Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.
Pessoas que nascem com o dom de jogar futebol, Deus colocou de sobra no Maranhão. E depois concedeu a muitos o privilégio de vê-las jogar. Edemir Azevedo Gonçalves, o Gimico, é uma das estrelas que brilharam nos nossos campos de futebol. Muitos torcedores se admiravam de ver como o atleta tirava proveito de seus 1m60 de altura. Um atacante que chegava ao gol com extrema facilidade. Se tornou o grande terror dos laterais que o marcaram, pela incrível habilidade na condução da bola. Quando perguntavam em quem ele se espelhava, tinha orgulho em dizer, batendo no peito, que era nele mesmo.
Pessoas que nascem com o dom de jogar futebol, Deus colocou de sobra no Maranhão. E depois concedeu a muitos o privilégio de vê-las jogar. Edemir Azevedo Gonçalves, o Gimico, é uma das estrelas que brilharam nos nossos campos de futebol. Muitos torcedores se admiravam de ver como o atleta tirava proveito de seus 1m60 de altura. Um atacante que chegava ao gol com extrema facilidade. Se tornou o grande terror dos laterais que o marcaram, pela incrível habilidade na condução da bola. Quando perguntavam em quem ele se espelhava, tinha orgulho em dizer, batendo no peito, que era nele mesmo.
A arte de jogar
veio de berço. Dos quatro homens da família, Gimico, Heraldo, Edmar e César,
todos sabiam jogar. Apenas Gimico e Heraldo seguiram carreira. Jogaram no
Ferroviário, Moto, Sampaio, São José e outros times de fora do Estado (Gimico
tem ainda quatro irmãs – Lourdenize, as gêmeas Carmem e Carmelita e Maria de
Fátima).
O aprimoramento
do dom de jogar de Gimico se deu nas peladas do Bairro do Apeadouro, onde ele e
os irmãos nasceram. Mas foram as peladas em campo grande (oficial) – com a
turma do bairro no 24º Batalhão de Caçadores – as mais marcantes, que serviram
de trampolim para o ingresso na carreira profissional. Eram antecedidos de
treinos durante a semana e jogos aos sábados e domingos em bairros diferentes:
Maracanã, Maioba, Mata e outros próximos ao Apeadouro.
Heraldo e Gimico do Ferrim
Já nessa época
ele mostrou qualidades técnicas e muita agilidade. Porção opção própria,
escolheu jogar na ponta-direita. Se sentia bem quando partia pra cima do
marcador e conseguir dar dribles desconcertantes, chegando fácil ao gol. “Eu
acreditava muito em mim, apesar de ser baixinho. Não tinha medo de tamanho e
nem de cara feia. Partia para o drible e saia em velocidade. Quando recebia um
bom lançamento, ganhava os ‘back’ na corrida e ia para o abraço”, relembra ele
ainda feliz com essa habilidade, que foi sua maior marca.
Ao completar
dezessete anos de idade, Gimico calçou pela primeira vez um par de chuteiras –
no Santos do Bairro de Fátima. Lá, fez fama ao lado de amigos, como Louro,
Chicão, Corisco, Pelado, Caburé, Neco, Cambota, Zé Bulina e o finado Bita. “Era
um timezinho danado de bom, daqueles que fava gosto jogar. Passávamos a semana
inteira esperando chegar o domingo para darmos show nos campos do Bairro de
Fátima e de toda Ilha de São Luis. Uma época inesquecível”.
No Santos, ele
foi aperfeiçoando naturalmente seu jeito de jogar. Se preparava fisicamente
durante a semana, treinando muito controle de bola, cruzamentos e batidas em
gol. Na prática, tudo dava certo. Por onde passou, foi artilheiro. Não tinha um
chute forte, mas sabia colocar a bola no contrapé do goleiro. “Eu não usava a
força e sim a inteligência”.
Heraldo já era
nessa época cabeça de área profissional do Sampaio Corrêa. Sempre que podia,
Gimico ia ao Estádio Santa Izabel acompanhar os jogos do irmão. Até então ele
não pensava em seguir a mesma carreira.
No início de
1967, Godô, um amigo da família e funcionário da Rede Ferroviária Federal,
resolveu levar Gimico para fazer uns testes no aspirante do Ferroviário Esporte
Clube. Iniciava-se aí uma carreira curta, porém vitoriosa de um dos mais
importantes pontas da história do futebol maranhense. Nos dois anos que passou
no aspirante do Ferrim (1967/68), Gimico se destacou como artilheiro dos
campeonatos estaduais. “Aprendi muito com o mestre Justino, que era técnico do
aspirante do Ferroviário na época. Desenvolvi a minha autoestima e trabalhei
muito o controle de bola, cruzamentos e chutes a gol. Eu e toda geração de
‘boleiros’ daquele tempo tínhamos que ter habilidade para conduzir a abola nos
gramados do Santa Izabel e Nhozinho Santos, porque eles eram de ‘capim de
burro’ e não de grama especializada. Tinha muitos buracos entre uma touceira e
outra”.
