sábado, 19 de abril de 2025

O eterno Dejard Ramos Martins

Dejard ao lado do amigo Mauro Bezerra, na década de 1970

 Texto extraído do jornal O Estado do Maranhão

 Muitas pessoas têm vivido intensamente o esporte maranhense ao longo dos anos, como atleta, técnico, dirigente ou simplesmente como desportista. Mas um homem ousou ir mais além da vivência. Dejard Ramos Martins, como um apaixonado pela terra, resolveu resgatar a história do Maranhão esportivo, escrevendo no livro "Esporte, mergulho no tempo fatos que nos transportam para o começo de tudo. Uma época em e São Luís dava os primeiros que passos nas iniciações esportivas, como forma de lazer e como um modo de melhorar o condicionamento físico dos jovens do fim do século XIX. Por isso se torna muito difícil para nós escrever sobre alguém tão especial, um grande historiador. Como ele mesmo ainda não iniciou sua autobiografia, cabe-nos então a responsabilidade de passar para os jovens de agora e às pessoas que já o conhecem, um pouco de sua bela vida.

Dejard, nascido em 14/07/23, é amazonense por casualidade, já que seus pais, Joaquim de Souza Martins e Analide Ramos Martins, do Maranhão, estavam no norte cumprindo formalidades do destino. Joaquim, como escriturário, foi deslocado para trabalhar por anos seguidos em Manaus. Assim muitos dos filhos do casal terminaram nascendo e crescendo por lá.

Por causa do gosto que o pai tinha pelo esporte, Dejard foi se acostumando desde pequeno a frequentar estádios. Assistia aos Jogos do Nacional e até acompanhou a divergência que fez surgir ala dissidente criadora do Nacional Fast, que mais tarde se transformaria no Fast.

Em 1935 a família Ramos Martins se transferia para Tutóia. O garoto Dejard, com 12 cos comprovava o quanto "seu" Joaquim gostava de esportes. Tanto que criou o time Nacional como uma forma de movimentar o tempo livre do povo do ar. Mas o moleque se viu afastado de tudo isso quando teve que vir para São Luis continuar estudos no colégio Ateneu.

Aqui ele brincava de bola com os colegas de escolas, Via com entusiasmo os Jogos Estudantis organizados com sucesso pelo professor Luis Rego. Com cerca de 15 anos Dejard, ponta direita do quadro Principal da equipe de futebol, também participava da competição.

Como torcedor adolescente, que ia para o campo do Luso com o marinheiro Cafifim, começou a torcer pelo Sampaio, contrariando o pai maqueano. A paixão pelo tricolor passou a ser avassaladora. Se nas suas idas aos campos de futebol amador encontrava algum atleta de destaque, tratava de persuadi-lo a assinar uma espécie de ficha de filiação ao Sampaio, mesmo sem ter nenhum compromisso formal com o clube.

Somente na década de 40, quando estava no importante cargo de Secretário Administração Geral de da Prefeitura, Dejard atendeu a um convite formulado pelo prefeito "boliviano" Antônio Euzébio Costa Rodrigues e foi ser diretor de futebol do clube. Iniciava assim uma trajetória, que até hoje não teve fim. Conhecedor profundo da história de muitos jogadores profissionais do país, sempre fora chamado para dar conselhos sobre uma ou outra contratação.

Se era para o bem do Maranhão prestava assistência aos outros clubes. Foi o responsável pela vinda do centro-médio cearense Filgueiras para o Moto, dentre outros nomes. Também indicou o craque Canhoteiro para o futebol cearense, onde se revelou no profissional.

Esses conhecimentos a cerca do mundo esportivo fizeram com que José Ribamar Nunes e Vilela de Abreu o convidassem em 1944 para ser comentarista da equipe de esportes da rádio Timbira, que era gerenciada por Sekeff Filho. Um novo caminho passava a ser transitado por Dejard Martins, que convivia com muitos iniciantes na profissão, dentre eles o "foca" Barbosa Filho, uma espécie de repórter que colhia informações sobre os treinamentos dos clubes. Para quem não sabe o maranhense.

