terça-feira, 8 de abril de 2025

Argemiro Guará e seu chute

Time do Maranhão, do técnico Fatiguê, em 1954. Em pé: Alfredinho (auxiliar), Schalcher, Pui, Serra, Jaime Moacir, Argemiro Guará e Carne Assada. Agachados: Cabeça, Nunes, Peru, Derval, Zé Ferreira e Moacir
 
Texto extraído do jornal O Estado do Maranhão

Argemiro Braga Guará foi um atleta igual a muitos que 'pegaram' aquela 'febre de paixão pelo futebol quando ainda eram pequenos. Uma geração que dava os primeiros passos no final da década de 40, fascinada por um esporte, que não era visto com bons olhos. Superando qualquer preconceito que pudesse haver ele mostrou acima de tudo que tinha talento. Tanto que jogou no profissional do Maranhão Atlético Clube como amador e até hoje faz parte da memória de muitos que o viram atuar.

Seu nome de 'jogueiro' ficou Argemiro. Posição: ponta esquerda. No Largo da Cadeia, onde hoje fica o hospital Dutra, reforçava o Paissandu, do 'seu Joaquim. Como outro garoto também brigava pela mesma posição, 'seu' Joaquim era obrigado a deixar Argemiro de titular na posição, por causa de sua canhota potente, deslocando o concorrente para a meia-esquerda. Esse concorrente nada mais era que Canhoteiro, que em pouco tempo viria a se tornar um dos maiores, senão o maior jogador do país, ex- São Paulo e Seleção Brasileira. "Nunca vi em minha vida ninguém jogar como Canhoteiro, nem Pelé", declara Argemiro, complementando que foi um privilégio ter convivido com o craque no início de sua vida atlética.

Além do Paissandu Argemiro integrou vários times dos colégios por onde passava, dentre eles o São Luís, o Ateneu ea Academia do Comércio. Mas despontar mesmo, ele começou no Santos, do Tabocal, dirigido por Jafé Mendes Nunes. "O time era o melhor do amador. Jogávamos com a equipagem oficial do Santos paulista". Uma lembrança do quanto Jafé era caprichoso quando se dispunha comandar um time.

O Campeonato amador era disputado no Santa Isabel. Argemiro já chamava atenção pela facilidade que tinha em se deslocar, pelos dribles desconcertantes que dava e principalmente pela visão de campo que possuía; uma vantagem desfrutada pelos companheiros de equipe, que sempre recebiam passes perfeitos para marcar gols apesar do gramado com 'grama de burro', como chamavam as toupeiras do estádio, que além de atrapalhar causavam contusões.

O filho de Valério Monteiro, presidente do Maranhão Atlético Clube, também chama do Valério, convidou o garoto para completar o time aspirante maqueano nos idos de 1951. Com 15 anos ele agradou em cheio a diretoria. Uma comitiva saiu para pedir que o seu pai, o velho Guará, ex-jogador de futebol, assinasse a ficha de filiação do filho como não amador para  integrar o quadro de futebol. Partida inesquecível. No MAC Argemiro brilhou, mesmo sem conquistar títulos. Exímio chutador com igual habilidade nos dois pés, era o tormento dos goleiros. Também um hábil armador, sabia colocar a bola nos pés do companheiro em melhores condições de ataque, mostrando acima de tudo que possuía espírito de equipe.

Sua maior 'prova de fogo', que até hoje é lembrada por muitos torcedores maranhenses, foi no amistoso do MAC contra o Flamengo no estádio Santa Isabel, por volta de dezembro de 1953. Nos vestiários ele soube que seria marcado pelo lateral direito Marinho, que também vestia a camisa da Seleção Brasileira. "Me preocupei com a informação. Marinho era o número 1 do Brasil. Foi difícil a marcação, mas consegui me sair bem", comenta modesto. Na verdade, com 18 anos de idade ele deu um verdadeiro 'passeio' em Marinho. Apesar de jogar muito bem o MAC perdeu por 3 x 0.

Quando acabou o jogo a diretoria flamenguista convidou Argemiro para integrar a equipe, que ainda iria fazer várias partidas pelo nordeste. Mas ele preferiu não se arriscar e ficou por aqui mesmo. Esse receio de se aventurar na pro-fissão pouco reconhecida de jogador de futebol fez com que recusasse outros convites feitos pelo Remo, de Belém do Pará e Sport, de Recife - Pernambuco. Até convocação para a Seleção Maranhense de 1954 Argemiro abdicou. "Não tinha interesse
na Seleção", justifica.

O serviço militar tirou-o do MAC em 55. No exército defendeu o General Sampaio. Ainda fez parte do Bahia, equipe da 2ª Divisão, levado pelo Major Pereira. No ano seguinte, já casado, largou os campos pois seu pensamento era o futuro da nova família que acabava de formar.

Futsal, nova opção - Como meio de se manter na ativa Argemiro passou a jogar futebol de salão no Santelmo, ao lado de Ribasco, Cleon Furtado, Biné, Mozart, Ranilson, dentre outros. Os torcedores passaram a ver de perto a potência dos chutes dele, que contribuíram para a conquista de um tricampeonato no final da década.

Um emprego público federal fez com que viesse sua transferência para a cidade de Barcelona Minas Gerais. A fama de grande ponta-esquerda o levou a atuar no Olímpico e no América por pouco tempo. De volta a São Luís em 64 se dedicou inteiramente aos estudos para o concurso do Banco da Amazônia - BASA. Quando passou foi designado para trabalhar em Belém PA. Ainda jogou futebol de salão no Remo, ao lado de craques como Jaiminho Saldanha, lmoro, Graco e Guilherme.

Pelo campeonato de bancários não deixava de dar sua contribuição. E foi lá que ele se aposentou' de vez da bola, que tratava com muita intimidade.

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