quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Joca, um camisa 10 competente

Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.

Joca nasceu com o dom de jogar bola. Começou a aparecer no cenário do futebol maranhense aos 16 anos de idade, através do Esporte Clube Madre Deus. Depois de uma excelente passagem pela equipe da empresa Pacotilha (Jornal O Imparcial), foi convidado a trabalhar e jogar na Saeltip (hoje CEMAR). Era um camisa 10 bastante respeitado pela competência. Trocou o amadorismo pelo profissionalismo quando aceitou o convite para jogar no Maranhão Atlético Clube. Mais foi no Graça Aranha que chegou a ser campeão. A opção por um emprego o tirou da bola muito cedo.

Joca é o segundo filho de uma família de 12 irmãos. Assim como ele, outros três se envolveram com o futebol: Basílio, que jogou no Moto, Manoel Martins, que despontou no Tupan e hoje é “Matemático”, profundo conhecedor do futebol maranhense, e João Batista, que vestiu a camisa da Saeltip. Uma das coisas que dá satisfação à família Martins dos Santos é o fato de todos, incluindo o pai Basílio e a mãe Silvina, serem ludovicense e terem sido educados e criados no Bairro da Madre Deus, que fica próximo ao Centro da capital maranhense e que se destaca por ser celeiro de craques de futebol e de grandes personalidades da cultura e política estadual.

Joca e os irmãos se juntavam a Cambota, Vicente e outros companheiros da época para bater peladas no campo da Salina, onde hoje está instalado o Prédio do Tribunal Regional Eleitoral, no Anel Viário. Por volta de 1953/54, Joca foi convidado a defender as cores do Esporte Clube Madre Deus. Por lá encontrou Baezinho e Macaco - filhos do bairro que depois de destacaram nas grandes equipes do maranhão e da região – e foi disputar o campeonato da localidade contra o Fluminense, Brotinho, Maranhãozinho, Ponte preta e outros.

Família grande, problemas maiores ainda. O pai pescador e às vezes sentia dificuldades em dar tudo do bom e melhor para a mulher e os 12 filhos. O jeito era envolver os filhos para ajudar no orçamento familiar. Joca conseguia alguns trocados jogando futebol. Era difícil entender como uma pessoa calma, tranquila, beirando à preguiça pudesse se transformar dentro de campo em um meia armador (meia-esquerda), de alta qualidade técnica, precisão nos passes e nos chutes à gol e que, em uma falsa lentidão, estava sempre no lugar certo do paradeiro da bola nos momentos dos jogos.

Com 18 anos de idade (1955), além de jogar na Madre Deus, Joga defendia a forte equipe da empresa Pacotilha. “Era um time bom. Por causa dos derrames que sofri, não consigo lembrar os nomes dos meus companheiros. Aliás, lembro-me de pouca coisa dessa época tão importante da minha vida, Aproveito para pedir desculpas ao omitir nomes que eu gostaria imensamente de citar aqui. Pessoas que foram fundamentais na minha evolução como atleta e como pessoa humana. Que Deus os proteja e que eles me perdoem”, disse.

No Esporte Clube Madre Deus, Joca jogava descalço. Na empresa Pacotilha, calou chuteiras pela primeira vez. A adaptação foi tão grande que ele passou a ser convidado a jogar por outras equipes amadoras de São Luis. “Meu primo Zé Martins, que era associado da Saeltip, me levou para um treino da seleção da associação. Chegando lá, me colocaram no time reserva. Não é piada não: nós ganhamos os titulares por 10x0. Eu fiz os 10 gols. O goleiro titular, Borboleta, se encabulou com meu chute. O pessoal da Saeltip me convidou pata jogar por eles em um amistoso que o grupo ia fazer contra o Sacavém. Com 20 minutos de jogo, nós estávamos ganhando de 4x0, todos os gols meus. A partida acabou em 4x3 para nós e eu ganhei um emprego na companhia”, lembra Joca. Era tudo o que Joca e a família queriam: um emprego que fosse certo, seguro e que o deixasse tranquilo para continuar jogando sua bola.

Nos campeonatos amadores a Saeltip era representada por dois times: o Ouro Branco e o Saeltip, onde Joca jogava. As boas atuações renderam a ele algumas convocações para integrar a seleção amadora de futebol de São Luis. “Com a seleção fui jogar em várias cidades do interior do Estado”, informa.

Ataque do Maranhão nos anos 1959/60: Moacir Graça, Laxinha, Jaie, Joca e Edson Moraes Rêgo

Em 1957, Joca aceitou o convite de Carlos Verry, técnico do Sampaio Corrêa, e foi excursionar no interior do Piauí. Assim que o grupo retornou a São Luis, Carlos Verry queria contratá-lo. “A oferta foi pouca e eu preferi não levar essa história adiante”. Um ano depois, Napá (um dos grandes dirigentes atleticanos do passado) precisava arrumar alguém para substituir Serra Pano de Barco, que tinha acertado sua transferência para o Sampaio. Quando Napá viu Joca no Saeltip, não teve dúvida de que ele seria o substituto de Serra. Chegando no MAC, Joca encontrou Derval, Cabeça, Maçarico, Nunes, Marianinho, Jaime, Nélio, Moarcir Graça, Edson Rêgo e outros. Se tornou líder dentro e fora de campo. A carreira no MAC durou até o final de 1960, ano que inclusive foi convocado para a Seleção Maranhense de profissionais. Tudo estava indo muito bem, até que um pequeno desentendimento o fez sair do MAC. “Me chateei porque estávamos acertados que eu ganharia 2,5 mil cruzeiros por mês e, depois de alguns meses de atraso, queriam me dar apensas 2 mil cruzeiros por mês. Senti que era hora de trocar de time”, frisa Joca. E foi o que aconteceu. Em 1961 Joca foi para o Graça Aranha Esporte Clube (GAEC). Uma formação marcante do GAEC não lhe sai da cabeça: Juraci, Barnardino, Pelado, Cabeça e Nunes ou Wilson Santos; Serra Pano de Barco e Nonato Cassas; Jaime, Waldecy, ele e Pinagé. “Com esse grupo conquistamos o título mais importante do clube: Campeão da Taça Jubileu de Ouro – 350 anos de fundação da cidade de São Luis, em 1962. A final foi contra o Sampaio Corrêa. Ganhamos por 1x0, com um gol meu. Emoção inesquecível”, recorda.

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