
Baldez, Marcos Vinícius e Esquerdinha em 1970

Ferroviário em 1969. Em pé: Ribeiro, Marcial, Neguinho, Vivico, Valdinar e Antônio Carlos; Agachados: Edson Sarará, Baldez, Mineirinho, Santana e Esquerdinha
Texto extraído do jornal O Estado do Maranhão, de 21 de fevereiro de 2000:
Talento, inteligência e versatilidade eram as grandes características de Preto Baldez. Jogando como terceiro homem de meio de campo de futebol, ele só não ingressou no Flamengo do Rio de Janeiro, na década de 70, porque insistia na carreira de engenheiro. Depois de uma preliminar memorável pelo Ferroviário contra o Sampaio Corrêa, o técnico Joubert, que assistia a tudo, convidou Preto para um teste na equipe rubro-negra carioca. Cursando a faculdade de engenharia ele abandonou um chance que para muitos seria imperdível. Mas nesse tempo a profissão de jogador não era tão cobiçada quanto agora.
Arrependimentos, Preto Baldez nunca teve. Ele foi um daqueles felizes maranhenses, que teve a oportunidade de jogar a vida toda por pura diversão. Nascido em São Luís na rua São Pantaleão em 17 de novembro de 1949, logo que se entendeu por gente tomava a liberdade de não sair dos campinhos de várzea. Defendendo o Real Madrid, de César Abacate, colecionou vitórias enfrentando adversários como o Fonte do Bispo, Vila Gracinha e Praça do Cemitério. O time mais marcante, no entanto, foi o Penharol, que aos domingos se exibia no campo do colégio Marista. Sebastião Albuquerque, Esquerdinha, Roberto Flecha, Afonso, Jorge Baldez, Luís e Nonato Loureiro, dentre outros.
A paixão pela bola continuou no Liceu, onde cursou o ginásio. Baldez (que recebeu o apelido de Preto porque era o mais escuro dos 5 irmãos: Nonato, Lucas Filho, Curi, Jorge e Lúcia) brincava até nos intervalos das aulas, causando irritação em Merval Santiago, administrador da escola. Em jogos oficiais de futebol de salão fazia dupla de ataque com Jorge — “um dos melhores atacantes que conheci”, conta ele, lembrando das partidas difíceis disputadas contra o maior rival, a Escola Técnica Federal do Maranhão.
Com seus 17 anos Preto Baldez viveu uma experiência inusitada. O Maranhão Atlético Clube foi a Caxias, interior do Estado, fazer dois amistosos contra o Botafogo do Piauí. Perdeu a primeira partida. A turma do atleticano que estava por lá participando dos amistosos contra a AABB local. Sem se fazer de rogado o técnico convidou Baldez, Sebastião e Reizinho para dar uma força ao MAC. A outra partida contra o Botafogo terminou empatada em 1 x 1, o que poderia ser a chance de ingressar em um clube de verdade não aconteceu e a vida do jogador amador do grupo voltou à rotina depois disso.
Somente em 1967 Preto Baldez ingressou no Ferroviário Esporte Clube, que estava se preocupando em formar um time aspirante. Foi aprovado na peneira promovida pelo técnico Anito depois de marcar um belo gol de fora da área, que entrou no ângulo. “Serviu como um agradecimento especial a Abdegard Viana, irmão do dirigente Clóvis Viana, que havia me dado uma chuteira”, relembra. Faziam parte do grupo Timóteo (goleiro), Gimico, Luís Carlos, Catel, Sebastião Albuquerque, Mundinho, Afonso, Pelenga, Socó, Arimatéia, Carlito, Pafu, Léo, Heitor Heluy, ‘Seu’ Raimundo e Chico Gerson (hoje conhecido como Chico da Ladeira – poeta e compositor).
“Chico foi um jogador de grande habilidade com a bola no pé”.
Baldez passa essa informação mostrando humildade em não falar dos seus próprios dotes, que são ressaltados por muitas pessoas que o viram jogando. Hábil, gostava de abusar dos dribles, que dava com extrema facilidade. Sabia fazer grandes lançamentos, desarmava os adversários e era uma segurança como terceiro homem do meio-campo. Construía e concluía jogadas de forma impressionante.
Inteligente, de raciocínio rápido, muitas das vezes não era acompanhado pelos companheiros.
“Um jogador completo”, como dizem quem o viu em campo.
No Ferim Preto Baldez frequentou uma escola cheia de craques, que mesmo em fim de carreira passaram ali e lhe ensinaram: Nélio, Negão, Zuza, Barrão, Hamilton e mais novos como Neguinho, Marcial, Vivico, Vadinho, Cândido e Garrinchinha. Ribeiro “Garfo de Pau”, que fazia parte desse grupo diz: “Mesmo sendo de baixa estatura, Preto tinha uma impulsão invejável. Não se sabia quem era melhor, se ele ou Nonato Baldez, seu irmão. Comparo Preto a Moacir, ex-jogador do Flamengo, e o ponta-esquerda Dequinha, que jogou também na Seleção Brasileira de 1958”.
Preto estreou no Ferroviário contra o Flamengo do Piauí. Na vitória por 4 x 0 ele deixou sua marca, convertendo uma cobrança de pênalti.
Foi no decorrer desse período marcante que um fato inusitado aconteceu. O Ferroviário enfrentava o Remo/PA, em Belém, pelo Nordestão e perdeu por 1 x 0. No segundo tempo Preto Baldez substituiu um centroavante Hamilton (que já estava em fim de carreira). Numa jogada rápida, própria de seu jeito moleque de ser e de sua habilidade em conduzir a bola, de partiu ao ataque, driblando o beque central Alemão e o goleiro. Sozinho, terminou perdendo o ângulo e o gol. Arriscou o chute, mas a bola passou rente à trave, para desespero da torcida. “Fui xingado até pelos paraenses e pela pequena torcida do Ferim, inclusive por meu irmão Jorge”, porque estudava em Belém e havia feito o bolão do irmão. Saiu de campo de fininho. O Ferim perdeu o jogo por 2 x 1.
Para compensar o talento desse jogador, um lance interessante ficou registrado em sua memória. Na partida Ferroviário x Sampaio Corrêa, na preliminar de um amistoso do Flamengo, Preto Baldez, jogando de lateral esquerdo, levou o lateral esquerdo Valdeci Lima à loucura. O técnico rubro-negro ficou empolgado com o que viu e convidou-o para fazer um teste no time. Como mede o fim do semestre do curso de engenharia, abandonou a chance e continuou em São Luís.
Outro acontecimento marcante aconteceu quando Baldez defendia a Seleção Universitária Maranhense contra a Seleção Universitária Piauiense. Ele deu um show no jogo disputado no estádio Nhozinho Santos, em março/abril de 1971. O maior lance foi quando saiu antes do meio-campo, driblou oito adversários, inclusive o goleiro e concluiu no gol. A vitória da equipe foi por 11 x 1. Seis gols foram dele.
Preto Baldez jogou ainda no Graça Aranha Esporte Clube — GAEC, formado por universitários como ele. Passou pelo Maranhão Atlético Clube e São José encerrando a carreira no fim do ano de 1973, depois de se formar. Foi morar e trabalhar em Brasília.