Texto extraído do livro "Salve, Salve, meu Bode Gregório: a História do Maranhão Atlético Clube".
Goleiro Lunga no Maranhão, em 1963
Nos tempos atuais, goleiro tem obrigatoriamente que ser alto. Mas será que Lunga, 1m67 de altura, não teria vez num grupo cada vez mais elitista? Quem o conhece, responderia sim. O jogador do Maranhão entre 1961 a 1969 tinha uma habilidade fora do comum embaixo da trave, como se fosse um homem-elástico dos desenhos animados. Com uma tremenda impulsão e muita segurança, elevou muitas vezes o nome do seu clube. Uma glória foi colaborar na conquista estadual de 1963. O maior reconhecimento veio apenas aos 64 anos de idade desse pernambucano, que escreveu seu nome na história do futebol maranhense: por nunca ter levado um cartão vermelho nos 16 anos de carreira, Lunga recebeu o Troféu Belfort Duarte, maior condecoração disciplinar outorgada pela CBF.
O garoto Francisco Alves da Silva, que nasceu no dia 16 de Junho de 1934 em Canhotinho, Pernambuco, começou sua trajetória de vida sempre de forma exemplar, daí a conquista de tão honroso prêmio. Mesmo aos 8 anos de idade na cidade onde nasceu, procedia sempre de forma a jogar mantendo o companheirismo. Como centroavante, aprendeu a manter o controle de bola e dar chutes fortes. Nessa época, já era conhecido por Lunga, apelido que surgiu no meio da família, sem explicação. Aos 12 anos de idade, mudou com a família para o Bairro de Estância, na grande Recife. Aos 16 anos, Lunga trocou a posição de centroavante pelo de goleiro. Segundo ele, o gosto para jogar no gol surgiu quando foi convidado a participar do segundo quadro do Palmeiras, time amador de Estância. “Um dia, o goleiro não apareceu e alguém tinha que ser improvisado na posição. Lá fui eu. Gostei e nunca mais joguei na linha. Descobri que o prazer de jogar era maior quando estava no gol”.
Apesar da baixa estatura, Lunga foi se destacando no Palmeiras pela impulsão, coragem, firmeza e determinação. Sabia sair muito bem nas bolas altas e baixas. Quando o atacante vinha com a bola dominada, ele, destemidamente, voava nos pés do adversário e quase sempre ficava com a bola em suas mãos. Depois de defender o Palmeiras por três anos, foi convidado para jogar no Estância, time que disputava a segundona do Pernambucano. Ao lado de dois craques, que depois vieram a marcar época no futebol maranhense (Croinha, centroavante do MAC e que morreu em Fortaleza, e Clécio, quarto-zagueiro do Sampaio e MAC), Lunga foi seis vezes campeão. “Jogando com craques, peguei experiência. Me destaquei na competição e fui convidado a vir jogar no MAC”, relembra, emocionado, um dos períodos mais marcantes de sua vida. Aqui, Lunga assinou com o MAC um contrato não-amador.
Em 1961, a pedido do Presidente Pedro Barreto, o treinador Ênio Silva foi a Pernambuco buscar alguns reforços para o MAC. Ia trazer um jogador chamado Dunga, mas na capital pernambucana acabaram empurrando para o Maranhão o goleiro Lunga. Ele desembarcou no Aeroporto do Tirirical e não havia um único dirigente para recepcioná-los. No próprio aeroporto, perguntou sobre o caminho até a sede da Cohama. Um senhor o informou que, perto do campo do MAC, morava o dirigente Napá. Este, ao vê-lo, do alto dos seus 1,65m, vociferou: “Ênio só pode estar me sacaneando ao trazer um goleiro dessa estatura”. O tempo, porém, mostrou o contrário, já que Lunga foi considerado um dos maiores goleiros da história do Maranhão, com passagens pela Seleção Maranhense.
Juntamente com Neguinho, Negão, Clécio e Carlinho, Zuza e Barrão; Valdeci Wilson, Croinha e Alencar, foi campeão Estadual em 1963. “Era um time que jogava por música. Todos se entendiam muito bem, dentro e fora do campo”. Nesse mesmo ano Lunga foi convocado para a Seleção Maranhense ao lado de Gojoba, Garrinchinha, Chico, Omena, Jouberth, Negão, Neguinho, Ribeiro, Português, Croinha e outros feras da época. Dois anos depois da conquista do título do MAC, ele foi vendido ao Clube do Remo, transação que não gostou. “Foi horrível essa minha transferência. Ainda bem que o Remo demorou a pagar meu passe e os dirigentes maqueanos autorizaram o meu retorno a São Luís”.
