Texto extraído do jornal O Estado do Maranhão:
Alzimar Castro Alves, 42 anos, maranhense, bastante jovem para estar fora do futebol, há mais de dez anos. Depois de ter iniciado sua brilhante e vitoriosa carreira no clube de eu coração, o Moto Clube, foi obriga- do pelas circunstâncias e vários problemas pessoais a curtir na Justiça Desportiva, ganhar passe livre e partir para a consagração como um dos maiores zagueiros já surgidos no futebol maranhense, no extinto Ferroviário.
Hoje, funcionário da RFFSA-Rede Ferroviária Federal S/A., onde é maquinista, lotado no Tirirical, Alzimar sente se um pouco decepcionado com o atual estágio do futebol maranhense, principalmente no que diz respeito à organização por parte dos clubes.
Titular de quase todas as seleções maranhenses que foram formadas na década de 60, Alzimar Castro Alves mata as insustentáveis saudades do futebol jogando suas peladinhas na Praia do Olho d'Agua. Porém, uma das grandes alegrias de Alzimar está na esperança que tem de ver seu nome de excelente zagueiro mantido pelo filho Roberto, 18 anos, quase 1.80m de muita saúde e disposição, e com um futebol que, segundo o próprio Alzimar. vai dar muito o que falar.
Adepto da refinada técnica do futebol, ao mesmo tempo em que foi uma barreira quase que intransponível, Alzimar era também um zagueiro muito clássico e, às vezes, muito viril. Mas sabia perfeitamente a hora de ser umą coisa ou outra. Fã incondicional de Andrade, jogador da Seleção Brasileira e atualmente no Roma da Itália, Alzimar aproveitou para elogiar o inesquecível Ananias, o zagueiro Alvim da Guia, o meio-campista Laxinba e o atacante Hamilton, considerado um dos maiores jogadores de todas as épocas no Maranhão, senão o major. Alzimar, mesmo reconhecendo a inquestionável categoria de Hamilton, diz que foi um enorme prazer jogar ao lado do excepcional atacante, mas lembra, também, que quando foi forçado pelas circunstâncias a jogar contra tanto perdeu como ganhou.
Batemos esse papo e transcrevemos para você:
O ESTADO: Repetindo pergunta que tem sido chave para todos, quando e em qual clube você iniciou sua carreira?
Alzimar: Eu comecei no juvenil do Moto Clube, em 1962. Nós morávamos ali no Canto da Fabril e eu tive muita influência pelo fato de o campo do Santa Isabel ficar praticamente na porta da minha casa. Não daria para ser outra coisa antes de ser jogador. Por isso eu preferi ir para o Moto Clube, pois havia uma grande simpatia e afinidade com quase todos os jogadores daquela época Dai eu resolvi, também, ingressar no Moto que, naquela época era uma verdadeira potência. Um verdadeiro "Papão" de títulos.
O ESTADO: Você começou de zagueiro mesmo ou em outra posição?
Alzimar: Eu comecei e ter minei de zagueiro central. Foi ali que tive as minhas maiores alegrias como jogador de futebol. O time juvenil era muito bom e um excelente conjunto. Depois subi para os profissionais, onde joguei vários anos.
O ESTADO: Você chegou a jogar no campo do Fabril (Santa Isabel) ou já é da época do Nhozinho Santos?
Alzimar: Eu já sou da época do municipal, mas não posso esquecer aquele estadinho maravilhoso, onde eu ensaio os meus primeiros chutes. Só de lembrar, me da uma vontade louca de voltar a jogar futebol.
O ESTADO: Você lembra o dia da sua estrila como profissional, contra quem e o time quer jogos?
Alzimar: Eu joguei no time profissional contra o Maranhão. Eu ainda era amador, mas naquele dia tinha que jogar. Foi no campeonato de 1965. O treinador do Moto era o Alfredo Pereira e nos vencemos por 3 x 2. O Moto estava atravessando mais uma de suas várias crises administrativas. Se a memória não me falha, o time foi: Vila Nova, Baezinho, Alvim da Guia e Edmilson, Ronaldo, Ananias e Laxinha, Zezico, Hamilton e Jocimar.
O ESTADO: Então você chegou a jogar com o Ananias? Então o Ananias foi uma legenda que atravessou várias gerações no futebol nordestina. Como foi para você, jovem, recém saído do juvenil, jogar ao lado de um jogador famoso e experiente?
Alzimar: Ananias foi, sem duvida alguma, um dos maiores jogadores do Nordeste, dono de uma refinada técnica e de uma experiência inigualável. Sabia onde a bola deveria estar, como ela deveria chegar nos pés do companheiro que recebia o passe. Era um maestro, comandava real mente o time. Hoje a gente não se ver mais esse tipo de jogador. Jogar do lado dele foi muito gratificante para mim, pois aprendi bastante com ele.
