quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Vivico, o famoso “Carne Assada”


Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, em 28 de Dezembro de 1998

Uma das formações do Ferroviário Esporte Clube. Em pé: Marcial, Alzimar, Isaías, Vivico, Ferreira e Carrinho; Agachados: Ernani Luz, Saneguinha, Evandro, Ivan, Carlos Alberto e Osvaldo

Um predestinado a jogar futebol. Assim pode-se definir Vicente Santos Melônio, o Vivico, que começou jogando como centroavante, foi para a lateral-direita e acabou se firmando e entrando para a história do futebol maranhense como zagueiro. No Ferroviário Esporte Clube, quando jogou ao lado de Neguinho, Ailton e Antônio Carlos, formou a famosa defesa conhecida como “esquadrão da morte”. O atacante que escapava de um, “morria” nos pés de um dos outros três. Fora dos campos e principalmente nas concentrações, era o contrário, um cidadão tranquilo e calmo. De tanto gostar de carne assada nas refeições servidas nas concentrações, acabou ganhando o apelido que carrega até hoje: “Carne Assada”.

Vivico é um desses fenômenos que aparecem no futebol de vez em quando. Nascido e criado em São José de Ribamar, cidade que fica distante a cerca de 31 km do centro de São Luís, batia peladas em campinhos de sítios e na beira da praia. Ao completar 13 anos de idade, já vestia a camisa do Moropóia Futebol Clube como centroavante habilidoso e que fazia muitos gols. Sabia se colocar na frente e levava todo mundo na vontade e na garra. Não se intimidava quando estava frente a frente com o goleiro. Tocava a bola com facilidade e sabedoria.

Dois anos depois de vestir a camisa do Moropóia e de ser campeão do Torneio Intermunicipal pela Seleção de Soa José de Ribamar, o amigo Cajuba (zagueiro do Moropóia e da Seleção Ribamarense) levou Vivico para fazer um teste nos quadros de base do Ferroviário Esporte Clube. “Foi lá que comecei a ser adaptado para jogar na defesa. O técnico do Ferrim era o professor Justino. Depois que me viu treinar, ele disse que eu me daria melhor na lateral-direita. Tiro e queda. Treinei e gostei da nova posição”, relembra.

No juvenil do Ferroviário, Vivico encontrou jogadores do quilate de Esquerdinha, Baldez, os irmãos Celso (Socó) e João Leal, Gimico, Totó, Heitor, Ozimir e Riba. “Formávamos um timaço. As pessoas iam ao campo cedo para ver nosso time na preliminar. Aliás, não era só o nossos time, tinha também o Sampaio Corrêa, Moto Club, Maranhão Atlético Clube e outros. Era só maranhense em campo. Só gente que sabia o que fazer com a bola. Dava gosto jogar”.

Dois anos depois de chegar ao juvenil do Ferrim, com 17 anos de idade, Vivico fez sue primeiro jogo no time profissional da estrada de ferro. Obteve sua primeira vitória em cima do Botafogo do Anil. Na lateral-direita ele ganhou a confiança definitiva do técnico e se firmou como titular da equipe.

No Ferroviário, Vivico ficou dez anos seguidos. Quando o técnico Jordam da Costa passou pelo clube, o deslocou da lateral para a quarta-zaga. “Descobri que era ali que eu sempre sonhei jogar. Me adaptei com extrema facilidade e passei a dar canseira aos atacantes de meio”. Em uma temporada, Vivico formou ao lado de Neguinho, Ailton e Antônio Carlos a famosa defesa denominada de “esquadrão da morte”. Rindo, ele diz que o apelido foi dada à defesa porque “quando um atacante conseguia passar por um dos quatro, os outros chegavam para matar a jogada. Em uma outra temporada, tínhamos uma defesa formada por Neguinho, Alzimar, eu e Antônio Carlos, que para passar por nós, os atacantes tinha que pedir licença. Como não podiam, não entravam na nossa área”.

Em 1971, depois de vários vices campeonatos, o Ferroviário chegou ao título estadual. O time que marcou época e quebrou um jejum de 13 anos sem título era formado com Marcial no gol; Miguel, Alzimar, Vivico e Antônio Carlos; Santana, Carlos Alberto e Esquerdinha; Edson, Mineirinho e Orlando. Ainda tinha Cândido. “Foi uma época de ouro do nosso futebol. Tínhamos grandes atletas que se nivelavam por cima tecnicamente e tínhamos também grandes dirigentes, como o Dr. Franco, Dr. Libério, Dr. Espírito Santo (Negão, ex-atleta profissional), Sr. Reis e o “professor” Justino (ex-atleta profissional).