No período em que passou pelo MAC, Lunga gostou muito do clube, dos dirigentes, da cidade e fez vários amigos. Ele se diz “um pernambucano com coração maranhense”. Uma das mais fortes amizades conquistadas foi com Inácio Azevedo, conhecido como o Barbeiro da Liberdade, motense que sempre torcida pelo amigo Lunga nos jogos do MAC. “O Inácio é mais que amigo, é irmão, é gente de fé”. Outros amigos que Lunga também destaca são Denilson (filho do Inácio), Zózimo e os atleticanos Nicolau Duailibe Neto, França Dias e Totó. Aliás, uma grande virtude de Lunga dentro e fora de campo era o espírito de amizade e justiça. Ele ajudava a todos os amigos que o procurava e não aceitava calado nenhuma forma de desigualdade ou difamação que pudesse levar ao prejuízo qualquer colega de profissão. Bom caráter que lhe rendeu bons frutos.
Mas nem tudo foram flores. Durante os nove anos em que jogou no MAC, ele passou por dois momentos que ainda guarda na memória. O primeiro foi quando saiu nos pés de Fernando, do Sampaio Corrêa, e o atacante chutou à queima roupa. A bola bateu na costela esquerda de Lunga, que o fez defecar sangue por uma semana. A segunda foi com Barrão, quando esse jogava no Nacional. Lunga foi abafar a bola. Barrão errou e acertou a mesma costela que ele havia machucado no lance com Fernando. “Foram mais de trinta dias longe da bola sem me levantar da cama. Por essas e outras é que achavam que eu era arrojado e não tinha medo dos atacantes”.
Lunga não quis falar muito dos excelentes atletas que jogaram com ele e contra ele. “Não quero cometer injustiças”, dizia. Diante de nossa insistência, ele disse que respeitava Fernando, centroavante do Sampaio Corrêa, Croinha, atacante do MAC, e Hamilton, que jogou no Ferroviário, Moto e Maranhão. “O Hamilton era fora de série, o terror dos goleiros. Tinha um excelente toque de bola e era frio dentro da área. Ele mexia com os nervos de qualquer defesa”.
Lunga parou aos 35 anos de idade, no final de 1969, quando terminou o Campeonato Maranhense e o contrato com o MAC. Voltou para Estância, se empregou como motorista do Estado e abandonou a bola profissionalmente, sem nunca esquecer o Maranhão. A volta a São Luís teve um sabor especial, com a conformação, por parte da CBF, da entrega do Troféu Belfort Duarte de disciplina. Um jogador exemplar, que mesmo atuando em uma posição tão difícil, tinha o cuidado de jamais entrar duro nos adversários. E como um homem íntegro, o respeito a todos que o enfrentaram foi tão grande que ele jamais foi expulso de campo em sua brilhante carreira.
O garoto Francisco Alves da Silva, que nasceu no dia 16 de Junho de 1934 em Canhotinho, Pernambuco, começou sua trajetória de vida sempre de forma exemplar, daí a conquista de tão honroso prêmio. Mesmo aos 8 anos de idade na cidade onde nasceu, procedia sempre de forma a jogar mantendo o companheirismo. Como centroavante, aprendeu a manter o controle de bola e dar chutes fortes. Nessa época, já era conhecido por Lunga, apelido que surgiu no meio da família, sem explicação. Aos 12 anos de idade, mudou com a família para o Bairro de Estância, na grande Recife. Aos 16 anos, Lunga trocou a posição de centroavante pelo de goleiro. Segundo ele, o gosto para jogar no gol surgiu quando foi convidado a participar do segundo quadro do Palmeiras, time amador de Estância. “Um dia, o goleiro não apareceu e alguém tinha que ser improvisado na posição. Lá fui eu. Gostei e nunca mais joguei na linha. Descobri que o prazer de jogar era maior quando estava no gol”.
Apesar da baixa estatura, Lunga foi se destacando no Palmeiras pela impulsão, coragem, firmeza e determinação. Sabia sair muito bem nas bolas altas e baixas. Quando o atacante vinha com a bola dominada, ele, destemidamente, voava nos pés do adversário e quase sempre ficava com a bola em suas mãos. Depois de defender o Palmeiras por três anos, foi convidado para jogar no Estância, time que disputava a segundona do Pernambucano. Ao lado de dois craques, que depois vieram a marcar época no futebol maranhense (Croinha, centroavante do MAC e que morreu em Fortaleza, e Clécio, quarto-zagueiro do Sampaio e MAC), Lunga foi seis vezes campeão. “Jogando com craques, peguei experiência. Me destaquei na competição e fui convidado a vir jogar no MAC”, relembra, emocionado, um dos períodos mais marcantes de sua vida. Aqui, Lunga assinou com o MAC um contrato não-amador.