O ESTADO: Quer dizer que você jogos em todos os selecionados maranhenses? Então você jogava muita bola mesma...
Alzimar: Eu jogava sim. Jogava muita bola, tem modéstia alguma. Sempre fui desta que do time.
O ESTADO: E o companheiro de zaga, na seleção maranhense, era sempre o Omena?
Alzimar: Não. Eu joguei sempre com o Alvim da Guia e depois com o Geraldo. Quando eu iniciei Omena já havia parado
O ESTADO: E Decadela, você chegou a jogar as lado dele?
Alzimar: Não. Quando eu comecei a jogar na equipe profissional, o Decadela já estava parando. Mas me lembro sim que jogamos juntos pelo menos duas partidas. No aspirante, aliás.
O ESTADO: E depois do Moto, você teve uma bela passagem pelo selecionado maranhense, não foi?
Alzimar: No selecionado maranhense, pelo menos enquanto eu joguei futebol, todos os se lecionados maranhenses que foram formados eu joguei, e como titular.
O ESTADO: Segundo um dos nossos entrevistados, Gojoba, essa seleção chegou a ser chamada de "Espantalho de Nordeste"?
Alzimar: Não. Essa seleção que o Gojoba se referiu, eu ainda vi joga jogar, mas eu estava nas arquibancadas, torcendo. Houve até uma derrota inexplicável, no Ceará, parece que por problema de arbitragem...
O ESTADO: E Hamilton? Você jogou contra ou do lado de Hamilton?
Alzimar: Bem, eu tive o prazer de jogar ao lado de Hamilton e depois, infelizmente, joguei contra. Mas joguei muito mais a favor, o que para nós era uma garantia. Hamilton em campo era garantia de espetáculo, de futebol Inteligente e bonito e o que é mais importante, sem violência.
O ESTADO: Você então jogou contra e a favor. Como era jogar contra?
Alzimar: Olha, não era fácil jogar contra, sinceramente. O homem jogava demais, mas entre nós predominava a cordialidade. Até porque, no futebol, Hamilton não tinha inimigos, mas sim adversários. Era muito difícil marcar o Hamilton, porque, inteligente como cia era (e ainda é). procurava sempre se desmarcar e receber a bola sozinho. Se ele do minasse a bola sozinho, faria um verdadeiro salseiro na defesa adversária.
O ESTADO: E do Moto você foi para e Ferroviário. Qual foi o real motivo da sua ida para o Ferroviário?
Alzimar: Bem, houve um problema muito serio. Naquela tempo o futebol maranhense atravessava uma grave crise co Moto foi um dos principais atingidos. Quase todos os jogadores do Moto foram atingidos, mas eu, especialmente, fui um dos mais atingidos. Não houve outro jeito a não ser recorrer à Justiça.
O ESTADO: E no seu tempo quem era grande jogador?
Alzimar: Olha parece até pretensão, mas eram tantos o grandes jogadores que fica difícil citar apenas um. Mas eu posso citar nomes que todos concordarão: Carlos Alberto, Santana, Djalma, João Bala, Hamilton, todos jogadores de alta técnica,
como não se vê hoje.
O ESTADO: Quem era mais difícil de marcar, Fernando, Croinha, Marcos do Boi?
Alzimar: Eram todos grandes jogadores, mas o único jogador difícil de marcar, aqui no Maranhão, foi o Hamilton.
O ESTADO: Cite os grandes jogadores do futebol brasileiro hoje?
Alzimar: Cito alguns excelentes: Andrade, Romário, Renato, Bebeto, Geovani, São tantos O que falta no futebol do Brasil não é jogador, é organização.
O ESTADO: Alguma saudade do grito da torcida? Aquela torcida que fica ali fungando no teu cangote?
Alzimar: Olha, durante algum tempo o futebol para mim foi praticamente tudo, por isso a saudade é muito grande e, se eu pudesse recomeçar, certamente faria tudo o que fiz, novamente, porque tenho certeza que sempre procurei dar o melhor de mim. Tenho muita saudade porque eu jogava profissionalmente, mas também jogava por amor, não somente ao clube, mas também ao futebol.
O ESTADO: Você gostaria de ter jogado no Sampaio?
Alzimar: Antes de jogar no Moto eu torcia pelo Moto mas tinha torcido pelo Sampaio. Ainda chegues a jogar algumas parti das pelo Sampaio, me parece que no juvenil, ao lado de craques como Gojoba Profissionalmente, sinceramente como eu gostaria de ter jogado no Sampaio.
O ESTADO: Na sua opinião, qual é o grande jogador de hoje?
Alzimar: Entre todos os que estão jogando atualmente, eu destacaria o Raimundinho. É um grande jogador e que eu conheço desde garoto. Muito técnico, muito habilidoso e que sabe tocar a bola.
O ESTADO: Dizem que o jogador com passe livre, normal, mente, não é grande jogador. Quer dizer, o clube não se interessa muito por ele. Você concorda com isso?
