

Jovenilo é o quinto de uma família de seis irmãos, um deles Enemer, o mais famoso de todos, considerado um dos melhores goleiros de futebol de salão de todos os tempos. A responsabilidade de jogar na linha se tornava um compromisso. E assim foi. Ele pertenceu a uma "curriola" que começou a jogar no bairro do Desterro e ganhou projeção em todo o Maranhão: Djalma, Fifi, João Bala, Santana, Eraldo, Zé Neguinho, Catel e outros.
Humilde, alegava sempre que era um privilegiado por ter a felicidade de estar ao lado de tanta gente que sabia tudo de bola. Apaixonado pelo bairro onde mora até hoje, Jovenilo Geraldo Portela é uma daquelas figuras que esteve no lugar e no período certos do futebol e futsal maranhenses. Soube parar com absoluta inteligência, no momento propício.
Jovenilo vai completar no próximo dia 24 de setembro 54 anos de vida. Dos irmãos três se destacaram no futebol de salão e no suíço. Tirando o famoso goleiro Enemer, tinha o Luís Portela — que jogou salão e campo no Grêmio Aranha — e ele próprio, que defendeu as cores do Sampaio Corrêa no salão e no campo.
A família Portela é tradicional da ilha e do bairro do Desterro. Foi em frente à igreja do bairro e no campo do Quartel da Polícia Militar (Rua da Palma, onde hoje funciona o Memorial José Sarney), que a "curriola" começou a jogar futebol, com atletas com oito/nove anos de idade. Segundo Jovenilo essa era a principal diversão. Todos estudavam e quando saíam dos colégios escolhiam ir para a casa de Djalma, que tinha um campinho de futebol nos fundos ou para frente da igreja. Foi dali que nasceu o “São Cristóvão”, time dirigido pelo irmão Enemer e que tinha a proposta de sempre desafiar casas perdidas e de timejos "jogo duro".
Dona Enedina, mãe de todos, era a costureira que ajudava a bordar o escudo do São Cristóvão nas camisas. Os uniformes eram todos feitos em casa, sempre brancos. Usavam calções de saco de açúcar doado por amigos. “Furavam uns 50 para vestir uma turma grande”, recorda Jovenilo. “Ficávamos horas esperando o time do Desterro jogar ou terminar a missa de fim de tarde de domingo. Usávamos os bancos da igreja como traves e os camisas do Desterro eram os adversários da nossa infância. Era um privilégio entrar no campo onde jogavam os grandes do bairro com 13 anos de idade. Nós terminávamos o jogo do São Cristóvão e ficávamos para assistir os craques da camisa do Desterro. Era emocionante”, lembra ele.
Ninguém suportava a ideia de ficar muito tempo sem jogar. Com seus 13/14 anos, rapidamente surgiu o Real Madrid, time de futebol de salão que tinha à frente o goleiro Biné. “Jogávamos por música”, João Bala, Djalma, Santana e eu. Os jogos disputados na quadra do Quartel da Polícia Militar eram acompanhados pelos oficiais, que acabaram nos convidando para disputar o Campeonato Maranhense defendendo o Tiradentes, clube da Polícia Militar.
Jovenilo se destacava no grupo pela vontade e pela característica de marcador. Era fixo. Tinha consciência de sua principal função no grupo: a destruição das jogadas adversárias. Chutava forte e de vez em quando fazia seus gols no salão. Jogava de fixo ao lado de João Bala e no campo gostava da lateral direita. Sua facilidade era colocar a bola à frente e alcançar com velocidade.
A garotada do Desterro se destacava jogando o Campeonato Estadual de futebol de salão pelo Tiradentes, do técnico Tenemé Vieira. Jovenilo se recorda que uma vez o Athenas, time de futsal que tinha representação no Campeonato Brasileiro, formado por Jaiminho, Lenar, Silvinho e companhia, jogou amistosamente contra eles antes de viajar e acabou amargando a derrota por 5 x 1.
Jafé Mendes Nunes, técnico do Athenas, ficou impressionado com aquela garotada que jogava salão como gente grande. O Sampaio Corrêa, que queria investir em uma equipe de futebol de salão, convidou Jafé para ser técnico. Imediatamente ele contatou com a garotada do Tiradentes e mostrou o quanto seria bom se eles vestissem a camisa do tricolor.
Todos passaram a vestir a camisa do Sampaio no salão. No campo eles se dividiam: Djalma, João Bala e Fifi jogavam no Sampaio Corrêa; Jovenilo, Santana, Eraldo e Zé Neguinho foram para o Maranhão Atlético Clube por pouco tempo. “Meus amigos sabiam que eu queria mesmo era jogar no Sampaio, meu time de coração. Não demorou muito e eu estava lá, fazendo parte de um time que entrou para a história do tricolor de São Pantaleão.”
Paralelo a tudo isso, Jovenilo estudava na antiga Escola Técnica Federal do Maranhão – hoje CEFET – Centro Federal de Ensino Tecnológico. Lá ele participou dos primeiros Jogos Brasileiros das Escolas Industriais – JBI, realizados em Vitória/ES, em 1967, na modalidade de futebol de salão, alcançando o título máximo. “Quando retornamos a São Luís, o professor Braga resolveu marcar um jogo contra o Colégio São Luís que tinha nos seus quadros Djalma, Fifi, João Bala, Santana, Carlos Alberto e por aí afora... Eu disse que seria uma fria jogar contra eles. Não me deram ouvidos. Durante a partida dei um jeito de ser expulso. Tomamos uma goleada. Tínhamos um bom time, mas eles eram muito mais entrosados e sabiam jogar. Eu os conhecia muito bem.”
A curriola de Jovenilo jogou junta durante uns 10 anos. Desses, cinco ou seis foram dedicados ao futebol de salão. Eles marcaram época. São pontos de referência. É impossível falar sobre futsal ou futebol de campo do Sampaio Corrêa e não citar essa garotada que só deu orgulho ao torcedor tricolor.
Jovenilo parou com a bola muito cedo. Assim que concluiu o curso de topografia na Escola Técnica, foi para Imperatriz/MA, onde trabalhou por cerca de seis meses. Aproveitou o período e jogou bola por lá. Com 19 anos de idade parou com as competições oficiais de futebol de campo e salão. Continuou jogando peladas, principalmente nas praias, até 38 anos de idade, quando foi aconselhado por médicos a deixar de jogar em função de problemas apresentados com sua pressão arterial, que é até hoje muito alta e precisa ser controlada. Jovenilo foi um craque que jogou pouco, mas deixou marcas positivas no esporte maranhense.
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