Em 1961, a pedido do Presidente Pedro Barreto, o treinador Ênio Silva foi a Pernambuco buscar alguns reforços para o MAC. Ia trazer um jogador chamado Dunga, mas na capital pernambucana acabaram empurrando para o Maranhão o goleiro Lunga. Ele desembarcou no Aeroporto do Tirirical e não havia um único dirigente para recepcioná-los. No próprio aeroporto, perguntou sobre o caminho até a sede da Cohama. Um senhor o informou que, perto do campo do MAC, morava o dirigente Napá. Este, ao vê-lo, do alto dos seus 1,65m, vociferou: “Ênio só pode estar me sacaneando ao trazer um goleiro dessa estatura”. O tempo, porém, mostrou o contrário, já que Lunga foi considerado um dos maiores goleiros da história do Maranhão, com passagens pela Seleção Maranhense.
Juntamente com Neguinho, Negão, Clécio e Carlinho, Zuza e Barrão; Valdeci Wilson, Croinha e Alencar, foi campeão Estadual em 1963. “Era um time que jogava por música. Todos se entendiam muito bem, dentro e fora do campo”. Nesse mesmo ano Lunga foi convocado para a Seleção Maranhense ao lado de Gojoba, Garrinchinha, Chico, Omena, Jouberth, Negão, Neguinho, Ribeiro, Português, Croinha e outros feras da época. Dois anos depois da conquista do título do MAC, ele foi vendido ao Clube do Remo, transação que não gostou. “Foi horrível essa minha transferência. Ainda bem que o Remo demorou a pagar meu passe e os dirigentes maqueanos autorizaram o meu retorno a São Luís”.
No período em que passou pelo MAC, Lunga gostou muito do clube, dos dirigentes, da cidade e fez vários amigos. Ele se diz “um pernambucano com coração maranhense”. Uma das mais fortes amizades conquistadas foi com Inácio Azevedo, conhecido como o Barbeiro da Liberdade, motense que sempre torcida pelo amigo Lunga nos jogos do MAC. “O Inácio é mais que amigo, é irmão, é gente de fé”. Outros amigos que Lunga também destaca são Denilson (filho do Inácio), Zózimo e os atleticanos Nicolau Duailibe Neto, França Dias e Totó. Aliás, uma grande virtude de Lunga dentro e fora de campo era o espírito de amizade e justiça. Ele ajudava a todos os amigos que o procurava e não aceitava calado nenhuma forma de desigualdade ou difamação que pudesse levar ao prejuízo qualquer colega de profissão. Bom caráter que lhe rendeu bons frutos.
Mas nem tudo foram flores. Durante os nove anos em que jogou no MAC, ele passou por dois momentos que ainda guarda na memória. O primeiro foi quando saiu nos pés de Fernando, do Sampaio Corrêa, e o atacante chutou à queima roupa. A bola bateu na costela esquerda de Lunga, que o fez defecar sangue por uma semana. A segunda foi com Barrão, quando esse jogava no Nacional. Lunga foi abafar a bola. Barrão errou e acertou a mesma costela que ele havia machucado no lance com Fernando. “Foram mais de trinta dias longe da bola sem me levantar da cama. Por essas e outras é que achavam que eu era arrojado e não tinha medo dos atacantes”.
Lunga não quis falar muito dos excelentes atletas que jogaram com ele e contra ele. “Não quero cometer injustiças”, dizia. Diante de nossa insistência, ele disse que respeitava Fernando, centroavante do Sampaio Corrêa, Croinha, atacante do MAC, e Hamilton, que jogou no Ferroviário, Moto e Maranhão. “O Hamilton era fora de série, o terror dos goleiros. Tinha um excelente toque de bola e era frio dentro da área. Ele mexia com os nervos de qualquer defesa”.
Lunga parou aos 35 anos de idade, no final de 1969, quando terminou o Campeonato Maranhense e o contrato com o MAC. Voltou para Estância, se empregou como motorista do Estado e abandonou a bola profissionalmente, sem nunca esquecer o Maranhão. A volta a São Luís teve um sabor especial, com a conformação, por parte da CBF, da entrega do Troféu Belfort Duarte de disciplina. Um jogador exemplar, que mesmo atuando em uma posição tão difícil, tinha o cuidado de jamais entrar duro nos adversários. E como um homem íntegro, o respeito a todos que o enfrentaram foi tão grande que ele jamais foi expulso de campo em sua brilhante carreira.
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