quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Gedeão, baixinho bom de bola


Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.

Quem ouve falar na fama do ponteiro Gedeão, do Sampaio Corrêa, na década de 50, imaginava que era alguém de porte avantajado. Com 1,60 de altura, ele sabia tirar proveito da leveza e da velocidade, fundamentais para chegar na linha de fundo e fazer cruzamentos para os atacantes. Não era de marcar gols, porque tinha como grande característica sair da ponta-direita para apoiar os meio-campistas e atacantes mais habilidosos. Henrique Santos foi seu grande orientador nos tempos de futebol de campos e responsável por sele se tornar conhecido como “baixinho bom de bola”.

Gedeão Pereira de Matos é mais um maranhense que entrou para os anais da história do futebol como um grande atleta, principalmente pela disciplina. Assim eram os meninos do interior, que só queriam brincar para passar o tempo. Nascido no município de Icatu, desde que se mudou para São José de Ribamar, tinha nas peladas da beira da praia sua maior diversão. Com 10 anos estava com os amigos fundando o Ribamarzinho, uma espécie de 2º Divisão do Ribamar Esporte Clube.

A pequena cidade balneária ficou para trás quando ele veio para São Luis cursar o ginasial no Colégio São Luis. A bola não! Nas brincadeiras na Praça do Quartel, hoje Praça Deodoro, ele jogava com Esmagado, Canhoteiro, Denizar, Almeida, Márcio Viana Pereira. Alguns cartolas ficavam sempre por á: José Mário Santos, Clóvis Viana e Murilo Baima. Ano 1949.

Seleção Maranhense de Futebol de 1956: em pé - Gedeão, Lourival, Cabelo Duro, Gimico e Negão; agachados - Peru, Moacir Bueno, Pedro Buna, Terrível, Walber Penha, Carapuça e Carioca (massagista)

Gedeão, 14/15 anos, se deslocava para o ataque com facilidade e extrema velocidade. Logo estavam no famoso campo do Tabocal, hoje Apicum. Na escola, transferia-se para o Colégio Liceu Maranhense, disputando sua primeira Olimpíada Intercolegial (organizada pelo professor Luís Rêgo), nas modalidades de atletismo, natação e futebol. No atletismo, era um exímio velocista. Nas primeiras provas de natação de competição que se tem notícia no Maranhão, o tanque que abastecia a Fábrica Santa Isabel servia como piscina, porque tinha cerca de 30 metros de comprimento por 10 metros de largura e outros 3 metros de profundidade. Para quem estava acostumado a atravessar na enchente da mare o Canal do Vieira em São José de Ribamar, competir em provas de 30, 60, 90 metros era fácil. Foi um conquistador de medalhas. Mas o futebol de campo continuava sendo forte. Os jogos escolares estavam servindo como vitrine. M meados de 1950 ele já estavam integrando a famosa equipe do Santos, de Jafé Medes Nunes. Além de explorar sua velocidade Gedeão tinha a vantagem de ser disciplinado tecnicamente. Era do tipo que obedecia às ordens do treinador e jogava para a equipe.

Em 1952 o Santos iria enfrentar o Sampaio. Nos vestiários do Estádio Santa Izabel, Jafé deu a camisa do Sampaio para Gedeão. Ele estranhou, mas aceitou. Assim iniciava uma grande paixão, que dura até hoje. O Tricolor foi seu grande e único clube. Nessa estreia, ele marcou o gol da vitória de 1x0 contra o Santos e selou sua carreira de não-amador de clube profissional. Mesmo pedindo desculpas pela falta de memória, ele relaciona alguns nomes da época: Henrique Santos, Cacaraí, Terrível, Josafá, “Carvão de Varinha” e os goleiros Lata de Lixo e Lessa.

De 17 a 22 anos, Gedeão nunca sentou no banco de reservas. Conquistou os títulos estaduais de 1953 a 1954. Uma das maiores formações dessa época foi: Gibreu (Coveiro reserva); Levi (lateral-direito), Terrível (zagueiro-central), Elber (centro-médio), Icabora (lateral-esquerdo), Lourival (meia-direita), Henrique Santos (meia-esquerda), Gedeão (ponta-direita), Mozart Tavares (centroavante, com Neto na reserva) e Garcia (ponta-direita). Ele viveu nesse clube suas maiores alegrias. “No time todos nós éramos como uma família. O Presidente Ronald Carvalho atava como amigo e conselheiro em um gripo extremamente amador, que recebia os ‘bichos’ após cada vitória, rateando os valores entre os solteiros e casados (esses recebiam um pouco mais)”.

O craque Henrique Santos, o meia-esquerda piauiense que havia chegado em São Luís em 1948, agora um dentista de 27 anos, integrante do corpo médico do Sampaio e ainda jogador, era o maior orientador de Gedeão. Em tempo para treinar, nos jogos Henrique não tinha tanto preparo físico. Quando ia para o ataque, contava com o apoio do baixinho, que depois de conduzir a bola pela ponta e fazer o cruzamento, corria para cobrir o meio de campo e a defesa.

Em 1953, Gedeão serviu o exército. Por causa do tenente coronel Nova da Costa, vice-presidente da Federação Maranhense de Desportos, hoje FMF, não teve problemas em continuar jogando. Foi assim até 1958, quando Nova da Costa, por desentendimento, saiu da FMD e impediu os militares de participar do Campeonato Maranhense. Uma pena para um atleta que chegou a ser por suas vezes convocado para a Seleção Maranhense (1952 e 1956). Participando somente dos jogos militares, Gedeão resolveu praticar também futebol de salão no Graça Aranha Esporte Clube.

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