Alzimar: Bom, isso depende muito do ponto de vista de cada um. Porque existem muitos que ganham passe livre e jogam muito e alguns que têm passe preso e não jogam nada. Vejamos por exemplo, o Andrade. Quem é que diz que o Andrade não joga nada? Quem tem dúvidas da qualidade do futebol dele? E recente mente recebeu passe livre e assinou um contrato milionário com o Roma. Agora, na minha forma de entender, o jogador com passe livre e bom de futebol tem mais liberdade para escolher as melhores propostas e os melhores clubes.
O ESTADO: O primeiro jogador brasileiro a conseguir o passe livre, principalmente depois da nova legislação, parece ter si do a Afonsinho, ex-jogador do Botafogo e que depois teve muitos problemas para fazer novos contratos
Alzimar: O meu caso for diferente. O Moto estava me de vendo muito e eu não tinha mais condições de esperar, porque tinha uma família para sustentar. O jogador maranhense está sempre dependendo de dinheiro. Ele e pobre e tem uma família para manter. Eu pensei exclusivamente da família, dei entrada na Justiça e ganhei passe livre. Foi então que fui à luta à procura de novos rumos Felizmente fiz um bom contrato com o Ferroviário.
O ESTADO: Mesmo as sim, você chegou a fazer quantos contratos com o Moto Clube? Você jogou quantos anos no Moto?
Alzimar: Como juvenil, eu inicies no Moto, Como profissional eu cheguei a jogar cinco anos. Inclusive fui tricampeão (66, 67 e 68) pelo Moto.
O ESTADO: E depois você ingressou no Ferroviário. O seu desempenho no Ferroviário foi melhor que no Moto?
Alzimar: Na época houve are muita polêmica. Quando eu ainda não havia assinado contrato com o Ferroviário, muitas pessoas diziam que o Ferroviário era um cemitério de jogador e que não deveria ir para lá. Mas eu acreditava em mim e me dei mui to bem. Acho até mesmo que o meu desempenho no Ferroviário, se não foi muito melhor que no Moto, pelo menos eu posso dizer que foi igual. Inferior nunca. melhor em campo.
O ESTADO: E hoje, qual a sua ligação com o futebol do Maranhão? Você tem algum filho que jogue futebol? É bom de bola? Como você acha que deve orientá-lo para o futebol?
Alzimar: Tenho o Roberto, que tem 18 anos. Segundo comentários de alguns amigos, que joga muita bola. Várias pessoas já vieram aqui na minha casa pedir autorização para ele jogar. Eu aconselho que ele primeiro precisa estudar. Depois que tiver concluído pelo menos o Segundo Grau, então ele poderá ir treinar no clube que quiser. Só o aconselho para que seja um jogador disciplinado, que procure nunca machucar os outros, que tenha cabeça muito fria na hora de fazer os contratos, pois o bom contrato é aquele que você recebe o que acha que merece, mas jogando onde se sente bem. Não é sufi ciente só o "ganhar dinheiro" jogar com sacrifício e onde não se sinta bem. Ele é bom de bola sim. Vai ser, sem dúvida, um grande jogador. Agora, para treinar nas atuais circunstâncias do futebol maranhense, não vai ser possível nunca. É um futebol totalmente sem estrutura e com o abandono geral das categorias juniores, ele certamente seria muito prejudicado. Mas no final do ano, quando terminar o Segundo Grau, ele poderá escolher o time que quiser treinar.
O ESTADO: Seria uma repetição do Alzimar?
Alzimar: Pelo que dizem, tenho certeza que será muito melhor
O ESTADO: Você praticamente vestiu três camisas. A do Moto, a do Ferroviário e a da seleção maranhense. E hoje, qual é a sua camisa?
Alzimar: Apesar do que aconteceu comigo no Moto, cu continuo sendo motense, de coração. O que houve não foi entre eu e o clube, mas sim entre eu e a diretoria, que é uma coisa passageira num clube de futebol. Foi lá que eu criei raízes. Torço pelo Moto mas, sinceramente, não morro de amores pelo futebol que se pratica hoje. E isso abalou muito meu relacionamento não com o Moto, mas com o futebol em si.
O ESTADO: Durante toda a sua vida de jogador, qual foi sua melhor partida e contra quem?
Alzimar: Sem falsa modéstia, eu não joguei apenas uma ótima partida que eu pudesse dizer que ela foi a melhor. Eu joguei diversas ótimas partidas. Mas há uma, não que tenha sido a melhor, mas que marcou a minha carreira. Foi contra o Sampaio Corrêa, que terminou em 1 a X que foi apitada por Armando Marques. Essa, partida realmente me envaidecem. Eu, ao chegar em casa, estava completamente exausto, perdi muito peso, mas depois da minha autocritica cheguei à conclusão de ter feito.
sábado, 30 de novembro de 2024
Entrevista como craque Alzimar Castro
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