quarta-feira, 16 de abril de 2025

João Bala

Futsal do Sampaio Corrêa em 1963. Em pé: Jafé Mendes Nunes, Milton, Washington, Fifi, João Bala, Catel, Antônio José e Nego Luz. Agachados: Maioba, Josenil, Tupinanbá, Jovenilo e Djalma Campos

Texto extraído do jornal O Estado do Maranhão.

A natureza tem sido pródiga em dar talentos para o futebol. No Maranhão, em épocas áureas, pode-se desfrutar de craques que surgiam como dádivas. João Batista Medeiros Costa foi uma dessas obras divinas. Um garoto franzino, com pouco mais de um metro e meio de altura e cerca de 50 quilos, que se tornou um 'gigante' defendendo no futebol de salão e no futebol profissional clubes como Sampaio, Moto e Maranhão Atlético Clube, meados da década de 60, inicio da de 70.
 
Mas o nome dele completo não trás nenhuma repercussão, ao contrário do apelido João Bala. Ai os comentários mudam. De interrogação surgem suspiros daqueles que o viram em campo como um meio campista ou ponta direita de uma habilidade inigualável. Um autodidata, que se apaixonou pelo futebol desde os tempos em que morava em Morros, sua terra natal e que marcou época jogando em São Luis, João Bala nasceu em 24 de junho de 1946. Abençoado por São João ele brincava de bola no Liberal Esporte Clube de sua cidade, sem nunca imaginar o que a vida viria a lhe reservar. Quando se mudou para São Luís, encontrou no bairro Desterro uma espécie de "escola de pela das que tinha como principais alunos Djalma Campos, Santana e Jovelino e posteriormente Fifi.

Das peladas do Desterro herdou o apelido, até mesmo por que na velocidade não dava para ganhar de João Bala. Quando ele disparava era como um tiro de difícil alcance. Seu nome começou a sair do bairro, quando passou a despontar no Aguia Negra, time do falecido técnico José Aroso, formado em sua maioria por alunos do colégio Marista, que disputava a 2ª Divisão do Campeonato Maranhense de Futebol e o Estadual de Futebol de Salão. Além da rapidez com que se deslocava no campo ou na quadra, a habilidade em dominar a bola e encontrar espaços para fazer lançamentos e cruzamentos se tornou a marca do jogador. No futebol de salão jogou no Sampaio Corrêa e foi várias vezes seleção maranhense.

Os olhos dos dirigentes, que viviam à cata de talentos nas competições amadoras, não tardaram a enxergar João Bala. Por volta de 1964 o dirigente Antônio Bento Faria (já falecido) pedia para ele assinar sua ficha de filiação ao Sampaio Corrêa, clube que passou a integrar nas categorias amador e profissional até 1967. Pelo Aspirante, que sempre fazia partidas preliminares conquistou títulos.

Por já ser um craque e um dos melhores nas posições que atuava, João Bala recebeu o convite de Raul Guterres em 66 para reforçar o Maranhão Atlético Clube no amistoso contra o Bangu, do Rio de Janeiro, na época integrado por gente famosa: Ubirajara, Fidelis, Mário Tito, Bianque, Alfinete, Roberto Pinto, Paulo Borges, Parado, Aladim, Lula, dentre outros.

O jogo e a derrota não tiveram tanta repercussão quanto a briga ocasionada por Antônio Bento. Inconformado por João Bala jogar sem permissão, Antônio Bento resolveu tirá-lo do Sampaio. A exclusão só não se consumou por causa da interferência de Humberto Castro, também dirigente tricolor. "Se João Bala sair eu também saio", ameaçou Humberto, o que fez Antônio Bento voltar atrás em sua decisão. Depois do incidente o Sampaio enfrentaria o Moto pelo Estadual. A vitória por 4 x 1 e os dois gols marcados por João Bala serviram como um "cala boca" dos que torciam para ele se dar mal.

No começo de 68 João Bala saia do Sampaio para finalmente ser campeão no futebol profissional defendendo seu clube de coração, o Moto. Depois do brilhante campeonato ele passou a ser ídolo da torcida rubro-negra por cinco anos seguidos. As jogadas em que partia para o ataque em velocidade, deixando caídos os adversários da defesa, sempre causavam empolgação e delírios. E a forma como protegia a bola impressionava, principalmente porque ele tinha o corpo franzi no (1m60 de altura e pouco mais de 55 quilos) e mesmo assim não temia nenhum grandalhão que se aventurasse no caminho de suas terríveis arrancadas pela direita.

No auge de sua carreira João Bala recebeu um convite para jogar no Náutico pernambucano em substituição ao ponta direita Nado, vendido ao Vasco. Mas não foi. "Ainda me mandaram a passagem. Mas como eu via de perto o sofrimento dos jogadores de fora, que eram tratados com descaso pelos dirigentes dos nossos clubes de futebol, fiquei com medo de lá em Recife acontecer a mesma coisa comigo", conta.

Nessa época João Bala já não pensava só em futebol, mas principalmente em seu futuro. Tentando se firmar como funcionário do Banco Nacional deixava pouco tempo para a bola. Em 72, quando saiu do Moto ainda jogou por quatro meses no MAC e uma partida pelo São José contra o próprio MAC.

Em 73, com 27 anos de idade, João partia para o Distrito Federal. Em Brasília continuava sua profissão de bancário, agora do Banco Comercial do Paraná No Maranhão ele encerrava a história de sua vida como atleta de futebol de salão e de futebol de campo e deixava saudades naqueles que o viram brilhar.

 .............

Vem ai o livro ALMANAQUE DO FUTEBOL MARANHENSE ANTIGO: PEQUENAS HISTÓRIAS VOLUME 2, publicação do professor Hugo José Saraiva Ribeiro, um apanhado de 94 novas passagens curiosas que aconteceram dentro e fora dos nossos gramados. O livro será lançado no segundo semestre pela Livro Rápido Editora e tem patrocínio da Max Vetor, Tempero Caseiro e Sol a Sol (Energia Renovável).

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário