terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Newton, o gigante que calou o Maracanã

Texto extraído do livro "Memória Rubro-Negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte".

"Quando o garoto de apenas 23 anos e 1,67 m recebeu em lançamento a bola do meia Raimundinho e, aproveitando-se da indefinição do ala Júnior, com um toque sutil na sápida do goleiro Raul, talvez nem ele próprio pudesse imaginar a proporção que aquele tento causaria em sua vida. Newton acabara de calar o Estádio do Maracanã diante do todo poderoso Flamengo de Zico e companhia e, de quebra, consagrar-se em definitivo no futebol. A eterna promessa havia ficado para trás, assim como o Moto Club: rapidamente o ponta, que despertou o interesse dali em diante por grandes clubes como Palmeiras, Flamengo, Santos e Vasco, assinou contrato com o São Paulo, escrevendo para sempre o seu nome como uma das maiores revelações do futebol nacional em sua época.

O maranhense Newton de Jesus Santana, a exemplo de tantos outros garotos, passou por muitas dificuldades na vida. Nascido a 12 de Outubro de 1960 no Bairro do Tirirical, o filho do seu José Ribamar Santana e dona Amélia de Jesus Rodrigues Santana, Newton, antes de tudo, teve dentro de casa uma formação com princípios e valores morais que o ajudaram na formação do seu grande caráter como pessoa e profissional nos gramados. Conciliava os estudos na escola Felipe Conduru (São Cristóvão) com as peladas, descalço pelas ruas do bairro, com os amigos. Newton começou jogando, aos oito anos de idade, na várzea do São Cristóvão, como o campo da base aérea e o campo do estrela. Da infância simples, aliás, o eterno craque do Papão guarda as melhores recordações: da primeira bola de futebol (sonho de consumo de dez entre dez garotos) que ganhou dos pais e quando assistiu aos jogos do Brasil na Copa de 1970 (México). Passou a infância toda no Tirirical, mudando-se, na adolescência, para o São Francisco, onde passou a estreitar ainda mais a sua ligação com o futebol.

Motense desde a infância, Newton costumava frequentar, sempre na companhia do seu tio Iduval Rodrigues (Lulu), aos jogos do Papão. E a admiração e o amor pelo clube cresciam, alimentado pelo sonho em vestir a camisa do seu time de coração, o Moto Club. O jovem vislumbrava dali, no meio da torcida, a chance em poder um dia estar do outro lado, no gramado, fazendo fama e, sobretudo, muitos gols pelo rubro-negro. E foi em algumas equipes amadoras do bairro que Newton despontava no futebol, como o América, do falecido Deputado João Evangelista, e o Estrela Futebol Clube, do desportista Ferreirinha. Em 1977, o craque integrou uma equipe formada por alguns amigos da sua rua e o time foi convidado às disputas do Campeonato do Centro Comunitário do São Francisco, organizado pelo desportista Zé Cândido, que cuidava dos juniores do Boa Vontade. Além de campeão, Newton foi o artilheiro da competição, o suficiente para o próprio Cândido o levar para as disputas do Campeonato Maranhense da categoria pelo BV. O craque quase desistiu no começo: “eu disse não porque o time era do Bairro de Fátima e treinava no Anil. Eu teria que atravessar a cidade inteira pra poder treinar e isso iria atrapalhar meus estudos”, contou Newton. Após seis meses e sob a garantia de apenas jogar e não treinar com o restante do elenco, o jovem despontou nos juvenis do Boa Vontade, aos 17 anos. Rapidamente ele foi convocado para a Sel. Maranhense de juniores, para disputar do Brasileiro da categoria.