A promoção ao
quadro de profissionais do Ferroviário aconteceu em 1969. Entrou em
substituição ao Neco, que estava machucado. A estreia foi contra o Maranhão
Atlético Clube. Um dia que Gimico não esquece. “Eu cheguei cedo no estádio para
jogar no aspirante que iria fazer a preliminar. Seu Justino me aberturou e
disse que eu não ia a campo naquela tarde porque me viram beber pela manhã. Eu
não entendi nada, porque não havia bebido, muito pelo contrário, estava em casa
concentrado para o jogo. Depois do susto, seu Justino me disse que não iria
jogar no aspirante e sim no profissional. Meu Deus! Quase cai de costa. Tremi
dos pés à cabeça. Ainda bem que recebi o apoio do Esquerdinha, Nélio, Cândido e
do meu irmão Heraldo. Fui para o jogo e acabei marcando um gol. Vencemos por
2x1. Foi o máximo pra mim”. Nesse ano, Gimico foi o artilheiro e revelação da
competição. Em 1971, uma grande experiência foi vivida pelo craque. Jogou
contra o irmão Heraldo, que trocou o Ferroviário pelo Sampaio. De um lado
estava o lateral-esquerdo boliviano. Do outro, o ponta-direita do Ferrim. Páreo
duro, muitas das vezes vencida por Heraldo. “Quando eu pegava na bola, Heraldo
e dizia para não ir pra cima dele porque caso contrário ele seria obrigado a me
acertar. Era muito difícil jogar contra ele”.
Não faltava
arrumações, descoberta com a chegada de Heraldo e Célio Rodrigues, ex-lateral
direito do Sampaio Corrêa, no bar de Gimico, que fica no Apeadouro. Heraldo
confessa que no diálogo entre os dois, em campo ele lembra que o bicho do tricolor
era maior que o da RFFSA. “No Sampaio Corrêa eu ganhava 100 cruzeiros de
gratificação por vitória e Gimico ganhava 50 no Ferroviário. A minha
gratificação dava para dar 50 para a nossa mãe e o restante era para a gente
comprar roupas e tomar umas cervejinhas. Por isso eu dizia pra Gimico: não
complica”, conta rindo Heraldo.
Ainda em 1971
Gimico se transferiu para o Moto e lá encontrou o irmão Heraldo, que havia
deixado o Sampaio Corrêa. Como na adolescência, iriam jogar juntos novamente. A
dupla brilhou. O Moto foi o campeão invicto do Torneio Maranhão-Pará, disputado
em Belém. Gimico, um apelido que virou nome ninguém sabe porque, ganhou um
apelido nessa época, “Satanás”. “Em 71, no Torneio PAxMA, lá em Belém, contra o
Paysandu, o Moto perdia por 3x1 e Gimico estava no banco. Ele virou-se para o
técnico Marçal e pedi para entrar porque sentia que dava para virar o jogo.
Marçal não deu ouvidos. Ele insistiu várias vezes para o técnico deixa-lo entrar,
até que conseguiu. Quando estava em campo, infernizou a defesa adversária e
ajudou o time a virar o placar pra 4x3. Passaram a chama-lo então de Satanás”.
No início da
temporada de 72, Gimico foi dispensado do Moto pelo técnico Sousa Arantes. “Ele
disse que baixinho não jogava no time dele. Fui disputar o Troneio da Marinha
pelo São José. No dia do jogo contra o Moto, eu infernizei a vida da defesa
motense e acabei fazendo o gol da vitória e do título do São José. Pronto,
lavei a alma!”.
Dai pra frente
Gimico, incentivado pela família, foi abandonando o futebol. Chegou a
participar de vários amistosos pelo Sampaio Corrêa em 1974 e se livrou do
acidente ocorrido com o ônibus que levava o Tricolor para um amistoso em
Imperatriz, que vitimou o zagueiro Paulo Espanha. “Eu havia me contundido num
treino e fiquei fora dessa viagem. Dou graças a Deus até hoje por isso”. Em
1975, atendendo a um pedido da mãe, Doa Maria Azevedo, e do irmão Edmar,
engenheiro civil, Gimico foi morar em Pelotas/RS. Lá, ainda treinou no E.C.
Brasil. “Passaram mais de um mês querendo que eu assinasse o contrato, mas meu
irmão e minha mãe não permitiram. Assim, encerrei minha carreira como
profissional da bola”. Em Pelotas, Gimico aprendeu com o irmão as técnicas de
trabalho com máquinas eletrônicas e se tornou um Topógrafo Nivelador. Rodou várias
cidades do eixo Sul/Sudeste do país, até que retornou a São Luís por volta de
1982.
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