ser necessário recorrer ao cartão vermelho. “Expulsar todo mundo é a coisa mais fácil que existe e qualquer um pode fazer, já que dentro de campo o árbitro é soberano em suas decisões; o difícil mesmo é impor respeito e com categoria conduzir o espetáculo sem arranhões”.

Nacor Arouche foi acusado até mesmo de incompetente. Para muitos, ele entrou premeditado a fim de aproveitar da fama dos jogadores do Atlético e procurar aparecer às custas deles, se transformando como é do seu costume na “vedete” do jogo. Os jogadores e dirigentes do Atlético saíram revoltados com o apitador, que desde o começo do jogo procurou irritar todo o time. Alguns mais comedidos do quadro mineiro, como o caso do volante Toninho Cerezo, comentaram o acontecido, fazendo também críticas aos próprios jogadores do Atlético, que entraram no jogo do árbitro e foram atrás dos seus erros para complicar mais as coisas. “Infelizmente o jogador brasileiro ainda não está acostumado à ideia de que dentro de campo quem manda é o apitador, mesmo que assinale erradamente, como vinha acontecendo”.

O árbitro Nacor declarou em todas as entrevistas que concedeu que saiu do Estádio Municipal com a consciência tranquila de ter cumprido fielmente com o seu papel, na aplicação da lei do jogo. Acusou jogadores do Atlético de indisciplinados, afirmando que eles não queriam jogar e tentaram lhe desmoralizar dentro de campo. Nacor disse mais que ninguém no Brasil conhece mais as 17 regras do que ele e que se considera um dos três melhores árbitros do país. “Eu nasci geograficamente errado. Se tivesse nascido no Rio ou em São Paulo, seria o rei do apito”.





 

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