Newton, ao centro, no Expressinho, em Maio de 1982

No mesmo ano, 1982, já com a camisa do Moto Club

Em 1980, o jogador passou ao profissional do Expressinho. Baixinho, veloz, de drible fácil, Newton não batia perfeitamente na bola, mas tinha boa presença de área. Pelas suas boas atuações no Estadual, o craque chegou ao Papão logo após o Torneio Início de 1982, levado pelo o Dr. Cassas de Lima e comprado junto à equipe do Bairro da Cohab, em uma transação até hoje não explicada às claras envolvendo o ex-presidente do quadro cohabense, Hilton Rocha, na época acusado de ter facilitado a transação pela sua condição de motense roxo. O ponta estreou pelo rubro-negro diante do inexpressivo São José, onde o craque entrou do decorrer da partida e ainda fez um gol. A partir de então, Newton passou a se destacar no elenco rubro-negro, sob o comando de Zé Branco, e a fazer belos e inesquecíveis gols, como o tento na final do Segundo Turno do Estadual de 1982, diante do Tupan, e o golaço frente ao Paysandu, pelo final da primeira fase do Brasileirão de 1983. E foi justamente após esse gol diante da equipe paraense que o craque daria um grande salto para a sua carreira, ao assinar, por intermédio do Sr. Colombo, representante do tricolor paulista, com o todo poderoso São Paulo, que já namorava o craque desde quando Newton praticamente humilhou o lateral Júnior, naquela histórica apresentação do Papão do Norte dentro do Maracanã. Pelo seu estilo de ponta autêntico, drible fácil, que procura a linha de fundo, seu futebol alegre que chegou a enfiar bolas no meio das pernas de Júnior e até Zico, ficou acordado que, após a saída do rubro-negro da competição daquele ano, Newton desembarcaria na capital paulista. E o craque nunca mais voltaria.
Contratado por um empréstimo de apenas seis meses e, logo de cara, vice-campeão Paulista em seu primeiro campeonato pelo São Paulo, o início do jovem ponta-direita no Tricolor, porém, foi complicado: Newton foi obrigado a fazer uma cirurgia de hérnia, que o fez parar por 4 meses – por conta da intervenção, o craque disputou apenas uma partida nos seis meses de contrato e, mesmo assim, o São Paulo apostou no jogador e comprou o seu passe em definitivo. A volta por cima veio com belas atuações e o título de Campeão Paulista em 1985, mesmo sem ser unanimidade no elenco que ficou conhecido como Menudos do Morumbi (naquele ano, Newton, na reserva, marcou apenas duas vezes ao longo dos nove jogos em que disputou). Despontavam no elenco Gilmar, Zé Teodoro, Dario Pereira, Marcio Araújo, Silas, Pita, Müller e Careca. Newton disputava a titularidade com ninguém menos que o jovem Müller, que se consagraria em seguida para o futebol. Após o título, o jogador ainda rodou pelo São José/SP (1985), São Caetano (1986), Botafogo-SP (1986) e XV de Piracicaba (1987/88), antes de ser negociado com o Náutico de Recife, em 1988. Na transação, o São Paulo, que havia contratado o centroavante o ponta Mário Tilico, deu uma quantia em dinheiro e mais o passe de Newton como forma de pagamento. Encerrava-se ali a sua passagem pelo Tricolor do Morumbi.

 Matéria na Revista Placar (11 de Fevereiro de 1983)

 Com Lutércio

Newton, Zequinha e Cardosinho no Hotel Quatro Rodas

Pela equipe pernambucana, Newton foi Campeão Pernambucano em 1989, antes de sofrer uma fratura do tornozelo na semifinal do Estadual de 1993, já em sua segunda passagem pelo Timbu. Nesse meio tempo, o craque foi emprestado ao Atlético Mineiro, em 1990, devido ao não acordo financeiro para a renovação do seu contrato com a equipe pernambucana. Na equipe mineira, o ponta-direita ficou apenas um ano: atuou em 39 jogos, fez 6 gols e foi vice-campeonato mineiro daquele ano, além de conquistar o Torneio Ramón de Carranza. Newton deixou o Galo logo após a derrota para o Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro. De volta ao Náutico, o eterno ídolo motense ainda atuou por mais três anos, antes de encerrar a sua carreira, já em 1994. Apesar de rodar por alguns dos maiores clubes do Brasil, o craque ainda mantém a serenidade e a calma desde os tempos em que arrancava aplausos da torcida motense com suas grandes jogadas: Newton sempre passa férias em sua cidade natal, São Luis, e até hoje mantém a mesma casa da época em que morava com os pais e irmãos no São Francisco. Um jogador completo, tanto nos gramados, com o seu maravilhoso futebol, como fora dele, no reconhecimento àquele bairro onde tudo começou."

Matéria sobre Newton, já pelo São Paulo, na Revista Placar (11 de Novembro de 1983)

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