segunda-feira, 29 de junho de 2015

O fino Sérgio Marreca

Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, de 22 de Junho de 1998

 Na equipe do Moto em 1974. Em pé: Marçal Tolentino Serra, Edson, Esteves, Neguinho, França, Sérgio, Antônio Carlos, Barros (supervisor) e Júlio Buhatem (Diretor de Futebol); Agachados: Lima, Paraíba, Soares e Coelho

 É impossível falar na história do futebol maranhense na década de 70 sem citar um quarto-zagueiro que veio do futebol cearense e que acabou conquistando títulos no Moto Club e Sampaio Corrêa, os dois principais times do futebol profissional local. Sérgio (Caveira ou Marreca, como queiram) sempre foi e continua sendo “fino” (nos dois sentidos) dentro e fora de campo. Fino, pelo “corpo atlético”, que ainda mantém. O segundo fino, que norteou a sua carreira e sua vida, ficou caracterizado na educação, na calma e na tranquilidade que sempre demonstrou. Um cavalheiro que marcou.

Sérgio não é maranhense, mas é como se fosse, pelo muito que fez defendendo nossas equipes. Ele nasceu em Fortaleza/CE, no dia 09 de Maio de 1943. O pai, seu João, foi jogador profissional e fez nome no futebol da Paraíba e Pernambuco. Um exemplo seguido pelo filho.

A infância de Sérgio foi como a de todos os garotos que gostam das peladas batidas no campinho próximo de onde residem. No Bairro Brasil Oiticica, em Fortaleza, ele brincou e até herdou o primeiro apelido: Caveira. Não para menos. Muito magro (cerca de 60 quilos) e alto (1m78), estava aquém dos padrões.

Com 15 anos ele passou das brincadeiras para o segundo quadro de Humaitá, que era do próprio bairro e não disputava campeonato oficial. Um olheiro o viu jogar e se encantou com suas principais características: o toque de bola fácil, a boa colocação na zaga, a capacidade de se antecipar e sair tocando da defesa para o ataque. Tudo isso com extrema habilidade e tranquilidade.

Apenas um ano foi necessário para Sérgio ser levado ao Tiradentes, time profissional, que disputava a segundona do Campeonato Cearense. O Tiradentes, que chegou a ser campeão em 1959, subiu para a Primeira Divisão.

Cheio de esperanças, Sérgio partiu para Teresina, onde foi jogar no Flamengo. Teve uma grande desilusão. O clube piauiense atravessava uma crise técnica e financeira e ele ficou sem receber salários por dois meses. Resolveu voltar para o Ceará. Já com 24 anos de idade passou pelo Ceará Sporting. Como não deu certo, resolveu seguir em frente e foi parar no Calouros do Ar, ainda na capital cearense, onde ficou uma temporada inteira.

Nada estava dando certo na vida atlética de Sérgio. Ele e o amigo louro (ponta-esquerda) se mantinham em forma treinando no Tiradentes. Tudo começou a mudar quando o Dr. Plínio Marques, Diretor do INCRA no Maranhão e Diretor do Moto Club, apareceu em Fortaleza à procura de Louro e de mais alguns jogadores que pudessem reforçar o rubro-negro para as disputas de uma melhor de três jogos que iria indicar o primeiro representante em um Campeonato Brasileiro. Dr. Plínio conversou e acertou com Louro, que acabou indicando o amigo Sérgio Caveira para o Papão. Os dois vieram para São Luís.

Louro e Sérgio Caveira chegaram a São Luís no dia 21 de Setembro de 1971. Uma data que o zagueiro não esquece. Por problemas com a esposa, Louro se desgostou e retornou a Fortaleza. As coisas no futebol nos anos 70 eram duríssimas em São Luís. Sérgio cota que quando eles iam para o Nhozinho Santos e viam que a casa estava cheia, tinham certeza que no dia seguinte pintaria uma grana. “Quando só tinha quatro ou cinco gatos pingados no estádio, a gente já entrava em campo desanimado porque sabia que não ia pintar nada”, conta ele.