Em 1973, Vivico foi outra vez campeão estadual pelo Ferroviário. Logo depois, foi emprestado por uma temporada para o Santa Cruz de Recife. “O Ferroviário pediu alto demais pelo meu passe e o Santa Cruz não quis pagar. Tive que voltar ao Ferroviário. O Hilton Rocha (que hoje é meu compadre de alma) pagou ao Ferrim o que eles queriam e me levou para o Moto”. No Moto, Vivico teve a felicidade de trabalhar ao lado de dirigentes que, segundo ele, “eram sérios e respeitavam os jogadores. Tinha o próprio Hilton Rocha, Alberto Abdala, Willame Nagem, Calvet de Aquino, Dr. Cassas de Lima e Pereira dos Santos”.

Em 1977, sob o comando do técnico Murilo de Carvalho e ao lado de Reginald no gol; Paulinho Pereira, Paulo Ricardo e Bassi; Toninho Abaeté, Tião e Edmilson Leite; Caio, Paulo César e Alberto, Vivico foi campeão estadual pela terceira vez.

Vivico integrou a Seleção Maranhense em várias ocasiões. Al lado de Alzimar, formou uma dupla de zagueiros que jogava por música. Além de jogar com muita garra e determinação, Vivico se destaca pela excelente impulsão que tinha. Sabia como ninguém antecipar uma jogada. Dava chutão quando era preciso e sabia sair jogando com a mesma facilidade. Tinha um censo de cobertura que era incrível. Dava tranquilidade ao lateral-esquerdo quando este queria atacar. O zagueiro-central dava o primeiro combate e ele ficava na sobra. Sabia bater e impunha respeito aos atacantes. “Quando os atacantes ficavam fora da área, era mais fácil marca-los. Agora, quando eles vinham para dentro da área, as coisas se complicavam. Era muito difícil marcar Riba (MAC) e o Paraíba (Moto/Sampaio). Eram baixinhos, mas com habilidade incomum e ficavam sempre dentro da área. Sabiam o que fazer com a bola”.

No Moto, Vivico ficou até 1980. Vivia um grande momento no futebol. Ganhou, segundo ele, uma “merreca” que deu para comprar duas casas e dois terrenos. Quando tudo parecia correr bem na vida dele, aconteceu uma tragédia que não gosta de lembrar e nem gostaria que fosse citada nesta reportagem, que o afastou dos campos de futebol de 1980 até o início de 1987. “Foi um período horrível que passei. Tive que pagar um alto preço pelo que cometi. Graças à Deus, aos amigos, à justiça e, principalmente, à família, consegui sobreviver e superar todas as adversidades e me reintegrar à sociedade. Não gosto nem de lembrar do fato que ocorreu”.

Em 1986, Vivico, depois de ser liberado pela Justiça, graças aos seus bons antecedentes e aos amigos, conseguiu se empregar no SESI – Serviço Social da Indústria. Lá, continua sendo tratado carinhosamente até hoje como “Carne Assada”. É bem quisto por todos. “Ter amigos é muito bom. Tenho muitos. Dou carinho e atenção a todos eles. O SESI é uma extensão da minha família. Aqui sou respeitado como cidadão”, desabafa.

A última vez que Vivico jogou profissionalmente foi em 1987, pelo Expressinho Futebol Clube. “Atendi um pedido do amigo Willame Beleza, que era Presidente do Expressinho. Tenho muita consideração por ele. Foi uma pessoa que me ajudou muito nos momentos difíceis da minha vida”. Depois disso, largou o futebol profissional. Ele e o amigo Breno (ex-lateral-esquerdo do Moto Club) ainda chegaram a trabalhar na comissão técnica do time amador do Americano da Cohab. Como o tempo foi ficando escasso, Vivico resolveu abandonar a ideia. Hoje ele se dedica a algumas peladas. “Continuo fiel ao amigo Willame Beleza e jogo no time da Cebrasa, empresa dele, aos sábados à tarde. Ainda dou pro gasto”.

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