Barbosa Filho é hoje um dos maiores nomes da crônica esportiva do Brasil. Inteligente, Dejard trabalhava na busca de um futuro melhor par o rádio maranhense. No dia 14 de dezembro de 1947 fundou ao lado de Sekeff Filho, Benito Neiva, Ferreira Baty, José Ribamar Bogéa, Mário Frias e Luís Lílio do Rego, a Associação dos Cronistas Esportivos do Maranhão, semente que gerou a atual Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Maranhão.

Sua perspicácia o levou a atuar nas rádios Difusora, Ribamar e Educadora. Em 63, já como diretor da Timbira, ousou investir em contratações de profissionais de outros estados, dando um maior dinamismo ao setor. Trouxe de Teresina Piauí Herberth Fontenele e Mauro Bezerra, que mais tarde fixaram residência em São Luís.

Seriedade, responsabilidade, imparcialidade e competência eram qualidades que Dejard primava na equipe da rádio Timbira, que a cada dia crescia em audiência. Os programas tinham redatores, que preparavam os textos para os locutores não cometerem erros nas improvisações. No quadro de funcionários figuravam Benito Neiva, Fernando Belfort, Araújo Neto, Rayol Filho, Jorge Gonçalves, Diel Carvalho, Sérgio Brito, Luís Chung, Mário Leonardo, Herbeth Teixeira, Almir Silva, Murilo Costa Ferreira, Zé Santos, Fernando Leite, dentre outros. O grande "cast" foi integrado mais tarde pelo narrador Canarinho, irmão de Dejard, que se tornaria um dos maiores profissionais maranhenses. Rui Dourado foi outro grande nome surgido nesse período. O rádio levou Dejard para o jornal, também pela década de 40. Seus comentários eram reproduzidos no Jornal do Povo, de Neiva Moreira, que ele considera um mestre. Fez parte ainda da equipe do Diário da Manhã, do Dr. Joel Barbosa Ribeiro e mais tarde prestou serviços em O Imparcial.

Como representante do jornal A Gazeta Esportiva, de São Paulo, promoveu de 1952 a 1960 em São Luís a seletiva para a famosa corrida de São Silvestre, que tinha um percurso de 7.200 metros. Antes desse período esse trabalho era de responsabilidade do também jornalista Nonnato Masson. O atleta vencedor da seletiva de São Silvestre disputada no início de dezembro era levado para São Paulo pelo Dejard para competir no dia 31.

Um fato marcante desse período foi quando surgiu a oportunidade de um índio daqui competir na seletiva. Os organizadores viam com bons olhos essa participação. Os promotores paulistas garantiram que se o índio chegasse até o 10º lugar mandariam a passagem para que participasse da prova. Só que não era um índio e sim dois. O melhor deles chegou a liderar a corrida. Mas quando percebeu o companheiro lá atrás resolveu sentar e esperar. Conclusão: os dois foram os últimos colocados, frustrando todas as expectativas.

De história em história, trabalhos e mais trabalhos, Dejard Ramos Martins seguia sua trajetória no esporte, exercendo paralelamente funções públicas de destaque. Uma dessas funções, que ele não costuma colocar no seu vasto currículo, se deu em 1965. Como Fiscal de Renda do Município foi nomeado prefeito de São Luís pelo governador Newton Belo, em substituição ao Dr. Costa Rodrigues, que se desincompatibilizava para concorrer às eleições para governador. Ficou na prefeitura por três meses e 14 dias. Entregou o cargo a Epitácio Cafeteira.

A maior contribuição de Dejard, que o coloca no quadro dos imortais, se deu em 1989, quando ele entregou à comunidade um documento, que reuniu um pouco dos conhecimentos adquiridos em conversas com o pai que chegou a ser presidente do MAC- e as pesquisas grandiosas, efetuadas principalmente nos arquivos da biblioteca pública Benedito Leite: o livro "Esporte, um mergulho no tempo". Deixou um grande legado às gerações atuais e futuras. O bom é que ele mantém a memória vem viva para continuar contando muita história boa do Maranhão. Com certeza outros livros virão por aí.

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