Porque Marreca? – Sérgio quando entrevistado e perguntado de onde vem o apelido Marreca, disse que até hoje os amigos mais próximos e torcedores que o viram jogar, frequentemente fazem a mesma pergunta e a resposta é sempre a mesma: não sei. Ele não lembra quando e nem de quem partiu este apelido. “Acho que foi porque eu era magro e meio curvado e parecia uma marreca. O que me lembro é que de repente deixei de ser caveira e passei a ser marreca”, brinca.

Um dos piores momentos que passou no Moto foi quando em 1972, depois de uma série de empates contra o Sampaio Corrêa para ver quem iria disputar o Campeonato Brasileiro de 1973, antes das cobranças de penalidades máximas, no meio do campo o Presidente do Moto, Nagib Heickel, em tom forte, disse que em caso e derrota, todos os atletas motenses estariam dispensados. “Eu e meus companheiros estávamos sentados e relaxados perto do banco de reservas do Nhozinho. Depois que o homem disse isso minhas pernas balançaram. Eu não conseguia nem levantar. E o que é pior, fui escalado para bater um pênalti. Não deu outra, perdi a cobrança. Ainda bem que no final deu o nosso time e garantimos o emprego por mais uma temporada”.

Sérgio lembra que o Presidente Nagib Heickel era assim em caso de derrota, mal humor e ameaças de dispensas. Em caso de vitórias, churrasco na casa dele no dia seguinte e só festa, principalmente quando a vítima era o Sampaio. O time motense, que conquistou a vaga para o Campeonato Brasileiro de 1973, formou, segundo Marreca, com Edson no gol, Estevez, Neguinho, ele e Antônio Carlos; França, Santana e Soares; Lima, Paraíba e Coelho.

O convívio com o Moto durou três anos e meio. “Minha maior experiência como atleta foi participar do Campeonato Brasileiro de 1973. Conheci vários Estados brasileiros e joguei contra craques como Rivelino, Carbone, Serginho Chulapa, Murici e tantos outros”. Os mesmo tempo que Sérgio se emociona ao falar do Moto no Brasileirão 73, se decepciona ao recordar momentos em que deixou o Papão. “É uma passagem que gostaria de ter apagado da minha ente, mas não consigo. Depois do Brasileiro fui chamado pelo Dutra, que me disse que eu estava fora dos planos do clube para o ano seguinte. O mundo veio abaixo para mim. Tinha família e pensava em como iria sobreviver sem emprego. Foi triste demais”.

Em 1974 Marreca estava no Sampaio. Viu um montão de gente ser contratado para as disputas do Brasileiro e ficou no time “expressinho”, que ia ao interior do Estado fazer campanha política para o amigo Djalma Campos. Em 1975 e 1976 foi bi pelo Sampaio. Relembra com carinho de jogadores como Paulo Espanha (morto em acidente de ônibus quando o Sampaio fazia amistosos no interior do Estado), Paraíba (o amigo de sempre), e principalmente o zagueiro Paulinho, um gaúcho que foi contratado e que se deu bem com Sérgio na zaga do Tricolor. “Me dei bem jogando com dois zagueiros: Marins do Moto e Paulinho do Sampaio. Nosso entrosamento era por música”.

A grande característica de Sérgio era a habilidade. Conseguia impor respeito atrás, não porque jogava duro, mas porque sabia sair jogando com classe e estilo. Não tinha medo de atacantes. Respeitava um, que apesar de bem marcado, insistia em fazer gols em todos os jogos que disputava com Marreca, “Não tinha jeito. Nós podíamos até ganhar a partida, mas todo jogo Riba marcava pelo menos um gol. Ele era rápido, habilidoso e cabeceava muito bem, apesar de baixinho”. Sérgio encerrou a carreira jogando no Bacabal Esporte Clube e São José.



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